EMOCIONANTE WOZZECK NA ROYAL OPERA
Esta opera de Alban Berg, sendo um trabalho de genialidade incomparavel, de grande e inteligente conceito estrutural, possuindo um impressionante trabalho instrumental, assente num igualmente genial e eficaz libreto, feito pelo compositor e inspirado na obra de Georg Buchner, teve, sob batuta de Daniel Harding, uma leitura deslumbrante e potente, dia 13, na casa londrina, conhecida, no estrangeiro, por Convent Garden, devido ao mercado ao lado onde afluem milhares de turistas todos os dias, passando a casa de opera relativamente despercebida, excepto para aqueles que a procuram expressamente. Mas deixemo-nos de "palha"...
O libreto, por si mesmo, tem um impacto incomum pois trata-se de um "conto" que reflete uma realidade social e psiquica. Um conto que se poderia passar ao nosso lado. Bom... esperemos que nunca mais se possa passar ao nosso lado, mesmo em paises mais atrasados. Ou "mais tradicionalistas" se preferirem... Mas a musica de Alban Berg! A genial, inspirada, emotiva e impactante musica de Alban Berg, transforma um conto, que de resto nunca seria banal porque escrito por Berg e inspirado em Buchner, numa obra prima. Num "chef-d'oeuvre" universal, de genialidade suprema, seja musical seja dramaticamente.
Claro que uma orquestra mediana nunca poderia restituir-nos esta obra imensa. Mas a orquestra (e o coro) da ROH, sob controle de um Harding inspirado, deram-nos um Wozzeck que foi um acontecimento. Um grande acontecimento. Entre os ouvintes muitos foram incapazes de conter o choro, ouvindo-se e vendo-se alguns a assoarem-se, discreta mas repetidamente... Um acontecimento de grandissimo impacto emocional e interpretativo.
Claro que ouve cantores que, igualmente inspirados, permitiram que mais uma opera na ROH se transformasse num acontecimento de primeirissimo plano mundial. Johan Reuter, na pele de um perturbador e perturbado Wozzeck, com uma voz profunda, potente e perfeitamente colocada. Capaz de uma estonteante performance teatral foi um Wozzeck de facto impressionante, sendo o cantor-actor mais ovacionado da noite. Susan Bullock, no papel de Maria, com um voz de grande intensidade, grande dramatismo e capacidade ser ora luminosa ora sombria, teve igualmente uma performance de nivel superior. Graham Clark, no papel de oficial (captain), correspondeu perfeitamente a uma caricatura que o cantor-actor deve dar deste personagem de espirito curto mas capaz de rasgos e tiradas "para-filosoficas". Como de resto(quase) todos os imbecis... Kurt Rydl foi um alucinado doutor, extasiado com a possibilidade de fazer historia, que o fazia entrar em delirio argumentativo, sendo o parceiro ideal para o caricato oficial. Diferentes mas basicamente iguais... Finalmente Peter Bronder e Claire Powell foram respectivamente Andres e Margret, contribuindo, dentro do limite imposto pelo seu papel nesta obra, para a grande performance de todo o conjunto de musicos, cantores e chefe-de-orquestra. A cenografia de Keith Warner foi francamente eficaz. Dividindo o palco em duas partes (totalmente opostas devido aos materiais utilizados, cores e ambientes) permitiu-nos ver Wozzeck no seu trabalho, os seus comportamentos, enquanto os acontecimentos que ditariam todo o fio do drama se desenrolavam com Maria na casa de ambos. Sem margens para grandes disputas, esta cenografia, "post-moderna" e inteligente, serviu a obra de Alban Berg, acentuando o dramatismo e o ambiente terrificante que vai em crescendo do principio ao fim desta obra musical impar. Ouve aspectos menos conseguidos como, por exemplo, o painel em forma de triangulo invertido que desceu duas ou tres vezes sobre o ambiente de trabalho de Wozzeck... Ninguem percebeu o que o encenador pretendeu com aquilo uma vez que funcionou como um acessorio gratuito que dividiu o mesmo ambiente sem o transfigurar realmente. Mas excluindo este aspecto negativo o trabalho de Warner optimizou o dramatismo e serviu eficazmente o "espirito da obra". As luzes, de Rick Fisher, foram uma muito grande mais valia para a cenografia. Livios Pereyra
Attention les députés ! un juge ne brigue pas un mandat électoral, il applique des lois. Et la pathologie des sentiments n'a rien à voir dans leur exécution.
