A aposta de Oskaras Korsunovas (Lituânia) em encenar um clássico, já trabalhado de (quase) todas as formas e feitios, numa pizzaria, duas para ser mais preciso, que nem sequer são tipicamente italianas (e ainda bem), poderia resvalar para um caricato "dejá-vu". Na verdade por aí andou frequentemente, e o final tombou no lugar comum devido ao último movimento de caída dos amantes. Bastaria mantê-los na posição em que se encontravam, a rodar na máquina de amassar (a massa para as pizzas...), que de resto foi inteligentemente utilizada ao longo de todo o trabalho, e criar-se-ia um efeito de perenidade. O movimento de caída dos corpos, já mortos (ainda que este facto não tenha relevância), foi trivial e desnecessário. Estúpida banalidade de um gesto que significa "fim", e desencadeia o início das ovações... A trivialidade atravessou toda a criação, num movimento pendular entre riso e emoção (sem que o riso seja sempre e necessariamente trivial, e sabendo que o mesmo expressa emoções). No entanto, esta oscilação foi seguramente vista e revista pelo criador, sendo o resultado global não só inovador, como tem momentos de uma força dramática incomum, sobretudo se pensarmos que estamos a tratar de duas famílias burguesas, proprietárias de pizzarias, aparecendo, não se sabe como, um conde que quer desposar a plebeia Julieta. Talvez necessitasse do dote... Ou talvez a Julieta o atraísse (muito) especialmente. De facto havia um rolo de massa metido num dos bolsos dianteiros das calças do conde que nos remetia deliberada e ostentatoriamente para a simbologia fálica, que dominou toda a peça até à iminência da morte dos amantes, que surge como uma castração radical. Castração do prazer, da vida, da arte, de tudo. O "caso" entre a ama e o frade não pode deixar de nos remeter para a leitura que Peter Sellars fez na encenação de Don Giovanni, de Mozart, e que Zizec referiu em "Goza o teu Sintoma" (que é o sub-título da obra em causa mas que, para mim, é o que possui "significância"). Mas tudo isto são "quase-minudências"... As luzes, de Eugenijus Sabaliauskas, transformaram as pizzarias, primeiro em espaço de luta, depois em igreja e finalmente em tumba, com uma improvável eficácia plástica para um cenário imutável (levantaram-se as mesas, na cena final, para criar uma área delimitada, que foi o espaço onde aconteceu a morte dos amantes). O mecanismo de relógio, que aparecia esplendorosamente iluminado e activado durante as cenas entre os amantes, funcionou como potente simbolismo. O incrível texto de Julieta, re-criado com base na obra do inglês, foi um dos elementos que introduziram elevada "poiésis" nesta produção. A branca farinha esteve associada à morte, substituindo-se ao vermelho do sangue e ao veneno que conduz à morte, o que foi absolutamente eficaz, ou não funcionasse o branco como um símbolo, directo, da palidez da morte. A ideia de, no funeral de Julieta, serem grandes talheres a fazer de oferendas, em vez das tradicionais flores, foi brilhante, e a cena seguinte, com Romeu a rebolar-se, desesperado de morte (desesperado para a morte...), em cima das metálicas oferendas, foi outro momento conseguido. A convicção e desempenho dos actores foi um factor fundamental, mas, a parte sonora, de Antas Jasenka, foi (com o fantástico desenho de luzes) um dos "elementos primordiais" (o compositor partiu, em determinadas contextos, dos ruídos previsíveis, repetindo-os em "loops", criando, desta maneira, contextos de abstracto simbolismo; utilizou, em outras situações, sons electrónicos que conseguiam efeitos de um suspense antecipatório das sucessivas tragédias; nos momentos de hilariante euforia foi utilizada música popular, trespassada de uma sub-reptícia ironia, que fez lembrar os "scherzos" em ritmo ternário acelerado nas sinfonias de Shostakovitch - com as devidas distâncias - que impediu a queda no trivial; nas cenas dos amantes foi feita música com um "efeito etéreo" que não caíu no "cliché do costume") que fez desta re-criação da célebre tragédia, na minha opinião, a mais relevante (e interessante) da actualidade, que muito provavelmente ficará entre as mais marcantes baseadas no "Romeu e Julieta" de Shakespeare. Foi possivel vê-la em Lisboa, no Mite'07, que decorre no Teatro Nacional D. Maria II. AST
Tristes números
E é muito difícil acreditar em programas de reconversão do perfil económico da nação, como o Plano Tecnológico, quando um em cada quatro estudantes tem nota 1 nos exames de Matemática do 9º ano, em que apenas um em cada quatro alunos consegue passar. in Diário Económico, 17 de Julho, 2007, pag 36
Martírio diário
... este é o pior governo para a área educativa não superior de que guardo memória.
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Tudo o que seria importante para promover a qualidade do sistema de ensino ou não foi realizado ou foi objecto de medidas que degradaram ainda mais o que já era mau.
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Aumentou o facilitismo e a idiotização do ensino.
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Promoveu-se o clientelismo e premiou-se a delação e o servilismo.
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Mudou-se a legislação disciplinar, mas continua a ser mais fácil falsificar uma nota de 50 que actuar com eficácia sobre os pequenos delinquentes, que tornam a vida dos colegas e dos professores um martírio diário. Santana Castilho in Público, 19 Julho, 2007, pag 42
(in)Disciplina
João Dotti, vice-presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP)... considera, por exemplo, que a mão-de-obra mais jovem é pouco responsável perante o trabalho e "tem problemas de disciplina" in Diário Económico, 20 de Julho, 2007, pag 10
Mais formação e qualificações certas
Para Paula Carvalho, economista do banco BPI, "este ciclo vicioso só se vai quebrar quando a população activa tiver mais formação e qualificações certas, o que leva tempo"...
Quando a qualidade dos negócios fôr superior "as empresas vão querer segurar os empregados mais qualificados e investir mais nas pessoas, privilegiando vínculos laborais mais duradouros", juntou. idem
Pedagogia portuguesa
E o que se passa nos bastidores é horrendo. Sob a retórica igualitária, que pulula nesses círculos, sob os discursos dos pedagogos que dizem ser preciso valorizar os "saberes" que os alunos trazem de casa, sob a máscara de uma escola para todos, estamos a destruir o futuro das crianças mais pobres. Maria Filomena Mónica in Meia Hora, 6 de Julho de 2007, pag 4
Portugal tem dos piores gestores do mundo
O aumento da qualidade de gestão nas empresas é fundamental para melhorar a produtividade e competitividade do país.
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De acordo com um estudo realizado junto de quatro mil empresas, nos EUA, Ásia e Europa, pela Mckinsey, as empresas nacionais ficam sempre nos últimos lugares das tabelas classificativas. in Diário Económico, 16 de Julho, 2007, pag 8
Gestão é um reflexo do próprio país
...
O empresário considera que o défice educativo é um dos grandes problemas das empresas, que lhes diminui a capacidade de competir e de inovar. idem
Sine Qua Non
A imprensa escrita livre é a base da nossa sociedade democrática e os governos não devem intervir na regulação da imprensa escrita. É uma regra sine qua non. Viviane Reding, Comissária Europeia para os "media", citada in Diário Económico, 18 de Julho, 2007, pag 38
Nota: a comissária estava, concerteza, a referir-se a todos os "media" e não exclusivamente à "imprensa escrita".
Frases divertidas
Santana Lopes - alguém que, em lugar de "andar por aí", devia antes "desandar daqui"
CDS de Paulo Portas, cada vez mais um partido em riscos de nem um táxi encher no futuro... in Público, 18 Julho, 2007, pag 42