2007/06/19

O genocídio às nossas portas

Before she died, Heshu wrote this letter: "Me and you will probably never understand each other, but I'm sorry I wasn't what you wanted, but there's some things you can't change. Hey, for an older man you sure have a strong punch and kick. I hope you enjoyed testing your strength on me. It was fun being a 16-year-old at the receiving end. Well done."

in The Independent, 13 June 2007, pag 33

Descobriu-se que o grosso dos suicídios entre as jovens asiáticas (os britânicos incluem nesta designação as jovens procedentes do médio-oriente...) que residem no Reino Unido é um suicídio imposto pela família, devido a "questões de honra". É imprescindível que seja feito um estudo sobre as jovens das mesmas comunidades a residir nos outros países da UE, nomeadamente na Alemanha, Holanda e Bélgica. Agora sabe-se (na verdade as autoridades do "reino" já o sabiam há muito) que quando uma jovem "asiática" desaparece, no Reino Unido, e a familia diz que foi "para fora", provavelmente foi assassinada, ou obrigada a praticar um "suicídio assistido". Tudo por "questões de honra". Essas "questões de honra" prendem-se normalmente com a recusa em submeterem-se a "casamentos arranjados", por escolherem parceiros que as familias não aprovam ou por se afastarem do estilo de vida "devido". Os números em Inglaterra são assustadores. No resto da Europa são simplesmente desconhecidos. Quando a Europa assistiu, com ténues protestos, à re-habilitação da pena de morte no Iraque para enforcar Sadam, mas ao mesmo tempo ignora dentro de portas o genocídio das jovens que ousam contrariar as tradições das suas comunidades de origem, com as quais frequentemente não se identificam, questiono-me se (a "Europa") faz algum sentido. A mesma Europa que ignora este genocídio atroz, inaceitável e brutal, é a mesma Europa que manda milhões de euros para países estruturalmente corruptos, como a Roménia e a Bulgária*, que agora fazem parte da UE, muitos milhões de euros que irão, evidentemente, repousar nas contas dos mafiosos que controlam aquelas economias, e reforçar os esquemas de corrupção que dominam completamente aqueles países, sufocando os seus cidadãos e produzindo desigualdades que só encontram paralelo no hipocritamente já não chamado "terceiro-mundo". Será que os orgãos da UE desconhecem que no que toca à Roménia, por exemplo, "consta" que para qualquer projecto de envergadura ver futuro é necessário que os investidores acrescentem mais 17% em relação ao investimento total previsto? A ser verdade, será que a UE desconhece este facto, o que é incompetência manifesta, será que a UE institucionaliza a corrupção, fechando os olhos, ou será que a UE fechou ou vai fechar a "torneira" até o estado de coisas se alterar (se se alterar...)? Pelo passado podemos extrapolar que a "torneira" continuará a jorrar... Adiante. Yasmin Alibhai-Brown, no artigo acima citado, propõe que os assassinos por "questões de honra" sejam condenados a penas mais longas. Outros e outras falam na re-habilitação da pena de morte no Reino Unido: argumentam que se o Reino Unido permitiu, e apoiou, essa re-habilitação no Iraque, com maior grau de razão a deve re-habilitar dentro de portas, nomeadamente para a aplicar a estes "patriarcas" horrorosos, e seus cúmplices, que por supostas "questões de honra" não hesitam em pôr termo à vida de jovens dignas e corajosas que, contra os proclamados hábitos das suas comunidades de origem, preferem a morte à submissão a maridos asquerosos e violentos. Claro que o "reino" deixa a pena de morte para os outros. O "reino" auto-considera-se o exemplo acabado da "civilização ocidental" e portanto não pratica barbaridades... Mas a história demonstra que as grandes barbaridades humanas só foram estancadas com outras barbaridades, as guerras, por exemplo. De resto, os que estudamos um pouco sobre o assunto sabemo-lo muito bem, da mesma maneira que um "serial-killer" só hipocritamente se arrepende, também algumas formas de crença, nomeadamente a crença na sacralidade da tradição, podem ser irreversíveis, sendo o eventual arrependimento um "arrependimento" oportunista e hipócrita. Fundamentalmente não devemos esquecer as jovens assassinadas: são heroínas e exemplos de integridade, que não foram devidamente protegidas pelo "reino" e pela "Europa". O "reino" e a "Europa" devem tomar medidas, rápidas e eficazes, para pôr um travão, definitivo, aos matadores. Um dia os cidadãos ("europeus", porque os do "reino" estarão, como habitualmente acontece, ocupados com a raínha, os herdeiros e os pequenos escândalos entre celebridades que diariamente preenchem os jornais mais lidos pelos muito cultivados súbditos de "sua magestade") irão cansar-se de tanto crime, evitável, se fosse feito tudo o que deve, e pode, ser posto em prática para os parar. AST