Ils ont osé voir en lui un gamin, sans même reconnaître l'adulte qu'ils ont formé.
Fabrice, remets-toi, je suis là et je ne demanderai aucun privilège quand moi aussi, et à cause de ce que j'ai fait de toi, tu me jugeras. Charles Melman in www.freud-lacan.com (22/02/2006)
QUARTETOS DE SHOSTAKOVICH PELOS EMERSON STRING QUARTET
Durante os concertos desta integral, que aconteceu entre os dias 5 e 11, o Queen Elizabeth Hall esteve sempre cheio e os ouvintes ovacionaram de forma sincera e ruidosa o agrupamento, que no final do concerto do dia 8 atendeu grandes filas de pessoas interessadas em que os artistas lhes assinassem os cd's.
A qualidade sonora do Emerson e a sua leitura inteligente e musical, demonstrou, ao longo destes recitais, que estamos perante artistas de elevada superioridade musical e interpretativa. O facto de tocarem levantados (exceptuando obviamente o violoncelista), contrariando o que quase todos os agrupamentos similares fazem, longe de ser uma bizantinice qualquer, permite-lhes maior espacialidade na gestualidade que se traduz numa maior expressividade e num controle absoluto da sonoridade.
De facto, os Emerson ofereceram-nos uma integral que pode ser comparada unicamente ao que os Borodin fizeram enquanto eram constituidos por todos os artistas fundadores, quase sempre sob os conselhos de Shostakovich com quem trabalhavam regularmente. Eventualmente com as performances da Quarteto Beethoven que trabalhou igualmente sob "batuta" do compositor, ainda que coloquemos todas as reservas uma vez que nunca ouvimos este agrupamento em concerto.
Na realidade, os Emerson oferecem-nos do melhor que alguma vez foi feito com as obras para quarteto de cordas do compositor russo. A suprema qualidade sonora do agrupamento, a sua forte unidade (os violinos desempenhavam igualmente primeiro e segundo, trocando de obra para obra), a capacidade de fazerem uma leitura expressiva e absolutamente refinada, tornou esta integral num dos acontecimentos mundiais mais significativos do corrente ano 2006. Livios Pereyra
GEWANDHAUS CONQUISTA LONDRES COM MAHLER
A Gewandhaus Orchestra Leipzig, com Riccardo Chailly a dirigir, tocou, dia 10, de maneira fabulosa, a Sinfonia no. 7 de Mahler, numa sala (Barbican - London) na qual se podiam ver muitos lugares por preencher.
Quando se trata de um grande concerto torna-se pouco relevante falar ou escrever sobre o facto. No entanto, como isso acontece frequentemente (falar-se sobre o que se esquiva a ser dito), deve ser escrito que quando se juntam um inspirado maestro e uma orquestra inspirada resulta algo de importante.
Os metais estiveram simplesmente imaculados, nomeadamente a trompa wagneriana(*) que desempenha um papel solista repetidamente. Igualmente as madeiras demonstraram uma sonoridade espectacular. O timbaleiro recebeu um aplauso quase igual ao do trompa pois conseguiu um controle das sonoridades e das intensidades vital para o resultado global. Os naipes das cordas, como seria de esperar, tiveram um desempenho de muito grande categoria.
