2004/08/01

UM CONCURSO CINCO ESTRELAS


Por Álvaro Teixeira


No complexo mundo dos concursos internacionais de piano os importantes são, como os hotéis, aqueles que no respectivo guia internacional merecem cinco estrelas. É o caso do Concurso Internacional de Música Vianna da Motta.

Como em todos os concursos, talvez especialmente os cinco estrelas, nem sempre as decisões do júri são bem aceites.

Queria sómente realçar que no longínquo ano de 1971 foram concorrentes Emmanuel Ax, Cyprien Katsaris e Ingrid Berger.

Só o primeiro foi premiado! Com um terceiro prémio... Nesse ano também não foi atribuído o 1º prémio. Todos aqueles nomes são hoje pianistas reconhecidos mundialmente.

No concurso deste ano estou convencido que ninguém colocará em causa a pianista mais bem classificada: foi sem sombra de dúvidas a melhor concorrente. Também ninguém questionou o facto de não lhe ter sido atribuído o primeiro prémio se bem que não me horrorizava que tal tivesse acontecido uma vez que estamos perante uma pianista "feita", uma artista de talento com uma técnica sólida. Mas foi um critério do júri, decidido por unanimidade, que não vou questionar demasiado ainda que estranhe este facto num concurso em que são atribuídos por sistema dois prémios a pianistas menores (para não ser ainda mais antipático...).

A partir da 3ª classificada a atribuição dos lugares pareceu-me algo arbitrária. A candidata russa que foi classificada com o 5º prémio e o francês a quem foi atribuído o 7º foram, em meu entender, prejudicados em relação à candidata que conseguiu o 4º e em relação à candidata chinesa a quem o júri atribuíu o 6ºprémio se bem que esta última conseguiu preparar a prova final (que correu pessimamente)de um dia para o outro. No entanto o francês também me disse que nem sonhava passar à final o que me leva a crer que também preparou tudo no último momento.

O prémio para o melhor português é uma anacronia e um atestado de mediania (pelo menos): este ano só houve um concorrente português. Tocasse bem ou mal ser-lhe-ia atribuído aquele prémio e mesmo que tivessem havido mais candidatos e todos tocassem mal, um levaria o prémio! Não é por discriminações ridículas como esta que passa a elevação da qualidade musical dos portugueses.


Opinião parecida tenho em relação ao prémio para a melhor interpretação de um nocturno de Chopin que normalmente é atribuído a um concorrente eliminado da final. Soa a "toma lá um rebuçado" e tem um vertente preversa: fica-se a pensar que qualquer pianista de quinta ordem pode interpretar bem aquelas obras. Não é verdade! Então se o pianista é eliminado do grupo de finalistas e consegue este prémio que se poderá deduzir? Que escolheu um dos nocturnos mais fáceis e assim conseguiu uma interpretação que seduziu um júri que é idiota e que não percebeu o "truque"? Basicamente trata-se de uma absurdidade que talvez se explique pela política de satisfazer, de alguma forma, toda ou a maioria dos elementos do júri.

Sequeira Costa, na entrevista que lhe fiz há 3 anos (ver nos arquivos), disse-me que escolheu um júri jovem porque está menos instalado e corrompido (seguramente que se o júri fosse constituído exclusivamente por grandes músicos e pianistas, o que é quase impossivel, não haveria o problema da "corrupção").

O júri deste ano, excluindo a pianista Eliso Virsaladze e a pianista que ganhou o concurso de Munich, era um júri constituído por pessoas de pouca relevância internacional. Joaquin Soriano, que também fazia parte do júri, nunca foi um pianista de primeiro plano. O própio presidente, Sequeira Costa, tem mais importância pelo facto de ser o fundador e o responsável máximo deste concurso que pela relevância mundial enquanto pianista. Para além disso era um júri cuja média das idades seguramente ultrapassa os 50...
Portanto, este ano na escolha do júri, Sequeira Costa ou mudou de ideias ou os pianistas mais jovens e reconhecidos internacionalmente não aceitaram o seu convite.

Claro que não deve ser fácil arranjar músicos "famosos" para o júri. Os músicos "famosos" e sérios estão ocupados a estudar e a fazer recitais e concertos. No entanto alguns talvez aceitem, se forem convidados, e isso seria sem dúvida outro estímulo para os concorrentes. E para o público...