2009/12/30

Outro boy

Ricardo Manuel de Amaral Rodrigues, jurista de profissão, ocupa actualmente o cargo de vice-presidente da bancada parlamentar do PS na Assembleia da República. É membro do Conselho Superior do Ministério Público eleito pela AR e membro da Comissão Parlamentar Permanente. Pertence à Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, integrando a Comissão de Inquérito sobre a situação que levou à nacionalização do BPN e sobre a Supervisão Bancária Inerente. É ainda presidente da Subcomissão de Justiça e Assuntos Prisionais. Coordena vários grupos de trabalho, entre os quais se destacam o da protecção de vítimas de violência doméstica, o do regime jurídico de inventário, o dos dados do sistema judicial, o do código de execução de penas e o da lei do cibercrime.

Em Novembro de 2003, era Ricardo Rodrigues secretário regional da Agricultura e Pescas do governo de Carlos César, rebenta o escândalo de pedofilia nos Açores, conhecido também por «caso garagem do Farfalha». Várias figuras conhecidas de Ponta Delgada vêem o seu nome enredado no escândalo, entre elas um conhecido médico e um procurador-adjunto, (convenientemente transferido para o Tribunal de Contas do Funchal).

Ricardo Rodrigues vê, também, o seu nome implicado e, antes que a coisa atinja outras proporções, demite-se do Governo Regional. Porém, apesar do falatório, o agora deputado nunca foi constituído arguido no processo.

No início de Janeiro de 2004, são conhecidas ligações de Ricardo Rodrigues a um outro escândalo, neste caso financeiro, que envolvia uma burla tendo por alvo a agência da Caixa Geral de Depósitos de Vila Franca do Campo, S. Miguel, a poucos quilómetros de Ponta Delgada.

A comunicação social passou a denunciar o que se segredava à boca pequena e, «indignado», o responsável socialista resolveu processar um jornalista que, não só referiu este caso, como também o malfadado escândalo de pedofilia. Cinco anos depois, o Tribunal da Relação de Lisboa não lhe deu razão e, espanta-se, no acórdão, por o deputado não ter sido investigado nem ter ido a julgamento, no processo de Vila Franca do Campo.

Ligações perigosas

Ricardo Rodrigues apareceu ao lado de uma loira espampanante que se apresentou nos Açores como uma milionária que estava disposta a fazer avultados investimentos na Região.

Emigrante no Canadá, dizia-se possuidora de uma considerável fortuna e teve direito a imensas atenções da comunicação social local. A seu lado lá estava Ricardo Rodrigues, como advogado e procurador da senhora. À conta disso, passeou pelo mundo. As coisas correram mal e a agência da Caixa Geral de Depósitos de Vila Franca do Campo meteu um processo à senhora por uma burla de muitos milhões de euros.

O inquérito policial que investigou Ricardo Rodrigues por crimes de «viciação de cartas de crédito e branqueamento de capitais» remonta a 1997 (nº 433/97.8JAPDL), sendo que relatórios da PJ enfatizam a sua estreita ligação à principal arguida, Débora Maria Cabral Raposo, entretanto detida e em cumprimento de pena, depois de vários anos com mandados de captura internacionais, e classificada pela polícia como «burlona e traficante de estupefacientes».

Rodrigues foi sócio e advogado de Débora, sendo que com ela frequentou os melhores hotéis e utilizou os serviços das mais conceituadas agências de viagens, tendo deixado um considerável rasto de «calotes»...

(...)O estratagema encontrado para lesar a Caixa Geral de Depósitos foi arquitectado por Débora, ex-bancária e apontada como «cérebro da operação». Esta e o gerente da CGD, Duarte Borges, (primo de Carlos César e irmão de um conhecido magistrado judicial) engendraram um esquema de acesso a empréstimos fraudulentos servindo-se de um singular expediente. Como Borges usufruía de capacidade para conceder empréstimos até 2.500 contos, apenas com a finalidade de «adquirir novilhas para recria», angariavam supostos agricultores para acederem ao crédito, a troco de algumas dezenas de contos.

Denunciado em acareação

As declarações nos autos do ex-gerente da CGD são esclarecedores: «Foi referido pelo arguido, Duarte Borges, na acareação (…), que tem consciência que enviou vários milhares de contos (da CGD, provenientes de empréstimos agrícolas) à Débora Raposo / colaboradores, tendo indicado, entre outros, o arguido Ricardo Rodrigues. Mais, referiu que a Débora e os colaboradores, onde se encontra o arguido Ricardo Rodrigues, negociavam Cartas de Crédito, com dinheiros dos empréstimos fraudulentos em vários países».

