2005/04/06

SETE DISCOS TRÊS PIANISTAS E UM CONCERTO


Um dia em conversa-entrevista com o grande pianista Abdel Rahman El Bacha que vem de editar a integral dos concertos de Prokovief que parece ter entrado na moda, referi-me a Hélène Grimaud como uma vedetazita superficial. El Bacha imediatamente saltou em defesa da pianista ficando eu a imaginar uma paixão longínqua que o impeliu à defesa da virtual amada que na altura passava de dez em dez minutos no canal muzik, agora mezzo, publicitando a sua última realização discográfica.

El Bacha disse-me algo do género: não sei como ela toca actualmente mas era uma pianista com uma intuição e uma inteligência musical fora do comum.

Passaram-se meses, menos de um ano. Já há algum tempo que tenho uma colecção de cinco cd's de Hélène Grimaud editados pela Brilliant Classics (a um preço fora de concorrência como todas as suas edições). Foi o preconceito que me levou a esperar meses até os escutar. Hélène Grimaud para mim era uma espécie de vedeta de tv (ainda que televisão de qualidade) e não ia perder tempo a escutar cinco discos desta pianista. Mas acabei por os ouvir...

O que El-Bacha disse é uma evidência nestes registos e só um surdo ou alguém com má fé poderá negar. São registos de há anos onde se escuta uma pianista radiosa, plena de talento e expressividade, tanto no 2º concerto de Rachmaninov como na 1ª Balada de Chopin interpretada com um vigor e uma frescura fabulosas. Também na "sonata Dante" de Liszt a pianista revela grande técnica ao serviço de uma expressividade inteligente, o mesmo se passando na Kreisleriana de Schumann e nas sonatas e peças de Brahms.

Na primeira série dos Études-Tableaux de Rachmaninov, que aparece num dos cd's deste estojo, Grimaud não é de todo convincente. Para estes "études" recomendo-vos vivamente a interpretação (re-editada pela emi a preço ultra-económico na série encore) de Vladimir Ovchinnikov. Interpretação absolutamente transcendente. Neste disco Ovchinnokov demonstra ser um pianista imenso.

Já agora... recomendo Rudolf Buchbinder em "Chopin - piano works" da mesma série. Grandes interpretações por um grande pianista práticamente desconhecido em Portugal que na Gulbenkian fez uma excelente interpretação do concerto em fá para piano e orquestra de Gershwin. Consta no programa que Sergei Diaghilev terá dito que este concerto é "bom jazz mas Liszt mediocre". Não me parece. Liszt não é de todo e se fosse bom jazz seria boa música.
Pena é que Buchbinder não tivesse sido convidado para um recital a solo.

A segunda parte do concerto foi preenchida com obras para orquestra de Maurice Ravel. A Orquestra Gulbenkian dirigida por Lawrence Foster esteve bem, sendo muito aplaudida no final. Deveria ampliar-se integrando os musicos convidados. Neste tipo de programa para grande orquestra demonstra ser bem mais eficaz que nas obras para orquestra reduzida. Ast



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