A depuração estética e a qualidade de execução num espectáculo que se impõe para além do domínio da Dança
Nos dias 29 e 30 de Julho, encerrando mais uma edição do Festival de Sintra (Portugal), subiu ao palco do Centro Cultural Olga Cadaval a companhia italiana Aterballeto, trazendo ao público português um espectáculo de superior qualidade.
De facto, as coreografias apresentadas, da autoria do Director Artístico e ex-bailarino da companhia Mauro Bigonzetti, caracterizaram-se por um nível impressionante e constante de rigor, depuração estético-formal, capacidade narrativa e desempenho técnico. Bigonzetti, cujo trabalho como coreógrafo tinha já chegado até nós através do Ballet Gulbenkian, afirma a sua capacidade de jogar com os corpos enquanto elementos não meramente físicos, assumindo a sua corporalidade e carácter para construir verdadeiras personagens sonoras e visuais.
Todo o espectáculo é pautado por uma coerência conceptual e formal que encontra a sua génese na escolha musical. As obras dos compositores escolhidos (Stravinsky, Mozart e Rossini) são a génese de todo o léxico físico, dramático e cénico, fundindo-se numa mesma linguagem na qual movimento, cenário, figurinos e luzes são magistral e complementarmente compostos.
O facto de as duas coreografias mais longas serem apresentadas com a interpretação musical ao vivo (a cargo do maestro supervisor musical Bruno Moretti), confere-lhes uma mais valia expressiva e interpretativa indiscutível.
De salientar a inteligente gestão do elenco, na qual o protagonismo é repartido, criando um nível uniforme e necessariamente elevado, bem como uma coesão capaz de criar uma verdadeira ideia de companhia e de unidade artística.
As expectativas estão criadas: nas próximas edições o Festival de Sintra deve ser capaz de responder com continuidade ao belíssimo espectáculo que encerrou o certame este ano. Ines Salpico
"But the Sintra Festival is going from strength to strength..."
The Independent (UK), The classical diary, Tuesday 26 July