TANZEFESTIVAL
Decorreu, de 15 a 25 de Fevereiro, em Wien, o festival de dança contemporânea para jovens, que foi dedicado ás crianças. Se pensam que essa peculiaridade reduz as exigências técnico-artísticas, desenganem-se. Grupos como a Compagnie Smafu (Wien), revelaram um nível técnico que muitos grupos de dança contemporânea "para adultos" não possuem. Mas, para além da técnica, a Compagnie Smafu demonstrou uma criatividade, uma inventividade e uma poesia que alcança a genialidade.
Kopergietery & Hans Hof Ensemble (Gent & Amesterdam), na foto, apresentaram Panamá, uma peça onde os artistas são músicos, actores e bailarinos, uma peça recheada de lirismo, que nesta apresentação vienense se excedeu no tempo (mais 10 minutos que o habitual), mas que conseguiu manter os espectadores, crianças dos primeiros anos de ensino, respectivos professores, artistas e "a crítica", atentos até ao final, ainda que o(s) argumento(s) seja(m) múltiplo(s) e complexo(s), o que causa uma certa sensação de falta de consistência. Técnicamente perfeitos, como bailarinos, revelaram-se igualmente excelentes intérpretes musicais, dentro dos estilos que interpretaram.
Não posso deixar de referir, com grande destaque, os IOTA, de Anterwpen. Die Vier Jhareszeiten, coreografia baseada nas quatro estações de Vivaldi, na célebre interpretação da Europa Galante, "estações" que foram apresentadas com um começo arbitrário para quebrar uma assimilação directa (com a concordância de Fabio Biondi e dos Europa Galante), conseguiram manter um discurso coreográfico interessante, consistente e criativo, sobre uma obra conhecida de todos, com uma interpretação-referência que poderia simplesmente absorver toda a coreografia. Tal não aconteceu, apesar da força da música, porque os IOTA conseguiram manter um ritmo e uma linguagem que se encadeou na música para advir "o outro" discurso, e não uma mera animação da obra musical.
Finalmente, correndo o risco de ignorar muitos outros, provavelmente mais interessantes, vou referir a peça Scipio, do grupo Konnex (Wien), que trata do conductor-bluff que acaba dominado e aterrorizado pela orquestra. Uma metáfora curiosa... Foi pena que a organização não tivesse trazido uma escola a esta peça. Seguramente que as crianças iriam morrer de riso...
Porquê destacar aqui este festival? Primeiro, pela grande qualidade da pequena amostra a que assisti. Digamos que entre um espectáculo do grupo Smafu, por exemplo, ou outro da generalidade das companhias de dança "para adultos", iria ver as Smafu, sem a menor dúvida ou hesitação. Segundo, porque a dança pode ser um meio de excelência para a educação artística das crianças. A dança contemporânea, quando de grande qualidade, utilizando desde a música barroca até à música popular, é um meio polivalente que sensibiliza as crianças para várias formas de arte. Falo das crianças porque os adolescentes já foram "comidos" pela moda. É nas crianças que a educação artística deve colocar o ênfase e todo o esforço, consolidada por uma formação musical rigorosa e de grande qualidade que tem de ser praticada nas escolas do ensino obrigatório. Claro que nos países onde os alunos maltratam e agridem os professores este é um assunto (mais um) a esquecer... É na infância que se criam os futuros ouvintes, tanto da música dita clássica como de outras formas de arte que exigem mais sensibilidade que a requerida pelas "músicas da moda", normalmente grosseiras e quadradas, produzidas, promovidas e comercializadas pela indústria, acriticamente consumidas pelos adolescentes que se consideram rebeldes e inovadores... AST
O festivall forUard III, organizado pela Trem Azul, decorre nos dias 18, 19 e 20 Março, em Lisboa. Em edições anteriores (em que se chamou forUmusic e forUjazz), este evento acolheu figuras de topo como Joachim Kuhn, Don Byron, Rashied Ali/Sonny Fortune, Louis Sclavis, Peter Brotzmann e Alexander Von Schlippenbach, além dos portugueses LIP, Afonso Pais e Zé Eduardo Unit.
A grande aposta da edição deste ano vai para o disco do quarteto 4 Corners, que tem a particularidade de juntar dois americanos (Ken Vandermark e Adam Lane) e dois europeus (o sueco Magnus Broo e o norueguês Paal Nilssen-Love) num exemplo de que se podem estabelecer óptimas relações musicais entre os dois lados do Atlântico. in http://improvisosaosul.weblog.com.pt (março 05, 2007)
Tinha passado um mês sobre a morte de Peter Kowald, em 2002, quando o veterano saxofonista Mario Schiano, uma figura de referência do jazz italiano desde a década de 60, a tocadora de guzheng (espécie de cítara com 25 cordas, de origem chinesa) Xu Fengxia, há anos radicada em Berlim, e o percussionista alemão Martin Blume, tiveram a ideia de apresentar em Roma, no festival Controindicazioni, um tributo à memória do desaparecido contrabaixista, com quem individualmente estes improvisadores se haviam cruzado. Sabores e saberes orientais sob a forma de harpejos e vocalizações de Fengxia relacionam-se com os sons fragmentados que Schiano extrai dos saxofones, esquiços desenhados sobre a subtil trama percussiva de Blume. Consonância e dissonância, tensão e libertação - o espírito free-world da Global Village de Kowald sempre presente, numa sessão muito agradável de ouvir em disco. in http://jazzearredores.blogspot.com (2.3.07)