Este expediente, permitiu à «associação criminosa» prejudicar o banco do Estado num valor aproximado de 1 milhão e meio de contos, utilizados em operações de «engenharia financeira» muito duvidosas e, segundo a PJ, com ligações a redes internacionais de tráfico de droga, com quem Débora Raposo teria estreitas relações. Um dos tentáculos destas operações era o Colégio Internacional, no Funchal, cujos sócios eram Débora , Ricardo Rodrigues e a sociedade offshore Hartland Holdings Limited, uma obscura empresa com sede num apartado da Ilha de Man, no Reino Unido.

Autor da proposta (recusada) da criação da figura de um procurador especial junto da Assembleia da República.

É também apelidado por deputado da Vírgula.

Relacionado com o n.º3 do artigo 30 do Código Penal (CP), referente ao crime continuado.

Contestações

«Pela primeira vez em texto de lei, o legislador diz que é possível aplicar este artigo a crimes pessoais, quando se trata da mesma vítima de, por exemplo, abuso sexual, violência doméstica ou pedofilia, quando até aqui este artigo apenas se aplicava a crimes contra o património».

No entender da Associação, este artigo «têm de ser abolido». «Vem a arrepio da boa doutrina e jurisprudência, colocando mesmo em causa os direitos humanos dos cidadãos, já que se alguém foi abusado sexualmente 50 vezes pela mesma pessoa, o arguido só pode ser condenado ao máximo de oito anos, quando no anterior Código poderia chegar à pena máxima (25 anos)», referiu.

BENS PATRIMONIAIS E PESSOAS

O antigo Código Penal só admitia a figura do crime continuado nos casos dos crimes contra bens patrimoniais. Agora os bens pessoais também são abrangidos, mas o procurador João Palma considera “inadmissível” o mesmo nível de protecção.

ALTERAÇÃO ‘A POSTERIOR

Os magistrados garantem que no projecto de alteração ao Código Penal não constava, na terceira alínea, a frase "salvo tratando-se da mesma vítima", e quer saber quem propôs a alteração e em que altura foi introduzida.

ACTAS E PROJECTOS

O desembargador António Martins desafia os políticos a divulgarem os projectos das leis penais e as actas das audições na Assembleia da República dos diversos operadores judiciários, para que sejam clarificadas as alterações introduzidas. Os magistrados garantem não ter tido acesso a parte da alteração da 3.ª alínea e António Martins sugere que sejam divulgados os trabalhos preparatórios e actas.

CONSEQUENCIAS NO PROCESSO CASA PIA

Vários arguidos do processo de pedofilia da Casa Pia podem vir a beneficiar da alteração ao artigo 30, uma vez que em alguns casos são acusados de vários crimes sobre a mesma vítima.

Ricardo Rodrigues é o deputado que mais defende a posição do Governo contra o Projecto Lei que visa a criminalização do enriquecimento ilícito.


Outra portuguesa aberração

Ao que parece o governo pretende que o acordo ortográfico comece a ser aplicado em 2010. Mas, felizmente, o governo não tem capacidade para impor um acordo ortográfico. Poderia impô-lo através do ensino, o que demoraria décadas, mas para isso o ensino público teria que ter capacidade para ensinar a escrever sem erros ortográficos. Dado que o acordo ortográfico envolve pouco mais do que 1% das palavras usadas na língua portuguesa, o ensino público teria que ter capacidade para ensinar os seus alunos a escrever com muito menos que 1% de erros ortográficos, digamos, 0.1%. Caso contrário, o acordo seria irrelevante.

O que são algumas palavras com consoantes duplas num texto com erros ortográficos bem mais graves? É mais que evidente que o ensino público não tem capacidade para ensinar os alunos a escrever sem erros de acordo com uma norma, seja ela qual for. Os portugueses continuarão a escrever como bem entenderem.

PS – O Público não vai adoptar o acordo ortográfico. Boas notícias. É uma dissidência saudável numa sociedade que se pretende livre.

2009/12/28

Iran seizes opposition figures

Security forces in Iran have arrested a number of prominent critics of the government in the wake of opposition protests that left as many as eight people dead in Tehran, the capital.

