2005/04/04

MARATONA PROKOFIEV

Aconteceu domingo dia 3 em Lisboa e apresentou-se um grupo de alunos de Alexander Toradze e o próprio na interpretação da integral das sonatas de Sergey Prokofiev.

A "maratona" começou com a pianista Irma Svanadze que na interpretação das sonatas 1 e 2 conseguiu transmitir-nos de forma arrebatada e inteligente a profunda rotura estilística que acontece de uma para a outra. Apesar de serem as primeiras, são obras bem conseguidas do ponto de vista formal. Parte da música de Prokofiev padece de um pensamento descritivo que que não consegue garantir uma boa consistência formal. Estas sonatas são obras deliciosas onde a errância ao nível do desenvolvimento que marca outras, sobretudo a quarta e a nona, não se faz sentir. Irma é uma pianista sensível dotada de grande técnica que está a dar os primeiros passos numa carreira internacional que prevemos grande. Esperamos ouvi-la brevemente na interpretação de Scriabin.

Vakhtang Kodanashvili deu-nos uma fabulosa interpretação das terceira e sexta sonatas. Foi o único que levantou o público das cadeiras, em nosso entender justamente. A sua paleta de dinâmicas é grandiosa, o seu controle é total e as suas interpretações arrebatadas são de grande clareza e compreensibilidade. Auguram um grande pianista que em certa medida já é.

Tea Lomdaridze interpretou a quarta sonata que é uma obra desinteressante e aborrecida. É uma boa pianista que conseguiu grandes aplausos. Apesar da obra...

Sean Botkin ofereceu-nos a sonata nº5 e a 8ª sonatas. Substancialmente um bom pianista.

O mesmo direi de George Vatchnadze que interpretou a nona sonata, demasiado longa para o tipo de concepção estrutural que adopta. Motivos que aparecem e desaparecem sem consequências, retorno sistemático aos temas sem um desenvolvimento bem sustentado. Enfim, o contrário da escrita genial que Prokofiev conseguiu nos concertos para piano e orquestra e na 7ª sonata que é uma grande obra. Esta última foi interpretada por Toradze que teve uma performance excelente no primeiro andamento (o contraste entre o primeiro e segundos temas...) mas já no segundo que é um "andante caloroso" o pianista foi linear com um arco dinâmico restrito. No último que diz "precipitato" foi totalmente contido. Inevitável a comparação com a gravação de Polini.
Para acabar Vatchnadze ofereceu-nos os 40 compassos descobertos à poucos anos do que viria a ser a 10ª sonata do compositor. Pelo menos nesta quatro dezena de compassos pareceu que poderia vir a ser mais interessante e bem conseguida que a nona. Basicamente o "tríptico de guerra"(sonatas 6,7 e 8) é o grande legado do compositor na forma sonata. Ast



Nota: Durante os dias 2 e 3 decorreu no Teatro de São Luiz em Lisboa a 3ª Festa do Jazz onde para além dos "veteranos" portugueses se apresentaram agrupamentos de escolas de todo o país. Ficamos impressionados com o elevado nível que estes estudantes já apresentam o que augura um bom futuro para o Jazz Português. Destaque para o Sexteto da ESMAE-Porto. A 4º Festa do Jazz já foi anunciada para os dias 1 e 2 de Abril de 2006. Evidentemente a não perder.