O Baltic Sea Festival, acontece em Stockholm e suporta a luta contra a pesca ilegal no Mar Báltico. Infelizmente este festival acontece ao mesmo tempo que o festival de Helsinki, obrigando a uma escolha. O interessante é que grande parte dos artistas e do repertório é finlandês ou estoniano (e russo...). Há que notar a ausência de qualquer orquestra ou agrupamento finlandes entre os agrupamentos que se apresentam neste festival de Stockholm.
Tanto em Helsinki como em Stockholm, o acolhimento foi amigável e despretencioso desde o primeiro momento, acabando, devido aos programas, agrupamentos e condutores, por optar por este Baltic Sea Festival.
No que toca aos programas oferecidos interrogo-me, com alguma perplexidade, porque não foi apresentada Lady Macbeth, de Shostakovich, interpretada pela orquestra do Mariinsky, em Londres*, semanas atrás, e sim o Falstaf de Verdi. Um enigma...
Quanto aos concertos previstos aconteceu uma baixa (divulgada na conferência de imprensa do dia 19, à qual não assisti), devido a problemas de dinheiro. Trata-se exatamente do que estava marcado para o dia 23, em que Paavo Järvi ia dirigir a Mariinsky Theatre Orchestra, interpretando a primeira sinfonia de Schumann e a décima de Dmitry Shostakovich. Uma baixa de peso...
Como alternativa foi-me proposto um concerto, que já estava programado mas ao qual não pensava ir, com o Swedish Radio Choir, que me foi apresentado como sendo um dos melhores grupos corais do mundo.
No "cocktel", antes do primeiro concerto, o ministro dos negócios estrangeiros da Suécia salientou que este festival demonstra que a zona do Báltico está unida em torno de valores não materiais mas artísticos e culturais. Esperemos sinceramente que assim seja... Esa-Pekka Salonen, director-artístico do festival, salientou a importância da vinda dos seus colegas Paavo Järvi, Valery Gergiev e Manfred Honeck.
A primeira obra a ser interpretada no primeiro concerto do festival foi Open Ground da compositora russa, que vive na Suécia, Victoria Borisova-Ollas, nascida em 1969, com quem conversei no final da primeira parte do concerto e reconheceu ser esta sua obra "um bocadinho tonal". O que não é crime nenhum! Victoria demonstrou ser capaz de um excelente trabalho orquestral e Honeck dirigiu eficazmente uma obra digna de abrir o festival, obra esta que de resto foi encomendada expressamente para a ocasião. Seguiram-se excertos do Idomeneo de Mozart que não me convenceram, tendo o desempenho do cantor sido demasiado mediano. De seguida foi interpretado o concerto para clarinete, com Fröst como solista. Fröst revelou uma técnica suprema, invejável, mas algum mecanicismo. Já no encore que ofereceu, uma obra de música tradicional, para além da técnica notável, revelou a sua capacidade de entrega e arrebatamento.
No "moderato" incial da quinta sinfonia de Dmitrij Shostakovich, Honeck conduziu a orquestra para uma leitura demasiado marcada. A Sveriges Radios Symfoniorkester revelou, sobretudo no naipe dos violoncelos, alguma falta de volume e densidade sonora. No entanto, a partir do "allegretto", o condutor revelou ter um conceito interessante, trabalhando com especial ênfase os contrastes dinâmicos, ao que a orquestra respondeu perfeitamente. No movimento lento foi-nos oferecida uma leitura bem sustentada e densa, ao qual se seguiu um esfusiante "allegro non tropo" que, no final, fez saltar o público das cadeiras aplaudindo e gritando bravos. AST
* Em Londres foi interpretada Katerina Izmaylova, que é uma revisão de Lady Macbeth of Mtsensk, feita por Shostakovich para apaziguar as autoridades soviéticas, revisão que o compositor assumiu como "a versão definitiva".