Ebrahim Yazdi, who served as foreign minister in the early months of Iran's 1979 revolution, and Emadeddin Baghi, a human rights campaigner and journalist, were arrested on Monday, according to the pro-opposition Rahesabz website.

There were also reports that two aides to Mohammad Khatami, a former reformist president, and three advisers to Mir Hossein Mousavi, an opposition leader, were detained.

Security forces reportedly stormed a series of opposition offices in an apparent crackdown following fierce clashes at street protests during the Shia Muslim commemoration of Ashoura.

Seyyed Ali Mousavi, Mousavi's 35-year-old nephew, was among the eight people killed, with the Parlemannews website saying he was shot during clashes at Tehran's Enghelab square "and was martyred after he was taken to Ebnesina hospital".

State television attributed his death to "unknown assailants".

Norooz, an opposition website, said police had fired teargas to disperse supporters of Mousavi outside the hospital.

2009/12/26

Clash is reported in Iran at Protest

Iranian riot police officers fired tear gas and warning shots to disperse opposition supporters in Tehran who used a Shiite religious festival on Saturday to stage antigovernment protests, a reformist Web site said.

The opposition Jaras Web site also said security forces attacked a building housing a semiofficial Iranian news agency, ISNA, where it said some demonstrators had sought shelter during the clashes.

A witness said at least two people were wounded when the police chased protesters into the downtown building.

“They fractured the skull of one ISNA person and badly beat up another employee,” the witness said. ISNA’s news service appeared to be working normally, and its reports made no mention of security forces breaking into its building.

Despite scores of arrests and security crackdowns, opposition protests have repeatedly flared since the presidential election in June, which the opposition says was rigged to secure President Mahmoud Ahmadinejad’s re-election.

2009/12/24


Marin Marais: Prélude III from Suite I

Premier Livre de Pièces de Viole (1686)

Philippe Pierlot, bass viol

Vincent Dumestre, theorbo

Recorded in May-June 1995

2009/12/23

Tribunal de Contas chumba aval do Estado ao BPP

O Tribunal de Contas (TC) considera que o Governo não poderia ter garantido o empréstimo de 450 milhões de euros que o BPP contraiu junto de outras instituições, por não existirem certezas de que o banco possa pagar o empréstimo.

No parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2008, e no que toca à garantia estatal ao Banco Privado Português (BPP), o TC considera ainda que o Estado avaliou de forma “superficial” as contragarantias dadas pela instituição.

“Não era certa à data da concessão nem foi prevista e concretizada posteriormente (...) qualquer medida que alterasse a situação financeira do BPP, de forma a poder reembolsar o empréstimo garantido”, refere o parecer do TC, entregue hoje no Parlamento pelo presidente do tribunal, Oliveira Martins.

“Se à data da concessão da garantia já existia um elevado grau de probabilidade (...) que a garantia iria ser executada”, considera o TC, não se verifica a obrigação legal que “exige que exista segurança suficiente de que a obrigação a assumir será cumprida pelo garantido”.

“Não existindo essa segurança, como aconteceu no caso do BPP, a garantia não poderia ter sido concedida”, conclui o tribunal. publico.pt, 23.12.2009, 15h56

Nota: e o sr. Rendeiro por onde anda? Um, noutro caso, encontra-se detido em prisão domiciliária, e o sr. Rendeiro por onde pára? Não é nada pessoal mas acho que o sr. Rendeiro não deveria ser deixado a andar por aí a propagar os truques que destruiram o BPP.

2009/12/22


Schumann - Novelletten Op 21 No 8 In F Sharp Minor, Part I, by Eliso Virsaladze

2009/12/19

The Reality of an Illusion

When I claim that multiculturalism is hegemonic, I only claim that it is hegemonic as ideology, not that it described the reality of predominant social relations – which is why I criticize it so ferociously. So when Ahmed writes that “multiculturalism is a fantasy which conceals forms of racism, violence and inequality,” I only can add that this goes for every hegemonic ideology. I do not confuse ideological fantasy/illusion and fact – they are confused in reality: the reality of what Ahmed calls “civil racism” can only function through (in the guise of) the illusion of anti-racist multiculturalism.