Foi um concerto marcado pela profundidade da leitura, pela familiaridade com a obra de Gustav Mahler, em que as nuances de timbres, de intensidades e da massa sonora, aconteceram para servir a genial escrita daquele que foi, dificil evitar escrever isto, o maior sinfonista de sempre. LP
(*) Pode igualmente ser chamada tuba wagneriana, dada a sua forma. A sua sonoridade aparenta-se mais ao timbre das trompas sendo por isso incluida neste naipe.
KISSIN INTERPRETA BEETHOVEN E CHOPIN
Evgeny Kissin, depois de dar voltas ao mundo apresentando o mesmo programa em salas menos importantes, veio a London (dia 7) tocar a sonata op 2 no 3 e a op 81a, "les adieux", de van Beethoven, na primeira parte de um recital de casa a abarrotar, ao ponto de terem de colocar muitas filas de cadeiras no palco.
Para evitar arrastar ao pormenor vamos directos ao "osso". O Allegro da op 2 caracterizou-se pela superficialidade da abordagem, que de resto parece ser a grande caracteristica de Kissin em Beethoven. Fraseado pouco claro e superficialidade neste andamento. O Adagio, que Kissin tornou longo e chato como a espada de D. Afonso Henriques (aprendi esta com uma velhinha portuguesa) e que o pianista tentou contornar com truques de intensidades (pp/f e sff), revestiu-se de um caracter artificial, caracterizado pela falta de densidade e pelo melodramatismo. O Allegro foi bem atacado e teve uma leitura viva, mas a superficialidade versus falta de densidade, continuou a pontuar.
Kissin iniciou "Les adieux" com um Adagio arrastado e lamechas (quase que parecia os velhos pianistas de outros tempos) com um bom ataque do Allegro, dentro do mesmo andamento, ataque que depressa perdeu o efeito com os "sff", que Kissin deve pensar serem uma mais valia, a soarem a falso e com os "sttacatos" exagerados a fazerem-nos pensar que o pianista estaria a pensar que era outro o compositor que estava a interpretar. Fiquemos por aqui. Depois de meses e meses a tocar o mesmo programa...
Na segunda parte foram os quatro Scherzos de Chopin. Muito bem. Obras que o pianista toca desde a barriga da progenitora. Temos um cd genial com Kissin a tocar isto com 16 anos. O tempo passa. Alguns tornam-se geniais e fazem a historia. Outros ficam-se pela vulgaridade. Kissin mostrou conseguir ir mais longe que isto. O primeiro Scherzo foi mal mas o segundo arrebatou os ouvintes das cadeiras. Foi justo porque foi muito bom. As sonoridades de Kissin foram bem conseguidas. Kissin aqui revelou estar inspirado. Sempre tocou isto? Seguramente. Mas continua a tocar de forma que vale a pena ouvi-lo. Deve ser dito que este segundo Scherzo de Chopin foi bom. Muito bom. Tecnicamente, Kissin talvez esteja no limiar do perfeito. Mas tocar genialmente uma obra tem que ver com outras coisas. Todos o sabemos. Mas, verdade verdadinha, tecnicamente tem de se estar num patamar supremo para aceder a isso (genialidade...). Kissin encontra-se nesse patamar. Mas o que lhe sobra tecnicamente falta-lhe algures. Muitas vezes Kissin parece um artista de poucos rasgos. O Scherzo 3, em que o pianista igualmente conseguiu uma abordagem inspirada, deixou-nos um estranho sabor de termos ouvido isto, ou parecido, por outro pianista. Quanto ao quarto, tratando-se de uma obra que parece uma colagem, Kissin fez o melhor que se pode fazer nesta obra: um fraseado perfeito e um trabalho de intensidade inteligente.
