"Melómanos" e outros que tais, todos portugueses, normalmente de Lisboa, fazem um côro de laudas ao não reconduzido director artístico do único teatro de ópera português, como se tratasse de um herói nacional acabado de ser humilhado e vilipendiado. Só falta mesmo uma manifestação! Seria muito interessante e aqui fica a ideia.** Assim poderemos contar quantos são. É que, a avaliar pelo (muito) barulho que fazem, parecem milhões... Parece que todo o país está submerso no "caso do não-reconduzido"... No mesmo país em que um qualquer (ex) ministro da educação (tratava-se efectivamente de um projecto educativo) mandou um qualquer (ex) secretário de estado (que por sua vez parece ter mandado uma directora de serviços... que, por sua vez, deve ter pedido à artista para enviar o "curriculum"...) tratar os assuntos que estavam pendentes com Maria João Pires, que é uma figura de grande dimensão mundial, neste mesmo país, um ex-presidente da república telefona (de Paris!) ao "não reconduzido", lamentando que o governo não o tenha mantido em funções... É obra! Patética, mas muito previsível, esta recorrência, ridícula e pateta, do sebastianismo: parece que os portugueses, na falta de laços inter-identificatórios fortes, necessitam sempre de um "outro" exterior (a defender ou a abater) para manterem a consistência da nacionalidade. Ao mesmo tempo, diz-se que o "não reconduzido" elevou o São Carlos a um nível internacional, nunca antes visto, etc, etc e etc. Não vale pena perder-se tempo com afirmações tontas. Teria algum interesse investigar-se se o senhor foi ou não director artístico do La Fenice, como "por aí" se diz. O relevante, se existe algo que mereça ser salientado em tudo isto, porque forjar um curriculum com informações falsas é crime, é que nem o La Fenice é uma "referência" para a vida operística mundial, nem a vinda para o São Carlos pode ser considerada uma "promoção" em relação às supostas funções, como director artístico, exercidas no primeiro. O senhor trouxe ao São Carlos um grande maestro para fazer uma obra importante do início de século XX, encenada por um artista célebre que veio cá várias vezes? O que é isso? Desde que haja dinheiro para pagar os honorários qualquer programador pode fazer o mesmo. Não é preciso ter "contactos"! Basta ir à internet e escrever aos agentes dos artistas. E a "revolução" que faltava ao São Carlos? A descentralização, como política continuada e não como folclore? O apuramento da qualidade do côro? A apresentação de repertório português do barroco, pouco conhecido e interpretado, que é bom e abundante, porque o do classicismo e do romantismo é, grosso modo, fraco e desinteressante? Já agora: o "rumor" de que o senhor Pinamonti é dono ou sócio de uma das agências de cantores com a qual o S. Carlos trabalha, é verdade? A portuguesa imprensa, tão hábil em perseguir os indícios mais mirabolantes quando lhe cheira a caso que vende, não deveria investigar convenientemente tanto este "rumor" como o outro de que o senhor nunca foi director artístico do La Fenice, ao contrário daquilo que "consta"?
Para se rematarem, talvez definitivamente, mas nunca se sabe, os assuntos que dizem respeito ao senhor que agora cessa funções, importa referir a extrema notoriedade que ele atribuiu a um compositor mediocre, desconhecido das principais salas de concertos e das grandes casas de ópera do mundo, que foi por ele apresentado como um "grande compositor contemporâneo". Trata-se de Aghio Corgi: Pinamonti serviu gato por lebre na sua versão mais corriqueira.
Olhando para o futuro, tem de ser dito claramente que um teatro de ópera em Portugal não pode, nem agora nem de aqui a vinte mil anos, querer comparar-se às principais casas de ópera do mundo: pretender isso é pura esquizofrenia. E não pode por motivos vários: não há tradição musical que sustente a formação permanente de músicos e cantores de grande qualidade, tendo que recorrer-se, como sistema, à importação de "mão-de-obra"; Portugal é um país periférico, com pouca relevância cultural mundial, pouco interessante para os grandes chefes de orquestra e grandes intérpretes.
