2006/05/20

INTERPRETAR MÚSICA CONTEMPORÂNEA É FUNDAMENTAL

Daniel Hope, reconhecido violinista com carreira mundial, interpretou o concerto de Schumann, para violino e orquestra, acompanhado pela London Philharmonic Orchestra, em dois concertos que se realizaram no QEH, em Londres. Conversamos com ele no final do concerto de 17 de Maio.

AST Acabou de interpretar um concerto que não é muito tocado... Você gosta desta obra?

Daniel Hope Sim. Gosto muito deste concerto. Mas você tem razão: não é tocado muito frequentemente. É muito dificil para orquestra. E mesmo para o violinista... Mas é uma obra com muito charme, com sonoridades calorosas, com visão, com muita paixão. Em todo caso é Schumann e eu adoro Schumann. Pensei que é uma pena que a obra não seja muito tocada e então procuro sempre uma possibilidade para a interpretar. Mas é muito raro que as orquestras me peçam para a tocar, por isso estou muito contente por estar aqui em Londres e poder fazer este concerto.

AST Nasceu onde?

DH Sou inglês. Nasci na África do Sul mas sou inglês. Actualmente vivo em Amesterdam.

AST Faz muitos concertos na Holanda?

DH Sim, mas sou convidado para tocar em todo o mundo. Toco muito nos Estados Unidos e também na Ásia, no Japão, e em todo o mundo. Estou constantemente a viajar.

AST Também toca música antiga?

DH Sim, muito. Acabei de gravar um novo disco com os concertos de Bach com a Orquestra de Câmara da Europa. Dirigi a orquestra a partir do violino. O registo estará disponivel em Setembro. Também trabalho muito com grupos que utilizam instrumentos antigos como o Concerto Koln e com muitos músicos que fazem música barroca. Adoro trabalhar com eles.

AST Quando faz música barroca utiliza o seu arco habitual ou muda para um barroco?

DH Toquei com um arco barroco e também com cordas de tripa. Também já utilizei um violino barroco mas devo-lhe dizer que prefiro adaptar o meu, que é de 1769 e prefiro então adaptar-lo pondo-lhe cordas de tripa. Toco tanto nele que para mim é dificil mudar de instrumento. Além de que não encontro uma boa razão para mudar de instrumento quando faço música antiga. É verdade que os violinos sofreram transformações, mas 1769 é quase o tempo de Bach e eu adoro a sonoridade do meu violino.

AST Qual é o seu instrumento?

DH É um Galliano. Genaro Galliano de Napoli. Foi o violino de Yehudi Menuhin...

AST Toca com o instrumento do Menuhin?!

DH É um violino que ele usou quando era jovem. Não é o Stradi ou o Guaneri que ele utilizou depois. É um instrumento da infância de Menuhin. Gosto muito deste violino e estou muito contente por ter tido a possibilidade de o adquirir. Espero que a música antiga funcione bem com este tipo de prespectiva.

AST Sente muitas diferenças de ordem técnica quando toca com um arco barroco?

DH Sim. É completamente diferente porque o peso é completamente diferente. Tem de se aprender a tocar com ele, quando se utiliza um arco barroco pela primeira vez.

AST E mesmo a forma de o segurar é completamente diferente...

DH Absolutamente diferente e as técnicas de o utilizar também. Para mim coloca-se sempre como vou utilizar o arco barroco nesta ou naquela obra pois para mim o normal é tocar com um Picazzi, que é um arco de 1850, portanto do tempo de Schumann. É uma coisa totalmente diferente pois os arcos barrocos são muito mais leves. É sempre muito interessante de trabalhar a maneira de encontrar o equilibrio. O som é o resultado do equilibrio entre as duas mãos e, em todos os casos, da maneira como se faz a abordagem das cordas com o arco. Tem de se descobrir a maneira de se exprimir utilizando um arco barroco.

AT Faz música barroca utilizando a técnica barroca, mas eu sei que toca igualmente música contemporânea...

DH É a música do nosso tempo. É a música de hoje! É muito, muito importante, para nós, experimentar e conhecer esta música, porque é o idioma de hoje. Deve-se escutar e viver o nosso tempo. Eu estou muito, muito interessado, em trabalhar com os compositores. Sobretudo os compositores jovens. Pedir-lhes sempre uma pequena peça nova. É muito excitante para mim de ter a possibilidade de estrear novas obras.

AST Faz isso frequentemente?

DH Muito. Encomendo sempre muitas obras aos novos compositores. Além de que existem muitas obras já escritas para o violino.

AST Esta é uma pergunta chata: quais são as orquestras com quem gosta mais de trabalhar?

(risos)

DH São muitas... São muitas... Eu tenho uma página na web onde estão todas as orquestras com quem tenho tocado.

(risos)

AST Foi um prazer.

DH Obrigado, igualmente.