2007/02/01

MERCEEIROS

Philippe Pierlot, na última Festa da Música, no CCB, em Lisboa, ofereceu-nos alguns dos momentos mais geniais e inspirados daquele evento, que foi encerrado por solistas, côros e instrumentistas sob sua condução.

Foi com espanto que li hoje, num jornal diário português, que Philippe Pierlot foi obrigado assinar um "acordo" com o CCB para poder pagar aos músicos, coralistas e solistas que trabalharam com ele. Já passaram muitos meses após o evento. Seria de esperar que todos os artistas já tivessem recebido os respectivos honorários...
Nesse acordo forçado, o CCB não vai pagar as deslocações entre o aeroporto e o local dos concertos (P. Pierlot e os "seus" grupos foram os artistas basilares do evento, tendo participado em mais de trinta concertos), as despesas que foram liquidadas com cartões de crédito, as taxas devido ao excesso de peso dos instrumentos e parte dos gastos com os bilhetes de avião que foram adquiridos através de um sistema que os tornou mais económicos.

Ainda que já pouco me surpreenda no que concerne aos comportamentos dos portugueses com responsabilidades públicas, devo dizer que mais valia encerrarem o CCB e alugá-lo para as festas populares do que acontecer algo como isto, que o país irá pagar caro. Nada lavará a imagem de uns ridículos chicos-espertos que se aproveitam do que podem para não pagarem na totalidade o que devem. Imagem que vai transitar pelo mundo, acrescentando-se a outras que já existem. AST

Nota: não seriam estes mesmos responsáveis que, sem hesitar, pagaram milhões ao minimal-repetitivo Philip Glass para produzir um aborto chamado Corvo Branco (a cuja estreia, que aconteceu numa aberração acústica chamada Teatro Camões, tive o desprazer de assistir)? "Ópera" que Glass recusou gravar em cd por considerar ser o seu "pior trabalho"? Só numa república das bananas, em que os responsáveis de instituições que sobrevivem de capitais fundamentalmente públicos fazem o que querem, isto pode ter acontecido sem terem sido averiguadas as devidas responsabilidades. Claro que a ópera-da-treta de P. Glass foi herdada. Ora essa... Evidentemente! Quando as coisas correm bem, assumem-se como êxitos pessoais. Se correm mal é porque foram compromissos herdados dos anteriores responsáveis.













ESTA ENTREVISTA DEVIA ostentar uma bolinha vermelha, no canto superior direito da página. É desaconselhada a contribuintes sensíveis ao despesismo. Aqui se conta como, por más decisões, escolhas políticas questionáveis ou programas propagandísticos, se gastaram milhões de contos. E como o resultado desses gastos se esvaiu. Uma ópera, que tanto podia servir para comemorar Vasco da Gama ou «o Gengis Khan», uma fragata que foi reconstruída para ficar, para sempre, ancorada e a apodrecer, arte ao abandono, livros desaparecidos, cd-roms pagos e não editados.
in Visão, n.º 712, 26 de Outubro de 2006, pp. 60 a 64
http://www.prof2000.pt/users/secjeste/recortes/Historia/Hist005.htm













UM BOM CONCERTO EM CONDIÇÕES LAMENTÁVEIS

... o director falava com a orquestra referindo-se a «escândalo» e preconizando legatos mais acentuados.
... uma interpretação mais «ligada» poderia minimizar a «secura» da sala.
Em conversa com David Shallon (o maestro) este esclareceu-me que o «escândalo» era a acústica horrível da Sala Júlio Verne do Teatro Camões...
«Escândalo» era também a péssima organização e o barulho que durante o ensaio fizeram a focar as luzes, acabando por ser os músicos da orquestra a mandar calar os funcionários. Este último episódio pude-o eu, estupefacto, presenciar enquanto Gavrilov, indiferente a tudo, fazia passagens do 3º Concerto para piano e orquestra de Rachmaninov.
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Álvaro Teixeira in Diário de Notícias, 11 de Julho, 1998

Nota: a relações públicas, naquela época, do Teatro Camões, disse-me, à entrada do concerto seguinte: "veja lá se esta não foi a última vez que escreveu para o DN..." E de facto foi! A senhora continua a exercer as mesmas funções num teatro de ópera português.














HISTÓRIAS DO SUB-MUNDO
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Muito mais grave e revoltante é o caso do administrador de uma orquestra sinfónica juvenil: disse, com todas as palavras e sem subtilidades, ao músico principiante que, ou ia com ele para a cama, ou perdia o lugar. Perdeu o lugar. Passada uma semana abriram concurso para admissão de novo violoncelista. Muitos e muitas (o asqueroso joga nos dois lados) tinham aceite as propostas sebentas, e ficaram. Uma orquestra de jovens putas e panascas (genericamente... acreditamos que a maioria não alinhou no "negócio"...), com um administrador perverso, quase analfabeto (minto: o sujeito tem a antiga 4ª classe e provavelmente mais uns cursos de formação), um vulgar escroque que só num país merdoso poderia ter conseguido ascender a funções directivas. Em que país aconteceram, ou acontecem (?!), estas aberrações? Em nenhum... Trata-se de um exercício de humor...














Voltando ao que vale a pena e esquecendo (ou tentando) as atrocidades:

"A lista de nomes que passaram por Darmstadt mostra a enorme importância que os cursos tiveram para a música do século XX: Olivier Messiaen, Pierre Boulez, Karlheinz Stockhausen, Luigi Nono, Luciano Berio, Bruno Maderna. Uma das obras marcantes desse período, Mode de valeurs et d'intensités, foi escrita por Messiaen, que foi professor em Darmstadt entre 1949 e 1951, durante um desses cursos.
O italiano Luigi Nono passou por ser um dos mais radicais desse grupo, pela sua militância política, que o levou a combinar com frequência textos políticos radicais com música revolucionária. A sua ligação a Schoenberg foi bem para além do uso do serialismo nas suas primeiras obras; antes de mais, pelo facto de a sua primeira obra orquestral, estreada em Darmstadt em 1950, chamar-se Variazioni canoniche sulla serie dell'op.41 di Arnold Schoenberg; e por, 5 anos depois, ter casado com Nuria, filha de Schoenberg... Luigi Nono nasceu há 83 anos, no dia 29 de Janeiro de 1924." in http://desnorte.blogspot.com