Uma casa de ópera em Portugal, sobretudo quando vive maioritariamente à custa do dinheiro do estado (sabem qual é a fatia que o banco dá ao São Carlos em relação ao orçamento global? Deveriam saber: quem paga o funcionamente do São Carlos é dinheiro muito, muitíssimo, maioritariamente público), tem de ter uma função educativa e formativa: deve pensar as produções para as levar para fora de Lisboa. Actualmente todos os novos teatros e auditórios têm condições para apresentar ópera (excepto a Casa da Música no Porto...), e frequentemente contratam companhias estrangeiras, uma vez que a companhia de ópera do São Carlos, com o delírio de que é uma grande companhia de ópera mundial, se recusa ir em digressão pelo país que a/os sustenta. Obviamente porque ninguém a/os obriga... É inaceitável gastarem-se mais de quinze milhões de euros anuais com um público de pouco mais de duas mil pessoas, convidados incluídos. Só os muito pequeninos e ignorantes, que nada mais conhecem que o São Carlos e para quem o Convent Garden é a "grande-grande referência", é que podem defender o actual estado de coisas de uma ópera que, volto a repetir, devido a condições estruturais e estruturantes, nem daqui a vinte mil anos estará entre as mais importantes da Europa.
E com isto engrenamos na ideia de ópera para turistas! De facto a Staatsoper de Wien tem centenas, não milhares, de turistas todas as semanas. Os turistas podem parecer burros mas não são assim tanto... Só um turista em muito mau estado é que perde um serão em Lisboa para se ir meter na ópera. Eles sabem muito bem que ópera e "música séria" é mais lá para o centro da Europa... Eles sabem que em Budapeste, por exemplo, por uma quarta (quinta ou sexta...) parte do que pagariam em Lisboa têm ópera de qualidade quatro vezes superior. Pelo menos. Os turistas, em Portugal, procuram o fado. Acompanhado de um bom vinho. E fazem eles muito bem. AST
* Apesar da absurda nomeação (a ideia de escolher o "melhor português de sempre" é em si mesma aberrante), organizada pela televisão pública portuguesa que utilizou uma "metodologia" idiota, não ter qualquer validade ou não revelar qualquer "realidade" para além dela mesma, o facto de existirem, em Portugal, pessoas que se mobilizam e organizam para votarem num ditador (o "doutor Salazar", como ficou tristemente conhecido em toda a Europa), escolhendo-o como "o melhor português de sempre", demonstra quanto Portugal está longe da Europa "civilizada" (o conceito de "civilização" deverá ser sempre colocado sob reserva) e democrática, e faz-nos pensar que José Saramago terá alguma razão quando, em entrevista ao La Vanguardia (Barcelona), disse que Portugal vive uma processo de irreversível decadência. Diagnóstico atípico porque vem de um marxista "ortodoxo", que normalmente encontraria as causas do "problema português" no "sistema capitalista".
** não fizeram uma "manif" mas fizeram um jantar! Uma "janta" de homenagem, de reconhecido agradecimento pela obra que engrandeceu a ensandecida e ingrata nação... "Críticos activos" e "críticos passivos", acompanhados de uma centena e meia de convidados habituais da casa de ópera, alguns muito conhecidos (em Portugal, evidentemente). Melhor? Só mesmo na Tvi (televisão portuguesa, independente, de vertente acentuadamente cultural, que introduziu o "big-brother" - programa de elevado interesse sócio-antropológico, que muito contribuiu para o impressionante, e único na Europa, nível intelectual e cultural dos portugueses, tal como é cientificamente demonstrado por todos os estudos a que a Unesco se dedica com paciência e regularidade kantianas - nos hábitos quotidianos dos portugueses), e na Rtp (Televisão Pública Portuguesa, paga com o dinheiro dos impostos dos portugueses) que conseguiu a proeza (ou não...) de um ditador ter sido escolhido como o "melhor português de sempre".