* Se, como entre os "eurocratas" se pretende, todas as polícias da UE tiverem acesso às bases de dados umas das outras, nomeadamente às dos registos das licenças de condução, significa que os mafiosos romenos e búlgaros ficarão na posse desses dados. Toda a gente sabe que a máfia desses países está bem presente nas respectivas polícias, tribunais, "poder local" e até nos governos. O Reino Unido, porque se trata da segurança dos ingleses, já disse que esse assunto está completamente fora de questão. Se não tomar medidas "radicais", o que não é provável (...), a UE está condenada a abrigar as máfias, e outros criminosos, que nasceram ou residem nos países que actualmente a integram. Foi sem dúvida um alargamento "histórico", que augura um futuro brilhante para a UE. Já agora metam-se a Turquia e a Albânia, e teremos a "família", com os respectivos "padrinhos", completa. Seria muito interessante, antes de se imaginarem sequer novos alargamentos, fazer-se um estudo, sério e exaustivo, sobre o estado da corrupção, tanto entre os "novos", como entre os "velhos" membros da UE. É que da Roménia e da Bulgária todos sabem e todos comentam. E na Hungria, por exemplo? Já acabaram com os mafiosos e os proxenetas, que andam sempre muito ligados? E qual a situação exacta de um membro "sénior", como Portugal? Quais os tipos, localização e profundidade, das formas de corrupção actuais? Não vá o velho Portugal ser também estruturalmente corrupto, ainda que num registo mais elaborado e "soft", se comparado com a corrupção "crua e dura" que acontece na Roménia e Bulgária... E as liberdades? Como estamos de liberdades na velhinha Lusitânia de tradição autoritária?


Nota: depois de investir milhões num determinado país, a UE não deve, e não vai, simplesmente expulsa-lo ao verificar a incapacidade do mesmo para atingir "metas básicas" como a total eliminação da corrupção e a plena efectividade das liberdades e direitos fundamentais (aqueles que a existência de corrupção e máfias impedem de se efectivarem) para os seus cidadãos. Se um país não tem capacidade para levar por diante essa tarefa, apesar dos milhões de ajudas, terá de ser a própria UE a encarregar-se dela. É possivel que hajam países no seio da união que não o consigam. Nesse caso, a UE deve sentir-se absolutamente responsável para concretizar esse objectivo fundamental. Quem aceita receber milhões e sabe que não os vai poder devolver, está, implícita e explicitamente, a fazer um contrato com quem lhe "oferece" o "maná". Acredito que para os cidadãos honestos desses países seria uma excelente notícia se a UE decidisse encarregar-se dos seus destinos, subtraindo-os ao despotismo dos corruptos nacionais.







Velha Europa

Primeira-dama italiana é atropelada à porta do palácio

Clio Napolitano, de 72 anos, foi atropelada numa passadeira em frente ao Quirinale, por uma condutora de 74 anos... in http://sol.sapo.pt (6a-feira, 29 Junho)



Portugal...

Em Portugal, no ano de 2006, foram mortas pelos namorados e maridos 39 mulheres. in Focus - Portugal, nº400



Cultura

Treze milhões de italianos foram ao teatro em 2006, cifra superior, pela primeira vez nos últimos anos, aos 12,7 milhões que assistiram a acontecimentos desportivos. in Meia Hora, 26 de Junho de 2007



Embuste total

Esses cursos *, se o Ministério quer poupar, devem ser encerrados de imediato!!! Qualquer aluno com um mediano 5º grau de um Conservatório (vamos chamar assim para que todos compreendam), o equivalente a um 9.º ano, sabe mais do que qualquer licenciado nos Escolas Superiores de Educação se nunca recorreram a instituições onde possam aprender música!
É o embuste total! Cursos cheios de pedagogia, mas sem um mínimo de curricular de música não conferindo qualquer competência, nem como professor e muito menos como músico! in http://ideias-soltas.net/2007/06/12/ensino-artistico-a-caminho-de-uma-peticao/#comments

* ministrados nas Escolas Superiores de Educação



Imensas coisas!

... defendeu uma pedagogia “próxima do brincar, actividade em que a criança aprende imensas coisas”, que tem por base a teoria do lazer: descansar, divertir e desenvolver.
...
Isto só pode ser brincadeira! Continuo, francamente, sem perceber para que servem estas Escolas Superiores de Educação, em especial, no que à educação artística diz respeito e que cada vez cativam menos alunos para os seus politécnicos cursos!

