2005/08/14

ECCLESIAZUSAE


Termo de origem grega (Ekklesiazuse) latinizado, significa participar em assembleia e intitula umas das obras de Aristofanes. Neste caso concreto significa "assembleia de mulheres".

Na antiga e "democratica" Grecia as mulheres (e os escravos) eram desprovidos de direitos de cidadania. Os homens para alem das concubinas recorriam a prostitutas que Solon no seculo VI a.c. introduziu na Grecia, criando bordeis dirigidos por funcionarios publicos. Os servicos incluiam comidas, banhos, etc... Um funcionarismo publico eficaz... As prostitutas eram ao mesmo tempo poetas e artistas e Praxíteles esteve loucamente apaixonado por uma, Friné, que serviu de modelo a algumas das suas esculturas. Talvez a homossessualidade entre homens tivesse impedido um relacionamento mais "estreito" e "produtivo" entre homens e mulheres na antiga Grecia... Desta maneira deve entender-se a obra de Aristofanes cujo caracter se insere num determinado contexto historico-cultural.

Traduzido para o grego moderno por Yiannis Jarveris e sob direccao de Diagoras Chronopoulos foi apresentada pelo GREEK ART THEATRE no grande anfiteatro de Epidauro que tem capacidade para doze mil, para um publico de cerca de dez mil pessoas cuja maioria parecia ser grega pois reagia rindo e aplaudindo. Os estrangeiros, como eu, limitavam-se a ver.

Impressionante a acustica deste gigantesco anfiteatro ao ar livre que data do seculo IV a.c.! Posteriormente, na epoca helenica, foram acrescentadas mais 21 filas adquirindo a aspecto que conservou ate hoje.
O trabalho dos actores foi excelente. Em termos de conceito parece-me algo kitsch transformar-se o coro de mulheres em bailarinas-cantoras de cabaret que entoavam partes do texto ao som de musica ligeira de qualidade duvidosa. Mesmo para um publico muito alargado poderia ter sido concebido algo mais interessante e de maior intensidade dramatica, ainda que a obra possua um caracter jocoso. Tambem a cenografia e os figurinos, onde abundavam figuracoes de penis, me pareceram de uma evidencia elementar.
O desempenho dos actores, alguns aspectos da direccao e dos figurinos como o contraste coloristico e temperamental entre os dois actores homens principais (o trabalho de luzes limitou-se ao basico, focando os intervenientes e criando frequentemente sombras que nao foram particularmente felizes), valorizaram um espectaculo que procurou restituir-nos Aristofanes na forma de uma contemporaneidade que ele, pelo menos nesta obra, decididamente nao possuiu (ou talvez sim pois de alguma maneira retrata uma forma de olhar que continua a existir. Apesar dos tempos...). Ironizar e gozar com uma suposta tomada de poder pelas mulheres, para alem de estar fora de qualquer contexto, deixa demasiado a desejar se pensarmos nas atrocidades que continuam a revestir muitas das formas de poder masculino e se pensarmos que os paises onde as mulheres participam em grande escala no poder economico e no poder de estado sao os mais desenvolvidos do mundo.AST