Curiosamente no primeiro dos encores (os ouvintes gritaram, mandaram flores e ofereceram presentes), uma obra de Karol Zymanowski, Kissin entrou de facto no patamar da grande genialidade que continuou, noutros aspectos, com o estudo para a esquerda de Chopin. Tocou-o a grande velocidade, com um arrebato ardor: algo muito fora do comum e sem nada de vulgar. Mas logo voltou a uma postura, que lhe parece natural, a de show man, para arrebatar toda a sala ao fazer uma abordagem superficial de uma obra superficial: a Rapsodia Hungara 10 de Liszt. Com esta obra, os ouvintes ficaram satisfeitos e foram-se embora sem aplaudir muito mais. Era por isto mesmo que esperavam para finalizarem a noite em grande. LP
Quantos povos indígenas vivem no Brasil? Onde moram? Quantas línguas falam? O que querem? O que sonham? Em busca dessas e muitas outras respostas, os jornalistas Railda Herrero e Mario de Freitas empunharam os microfones da emissora Internacional da Holanda, a Rádio Nederland, e foram a campo. Milhares de quilômetros depois - de avião, ônibus, caminhonete, catraia, barco e outros meios de transporte, voltaram aos pântanos holandeses com centenas de depoimentos para o trabalho de estúdio. Estas peças formaram um imenso mosaico a ser montado, para ajudar a desvendar um pouco a realidade vivida pelos povos indígenas no Brasil.
Os primeiros resultados dessas gravações estão nestes dez programas. Foram concedidas, com muita atenção, pelos representantes dos 235 povos originários, que sobrevivem no Brasil, e feitas graças ao carinho e dedicação de dezenas de trabalhadores solidários com esta causa. Os programas são desenvolvidos por temas como diversidade cultural e lingüística, terra, educação, organização, direitos e diálogo, entre outros.
Muitas histórias não couberam no formato definido por programadores de rádio e esperam por novos resgates. Esta série é apenas um começo. Mas é também um complemento a uma tarefa que vem sendo cumprida por muitos, e, felizmente, agora pelos próprios indígenas. Com este trabalho, esperamos ter contribuído com parte da tarefa de abrir o microfone para as Vozes Indígenas no Brasil. Este programa recebeu o Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos em 2005. www.parceria.nl in http://indios.blogspot.com
Um a um, com ironia e humor, são desmontados os vários argumentos que sustentam a superioridade performativa de certas "práticas", designadamente as terapias cognitivo-comportamentais, relativamente à psicanálise.
E sobretudo, fica-se com a sensação, depois de ler os diversos artigos, que não está em causa simplesmente a oposição entre dois tipos de práticas "terapêuticas", mas, acima de tudo, de dois "conceitos" incompatíveis do ser humano.
A escolha é de cada um enquanto o mal (não) é de todos!
http://naoseiquediga.blogspot.com (7.3.06)
O Mal
Em 1998 a Gallimard publicou um conjunto de textos sob o título genérico "Le Mal" que podem ser adquiridos, em formato de bolso, na colecção folio-essais.
Sendo todos eles interessantes o primeiro e o penúltimo chamaram a minha atenção. O primeiro, um belo texto de Michel de M' Uzan, coloca-nos face ao "mal quase puro", a reter o "quase": o "matador de ratos" ganhava, dessa maneira, a sua subsistência e a possibilidade de se instalar como relojoeiro, profissão afastada de toda e qualquer explosão libidinal. Uzan questiona, e bem, até que ponto a euforia e o prazer do jogo de vida e morte que levava a cabo com os ratos teria alguma coisa de libidinal. Lacan responderia, talvez, que se trata do "puro" gozo. E depois do gozo a tranquilidade...
O último, de uma só página, da autoria de Claude Lanzmann, representa a estupefacção da vítima, o silêncio de quem sofreu sem conseguir encontrar uma explicação, uma lógica, uma conexão.
André Green, no penúltimo texto, talvez o mais importante da colectânea, interroga-se sobre o "porquê" do mal.
Parafraseando Angelus Silesius, estaria tentado a dizer que o mal não tem "porquê", diz-nos Green para logo de seguida referir a conexão, "clássica", entre doença e mal. O autor pretende trabalhar as duas teorias: uma que vê o "mal" como uma doença, outra que acha que não tem explicação, sendo esta última uma teoria próxima do niilismo: se o mal não tem explicação, se é estrutural e inerente à "condição humana", então só poderá conduzir à "grande catástrofe", final, definitiva e liminar.
