2005/01/31

CHOPIN POR MAURICIO POLLINI


Pollini é de alguma forma um dos mitos contemporâneos. Muitos o denigrem acusando-o de tecnicista e outras barbaridades do género. Mas a música de Pollini, materializada nas suas gravações e na memória de quem o ouve em concerto, resiste ao passar dos anos e a sua versão dos estudos de Chopin continua, apesar de ignorada e desqualificada por muitos "guias" de cd's, como a referência moderna para estas peças, aceite como tal pela generalidade dos pianistas e "melómanos".

Após três anos o pianista regressou a Lisboa desta vez com um repertório totalmente dedicado ao compositor polaco/francês (o grosso da produção de Chopin aconteceu durante a sua vida em Paris ainda que reportando-se frequentemente à música tradicional do seu país natal).


Na primeira parte foi claro um estilo mais meditativo (mais "metafísico"...) na abordagem do compositor. Isto foi para mim evidente na interpretação dos nocturnos. Muitos "cépticos compulsivos" torceram o nariz ao desempenho do pianista nesta parte do recital. Questões de pura clínica psicanalítica pois torcê-lo-iam em qualquer situação.

No final da segunda parte, com a interpretação da sonata op35, Pollini revelou o génio que é e sempre foi. Na realidade qualquer outro que adoptasse os seus andamentos apressados, a total quadratura do tempo na "marcha fúnebre" e a completa ausência de "rubato", arriscar-se-ia a um "chumbo". Pollini conseguiu fazer levantar toda a sala em estrondosos aplausos pois a sua interpretação "tocou fundo" em todos os presentes. É isto que o torna genial e um dos grandes pianistas de sempre. É impressionante esta capacidade de comover para além dos artifícios usuais da interpretação, mantendo uma fidelidade quase obcessiva ao texto onde o "génio" se exprime no natural fluir da música que se apresenta (aparentemente) sem mistérios. Como ela é, como está escrita, sem grandes "divagações personalizantes". E ela emerge de maneira única por isso ou apesar disso. E também por isso Pollini faz parte do reduzido núcleo de grandes pianistas que deixarão a sua impressão na história.

Nos extras, o pianista com a segurança e o afecto que o público que enchia totalmente o auditório lhe transmitiu, ofereceu-nos duas interpretações (um prelúdio e uma balada) que foram talvez o melhor de todo o recital, sobretudo a sua memorável leitura da Balada nº1 do mesmo Chopin. Ast



2005/01/27

VALENTIN BERLINSKY: Chostakovich está ao nível de Mozart e Beethoven


O célebre Quarteto Borodin apresentou-se na Gulbenkian de Lisboa com dois recitais em dias consecutivos.
No primeiro dia ofereceu-nos três quartetos de Schubert incluindo o nº14, conhecido como "A Morte e a Donzela", de que nos deu uma leitura deslumbrante.
No segundo dia foi a vez de Mozart em que foi incluído o quinteto para clarinete K581, sendo clarinetista Michael Collins.
Todas as interpretações foram geniais e paradigmáticas, como aliás seria de esperar deste agrupamento que desde há muito temos a felicidade de escutar com alguma regularidade. Há que realçar a enorme consistência estilística e a profunda compreensão das obras de autores tão diferentes quanto Mozart e Schubert.
Conversámos com o mais antigo membro desta formação, o violoncelista Valentin Berlinsky.


Álvaro Teixeira: Há muito que ouço o vosso quarteto. Lembro-me de vos escutar no Ateneu Comercial do Porto ou no Palácio da Bolsa, já não me lembro bem. Tocaram quartetos de Chostokovich e a vossa interpretação deixou-me hipnotisado. Desde esses recitais, que foram há mais de dez anos, o Quarteto Borodin conta com novos elementos. O que se alterou na vossa música desde essa época?


Valentin Berlinsky: Chegaram de facto novos membros que trazem todos eles contributos importantes. O fundamental e conseguimos é conservar as tradições que estiveram na origem deste agrupamento há cinquenta anos atrás.


AT: Penso que actualmente o único membro fundador é o senhor.


VB: Sim.


AT: Vocês têm uma relação particular e especial com Chostakovich.


VB: Eramos muito chegados. Tocavamos os quartetos que ele compunha com a sua "bênção". Antes de estrearem tocávamos-los só para ele.


AT: O que o fascina na música dele?


