2009/02/26

Se os alemães não pagarem?

No passado fim-de-semana, Sócrates fez gazeta à cimeira europeia para ficar em casa, a aquecer-se ao calor do rebanho socialista em congresso. Ferreira Leite estranhou. Mas, como foi decretado que tudo o que a senhora diz é gafe até prova em contrário, também a atenção nacional preferiu Espinho a Bruxelas. No entanto, a ausência de Sócrates ainda pode vir na História: como símbolo da distracção paroquial de que somos capazes, mesmo à beira do vulcão.

A cimeira de Bruxelas pôs o ‘Wall Street Journal’ e o ‘Economist’ a especularem sobre o fim do actual modelo de unidade europeia. Não é alarmismo sem fundamento. Os países mais pobres do continente (como Portugal) convergiram com a Europa rica em consumo, mas não em produtividade. Agora sofrem por isso: a leste, desvalorizam-se as moedas; a sul, encarece o crédito externo. E todos esperam e pedem o socorro dos países ricos – isto é, da Alemanha.

E se os alemães não quiserem pagar? E se, pagando, isso não chegar? Habituámo-nos a dar por adquirido o tio rico da Europa, e a pensar que ele nos garantiria tudo. Os economistas explicam-nos que, fora do euro, já teríamos passado por uma bancarrota argentina. Há tempos, o dr. Soares imaginava que sem a UE haveria tanques na rua. O que acontecerá se a UE, tal como a conhecemos, for uma baixa da crise? Preferem não pensar nisso?

Nota: um estudo revelou que 2/3 dos alemães desejam abandonar o euro e voltar ao antigo marco. Há alguns aspectos a considerar: 1º os alemães já tiveram a experiência de ter de reconstruir a ex-Alemanha de "leste" e ainda persistem diferenças entre parte ocidental e a oriental, apesar dos biliões dispendidos pela parte ocidental. 2º a Alemanha também está a sofrer da crise e não acredito que possa aguentar com toda a crise europeia, mesmo que tenha essa vontade. 3º a Inglaterra manter-se-á de fora, especialmente em tempo de crise, e reforçará a ideia de manter a libra. A libra está a descer e isso só favorece o aumento das exportações inglesas e o turismo. A Inglaterra não vai contribuir mais para os cofres europeus: estará dentro da UE para o que lhe convém e não estará para o que lhe desagrada ou entende que não lhe convém, como aliás sempre fez. 4º a ideia de que países como Portugal não souberam aproveitar os biliões que receberam durante mais de 30 anos tem fundamento e não pode ser interpretada como racismo ou nacionalismo por parte dos alemães.


Censura

Segundo o PÚBLICO «O incidente entre José Eduardo Martins (PSD) e Afonso Candal (PS), que acabou quinta-feira com insultos do social-democrata ao deputado socialista, não vai ter consequências internas e as frases polémicas nem sequer vão figurar nas actas da reunião, que ontem estavam ainda a ser transcritas pelos serviços da Assembleia da República (AR).

Tanto a direcção da bancada do PS como a do PSD e a própria mesa da AR se certificaram de que as frases não seriam transcritas na acta.

Nota: é como fazem muitas comissões executivas das escolas básicas e secundárias portuguesas. O Correio da Manhã, edição impressa de sábado 7 de Março de 2009, informou que numa escola um aluno ameaçou outro com uma arma de fogo. Pois a Comissão Executiva da escola disse que se tratava de uma arma de brincar! O jornal confirmou que era uma arma a sério. A ministra da educação anteriormente tinha afirmado não corresponder à realidade o alerta do Procurador Geral da República para o facto de existirem armas de fogo nas escolas portuguesas e de que facas (e navalhas) são "às centenas"...


Autoridade de Estado

A autoridade do Estado só se pode apreciar devidamente depois de se verificar onde se aplica e onde se desvanece. Entrar numa livraria para apreender livros, num sindicato para indagar em patrulhamento de proximidade o itinerário de uma manifestação de professores, identificar manifestantes à porta de uma fábrica, pode fazer vibrar os apoiantes da velha ordem e outros da nova. Mas deixar que uma testemunha seja insultada e maltratada à saída de um sítio problemático como um tribunal em acto de soberania, serve de compensação ao excesso de zelo, ou faz parte da mesma cultura castiça?

