Arautos da BarbárieA direita inteligente, que felizmente até em Portugal existe, já tomou posição em relação ao referendo que se aproxima. Este referendum vai permitir que os portugueses limpem algumas das manchas que têm colocado o país, com demasiada regularidade, na boca dos europeus, e do mundo, sempre por maus motivos. Os "defensores da vida", muitos dos quais se preocuparam pouco ou nada com as vidas, essas sim plenas de vida, destruídas pelo antigo regime, aparecem esgrimindo argumentos pseudo-ciêntíficos, como o fazem todos os vendedores de banha da cobra. Não vale a pena perder-se tempo a refutá-los, porque são absurdos e provêm, grosso modo, de carnívoros convictos. Aos budistas, meus amigos, compreendo-os, mas nesta particular situação afasto-me deles. Aos carnívoros convictos, aos caçadores de fim-de-semana, ou de semana inteira, reminiscências do antigo regime, intelectuais de pacotilha, melómanos pastosos e bigoteiros sarnentos, nada tenho a dizer porque nunca nada tive para lhes dizer.
Importa salientar, uma vez que há filósofos, ou que se pretendem tal ou a tal aspiram, metidos ao barulho, primeiro, que a vida tipicamente humana só existe quando nela se manifesta um aparato simbólico-representativo. Segundo, até recentemente a paternidade era uma incógnita, sendo a mãe o único ser consanguíneo do qual se podia afirmar inequivocamente que o era. Nas sociedades de linhagem matrilinear o suposto pai biológico não tinha qualquer importância, e nas sociedades de inspiração matrilinear, como as escandinavas que são as mais evoluídas do mundo, tão pouco o tem. Terceiro: ao nível da estruturação psíquica o papel da mãe continua fundamental, ao passo que a função de castração desempenhada pela figura paterna é mais facilmente substituível, nomeadamente pela escola e pelo Estado. Se funcionarem com eficácia... Na situação actual, a Portugal resta escolher entre a barbárie da hipocrisia e uma aproximação à "grande Europa". Com todas as implicações que o resultado terá para o futuro do país. A direita inteligente sabe disso e já se pronunciou. O que é mais significativo que o sim de aqueles que por princípio sempre votariam SIM.
ASTRESULTADOS: Total do País
Freguesias apuradas 4260
Freguesias por apurar 0
Inscritos 8832990
Votantes 3851613 43.60%
Em Branco 48185 1.25%
Nulos 26297 0.68%
Opções Votos %
Sim 2237565 59.24
Não 1539566 40.76
Finalmente em Portugal acontece algo inteligente...
É preciso dizer que todos os estudos consultados convergem para a importância da história e da cultura política que conduzem a um padrão de aceitação e reprodução de comportamentos corruptos. Logo, não há soluções mágicas nem mudanças a breve trecho. Apesar disso, existem vários casos de agências anticorrupção tidas como bem sucedidas, nomeadamente no Chile, Hong Kong, Austrália e Singapura. [Huther e Shah, Anti-Corruption Policies and Programs, World Bank Working Paper n.º 2501, 2000]. A questão-chave é que o sucesso destas agências depende essencialmente da natureza do Estado, e da qualidade da governança, entendida como um conjunto de indicadores desde o funcionamento da justiça à estabilidade política, à transparência e eficácia da administração pública. Portugal encontra-se mais uma vez numa posição intermédia nestes rankings, e nesses casos e nos de Estados com boa governança as agências anticorrupção podem ter uma influência positiva. A criação da comissão de Cravinho, se tivesse independência e recursos para exercer o seu mandato (um grande se), poderia ajudar a mediatizar e a dificultar a possibilidade de ganhos ilícito da política. As alterações da moldura penal, mas essencialmente o bom funcionamento da justiça, seriam fundamentais a efectivar o resto da equação, nomeadamente a aplicação de sanções. Marina Costa Lobo
in Diário de Notícias, 27 de Janeiro de 2007