And, furthermore, an illusion is never simply an illusion: it is not enough to make the old Marxist point about the gap between the ideological appearance of the universal legal form and the particular interests that effectively sustain it – as is so common amongst politically-correct critics on the Left. The counter-argument that the form is never a ‘mere’ form, but involves a dynamic of its own which leaves traces in the materiality of social life, made by Claude Lefort and Jacques Rancière, is fully valid. After all the ‘formal freedom’ of the bourgeois sets in motion the process of altogether ‘material’ political demands and practices, from trade unions to feminism. Rancière rightly emphasizes the radical ambiguity of the Marxist notion of the gap between formal democracy with its discourse of the rights of man and political freedom and the economic reality of exploitation and domination.

This gap between the ‘appearance’ of equality-freedom and the social reality of economic and cultural differences can either be interpreted in the standard symptomatic way, that is the form of universal rights, equality, freedom and democracy is just a necessary, but illusory expression of its concrete social content, the universe of exploitation and class domination. Or it can be interpreted in the much more subversive sense of a tension in which the ‘appearance’ of egaliberté, is precisely not a ‘mere appearance,’ but has a power of its own.

This power allows it to set in motion the process of the re-articulation of actual socio-economic relations by way of their progressive ‘politicization’: why shouldn’t women also vote? Why shouldn’t conditions at the work place also be of public political concern? and so on. If the bourgeois freedom is merely formal and doesn’t disturb the true relations of power, why, then, didn’t the Stalinist regime allow it? Why was it so afraid of it? In the opposition between form and content, the form possesses an autonomy of its own – one can almost say: a content of its own. – Back to Ahmed, how, then, does multiculturalism as fantasy function?
...
The prohibition of racist speech should not then be taken literally: rather it is a way of imagining ‘us’ as beyond racism, as being good multicultural subjects who are not that. By saying racism is over there –‘look, there it is! in the located body of the racist’ – other forms of racism remain unnamed, what we could call civil racism. We might even say that the desire for racism is an articulation of a wider unnamed racism that accumulates force by not being named, or by operating under the sign of civility.

The best example one can imagine of this are the presidential elections in France a couple of years ago when Jean-Marie le Pen made it into the second round: reacting to this racist-chauvinist threat, the entire “democratic France” joined their ranks behind Jacques Chirac who was reelected with an overwhelming majority of 80%. No wonder everyone felt good after this display of French anti-racism, no wonder people “loved to hate” le Pen: by way of clearly locating racism in him and his party, the general “civil racism” is rendered invisible.

In a homologous way, there was, in Slovenia, around a year ago, a big problem with a Roma (Gipsy) family which camped close to a small town. When a man was killed in the camp, the people in the town started to protest against the Roma, demanding that they be moved from the camp (which they occupied illegally) to another location, organizing vigilante groups, etc. As expected, all liberals condemned them as racists, locating racism into this isolated small village, while none of the liberals, living comfortably in the big cities, had any everyday contact with the Roma (except for meeting their representatives in front of the TV cameras when they supported them).

When the TV interviewed the “racists” from the town, they were clearly seen to be a group of people frightened by the constant fighting and shooting in the Roma camp, by the constant theft of animals from their farms, and by other forms of small harassments from the Roma.

It is all too easy to say (as the liberals did) that the Roma way of life is (also) a consequence of the centuries of their exclusion and mistreatment, that the people in the nearby town should also open themselves more to the Roma, etc. – nobody clearly answered the local “racists” what they should concretely do to solve the very real problems the Roma camp evidently was for them.

One of the most irritating liberal-tolerant strategies is to oppose Islam as a great religion of spiritual peace and compassion to its fundamentalist-terrorist abuse – whenever Bush or Netanyahu or Sharon announced a new phase in the War on Terror, they never forgot to include this mantra. (One is almost tempted to counter it by claiming that Islam is, as all religions, in itself a rather stupid inconsistent edifice, and that what makes it truly great are its possible political uses.)

This is liberal-tolerant racism at its purest: this kind of “respect” for the other is the very form of appearance of its opposite, of patronizing disrespect. The very term “tolerance” is here indicative: one “tolerates” something one doesn’t approve of, but cannot abolish, either because one is not strong enough to do it or because one is benevolent enough to allow the Other to stick to its illusion – in this way, a secular liberal “tolerates” religion, a permissive parent “tolerates” his children’s excesses, etc.

Where I disagree with Ahmed is in her supposition that the underlying injunction of liberal tolerance is monocultural – “Be like us, become British!” I claim that, on the opposite, its injunction is cultural apartheid: others should not come too close to us, we should protect our “way of life.” The demand “Become like us!” is a superego demand, a demand which counts on the other’s inability to really become like us, so that we can then gleefully “deplore” their failure.

