2008/07/03

O ranço salazarista

Cada vez mais nos afastamos uns dos outros. Trespassamo-nos sem nos ver. Caminhamos nas ruas com a apática indiferença de sequer sabermos quem somos. Nem interessados estamos em o saber. Os dias deixaram de ser a aventura do imprevisto e a magia do improviso para se transformarem na amarga rotina do viver português e do existir em Portugal.

Deixámos cair a cultura da revolta. Não falamos de nós. Enredamo-nos na futilidade das coisas inúteis, como se fossem o atordoamento ou o sedativo das nossas dores. E as nossas dores não são, apenas, d'alma: são, também, dores físicas.

Lemos os jornais e não acreditamos. Lemos, é como quem diz – os que lêem. As televisões são a vergonha do pensamento. Os comentadores tocam pela mesma pauta e sopram a mesma música. Há longos anos que a análise dos nossos problemas está entregue a pessoas que não suscitam inquietação em quem os ouve. Uma anestesia geral parece ter sido adicionada ao corpo da nação.

Um amigo meu, professor em Lille, envia-me um email. Há muitos anos, deixou Portugal. Esteve, agora, por aqui. Lança-me um apelo veemente e dorido: 'Que se passa com a nossa terra? Parece um país morto. A garra portuguesa foi aparada ou cortada por uma clique, espalhada por todos os sectores da vida nacional e que de tudo tomou conta. Indignem-se em massa, como dizia o Soares.'

Nunca é de mais repetir o drama que se abateu sobre a maioria. Enquanto dois milhões de miúdos vivem na miséria, os bancos obtiveram lucros de 7,9 milhões por dia. Há qualquer coisa de podre e de inquietantemente injusto nestes números. Dir-se-á que não há relação de causa e efeito. Há, claro que há. Qualquer economista sério encontrará associações entre os abismos da pobreza e da fome e os cumes ostensivos das riquezas adquiridas muitas vezes não se sabe como.

Prepara-se (preparam os 'socialistas modernos' de Sócrates) a privatização de quase tudo, especialmente da saúde, o mais rendível. E o primeiro-ministro, naquela despudorada 'entrevista' à SIC, declama que está a defender o SNS! O desemprego atinge picos elevadíssimos.

Sócrates diz exactamente o contrário. A mentira constitui, hoje, um desporto particularmente requintado. É impossível ver qualquer membro deste Governo sem ser assaltado por uma repugnância visceral. O carácter desta gente é inexistente. Nenhum deles vai aos jornais, às Televisões e às Rádios falar verdade, contar a evidência.

E a evidência é a fome, a miséria, a tristeza do nosso amargo viver; os nossos velhos a morrer nos jardins, com reformas de não chegam para comer quanto mais para adquirir remédios; os nossos jovens a tentar a sorte no estrangeiro, ou a desafiar a morte nas drogas; a iliteracia, a ignorância, o túnel negro sem fim.

Diz-se que, nas próximas eleições, este agrupamento voltará a ganhar. Diz-se que a alternativa é pior. Diz-se que estamos desgraçados. Diz um general que recebe pressões constantes para encabeçar um movimento de indignação. Diz-se que, um dia destes, rebenta uma explosão social com imprevisíveis consequências. Diz a SEDES, com alguns anos de atraso, como, aliás, é seu timbre, que a crise é muito má. Diz-se, diz-se.

Bem gostaríamos de saber o que dizem Mário Soares, António Arnaut, Manuel Alegre, Ana Gomes, Ferro Rodrigues (não sei quem mais, porque socialistas, socialistas, poucos há) acerca deste descalabro. Não é só dizer: é fazer, é agir.

O facto, meramente circunstancial, de este PS ter conquistado a maioria absoluta não legitima as atrocidades governamentais, que sobem em escalada. O paliativo da substituição do sinistro Correia de Campos pela dr.ª Ana Jorge não passa de isso mesmo: paliativo. Apenas para toldar os olhos de quem ainda deseja ver, porque há outros que não vêem porque não querem.