VB: É dificil responder a essa pergunta. Chostakovich é um compositor genial que está ao nível de Beethoven e Mozart. Por isso é tão dificil responder a essa pergunta. Ao mesmo tempo era alguém atento a tudo o que se passava no seu país na época em que viveu.


AT: Consta que o Pravda criticou a música dele. E pela audição pode notar-se uma inflexão estilística na sua obra. Inflexão supostamente relacionada com essa crítica. O Pravda dizia que a música dele não era compreendida pelo povo... O que nos pode dizer sobre isso?


VB: O que o Pravda escrevia nem sempre era verdadeiro. Havia quem queria destruir Chostakovich mas ele manteve-se sempre verdadeiro face a si mesmo. Não se deve prestar atenção a esses artigos dos jornais mas sim à obra que ele compôs.


AT: Que diferença encontra entre a vida musical de hoje na Rússia e aquilo que era há vinte ou trinta anos atrás?


VB: Infelizmente as diferenças não são só na Rússia mas no mundo todo. A Rússia particularmente encontra-se numa situação das mais difíceis desde o pós-guerra. Esperemos que as coisas más sejam superadas.


AT: Mas apesar de tudo músicos de excepção como os elementos deste quarteto continuam a viver lá...


VB: Sim. Tive sempre muitas oportunidades para sair do país mas nunca o fiz.


AT: Muito obrigado. Foi um enorme prazer conversar com o senhor que é um dos músicos que eu mais admiro em todo o mundo.




Tradução em directo por Artem Khmelinskii















2005/01/24

NÃO ME OUÇO A MIM PRÓPRIA




Sob direcção de Yuri Termirkanov esta orquestra apresentou-se ao público lisboeta num memorável concerto em que a Sagração da Primavera de Igor Stravinsky teve uma fantástica e genial leitura onde a potência e a precisão rítmica foram a marca da noite. De facto poucas formações têm esta capacidade rítmico-dinâmica, a capacidade de fazer subtéis nuances numa escrita em que o ritmo é o principal factor estruturante. Esta capacidade só é possivel devido à excelência de todos os membros da orquestra e evidentemente à direcção precisa, segura e assente numa clara concepção da obra por parte do director.

Na primeira parte tivemos o concerto para piano e orquestra de Schumann numa paradigmática e inspirada interpretação da grande pianista Eliso Virsaladze com quem conversámos.

Álvaro Teixeira: Eu sei que Sviatoslav Richter disse que a senhora é a maior pianista viva na interpretação de Schumann...


Eliso Virsaladze: Ó meu deus! É sempre a mesma coisa...


AT: Eu estive a assistir ao ensaio e achei bastante... Qual era a sua relação com Richter?

(risos)


EV: Era boa.


AT: Como pianista o que acha de Richter?


EV: Essa pergunta não é original. Só um idiota poderá pôr em causa que Richter não foi um dos maiores pianistas do mundo. Um pianista genial e espectacular.


AT: Tanto quanto eu sei na Rússia existia uma clivagem entre os admiradores do Richter e os do Gilels que são os dois dos maiores pianistas de todos os tempos.


EV: Não é nada disso. São dois pianistas muito diferentes e ambos muito bons. Trata-se de uma questão de preferência e de estilo. São ambos grandes pianistas.


AT: Nunca ouvi o Gilels ao vivo. Tive a felicidade de escutar duas vezes o Richter já com oitenta anos. Muito bom. Profundo e genial. Mas tocava um Chopin com muitas notas erradas. Por vezes parecia Debussy... Não será que ele devia ter parado a carreira antes de entrar numa fase em tocava com demasiados erros?


EV: Para começar Chopin não era nem o compositor preferido do Richter nem o que ele melhor interpretava. Mas mesmo os últimos concertos do Richter aos quais assisti foram muitos bons. Só por azar é que lhe pediram para fazer um programa com Chopin. O ter-se enganado não quer dizer nada. Ele foi sempre muito bom.


AT: A escola russa de piano é uma das melhores do mundo. Talvez a melhor. Mas não acha que é um pouco conservadora? Não me lembro de ter escutado pianistas russos a fazerem repertório da segunda metade do século vinte e contemporâneo.


EV: Não é bem verdade. Há muitos pianistas a tocarem repertório da segunda metade do século vinte. O problema é que ainda não há compositores da segunda metade do século vinte tão bons como os anteriores e por isso são menos tocados. Além disso os pianistas que se especializaram nesse repertório são menos conhecidos. Se fossem convidados para tocar nas grandes salas provavelmente ficariam vazias. Não há compositores tão reconhecidos como Stravinsky e Prokofiev. De resto Shostakovitch e Schnitke são mais clássicos que modernos.