(Recall how, in the apartheid South Africa, the official regime’s ideology was multiculturalist: apartheid is needed so that all the diverse black tribes will not get drowned into our civilization…)

The truly unbearable fact for a multiculturalist liberal is an Other who effectively becomes like us, while retaining its specific features.
...
Either “true” multiculturalism, or we should drop the universal claim as such. Both solutions are wrong, for the simple reason that they are not different at all, but ultimately coincide: “true” multiculturalism would have been the utopia of a neutral universal legal frame enabling each particular culture to assert its identity.

The thing to do is to change the entire field, introducing a totally different Universal, that of an antagonistic struggle which does not take place between particular communities, but splits from within each community, so that the “trans-cultural” link between communities is that of a shared struggle. Slavoj Zizek

2009/12/14

Paul Samuelson

It’s hard to convey the full extent of Samuelson’s greatness. Most economists would love to have written even one seminal paper — a paper that fundamentally changes the way people think about some issue. Samuelson wrote dozens: from international trade to finance to growth theory to speculation to well, just about everything, underlying much of what we know is a key Samuelson paper that set the agenda for generations of scholars.

Paul A. Samuelson died on 13 December, 2009.
Massimo Tartaglia' s direct action

Massimo Tartaglia struck the Premier in the face with a small statue of the Duomo, the city's world-famous cathedral, as he shook hands with wellwishers on the streets of the city. Telegraph

2009/12/11

Portugal não tem conseguido combater a corrupção

Pedi ao António José Seguro, deputado do PS, a gentileza de escrever um texto sobre o problema da corrupção em Portugal para este blog, e ele enviou-nos o seguinte texto que teve por base uma declaração de voto que entregou no Parlamento:

Portugal não tem conseguido combater eficazmente a corrupção. Alguns argumentam com falta de legislação adequada e outros com menor capacidade de investigação. Enquanto este diálogo se intensifica, é notória a descrença sobre os resultados e a suspeita permanente sobre a vida política, judicial e económica.

Ao mesmo tempo, constatamos a existência de patrimónios e estilos de vida manifestamente superiores aos rendimentos declarados. A ideia comum de que existe um aumento da corrupção e menor eficácia do seu combate fortalece a suspeita de que os “poderosos” se protegem e que não existe um verdadeiro interesses no combate à corrupção.

Estas realidades minam a confiança dos portugueses na política e na justiça e corroem os alicerces do Estado de Direito Democrático. Ignorar esta realidade é um erro que está a pagar-se caro. É, também, por isso que é dever de todos os democratas, em particular dos que exercem funções públicas, contribuir com propostas concretas para efectuarmos um combate claro e sem tréguas á corrupção.

É certo que este debate raramente é feito nos momentos adequados. Recentemente tem chegado em cima de “casos” ou em véspera de eleições. E com eles surgem muita oportunidade para o populismo. Mas tendo surgido, não lhe podemos virar costas, nem dispensar o contributo de todos. E fundamentalmente não faz qualquer sentido partidarizar este debate ou passar culpas entre os diferentes poderes, nomeadamente o político e o judicial.

O debate tem que respeitar os princípios matriciais da nossa Constituição, mas devemos ter a inteligência de os colocar na defesa, concreta e eficaz, dos valores que fundam a Democracia. Caso contrário, a Democracia não resistirá.

Defendo um combate sem tréguas à corrupção. Defendo uma reflexão profunda e séria com todos os intervenientes no seu processo, desde os legisladores até ao perito de investigação.

Essa reflexão deve listar os obstáculos que dificultam o combate eficaz à corrupção e, em face disso, eliminá-los dotando o Estado de Direito Democrático dos instrumentos adequados. Não é necessário muito tempo para fazer essa reflexão. As posições estão fundamentadas. Trata-se de eliminar desculpas, de impossibilitar endosso de responsabilidades e colocar todas os poderes no mesmo rumo.

O combate à corrupção é uma questão de regime e todas as vias (administrativa, fiscal e penal) são necessárias para que ele tenha êxito.

Atacar o problema apenas por um dos lados, por melhor que seja a proposta, pode criar uma ilusão que, a prazo, se pagará caro.