É a estes especialistas, sejam os das Escolas Superiores de Educação sejam os das Ciências da Educação que o Ministério da Educação se agarra para, paulatinamente, ir empobrecendo a educação das crianças e adolescentes e desmotivando (não tenho a mínima dúvida) os bons professores!
...
Num momento em que sobre tudo e todos recaem suspeições, seria prudente que o Governo evitasse de alguma forma que se possa pensar que há estudos encomendados à medida dos interesses do Ministério da Educação! in http://ideias-soltas.net (22Jun07)



2007/06/16

Alfred Brendel contra a tosse

Talvez os "tossantes" não tenham percebido, mas a mensagem de Brendel ao levantar a mão era clara: ou se calam ou vou-me embora. Felizmente, entre os milhares que enchiam o renovado Royal Festival Hall, cuja sonoridade não melhorou sensivelmente, somente um ou dois exprimiram de novo a sua tosse, e com "surdina"... Apesar da brendeliana austeridade, as tosses foram menos que as notas erradas e esmagadas que Brendel deu ao longo do recital, para não falarmos da "passagem desaparecida" no primeiro movimento da sonata de Mozart. Acontece... O Haydn esteve mais ou menos bem. Anos-luz aquém daquilo que Brendel oferece nos discos... A op 110 de Beethoven foi tocada com muito cérebro e pouca emotividade. Não percebo porque é que um espectador, que estava ao meu lado a abanar-se e a mexer os dedos, como quisesse dizer "eu faria assim", se emocionou e chorou... O Schubert foi supremo. Brendel é um dos maiores shubertianos de sempre e isso ficou claro no "encore", que foi talvez o melhor de todo o recital. Os ouvintes ingleses são o que são... Depois de um "encore" fora de série, ovacionaram muito brevemente, levantaram-se e abandonaram a sala. Em contrapartida, fartaram-se de gritar bravos a uma sonata de Mozart cujo andamento central foi aborrecido e desprovido de veia... Livios Pereyra

2007/06/12

Richard Rorty

04/10/1931 - 08/06/2007


Rorty foi um dos pensadores mais importantes do sec. XX. Condicionou o advento do "pos-modernismo" ao proclamar que se deve abandonar a procura da "verdade objectiva". Foi igualmente um leitor inteligente e prespicaz de muitos autores, sendo a obra que dedicou a Aristoteles uma entre as relevantes para o estudo do pensador grego. Philosophy and the Mirror of Nature (1979) e Contingency, Irony and Solidarity (1989) são os seus livros mais importantes.









UK: Mahmod Mahmod murdered daughter Banaz

The victim of an "honour killing" had been dismissed by police as a fantasist

Mr Sulemani (Banaz's boyfriend) was deemed unsuitable because he did not come from the villages in Iraqi Kurdistan where the Mahmods originated.

Banaz feared for her life when her father came towards her menacingly, wearing gloves, and she jumped through a window.

When she told a police officier, PC Angela Cornes, about what happened, her account was dismissed as fantasy.

Mr Cornes even wanted to have her charged with criminal damage for breaking the window.

One of the men later admitted his part in the crime, while the other two have fled the country.

in Metro UK, June 12, 2007


Because Mr Sulemani was not a strict Muslim and not from the Mirawaldy region, Miss Mahmod's father ruled that she would never marry him.

When Ari Mahmod (Banaz's oncle) saw the photograph of the embrace (taken by a member of the Kurdish community), he contacted a gang of Kurdish thugs and planned the murders.

in The Times, June 12, pag 7


In the pictures of them (Banaz's murders) in the newspapers, their eyes shine bright. No shades of self-doubt

in The Independent, 13 June, 2007, pag 33







The possibility that such crimes were going undetected was strengthened when it emerged that three times as many Asian women aged between 16 and 24 commited suicide, compared with the national average.

in The Times, June 12, pag 6







"You will be the next", Asian woman is told

Violence is behind high suicide rates

in The Times, June 13, 2007, pag 15













Portugal...

A mulher de 76 anos que alegadamente roubou um creme de beleza de 3,99 euros num supermercado em Paranhos, no Porto, sofreu hoje uma reviravolta em tribunal, com a procuradora do Ministério Público a pedir a sua absolvição.

Segundo o advogado oficioso da arguida, Sousa da Silva, o juiz ordenou na sessão anterior a entrega por parte do Lidl de meios de prova e o próprio supermercado entregou ao tribunal um talão que prova que a mulher pagou o creme naquele dia 18 de Outubro de 2005, às 11h54.

Perante estes dados, a procuradora do Ministério Público pediu a absolvição da ré e o mesmo solicitou o seu advogado. O juiz vai agora "analisar o processo" e ditará a sentença no próximo dia 21, pelas 15h30.

