os rankings eram apenas macro-económicos. Era o tempo da convergência nominal, do milagre económico português, do cavaquistão. Depois, vieram os indicadores de desenvolvimento humano, da desigualdade de rendimentos, da equidade e da justiça social.
Os anos dourados da solidariedade social, as políticas sociais como prioridade, o tempo do diálogo. E pouco a pouco começaram a aparecer os indicadores internacionais sectoriais. Primeiro da saúde e da educação, depois da qualidade da governança política e mais recentemente do enquadramento jurídico e legislativo. Em todos estes rankings Portugal perdia. Primeiro, ignorava-se. O que interessava mesmo era bater a Grécia na convergência real, o resto era conversa. Dizia-se que esses rankings eram incorrectos, porque não sabiam avaliar o nosso sistema de educação e de saúde, o nosso Estado de Direito muito avançado, a nossa democracia de sucesso. E Portugal continuava a descer. Descobriu-se então que os rankings eram neoliberais, uma americanice que não podíamos aceitar. O importante mesmo era que tínhamos o euro e os gregos não. E Portugal continuava a descer, nos rankings sectoriais e na convergência real. Dos gregos deixou-se de falar. Foi então que começou a generalizar-se a depressão de quem já sabe que ano após anos Portugal só piora nos rankings.
Mas em 2005 chegou um novo governo. E fez uma importante descoberta. Mudar os indicadores de convergência real não é fácil e leva o seu tempo, conseguir que Portugal suba nos rankings sectoriais é muito mais fácil e é rápido. Basta ver como são construídos estes indicadores, legislar de forma a poder dizer que foram introduzidas as medidas que permitem satisfazer as metas impostas pelas instituições internacionais e fazer a festa sempre que Portugal sobe nos rankings.
Este tem sido o melhor governo a trabalhar os rankings. Foi na educação (o sucesso escolar é um excelente exemplo), na qualidade da governança (os múltiplos programas simplex desenhados para satisfazer o Doing Business, o programa legislar melhor para favorecer as formalidades da OCDE), no ensino superior, na justiça e, agora, até na legislação laboral (lá veremos se a OCDE nos desce uns pontinhos no indicador de rigidez do mercado de trabalho).
Infelizmente para o governo, este trabalho dos rankings ficou muito prejudicado pela realidade económica. Evidentemente que a crise internacional agora é a mãe de todas as culpas. Uma culpa injusta, sem dúvida. A crise internacional justifica o abrandamento do crescimento económico, mas, curiosamente, o que temos em Portugal não é um mero abrandamento, e sim a continuação da divergência real. Isto é, mesmo quando a economia europeia abranda, a economia portuguesa não consegue recuperar o atraso perdido nos últimos anos (dizem os entendidos que não o fará até 2014). Nem mesmo em relação à espanhola, onde impera um estado de completo desaire no novo governo Zapatero.
Acontece que trabalhar os rankings pode ser politicamente rentável, mas não é sustentável. Trata-se, no fundo, de uma mera operação de cosmética que não altera o essencial. Uma melhoria dos exteriores sem a correspondente mudança nas fundações do edifício. Pode até atrasar a sua ruína, mas não a impede.
O problema é que o trabalho dos rankings fica bem nos jornais, abre noticiários, mas não engana os investidores que interessam e não muda os fundamentais da economia portuguesa. Ainda por cima, por esse mundo fora, governos medíocres que não conseguem implementar reformas profundas dedicam-se a essa actividade mais fácil de gerir rankings, contratando consultores a peso de ouro (o nosso governo já os conhece de tanto encomendar-lhes estudos) e anunciando pacotes de medidas semelhantes ao que se fez em Portugal. Por isso mesmo, no mais recente relatório do Doing Business 2008, para grande desgosto das nossas autoridades, Portugal não subia o que se esperava. É que o governo português não foi o único que descobriu a magia de enganar os rankings. Nuno Garoupa In jornaldenegocios.pt, 03 Julho, 14:00
Os testes de Português podiam ser substituídos por uns papeluchos como os do Totobola
Hoje de manhã acordei a pensar no Ministério da Educação. Num mundo ideal, eu seria professora de Português, consistindo a minha missão em sujeitar a exame todos os membros do Gave (Gabinete de Avaliação Educacional), da DGIDC (Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular), do GEPE (Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação), da DGRHE (Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação) e da ANQ (Agência Nacional para a Qualificação) usando para o efeito uma “grelha” por mim elaborada.