António José Seguro
Negociatas dos boys (I)

Carlos Horta e Costa, ex-presidente dos CTT, Manuel Baptista, ex-vice-presidente, e Gonçalo Leónidas da Rocha, ex-administrador, foram acusados pelo Ministério Público (MP) de administração danosa e participação económica em negócio.

«Os arguidos praticaram os factos que lhe são imputados com flagrante e grave abuso da função, em benefício de terceiros e em prejuízo dos CTT (...), pondo em causa a confiança da comunidade na boa administração do sector empresarial do Estado e dos dinheiros públicos» – afirma o MP.

Os três gestores, segundo o MP, lesaram os CTT em mais de 13,5 milhões de euros, em cinco negócios que autorizaram. A principal operação prende-se com a venda do prédio dos Correios em Coimbra, onde a empresa perdeu cerca de 5,2 milhões de euros. No dia 20 de Março de 2003, os CTT venderam o imóvel por 14,8 milhões de euros à Demagre, tendo esta empresa revendido o imóvel no mesmo dia, por 20 milhões, à ESAF (Espírito Santo Activos Financeiros). Sol.pt, 11 Dezembro


Negociatas dos boys (II)

"Vai ser um processo longo, muito longo", explicou ontem ao DN o porta-voz do comissário do Mercado Interno sobre a averiguação de responsabilidades do Estado português na compra de computadores sem concurso público. Neste caso, a Comissão Europeia (CE) quer saber "exactamente como é que o Estado membro lidou com toda a situação".

O executivo comunitário enviou uma carta a Portugal a pedir explicações sobre o processo de compra dos computadores (compra em que estão incluídos os milhares de computadores Magalhães), na sequência de uma queixa feita à Comissão por parte da empresa Accer - que alega violação da directiva da livre concorrência.

Na prática, o comissário do Mercado Interno pretende, nesta fase, que Lisboa explique como procedeu à adjudicação da comercialização à empresa portuguesa JP Sá Couto. O Governo tem agora dois meses, segundo as regras comunitárias, para responder à missiva de Bruxelas, o que quer dizer que o caso passará entretanto para as mãos da nova equipa de Durão Barroso, que não tomará posse antes de Fevereiro do próximo ano.

Em consequência da resposta lusa, a Comissão averiguará se Portugal cumpriu todas as premissas das regras europeias sobre a concorrência. Em caso de incumprimento por parte do Estado, a Comissão terá de elaborar um Parecer Fundamentado, um segundo passo no processo de infracção, sobre como Portugal deve proceder para tornar a uma situação de normalidade.

"Há uma suspeita", assume o porta-voz da Comissão, "como é natural em todos os casos em que se abre um processo de infracção", mas, sublinha, "neste momento, o que se procura é ainda uma clarificação" dos procedimentos adoptados. Em última análise, a provar-se o incumprimento, e caso Portugal não regularize a situação dentro dos prazos previstos, a CE poderá decidir enviar o caso para o Tribunal Europeu das Comunidades Europeias.

Segundo o jornal Sol de ontem, as primeiras explicações dadas pelo Governo português em Novembro não foram suficientes para parar a investigação, razão suficiente para que novas perguntas tenham sido dirigidas a Lisboa. O Governo tem dois meses para responder. dn.pt, 12 Dezembro


O terceiro mundo

Quando num lugar onde as pessoas podem ganhar menos de 500 euros mensais, uma multa num transporte basicamente pago e mantido pelos impostos das mesmas pessoas, pode custar mais de 100 euros - sendo que em Inglaterra, onde ganham pelo menos 4 vezes mais, a mesma multa custa 50 libras, reduzida para 25 libras se liquidada antes de 22 dias - estamos perante uma realidade que nos mostra o terceiro mundo no seu explendor.

A Carris (e o Metro), que alberga os boys dos partidos no poder, parece existir para que esses sujeitos possam manter as regalias terceiro-mundistas que jamais conseguiriam num lugar normal e decente. Por isso aplica multas quatro (4) vezes mais elevadas que os TFL (Transports For London). Mas a Carris nem daqui a dois mil anos vai estar ao nível dos TFL, tanto em qualidade como em quantidade do que tem para oferecer. Mais: nos TFL o Oyster (cartão tipo Lisboa Viva ou Sete Colinas) impede que as pessoas fiquem "penduradas", atribuindo-lhes um pequeno crédito que é deduzido no carregamento seguinte. Ainda mais: o Oyster não caduca, ao passo que os da Carris caducam, tendo os utentes que de tempos a tempos comprar novos cartões. "Pequenas" nuances entre o primeiro e o terceiro-mundo...

