2006/10/15

Entrevista com Christophe Coin

Christophe Coin ofereceu uma interpretação magnífica do concerto RV 417 de Vivaldi, durante um concerto na Casa da Música (Porto - Portugal) em que dirigiu a EUBO (European Union Baroque Orchestra), num muito interessante programa com obras de Locatelli, Dall' Abaco, Hellendaal e Geminiani. Conversamos com o célebre violoncelista durante o intervalo.

Álvaro Teixeira Todo o mundo conhece Christophe Coin, um grande violoncelista que trabalha especialmente o repertório antigo e clássico, cujas interpretações são incontornáveis, e que está conosco na qualidade de director convidado da EUBO. Christophe: é um prazer recebê-lo aqui no Porto e para mim é um prazer muito grande estar a conversar consigo. Conheço e admiro o seu trabalho desde há muitos anos, nomeadamente com o Quarteto Mosaiques que é uma referência mundial na interpretação, muito particularmente, dos quartetos de Haydn e Beethoven. Foi o Christophe quem escolheu o repertório desta noite?

Christophe Coin Pediram-me para fazer um repertório à volta do barroco italiano e o tema é "Crossing Borders", tratando-se de compositores que deixaram os seus países para trabalharem noutros. Haendel é o grande ausente desta noite, pois também deixou o seu país de origem, mas, por outro lado, trazemos compositores menos conhecidos como Hallendal, um holandês que trabalhou em Inglaterra, entre outros lugares, e que criou muitas obras belas. Trazemos outros mais conhecidos como Locatelli, Geminiani e Vivaldi, sendo o concerto que interpretamos deste compositor uma das suas obras menos conhecidas e muito raramente interpretada. A obra de Locatelli (Il pianto d' Arianna para violino e cordas) é muito interessante, tratando-se de "música programática" à volta "del pianto de Ariana". É, basicamente, um repertório à volta do "concerto grosso" italiano que nos mostra as suas diferentes vertentes.

AT Para mim este repertório é muito mais interessante que se nos trouxesse compositores e obras que ouvimos regularmente. Continua a trabalhar com os Mosaiques?

CC Claro. Brevemente teremos vinte anos de actividade e vamos gravar em Setembro os três quartetos de Arriaga, compositor basco, morto em 1926, celebrando-se o seu centenário este ano pois nasceu em 1906 e teve uma morte prematura aos vinte anos.

AT Portanto interpreta repertório para além do antigo e clássico.

CC Sim. Interpretamos nomeadamente os quartetos de Bartok e Debussy.

AT Com cordas de tripa ou de metal?

CC De tripa. O metal nos instrumentos de cordas é relativamente recente. Os quartetos de Bartok e Debussy foram executados em instrumentos com cordas de tripa quando foram criados. Claro que os arcos são diferentes dos utilizados na música antiga...

AT E de música contemporânea, nunca pensou interpretar nada?

CC Não é a minha especialidade. No entanto vamos provavelmente tocar uma obra de Arvo Part.

AT Brrr... Estamos na Casa da Música do Porto. Um edifício (supostamente) emblemático da arquitectura contemporânea. Que lhe parece a acústica?

CC São necessários alguns arranjos. Penso que serão possiveis.

AT Assim o espero. Para além da EUBO dirige outras formações?

CC Sim. Dirijo o Ensemble Baroque de Limonges e sou convidado regularmente para dirigir repertório clássico e romântico com orquestras convencionais. Como violoncelista sou habitualmente convidado para interpretar muito repertório para além do antigo e do clássico.

AT É um percurso típico partir-se do antigo até, pelo menos, ao final do romantismo? Aconteceu com Harnoucourt de quem foi aluno...

CC Cada artista tem a sua singularidade. A diversidade de interpretações enriquece a possibilidade de se escutarem as mesmas obras sob diferentes leituras. Não me parece que possamos falar em percursos típicos.

AT Christophe Coin: o público espera-o ansiosamente para a segunda parte do concerto. Uma vez mais foi um enorme prazer estar aqui conversando com um artista emblemático como o Christophe.

CC O prazer também foi meu.