Este desejo surgiu depois de ter lido os programas, os exames e os critérios de avaliação em vigor. Com filhos crescidos e netos demasiado pequenos para frequentar a escola secundária, tenho andado arredada da matéria, embora, pelo que ia ouvindo, por esquinas e ruas, suspeitasse de que a asneira tivera carta de alforria. Há três semanas, durante uma sessão de autógrafos na Feira do Livro, conversei com algumas professoras do ensino secundário. O encontro despertou o meu apetite por analisar as provas de exame de Português. Havia muito – exactamente desde 1997, quando publiquei "Os Filhos de Rousseau" – que o não fazia.
Não foi difícil obter, na Internet, o seu enunciado, ou antes, não foi difícil depois de o director deste jornal me ter enviado o devido link. Comecei pela Prova Escrita de Português do 12.º Ano de Escolaridade, a qual incluía um texto de Camões, outro de Luís Francisco Rebelo e outro de Guilherme Oliveira Martins. À cabeça, aparecia o extracto do Canto X de "Os Lusíadas", começando em “Que as Ninfas do Oceano, tão fermosas,/…” e terminando em “Que possuí-los sem os merecer”. Se a inclusão do maior poeta épico português não me admirou, o mesmo não posso dizer das perguntas sobre ele feitas.
No final da primeira parte, pedia-se ao aluno que comentasse, num texto de 80 a 120 palavras, a experiência de leitura de "Os Lusíadas". Com medo de que esta se reduzisse a nada, fornecia-se, em epígrafe, as seguintes linhas de Maria Vitalina Leal de Matos: “Mas o texto é complexo e, por vezes até, contraditório. Em certos momentos exibe uma face menos gloriosa; aquela em que emergem as críticas, as dúvidas, o sentimento de crise.” Não só o excerto era desnecessário, como podia causar perplexidade, uma vez que o esquema a preto e branco inventado pelo Gave não se coadunava com “complexidades”. Por outro lado, pareceu-me extraordinário que, a alunos de 17 e 18 anos, se tivesse de fornecer um glossário, no qual se explicava, por exemplo, o que era o Olimpo. Que andaram os meninos a aprender ao longo de dez anos de aulas de História? Maria Filomena Mónica In publico.pt, 04.07.2008, 07h00
Milagres ou facilitismo?
Uma alerta antes de começar a ler o texto: isto é um «Desce». Sim, podia ser um «Sobe», porque testes fáceis e boas notas é o que a malta quer. Pronto, também não podem ser muito boas, porque senão é só cromos, «nerds» e outras coisas um bocado foleiras. Mas sem confusões, isto é mesmo um «Desce».
Num País que quer ser competitivo, que sabe que só tem hipótese de vingar se optar pela qualidade e pela exigência, porque o barato vem de outros continentes, trocar as voltas a tudo isto e aparecer com o melhor sorriso do mundo deixa todos abismados.
Somos maus a matemática, não conseguimos ser bons sem colocar mais professores nas escolas para dar apoio e motivar para a disciplina (ou seja, sem gastar dinheiro)? E isso fica mal nas estatísticas? É feio?, piroso?, passa a ideia de que somos mesmo maus a matemática? Não pode ser! Há que baixar o nível de exigência e tornar os exames mais fáceis. Vão ver que vai ser um fartote de boas notas. E ficamos logo a saber muito de matemática. E se as perguntas forem fixes, nem precisamos de máquina de calcular, fazemos de cabeça. Ok, mas conferimos na máquina.
Acresce ainda que os conselhos executivos das escolas foram instados a ter cuidado na escolha dos professores que vão corrigir os exames: «Talvez fosse útil excluir de correctores aqueles professores que têm repetidamente classificações muito distantes da média». E porquê? Ora, porque os «alunos têm direito a ter sucesso». Está tudo dito.
Mais: quando são os próprios alunos a dizer que o exame foi demasiadamente fácil e que assim não se distingue os bons alunos dos médios e dos «positiva mesmo à tangente», ficamos a perceber que os estudantes sabem que quem se esforça não pode ser igual a quem não quer saber, nem faz ideias, mas tem umas noções.
O que vos posso dizer é que teremos, no futuro, um país de sucesso!!! E todos seremos doutores com excelentes notas.
Se calhar, isto devia ser um «Sobe»... Luísa Melo In diario.iol.pt, 01-07-2008, 16:24h
Entretanto...
Só o presidente da transportadora aérea, o brasileiro Fernando Pinto, recebe actualmente, por mês, um salário que ronda os 60 mil euros, cerca de 840 mil euros ao ano, soube o SOL.
A este valor será acrescido um prémio 420 mil euros por ter atingido os objectivos de gestão definidos pelo Governo para 2007.
Assim, num ano, Fernando Pinto pode receber um total de 1,2 milhões de euros – seis vezes mais do que recebeu em 2001, quando assumiu funções de administrador-delegado da TAP.