Nota: sim, sim... Não se canse a conjecturar e a pensar (provavelmente sorrindo para dentro) em surdina. Fui "apanhado" na Carris (e paguei 113 euros)! Faltavam dois cêntimos no meu cartão para poder ser validado. Como o autocarro estava cheio (na Carris as pessoas viajam frequentemente como animais, encavalitadas umas sobre as outras), com gente "a cobrir" o "validador" de bilhetes, tornou-se impossível ouvir o som ou ver a luzinha. No dia em que os portugueses abrirem os olhos (se algum dia os abrirem) isto vai acabar. A bem ou a mal.

2009/12/09

Aminetu Haidar – In Spite of Everything

Our senses, habituated to a never innocent violence – normalized through lingering media bombardment – only react when the scandalous aspect of news reaches the border between reality and fiction. Once in a while, almost always later than sooner, the violence that mercilessly strikes women appears in mass media headlines: women retained in Serbian rape camps, young working women slaughtered in Ciudad Juárez, women murdered by either romantic or sexual partners. Less frequently, a specific face repeats itself on the television screens and a name struggles to conquer a corner of our memory. Today such a face belongs to Saharawi activist Aminetu Haidar, a peaceful defender of human rights and international humanitarian rights whose case began to filter out through tiny snippets of information and now expands like a pool of uncontainable blood.

Aminetu – a former detainee in Moroccan secret jails, where she “disappeared” for years – has the willpower that we usually find in those who have lived and suffered enough to thoroughly know both the strength and fragility of the human spirit. The old and vile complicity between the governments of Spain and Morocco, a complicity that impedes Aminetu’s return to Sahara, her motherland – under military occupation since 1975 – and that has forced her to start a hunger strike against it, is the same that historically marks all perverse pacts signed to the detriment of people everywhere. Now it is the turn of the Saharawi people, affected for 34 years now by such complicity and surely even more as a former Spanish colony whose national identity was modified and resources exploited until the commercial alliances were consolidated that today continue to define the inexcusable continuance of a shameful conflict.

Now, while Spanish government officials turn a deaf ear to a hunger strike in its second week, it’s useless to give an account of Spain’s violations of Aminetu’s demand to return to El Aaiun. Better to unmask the lie which is being repeated a thousand times to make it into a truth. But even more useful is to point out that what is happening in Aminetu’s case unveils the still concealed factual ins and outs of a political system that claims to be democratic and mistakenly acknowledges:

1) That democracy is simply dictatorship’s antonym, and 2) that societies are satisfied with periodic elections and spaces where they can shout their dissatisfaction even if nothing changes in the real world. Is this the harbor to which the globally celebrated “Spanish transition” has arrived after those very same 34 years? Or is it that the transition process is unfinished and one of its steps consists of a combination of handwashing and complicity with the current occupying power in its former colony?
...
In these circumstances her latent death will continue being the responsibility of both the Spanish and Moroccan governments and of international indifference. Atenea Acevedo

2009/12/08


Henry Purcell (1659 - 1695)

Dido and Aeneas - Z 626

Ricercar Consort

Collegium Vocale de Gent

Romina Basso: Dido
Furio Zanasi: Aeneas
Belinda: Nuria Rial
Damien Guillon: Sorceress
Céline Ricci: Sorceress
Alex Potter: Witch

Conducted by Philippe Pierlot

2009/12/07

Iranian Student Protesters Clash With Police

Thousands of student protesters gathered at universities in Tehran and other cities across Iran on Monday, chanting antigovernment slogans and fighting with security forces in what appeared to be the most violent street protests since the summer.

The main entrance to Tehran University was sealed off by security forces, while clashes broke out between protesters and tens of thousands of Basij militiamen in squares around the city, witnesses and opposition Web sites reported. Protests erupted at universities throughout the country, including Kerman, Mashhad, Isfahan and Hamdean. The opposition staged a street rally in Shiraz.

Witnesses said there was an anger to the protests not seen since the summer months, when protests broke out after the June 12 presidential election, which the opposition has dismissed as fraudulent. The Basij responded with ferocity, using copious amounts of tear gas, electrical truncheons and stun guns in an effort to disperse the crowds.
(from here)

2009/12/05

Let’s save Italy, Let’s save democracy. Let’s ask for Berlusconi’s resignation.