O que me parece é que mesmo partindo-se desta "teoria" fica sempre pendente o desenvolvimento de uma hipotética explicação do porquê do mal ser algo "natural" e portanto sem explicação. Sendo a segunda teoria uma "não teoria", resta-nos, em qualquer dos casos, tentar perceber o que move o "fazedor do mal".
Parece-me evidente que um suposto "masoquismo original" é uma ideia tanto peregrina quanto circunstâncial, uma vez que não explica fundamentalmente nada, ficando nós, de novo, na posição heidegeriana de que a atrocidade faz parte da "humanidade do homem". Grande descoberta enunciada numa altura em que se gaseavam seres humanos, limitando-se o seu inventor a contemplar a atrocidade e a comentar que "faz parte" do "ser que também se desvela na história"...
Segundo Green, Freud, em "Metapsicologia", postula um desenvolvimento do "eu" sob o domínio do "princípio do prazer". Mais abaixo, num registo kleiniano, estabelece uma co-relação entre ódio e o afecto que acompanha o "objecto mau", no fundo para invalidar a teoria kleiniana devido a que este fenómeno será sempre posterior à diferenciação entre o "eu" e o "objecto", não podendo portanto ser uma "sentimento originário". Um pouco mais abaixo passa-se à análise da obra "A Negação", também de Freud, que estabeleceu a diferenciação entre o incorporado e o excorporado que se materializa no "estrangeiro", no "diferente" que é "mau", sendo este "avanço" correlativo da diferenciação eu - objecto. A ideia, sendo interessante, parece-me inconclusiva: "estranho" é frequentemente o "neutro", aquele que não toma partido nas guerras fraticidas familiares. Aquele que é poupado exatamente por não fazer parte. Georg Simmel, um dos fundadores da "sociologia urbana", trabalhou bem a temática de "o estrangeiro". E não só no célebre texto com aquele título.
A primeira associação entre "prática do mal" e "doença" produziu e continua a produzir os seus frutos e variantes, servindo permanentemente de base à jurisprudência, frequentemente numa base ridiculamente superficial, onde se esgrimem máximas, apresentadas como "científicas", que parecem extraidas dos livrinhos de psicologia de bolso... No entanto, parece-me que foi partindo desse suposto (mal = doença), que faz sorrir os perversos, que se foram produzindo elaborações mais "interessantes" que atingiram a sua forma mais complexa e "produtiva" na ideia de um "gozo perverso" desenvolvida pelo "primeiro Freud" e trabalhada em termos de "estrutura" por Jacques Lacan. Não é este o local para desenvolver uma teoria... No entanto devo dizer que tentar compreender "a natureza do mal" passa inevitavelmente pela teorização lacaniana de "gozo" integrada com o estudo das facetas múltiplas em que a estrutura da perversão se metamorfoseia, estudo esse que foi iniciado por Lacan. Freud e Lacan são portanto os pensadores fundamentais que nos permitirão compreender, ou fazer uma abordagem "produtiva", do porquê de um assassinato sem "porquê", levado a cabo por um grupo de adolescentes portugueses, "inocentes e desprotegidos", contra alguém muito mais desprotegido (a) que eles, doente, solitário (a), que nada tinha para lhes oferecer para além da sua miséria radical. O seu corpo, a sua frágil materialidade, serviu-lhes simplesmente como suporte de um gozo perverso: o gozo de o (a) fustigarem até à morte. AST
Nota: Portugal está doente. Muito doente. Desde a violência sobre as mulheres, até à violência sobre os idosos, tudo isto, agora que parece ter acabado o "longo reino do silêncio", que é o "reino do terror total" em que as vítimas nem ousam falar, é o "pão nosso de cada dia": relatos de violência contínua e "sustentada".