Nota: é a mesma cultura castiça que considera pouco relevantes as agressões e insultos aos professores nas escolas e que tem como consequência quase meia centena de mulheres assassinadas pelos respectivos companheiros (muitos ex-companheiros que continuavam a considerar as ex-esposas e ex-namoradas como "suas", note-se o grau de anormalidade e de aberração que trespassa o "mundo português") só durante o ano 2008. Tudo "danos colaterais" pois o país, esse continua na senda de alcançar os seus desígnios grandiosos que o consagrarão mundialmente (ainda mais...) como um Estado sério, democrático, eficaz e respeitado...


Do mundo pseudo-desenvolvido e da reforma de Goodwin

Quantas vezes menos vale o maior banco privado português se comparado com o Royal Bank of Scotland? 50 vezes menos? 100 vezes menos? Tende para não ter qualquer valor quando comparado com o RBS (o facto de ter sido salvo com 20 biliões de libras, independentemente de se achar bem ou mal, mostra a sua importância)?

Sabe-se que o CEO de um banco privado de Portugal foi dispensado e compensado (pelo seu mau desempenho...) com 30.000.000 euros, mais algumas horas de uso mensal do jacto privado do banco. Fred Goodwin, ex-CEO do RBS, abandonou o lugar e ficou a receber 693.000 libras/ano, vitaliciamente, quantia que parece ter sido aceite sem pestanejar pelo mesmo governo trabalhista que agora se mostra indignado e quer reduzir o montante para metade. Muitos contestam a metade e consideram que Goodwin deveria retirar-se sem levar nada, dado seu mau desempenho ("mau desempenho" neste caso significou, para além da perda de cerca de 25 biliões de libras, 20.000 postos de trabalho que desapareceram). A discussão pública vai continuar, mas Goodwin diz que foi tudo acordado com o governo. Outros acham que o banco deveria ser deixado falir e o fundo especial de 17.000.000 libras que foi criado para garantir a reforma de Goodwin evaporar-se-ia. O governo de Gordon Brown promete batalhar nos tribunais... Melhor: diz que pode alterar as leis para impedir que Fred continue a receber o "bolo" anual! Surpreendente vindo de um governo tido como "mole", mas se não fosse a internet e a imprensa, ou vice-versa, ficaria tudo no "segredo dos deuses". Nos Estados terceiro-mundistas paga-se logo o "bolo" inteiro: os banqueiros e os administradores de empresas podem-se escapar sem correrem o risco que Goodwin corre actualmente. Hi Fred! Porque não escolheu Portugal, ou outro parecido, para "trabalhar"? (afinal parece que aquilo de retirarem o "bolo" a Goodwin foi somente uma "boca" de uma ministra... que o governo não pode dizer e desdizer ao mesmo tempo e aprovar leis para funcionarem rectroactivamente, gorando as expectativas criadas nas pessoas... parece que isso acontece nos países terceiro-mundistas... mas que nesses países terceiro-mundistas essas coisas más com retroactividade nunca se aplicam aos banqueiros e administradores, sujeitos que, nesses países, normalmente pobres e socialmente muito atrasados, levam sempre o bolo inteiro... e que devem estar a pensar de tudo isto os 20.000 desempregados originados por Goodwin? Bem... provavelmente devem estar mais protegidos e ter melhor qualidade de vida que os empregados nos países "em vias de desenvolvimento", e aparentados... mas... Fred Goodwin não juntou uma fortuna que lhe permite rescindir da reforma sem ter de prescindir do seu luxuoso estilo de vida? Quer deixar fortuna suficiente para os herdeiros não se confrontarem com aborrecimentos como eventualmente terem de trabalhar?)

Nota: como parece terem existido irregularidades no processo de estabelecimento do contrato de reforma de Goodwin, o governo britânico e a actual administração do RBS vão impugnar o mesmo nos tribunais. Em Portugal nada disto aconteceria e Fred nunca teria estes problemas: um "pacote" de dezenas de milhões como alguns levaram (nem que fosse "somente" de dez milhões...), um "off-shore"... Problema resolvido. Viva o mundo pseudo-desenvolvido!


PJ faz buscas no Ministério da Educação

As buscas foram realizadas em Fevereiro na sede do ministério. Em causa está um contrato com João Pedroso que não foi cumprido.

O Ministério da Educação foi alvo de buscas por parte de uma equipa de investigadores do Ministério Público e da Polícia Judiciária. No início de Fevereiro, sete elementos das duas entidades entraram nas instalações da sede do ministério na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa, no âmbito de uma investigação ao contrato de 288 mil euros assinado entre o ministério e o magistrado, João Pedroso. in economico.sapo.pt, 03/03/09, 00:06

Nota: mais um caso de polícia...