O PNR, partido fascista legal iniciou uma campanha contra a imigração em Portugal.
Estes não se lembram dos 4 milhões de portugueses no mundo.
in http://rupturavizela.blogs.sapo.pt (29 de Março de 2007)
são carlos 2005-2006: "sou português, fui enganado..."
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Constato que a ópera Barroca está ausente da temporada próxima. Será que o Dr. Pinamonti do alto seu assento programático se deu ao trabalho de indagar as obras de um tal João de Sousa Carvalho? E de um tal Francisco António de Almeida, que a propósito se comemoram os 250 anos do desaparecimento. E o Pedro Avondano? E os 250 anos do Terramoto de Lisboa? E um tal António Teixeira, que em parceria com um tal António José da Silva, cujos 300 anos do nascimento este ano se assinalam, escreveram das mais corrosivas e lúcidas obras acerca da maleita lusitana?
E os compositores portugueses contemporâneos? Conhece? Se calhar não tem tempo. O jet lag é lixado, e quando está na bela Olissipo, o seu cérebro está num outro fuso horário. É dura a vida de um director artístico do São Carlos.
in http://perusio.com/sao-carlos-2006
A música ao alcance de todos
Para admissão à licenciatura em Ciências Musicais, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em Portugal, não existem (assim foi para as admissões no presente ano lectivo) pré-requesitos, exceptuando uma prova de português!
Claro... aplicam-se-lhes (aos alunos) umas disciplinas "propedêuticas", que se não ultrapassarem com sucesso não poderão avançar, mas tudo acabará em bem, mais ano menos ano. À força de repetirem as "propedêuticas", sempre hão-de ir a algum lugar...
O Zé, por exemplo, queria era entrar em medicina. Mas não teve nota... Vai de aí e pôs-se a ler a lista dos cursos... medicina... musicologia... Como o pré-requesito para esta última era uma prova de português, e como lhe falaram das "propedêuticas", destinadas a quem nunca viu uma pauta musical à frente, lá está, contente da vida:
- Foi o melhor acaso que me poderia ter acontecido. Quando chegar ao meu país, com um diploma de mestrado em Ciências Musicais, um doutoramento, um pós-doutoramento e o mais que seja, pois também me disseram que em muitos países, e no meu também, para ser um musicólogo famoso não é preciso saber-se de música mas ter-se talento para a retórica, daí a prova específica de português para admissão ao curso, pré-requesito muito bem pensado, irei para ministro da cultura. Bem, acrescenta pensativamente, talvez para secretário de estado. Para começar...
A história julgará o que ficou por julgar
"Processo de Jaime Gama afasta advogado da Casa Pia", assim explica o semanário Sol a renúncia do advogado António Barreiros que fazia parte da equipa de juristas que representavam os jovens no processo Casa Pia.
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Há uns tempos foi a Moderna. Agora é a Independente que nasceu há 14 anos e onde, pelos vistos, José Sócrates concluíu o curso de engenharia e onde João Jardim é professor convidado. Eu estava convencido de que as credenciais académicas do nosso primeiro, tivessem outro perfil e que ao Alberto João faltasse tempo para gerir o Arquipélago e para escrever a crónica do jornal madeirense que o seu governo financia, burguesmente.
in Jornal do Norte, Vila Real, 26 de Março de 2007, primeira página
"Os países membros, que não querem colocar a UE sobre uma nova base e não apoiam a substância da Constituição, devem reflectir se não querem abandonar o bloco", disse o ex-presidente do Parlamento Europeu, Klaus Hansch
in Semanário, 30 de Março 2007, pag 30
"Quanto melhor conheço a Europa melhor compreendo que se trata de um projecto falhado." Quem disse isto talvez estivesse a pensar no longo prazo porque no curto aparenta ser um projecto de sucesso...