AT: Quais são os seus compositores preferidos dentro do repertório para piano?


EV: Não existem compositores preferidos. O repertório para piano é imenso. Essa é uma pergunta para fazer aos violinistas e violoncelistas que têm um repertório muito mais restrito. Não é uma pergunta para fazer aos pianistas que têm um repertório imenso à sua disposição. Prefiro o que toco em cada concerto.


AT: Há pianistas que tocam mais Chopin. Outros preferem Liszt. Outros Schumman...


EV: Eu toco todos.


AT: Para si houve uma grande mudança, em termos do ensino e vida musical, na Rússia pós-Gorbatchov?


EV: Agora está tudo bem. Desde que não queiram transformar o ensino na Rússia à imagem do que se passa aqui, no Ocidente.


AT: Mas acha que o conservatório de Moscovo continua a ser o grande viveiro de músicos e talentos que era há vinte anos atrás?


EV: O conservatório de Moscovo continua a formar músicos talentosos e continua a ser um dos melhores conservatórios do mundo. No geral o mundo é que está pior, não é a instituição em particular que decaíu.


AT: Quais são os chefes de orquestra com quem gostou mais de trabalhar?


EV: Gosto de trabalhar com qualquer um com quem me entenda. Gosto muito de tocar com orquestras por isso desde que haja uma linguagem comum entre mim e o chefe de orquestra tudo bem.


AT: Quais são as gravações que realizou em disco e em cd que aconselharia aos leitores do meu blog? As que prefere e que gostaria que as pessoas escutassem?


EV: Nenhuma. Não me ouço a mim mesma por isso não sei aconselhar os outros a esse respeito.



Entrevista realizada com a gentil colaboração de Artem Khmelinskii que fez a tradução simultânea e a foto da pianista.



2005/01/19

QUINTA SINFONIA DE MAHLER PELA ORQUESTRA DA RÁDIO-FRANCE


Sob batuta de Myung-Whun Chung, que é o seu director musical, o agrupamento apresentou-se no Coliseu de Lisboa, a convite da Fundação Gulbenkian, poucos dias antes de se apresentar com a mesma obra no Théatre des Champs Elisés, em Paris.

Não sendo nem o maestro nem o agrupamento conhecidos pelas suas interpretações "mahlerianas", conseguiram oferecer ao público lisboeta um espectáculo cheio de poesia e momentos de beleza inerentes à obra do grande sinfonista austríaco que é um marco em toda a história da cultura.

O naipe das cordas desta orquestra possui um belo som que fez justiça ao maravilhoso adágio para cordas. Mas também ao longo de toda a obra as cordas revelaram-se um grande trunfo do agrupamento que é sem dúvida uma grande orquestra sinfónica (filarmónica neste caso). Mesmo no primeiro andamento em que a tuba teve uma "gaffe" terrível (acontece aos melhores...) a orquestra conseguiu manter o discurso, sendo este andamento talvez o mais bem conseguido nesta apresentação. Foi "tocante" a forma como foi introduzido o segundo tema. Com uma pulsação mais lenta que a utilizada pela generalidade dos intérpretes, Chung conseguiu uma momento de contraste e "suspensão poética" (uma emoção suspensa na tranquilidade de um deslumbramento sereno) que no mínimo foi memorável. O último andamento teve momentos de descoordenação mas a "coda" foi grandiosa e arrancou o público das cadeiras. O que é manifestamente insuficiente... Ast

















2005/01/17

António de Oliveira e Silva Posted by Hello


11/01/1933 - 14/01/2005


O conhecido violetista e professor, integrante de vários agrupamentos com carreira internacional, foi brutalmente assassinado pelo ex-marido da sua companheira. Um caso "passional", de dimensão nacional devido à figura de Oliveira e Silva, que deveria levar legisladores e magistrados a uma profunda reflexão. O direito português é inspirado no de um modelo civilizacional que não tem nada que ver com a realidade portuguesa: o direito alemão está de acordo com um determinado tipo de sociedade e funciona nesse tipo de sociedade. Os crimes de sangue em Portugal são pouco e mal punidos. Os criminosos sabem disso e a actual legislação é quase um "incentivo" para as práticas dos facínoras. Talvez por isso um desses ousou eliminar alguém que faz parte daquele grupo de pessoas indispensáveis a um país culturalmente débil, sendo a cultura a principal e por vezes única marca que fica de uma civilização para a "grande história". Este incrível assassinato de um excelente músico que também era um ser humano amável e generoso deve levar-nos todos, inclusivé e sobretudo os responsáveis europeus, a uma grande reflexão. No caso de Portugal se revelar incapaz de produzir uma legislação própria adaptada à sua realidade deverá ser essa "Europa", que cada vez mais tem consciência da diferencialidade do "caso português", a obrigar a alterações legislativas eficazes e dissuadoras do "crime passional" e outros "crimes de sangue" típicos de um certo "Portugal profundo".