O julgamento desta septuagenária, natural de um concelho minhoto, teve início a 23 Maio nos Juízos Criminais do Porto. Apesar do valor irrelevante do creme de beleza alegadamente roubado (3,99 euros), o Ministério Público decidiu avançar com a acusação, num processo que custará centenas de euros ao Estado, sendo que só o advogado oficioso da arguida recebe 264 euros por cada sessão do julgamento

13.06.2007 - 13h44 Lusa









O ALARIDO DOS INOCENTES

No dia 3 de Junho, a seguir às notícias das 20.00, a RTP1 entrevistou um sujeito que está pronunciado pelo homicídio de três raparigas, cometido em circunstâncias particularmente chocantes. Sem a autorização e a complacência da autoridade prisional, a entrevista não teria sido possível.

Tratou-se de um genial acesso de sensacionalismo da televisão do Estado, para antecipar, face à concorrência, a rotunda negação da prática dos crimes que, no dia seguinte, iria ser feita pelo acusado na audiência de julgamento.

...

- o Serapião Cuco, acusado de tráfico de armas, a jurar que as dez metralhadoras, as seis granadas de mão, as 18 pistolas de guerra, os pacotes de munições e os 50 mil euros em rolos de notas tinham sido encontrados numa serapilheira pelo filhinho de tenra idade, quando andava a brincar atrás de uma moita no pinhada Remontada de Baixo;

- o Libânio Surrobeco, acusado de violação, a contar como é que viu passar Isménia ao lusco-fusco e se limitou a pedir-lhe lume, para o que ela teve de tirar o isqueiro do soutien e, como não o encontrava, teve de tirar o soutien, prestando-se mui esbraseada a tudo o que se passou em seguida.

Se já ninguém acredita na Justiça, porque é que a RTP não há-de ter o desvelo carinhoso e solidário de dar voz aos inocentes?

Os dramas de faca e alguidar e o insuperável gabarito intelectual das entrevistas sacudirão a brandura atávica dos nossos costumes, provocarão o tremendo abalo catártico das almas, exarcebarão titilações sincopadas dos sentimentos, educarão para a cidadania, produzirão cultura da melhor, evitarão os erros judiciários, contribuirão para a aprendizagem ao longo da vida, potenciarão o aproveitamento escolar, porão de cócoras os nossos parceiros europeus e farão com que as audiências subam na vertical.

A RTP e a autoridade prisional continuarão a achar que colaboram num verdadeiro serviço público.

Ninguém lhes vai à mão. Ninguém responsabiliza ninguém. Ninguém vai para a rua. O Governo, esse, inimputável, impávido e sereno, assobia para o lado.

V G Moura in http://dn.sapo.pt/2007/06/13









Portugal de sempre

- Perdão... Que o Diabo lhe tire a sua dor de cabeça, senhora baronesa!
O velho democrata desaparecera discretamente. E da antessala Ega avistou logo ao fundo, no tablado, sobre um mocho muito baixo que lhe fazia roçar pelo chão as longas abas da casaca - o Cruges, com o nariz bicudo contra o caderno da Sonata, martelando sabiamente o teclado. Foi então subindo em pontas de pés pela coxia tapetada de vermelho, agora desafogada, quase vazia: um ar mais fresco circulava: as senhoras, cansadas, bocejavam por traz dos leques.
Parou junto de D. Maria da Cunha, apertada na mesma fila com todo um rancho intimo, a marquesa de Soutal, as duas Pedrosos, a Teresa Darque. E a boa D. Maria tocou-lhe logo no braço para saber quem era aquele músico de cabeleira.
- Um amigo meu, murmurou Ega. Um grande maestro, o Cruges.
O Cruges... O nome correu entre as senhoras, que o não conheciam. E era composição dele, aquela coisa triste?
- É de Beethoven, sr.ª D. Maria da Cunha, a «Sonata Patética».
Uma das Pedrosos não percebera bem o nome da Sonata. E a marquesa de Soutal, muito séria, muito bela, cheirando devagar um frasquinho de sais, disse que era a «Sonata Pateta».
Por toda a bancada foi um rastilho de risos sufocados. A «Sonata Pateta»! Aquilo parecia divino!
Da extremidade o Vargas gordo, o das corridas, estendeu a face enorme, imberbe e cor de papoula:
- Muito bem, senhora marquesa, muito catita!

Eça de Queiroz, Os Maias (in tonicadominantepb.blogspot.com)








Portugal jovem

Já no carro-patrulha, o desordeiro continuou agressivo, pontapeando o banco da viatura. A fúria continuou na esquadra. Segundo fonte policial, o desempregado tentou "automutilar-se" desferindo várias cabeçadas no chão e nas paredes. Actos que repetiu no Hospital de S. João, onde foi conduzido por uma equipa médica do INEM. Ali, continuou às cabeçadas, inclusive em algumas macas. in http://jn.sapo.pt (2007/05/07)

A recusa de um cigarro terá estado na origem de um desentendimento entre dois jovens que terminou com um deles, de 21 anos, atingido a tiro numa perna. idem