2006/08/25

JÄRVI INTERPRETA OBRAS DE SUMERA E TÜÜR

No que diz respeito ao concerto de hoje, o último a que assisti neste Baltic Sea Festival 2006, no penúltimo dia do mesmo, a nossa expectativa era elevada: Paavo Järvi à frente da Estlands Nationella Symfoniorkester (Estonian National Symphony Orchestra) dirigiu a sinfonia número quatro, Magma, uma obra para orquestra e percussões, de Erkki-Seven Tüür, que é um compositor de grande criatividade e singular capacidade de desenvolvimento temático. Desta obra fantástica, a electrizante percussionista Evlyn Glennie deu-nos uma leitura memorável, acompanhada por uma orquestra coesa que deu o seu melhor pela obra do compositor estoniano, conterrâneo da orquestra, sob a batuta precisa e inteligente de Järvi. Igualmente foi apresentada a sexta sinfonia de Lepo Sumera (1950-2000), que é uma das mais impressionantes obras musicais que alguma vez escutei. Järvi, um dos condutores mais interessantes da actualidade, deu-nos uma leitura grandiosa e comovente desta obra maior que há-de fazer história porque é absolutamente genial. Foi também feita uma magnífica leitura do Prélude à l'aprés-midi d'un faune, de Debussy e de Eldfågeln de Stravinsky, que finalizou o concerto. Nesta obra, infelizmente, o primeiro trompa "deslizou" uma vez, e o primeiro violoncelo, no seu curto solo, não esteve bem. Coisas que podem acontecer aos melhores... No entanto, este concerto, devido à leitura fora-de-série das obras de Tüür e Sumera, foi, em meu entender, o acontecimento mais relevante deste festival. AST

Curiosidade: o pai de Paavo, Neeme Järvi, é uma das grandes referências na interpretação da música "neo-clássica", nomeadamente Shostakovich.















SALONEN INTERPRETA SIBELIUS E CONTEMPORÂNEOS

No ante-penúltimo concerto deste Baltic Sea Festival 2006, a Sveriges Radios Symfonikester, dirigida por Esa-Pekka Salonen ofereceu-nos duas obras contemporâneas, seguidas da sétima sinfonia de Sibelius.

Maro, uruppförande, de Kimmo Hakola, da Finlândia, foi uma encomenda deste festival. Trata-se de uma obra para grande orquestra onde são exploradas densidades sonoras e tímbricas, dentro de uma estética próxima de um Ligetti, de onde emergiram paisagens sonoras diferênciadas e inspiradas na magia do mar, nomeadamente do Mar Báltico.

Eleven Gates, de Anders Hilborg, executada pela primeira vez em Los Angeles no início deste ano, teve neste concerto a sua estreia europeia. Trata-se de uma obra, como o nome indica, dividida em onze partes, sem pausas, que faz referências a obras de outros compositores. Musicalmente é um trabalho bem conseguido, que revela um conceito orquestral fantástico e que nos remete para paisagens sonoras mágicas, mas onde o acorde de dó maior que dá o nome à primeira "porta", e a encerra, seria, em meu entender, evitável, pois produziu um efeito kitsch, auditivamente dispensável. No entanto, no global, trata-se de um excelente trabalho que cativou o público e os músicos, tal como aconteceu com a obra de Kimmo Hakola.

A leitura que Salonen nos ofereceu da sétima sinfonia de Sibelius foi arrebatada, revelando, simultaneamente, uma grande consistência estética e formal. Ininterruptamente os movimentos sucederam-se num fluir natural que conquistou a sala que no final aplaudiu de pé. AST