Nessa altura, e segundo a declaração que apresentou no Tribunal Constitucional e que o SOL consultou, Fernando Pinto teve rendimentos anuais no valor de 190.893 mil euros. In sol.sapo.pt, 5 Julho
Lusitana estupidez
Estava eu a experimentar uns produtos do chamado "comércio justo" - que ocupavam um átrio inteiro da faculdade - quando uma senhora, provavelmente a professora-doutora (ora essa!) que organizou o evento, me perguntou se eu estava no colóquio. Que não, não estava. É que este coffee-break é só para os participantes do mesmo, informou a dita cuja. Eu, que até gostaria de conhecer os produtos do "comércio justo", que talvez aqui escrevesse sobre eles, e quiçá sobre o colóquio (eu, que até estudei voluntariamente antropologia, como o professor Raúl Itúrra, "pai" da antropologia em Portugal, sabe muito bem), virei-me para a senhora e disse: Não estou no colóquio e se estivesse a pensar assistir ir-me-ia imediatamente embora. Passe muito bem! E, claro, virei as costas à suposta professora-doutora, eminente exemplar da lusa-raça. E agora, claro, não posso deixar de dar a minha facadazinha e dizer, escrevendo, que é por esta e por outras professoras-doutoras pequeninas e mesquinhas que o ensino superior em Portugal está como está: mediocre. E no ensino público!
Mais lusas parvoíces
jcd Diz:
4 Julho, 2008 às 5:40 pm
Nunca vi uma notícia de uma fonte tão irrelevante (uma rádio da Suiça) espalhar-se tão rapidamente. É grande a vontade de não ver nesta operação nenhum sucesso que possa ser atribuido ao governo colombiano na luta contra os amantes de Che.
Se fosse verdade, seria ridículo para o exército colombiano. Para as FARC nada muda. Ja se sabia que são traficantes de droga e que que raptam por dinheiro.
...
Piscoiso Diz:
4 Julho, 2008 às 5:55 pm
A Radio Suisse Romande nasceu em 1922, numa altura em que a Europa não contava com mais de 3 emissores de rádio. Tem “pergaminhos”.
Alvaro Diz:
4 Julho, 2008 às 6:07 pm
Fonte tão irrelevante?!! É incrível como na tugolândia se dizem barbaridades que até podem passar por grandes verdades…
Já ouviu falar na Orquestra da Rádio da Suiça Romande? Em Armin Jordan, um muito grande chefe-de-orquestra?
Não?! A Orquestra desta Rádio vale mais e tem mais história que toda a história da cultura musical em Portugal junta (e não só)! Nos comentários do blasfemias.net, 4 Julho
Pós-comentário: se não fosse o "Piscoiso" e Eu andarmos precisamente naquele momento pelo Blasfémias, lá passava uma estúpida mentira por uma verdade cristalina e evidente. Já que alguém falou em traficantes de droga...
Touch
Capítulos musicais de radioarte, instalação sonora, arquivo histórico, improvisação, gravações de campo, inter alia. Touch Radio, acervo importante com trabalhos de artistas tão diferentes como Tom Lawrence, figura do mais recente episódio radiofónico (Touch Radio 32: Donadea Forest Recordings), Simon Fisher Turner, Enrico Coniglio, Jana Winderen, Gudni Franzson, Lasse Marhaug, Chris Watson, Steve Roden, Leif Elggren, Scott Taylor, The Skull Defekts, Daniel Menche, Fennesz, Peter Rehberg, Rafael Toral, João Paulo Feliciano, Brandon LaBelle, Stephan Mathieu, Leif Inge, Jacob Kirkegaard, Dylan Carlson, People Like Us, KK.Null, Toshiya Tsunoda, Philip Jeck, Max Nagl e Carl Michael von Hausswolff. A peça de reciclagem sonora do norueguês Lasse Marhaug, por exemplo, é absolutamente invulgar. «Into The Pandemonium is a de-composition/ celebration of 25 years of extreme metal music. Fragments of classic moments in death/thrash/black metal music have been mangled, disfigured and reworked into a festering pulp of distortion, doom and noise». Na Touch. Com um toque britânico. Posted by eduardo chagas @ 5.7.08 In jazzearredores.blogspot.com
Danças Ocultas
São o mais interessante grupo de música português. Fazem uma música forte e inspirada. Estudaram todos nos conservatórios de música que o actual desgoverno da nação de triste sina quer destruir. Como são de facto bons e criativos não têm, como seria de esperar, grande expressão em Portugal. A boa música não é apreciada por quem quer: é apreciada por quem tem capacidade para isso. Felizmente lá fora sabem-os valorizar. Bem hajam amigos! Aqui fica o link.