No entanto, outro fenómeno, muito estranho, tem vindo a adquirir um relevo inaudito: a violência sobre bebés ou crianças muito jovens. Violência dotada de uma perversidade inacreditável: desde a introdução de objectos nos orifícios anais até queimaduras com pontas de cigarros, tudo isto faz parte do imenso rol de sevícias praticadas por jovens adultos sobre os seus filhos. É dificil de equacionar, mesmo tratando-se de pessoas que são, como a generalidade dos "alfabetizados" em Portugal, analfabetos funcionais. É dificil de problematizar mesmo tendo em conta que podem ser filhos indesejados, frutos da ignorância de gente que, apesar de ter frequentado a escola, não adquiriu as competências básicas para utilizar correctamente os meios anti-concepcionais. Ou que nem sequer compreendeu bem, dado o seu aparato cognitivo "restrito", que se não os utilizar nascem bébes... Seja como fôr a violência inerente, a "desumanidade" implícita, transcende toda e qualquer justificação "sociológica".
Hoje mesmo, dia 4 de Março de 2006, nos jornais diários nacionais portugueses, o relato de um caso mais. Mais um, no meio de uma lista que estará decerto (muito) incompleta...
Le pervers se distingue par un renoncement au désir auquel il substitue une volonté de jouissance. Deux positions incompatibles, car en effet, il faut que la jouissance soit refusée, comme le dit Lacan, pour être atteinte en quelque manière sur "l'échelle renversée du désir". Le désir suppose d'en passer par les signifiants du désir de l'Autre, soit la demande, dont le pervers prétend absolument se passer, pressé d'atteindre la jouissance auquel lui donnent droit, de son point de vue, une maîtrise et un savoir non négociables. Seulement, la volonté dont il use n'est pas celle d'une subjectivité arbitraire et individuelle ; exactement comme chez Kant, elle place le sujet face à un impératif catégorique comme principe rationnel de l'action, auquel il ne peut que se soumettre. Le pervers obéit à un impératif de jouissance qui le dépasse, d'autant que ce n'est pas sa jouissance qui est jeu, mais celle de l'Autre (comme le désir du névrosé, c'est d'abord de soutenir le désir de l'Autre). Dépourvue de tout mobile empirique, la volonté perverse n'est pas davantage égocentrée : elle est déterminée par un principe qui lui donne sa forme de Loi, la Jouissance incarnée ici par l'objet 'a', en position de cause. Ainsi mise en place, la volonté va engendrer une division caractéristique en l'Autre, précisément entre un $ et S, soit respectivement entre ce que Lacan appelle ici le sujet de la raison pratique et le sujet pathologique (lié au plaisir, ou singulièrement, à la douleur). http://www.etudes-lacaniennes.net (Perversions)
O QUE É TERCEIRO-MUNDISMO? (Parte II)
É, por exemplo, o governador do banco central de um paízinho como Portugal ganhar mais que aquilo que o ex-líder do banco central dos Eua, Alan Greenspan, ganhava quando exercia aquelas funções. Números comparativos em DiaD, 30/01/2006, pag 4
Educar, governar e psicanalisar eram, para Freud, três nomes do impossível.
Há quem diga que Portugal é ingovernável, que não é educável nem mesmo psicanalisável, apesar das tentativas de fazer a psicanálise mítica (Eduardo Lourenço) do destino português. Filipe Pereirinha in http://naoseiquediga.blogspot.com (21.2.06)
A ser assim, a integração nacional das grandes redes europeias ferroviárias será proventura uma segunda prioridade, mas em qualquer caso, a geografia indica que o caminho mais directo para França é pelo corredor Salamanca-Burgos-Hendaye e não por Madrid. José Rodrigues da Costa in Diário Económico, 01 de Março 2006, pag 38
Na verdade tivemos vinte anos no condomínio de luxo para nos prepararmos e vinte anos é muito tempo...
O país continua a olhar para a "Europa" como se estivesse fora dela para todos os assuntos salvo para um: o fontanário de onde pinga dinheiro. Mário Melo Rocha in Diário Económico, 02 de Março de 2006, pag 2