De Oliveira e Silva fica-nos a imagem de um grande ser humano. Daqueles indispensáveis à viabilização de um Portugal capaz de se manter como nação soberana e respeitada no seio de uma Europa cada vez mais exigente em relação aos seus integrantes. AST







Não é hábito publicarem-se nesta página os e-mail's que os leitores enviam. A excepção vai para António de Oliveira e Silva que comenta o texto "Oficina Musical interpreta Jorge Peixinho e Álvaro Salazar":



De: "António Oliveira e Silva"
À: criticademusica@yahoo.fr
Objet: scarlos
Date: Mon, 10 Jan 2005 16:49:35 -0000


estou de acordo com o que escreveu, embora nem sempre as obras destes compositores possam ser executadas por orquestras sinfonicas, como sabe. O que é importante é que se dêem condições aos grupos independentes para as poderem executar. Como você, gostei muito do concerto de sexta. A Teresa já é mais que uma promessa. Oxalá não comece a tocar o que todos já tocam.














2005/01/15

Hiromitsu Agatsuma no Auditório Olga de Cadaval



Promovido pela Embaixada do Japão, Hiromitsu Agatsuma intérprete de Tsugaru-Shamisen, ofereceu-nos um interessante recital em Sintra que foi o concerto inaugural de "2005 EU-Japan Year of People-to-People Excanges".

O Tsugaru-Shamisen é um instrumento de três cordas dedilhadas com a ajuda de um plectro que é quase a imagem de marca deste género de Shamisen que é um pouco maior que o resto dos instrumentos denominados "Shamisen". Tsugaru porque este género de Shamisen foi desenvolvido na região de Tsugaru, no norte do Japão.

Existe um rico repertório folclórico que Agatsuma trabalha de forma virtuosística ao qual acrescenta algumas inovações sobretudo ao nível de repertório, o que levam a designá-lo como "intérprete de Tsugaru-Shamisen Contemporâneo".

Este recital foi enriquecido sobretudo pela presença de Kenichi Koizumi na execução de tambores japoneses. A sua performance, sobretudo nas peças de carácter tradicional, deram ao recital uma potência e uma acuidade impossiveis na ausência destas percussões. Já nas interpretação das obras de Agatsuma, algumas das quais revestiam um carácter fortemente "ocidental", a utilização destas percussões poder-se-ia questionar. Em determinados momentos pareceu-nos ouvir um "forcing". Já o instrumento de Hiromitsu conseguiu uma estranha adaptação a este género de repertório estranho à sua génese. Claro que nestas peças havia um piano de carácter eminentemente jazzístico sob os dedos de Yoichi Nozaki. Numa das composições de Agatsuma ouvimos harmonias muito parecidas ás dos Dire Straits e a execução de Agatsuma muito próxima da guitarra de Knopfler o que não deixou de nos impressionar. Noutras o pendor jazzístico era evidente.

Um arranjo especialmente bem conseguido e onde as percussões tradicionais conseguiram um grande envolvimento e efeito musical foi Libertango de Astor Piazzola que é música de enorme potência e impacto emocional, do qual este grupo nos deu uma interessante leitura com a sua sonoridade e estética peculiares.


A participação de Yuko Agatsuma na voz utilizando técnicas tradicionais de canto, foi também uma mais valia. Já a sua contribuição nas percussões (com uns guizos tradicionais e umas clavas) foi não só desnecessária como empobrecedora: limitou-se à quadratura, imprimindo pulsações regulares e previsíveis (ás vezes parecia um metrónomo...), coisa que empobrece qualquer texto musical seja em que estilo fôr. A sua contribuição vocal nas duas ou três peças em participou bastava para justificar a sua presença no concerto.