A aceitação acrítica das decisões governamentais está coligada com a cumplicidade.

Quando Vieira da Silva expõe um ar compungido, perante os relatórios internacionais sobre a miséria portuguesa, alguém lhe devia dizer para ter vergonha. Não se resolve este magno problema com a distribuição de umas migalhas, que possuem sempre o aspecto da caridadezinha fascista. Um socialista a sério jamais procedia daquele modo. E há soluções adequadas. O acréscimo do desemprego está na base deste atroz retrocesso.

Vivemos num país que já nada tem a ver com o País de Abril. Aliás, penso, seriamente, que pouco tem a ver com a democracia. O quero, posso e mando de José Sócrates, o estilo hirto e autoritário, moldado em Cavaco, significa que nem tudo foi extirpado do que de pior existe nos políticos portugueses. Há um ranço salazarista nesta gente. E, com a passagem dos dias, cada vez mais se me acentua a ideia de que a saída só reside na cultura da revolta. Baptista Bastos


A portuguesa guerra

Não é só professores, médicos (hoje em primeira página do Correio da Manhã) e juízes que são agredidos. É também o morto que acontece a cada 12 horas e 28 minutos nas estradas portuguesas (Destak de hoje, pag 3). Trata-se fundamentalmente do sucesso da portuguesa educação...

Nota: ainda há pouco, na Rua de Buenos Aires, na Lapa, em Lisboa, passou um Porche a toda a velocidade. As pessoas disseram-me que acontece frequentemente. Se a Polícia Municipal, em vez de andar a rebocar os carros estacionados na Estrela, andasse a vigiar estes "campeões", a civilidade impor-se-ia naturalmente. Por coacção, evidentemente. Haverá outra forma de a alcançar (à civilidade) em Portugal, se são as supostas "elites" a terem este comportamento?!


O estado da educação...

8. Proliferam, e vão-se assumindo, os «titulares» com estatuto de novos capatazes. Falam a linguagem do Poder, desse Poder que fez de muitos deles licenciados por decreto, desse Poder que decretou que gente intelectualmente menor pode avaliar(?) gente com formação académica efectiva, com currículo profissional inquestionável. Bacharéis nas mais variadas áreas transformaram-se em licenciados (ou mesmo mestres) em Animação sociocultural(!), Artes Decorativas(!)... (na Universidade do Algarve já foi criado o Mestrado em Gestão de Campos de Golfe!). Enfim, gente que vivia em permanente conflito com a gramática e que hoje disfarça tudo com o recurso (quase exclusivo) ao texto informático. Tudo depende do corrector ortográfico...

9. Quase magnânimos, os novos "avaliadores dos desempenhos" proclamam que gostariam de dar excelente a todos os avaliados... mas não podem. Entretanto, vão alinhando as grelhas com que farão indigestos cozinhados. Alguns estiveram na manif. dos 100 mil, não fosse o diabo tecê-las... João Pedro Costa In oestadodaeducacao.blogspot.com, 2 de Julho


Presidente checo espera que Tratado seja bloqueado

O presidente da República Checa espera que o Tribunal Constitucional bloqueie a adopção do Tratado de Lisboa pela União Europeia.
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«Espero que a adopção do Tratado de Lisboa seja impedida pelo Tribunal Constitucional ou pelo Senado», declarou Klaus, numa entrevista ao diário Lidove Noviny.

Vaclav Klaus congratulou-se ainda pela decisão do polaco Lech Kaczynski de se recusar a assinar o Tratado, depois do ‘não’ irlandês, em Junho.

O presidente checo denunciou ainda as tentativas da França para continuar o processo de ratificação do documento e para criar uma União Europeia «à francesa».

«A nossa posição é necessariamente diferente e é por isso devemos fazer um esforço para que a União Europeia não se desenvolva da maneira que a França e que o tratado que foi rejeitado tentam impor», acrescentou.

Vaclav Klaus opôs-se ao Tratado por reduzir o poder dos estados individuais na tomada de decisão. In tsf.sapo.pt, 3 Julho, 10:51