Este género de concertos, que infelizmente escasseiam em Portugal, são fundamentais não só para um (re)conhecimento da(s) música(s) e da(s) cultura(s) mas sobretudo para quebrar um certo isolacionismo estilístico que nos fecha os horizontes e nos impede o desenvolvimento das variadas formas de sensibilidade que se perdem se não forem estimuladas e desenvolvidas. Basta lembrar-nos de Debussy para percebermos o importância determinante que teve para ele o contacto com as músicas não ocidentais.
Mas mais do que isso o que está em causa é de facto a nossa capacidade ou incapacidade de disfrutar genuinamente de outras estéticas mesmo que elas já não nos cheguem no seu "estado puro". Mas a pureza é um conceito. Com o fosso que fatalmente permanece entre qualquer conceito e a "coisa em si" que ele re-inventa. AST















2005/01/13

SEQUEIRA COSTA INTERPRETA AS ÚLTIMAS SONATAS DE BEETHOVEN


No grande auditório Gulbenkian o pianista português escolheu um dos pianos mais antigos para conseguir uma sonoridade intimista. De alguma maneira conseguiu-o pois elegeu um instrumento pouco brilhante e com reduzida projecção sonora. Notas erradas houve muitas, sobretudo nos op 109 e 110, mas isso nunca foi um dos critérios fundamentais para avaliar a performance de um pianista com uma carreira do tamanho da vida.

Foi nas metamorfósicas variações da sonata op111 que o músico conseguiu uma leitura mais despojada e centrada no essencial musical, servida por uma clareza a que não foi estranha a escolha de andamentos especialmente lentos mas sobretudo a conseguida concentração do intérprete no texto musical, apesar da tosse do público. Evidentemente que esta opção pela lentidão característica de todo o recital poderá não ter agradado a todos. Porque não evitou lapsos técnicos e porque em meu entender na fuga da op 110 um andamento mais rápido enquadrado por uma rigorosa e inspirada gestão das dinâmicas conseguiria tensões mais impressionantes e uma interpretação mais arrebatadora. Preferiria na globalidade um maior contraste de pulsação entre os andamentos destas três sonatas. No entanto Sequeira Costa apresentou-nos uma leitura que gradualmente ganhou corpo e consistência estético-musical até culminar no segundo e avassalador andamento da op111 onde o artista alcançou uma interpretação com a qual arrebatou grandes aplausos do público que enchia totalmente o auditório. AST















2005/01/08

OFICINA MUSICAL INTERPRETA JORGE PEIXINHO E ÁLVARO SALAZAR


Realizou-se no Salão Nobre do Teatro Nacional de São Carlos (Lisboa) uma oportuna e justa homenagem ao compositor Álvaro Salazar a pretexto de um prémio de reconhecimento pela sua longa carreira como compositor, divulgador da música contemporânea nas suas variadas formas estético-estilísticas, fundador-director do grupo de música contemporânea Oficina Musical e também como pedagogo.
Nesta ocasião também foi atribuído um prémio "revelação" à jovem violoncelista Teresa Valente Pereira que iniciou o concerto executando com grande musicalidade a Sonata para violoncelo solo op 25 de Paul Hindemith e as Sacher Variation de Witold Lutoslawski. Um talento do qual muito se poderá esperar. Para já a intérprete aperfeiçoa a sua já grande técnica na Escola Superior de Música "Reina Sofia"(Madrid) sob orientação de Natalia Shakovskaya e de Michal Dmochovski.


Ainda na primeira parte foi-nos apresentada a obra LOV II de Jorge Peixinho, grande compositor e grande figura da história da cultura portuguesa, obra esta que revela o talento, a sensibilidade e a enorme intuição musical deste vulto incontornável da criação artística do século vinte que tem estado na penumbra desde a sua morte quando de facto merece um lugar na cena mundial. Foi uma emotiva interpretação da Oficina Musical e seus excelentes músicos.

Na segunda parte e depois de discursos de circustância, membros do referido agrupamento ofereceram-nos quatro interessantissimas obras de Álvaro Salazar que revelam um vulto criativo de grande dimensão, também ele de primeiro plano. Tal como Jorge Peixinho, Álvaro Salazar deveria ser tocado frequentemente em todas as temporadas. E deveriam ser as orquestras sinfónicas, entre outros agrupamentos, a dar a conhecer ao mundo estes compositores tal como o fazem as orquestras de todas as nacionalidades em relação aos seus criadores.
No que toca a este concerto o serviço de relações públicas do Teatro Nacional de São Carlos não fez qualquer divulgação. O que foi uma lástima pois muitos interessados desconheciam simplesmente o evento e por isso não puderam disfrutar da ocasião de ouvir obras de grandes compositores portugueses. AST