2009/07/11

"Obama tem uma solução para o Médio Oriente"

Amin Maalouf, de 60 anos, está traduzido em dezenas de línguas e é um autor muito popular em Portugal, também. Em caso de dúvida, bastava ver a plateia que quarta-feira acorreu à Gulbenkian, em Lisboa, para o ouvir, num diálogo apresentado por António Monteiro e moderado por António Vitorino. Maalouf esgotou o Auditório 2, o átrio onde foi montado um ecrã, e a escadaria. As perguntas partiram do seu último livro, “Um Mundo Sem Regras”, acabado de traduzir na Difel.

É um diagnóstico arrasador quanto ao esgotamento em que o mundo mergulhou. À tese do conflito de civilizações, Maalouf contrapõe a união numa só civilização como única hipótese de sobrevivência. Fala das mudanças climáticas, da crise económica e da crispação das identidades, que divide os homens em tribos. Depois de falharem comunismo, ateísmo, capitalismo, e religião, o século XXI, diz, será o da cultura ou não será.

Longa entrevista em Lisboa, onde Maalouf fica até domingo. Filho de jornalistas e professores, ele próprio ex-jornalista, é um conversador generoso e afável.

Este livro apela à urgência. Defende que não há várias civilizações, só uma, e chegámos a um ponto em que morremos juntos ou nos salvamos juntos. É pessimista, mas há passagens em que o pessimismo parece mudar. Decidiu fazer o livro antes de Obama e entretanto Obama apareceu?

Exacto. Comecei a trabalhar neste livro em 2004. Li muito, sobre as mudanças climáticas ou o Iraque. E tinha a sensação de que as coisas estavam realmente a ficar más em muitos níveis.

Depois da reeleição de Bush?

Depois da reeleição foi ainda mais evidente. Mas há 10 ou 11 anos, quando escrevi As Identidades Assassinas, já sentia que as coisas estavam erradas. A seguir houve o 11 de Setembro, e a resposta da administração Bush criou uma situação realmente preocupante: Guantánamo, a presença no Iraque, todo o comportamento dos EUA.

Não me opus totalmente à intervenção no Iraque. Tive sentimentos ambíguos. Por um lado, não gostava da construção de pretextos e daquela pressão sobre toda a gente: "Têm que alinhar connosco." Ao mesmo tempo, uma voz dizia-me: "Bem, se eles se livrarem de Saddam Hussein, talvez as coisas comecem a mexer-se neste Médio Oriente que não está a ir a lado nenhum..." E ainda penso que se os EUA se tivessem portado de forma diferente depois da guerra, se tivessem agido cautelosamente, tendo em conta os interesses verdadeiros das pessoas, tentando conduzi-las à democracia e à prosperidade, as coisas poderiam ter sido diferentes em toda a região. Mas começou a correr realmente mal.

Então, demasiadas coisas estavam a correr mal: o Iraque; a questão das identidades e da coexistência; a relação do Ocidente com o mundo árabe e islâmico. E havia o problema das mudanças climáticas. Sentimos que é possível lidar com todos os outros problemas, mas esta bomba-relógio climática, de irmos rumo a algo irreversível se não mudarmos o nosso comportamento...

Era preciso dizer que as coisas estão más, que tudo isso tem a ver com a incapacidade de ter em mente toda a nação humana, que já não é possível que cada um lute pelo seu interesse contra os outros.

Depois, durante a escrita do livro, muitos acontecimentos vieram confirmar que as coisas estavam más. Em muitos países europeus a coexistência com os imigrantes não funcionava. E no fim há um verdadeiro raio de esperança, uma pessoa.

Obama.

Li os livros. Vi e ouvi os discursos. E ele não estava a falar ao instinto, estava a falar à razão. Só uma pequena minoria de políticos fala à razão. E essa é a verdadeira atitude democrática. Tentar convencer em vez de manipular. Desenvolver argumentos. Senti que intelectualmente e eticamente ele estava a um nível muito alto. E não fui indiferente ao seu background, porque é importante, sobretudo depois dos anos Bush, ter uma pessoa nos EUA com a qual o mundo se possa identificar. É essencial. E miraculosamente ele veio.

Isso reflecte-se no processo de ler o seu livro. Há passagens no princípio em que diz: as coisas só podem melhorar se a América perceber o que aconteceu no Iraque, se persuadir o mundo da sua legitimidade moral, etc., etc. Pequenos sinais que chamavam por alguém como Obama.

Absolutamente. Tinha todo um capítulo acerca do Presidente americano ser eleito pelos americanos mas ter jurisdição em todo o mundo.

A questão da legitimidade.

Sim. O mundo não podia identificar-se com aquelas pessoas eleitas, e de repente pôde. Foi fascinante.


NUM PRATO A CABEÇA DO SR. SOCRÁTES!

"Boa é a fazenda, quando não sobe à cabeça" [Provérbio]

O ex-estranho sr. Sócrates, arruinado completamente pelos cadernos eleitorais, apareceu no mercado da SIC (diante da doce Ana) com uma naturalidade humilíssima (estilisticamente falando), uma castidade na oratória política afinada, numa elegante comédia farcista. O libelo do sr. Sócrates esta noite foi desarmonizar com o sr. Santos Silva, Vitalino Canas & Cia, Lda. Não fora o atrevimento de "censurar" a mediocridade da política de instrução e ensino da sra. Lurdes Rodrigues (agora, vilmente desprezada); não obstante descobrir muito tarde a licenciosa kultura do sr. António Pinto Ribeiro (no que foi de uma crueldade obscena) e a sua absurda, quanto ridícula, inspiração de comparar (a ignorância é mesmo muito atrevida) o construído do autor da General Theory of Employment, Interest and Money à edificação económica em Oliveira Salazar, quase que o conseguia!

O sr. Sócrates foi durante quatro anos o inimigo principal do Partido Socialista de Soares, Guterres e Ferro Rodrigues. Tomando como empréstimo (ou mesmo, superando) a linha política da 3ª via de Blair e Schroeder (leia-se o texto no Público de Ana Benavente) - e o que isso significou no alinhamento da politica doméstica com a ilusão neoliberal -, cedendo à fascinação deste tempo de desassossego, incompetência e decomposição das liberdades, o sr. Sócrates conduziu o país (com um grupo inqualificável de idiotas úteis) à quase ruína. Está o país numa decadência económica e social (e espiritual) sem precedentes, e não tem gente nem ânimo, nem alma para a sua própria refundação. Nunca foi tão acertado dizer que o eterno problema de Portugal é as suas próprias elites. Estas, sim, a necessitarem de uma verdadeira reforma democrática, económica, cultural e cívica. Mas tal trânsito tarda!

O sr. Sócrates foi durante quatro anos rancoroso com os adversários, grosseiro no contraditório, ignorante nos argumentos, afrontoso com as classes profissionais. O seu cabriolar, pouco subtil e sem escrúpulos, o seu (por ora) putativo desagravo à canalha, a sua autoridade ou carta de democrata tem uma reduzidíssima dignidade. Ninguém que foi caluniado tanto tempo, ninguém que foi tão rudemente maltratado, esquecerá o que foram estes anos de cárcere governamental do sr. Sócrates & amigos. Para tal mudança exige-se a cabeça do sr. Sócrates e daqueles que com ele (e foram muitos, de políticos a colunistas, de empresários a jornaleiros) semearam tais infaustos ventos. Não será qualquer desculpa feita por um "explicador de província" (prof. Maltez, dixit) que tudo mudará. Talis vita, finis ita.


Manuel Alegre pede “sobressalto à esquerda”

Manuel Alegre pediu hoje uma mudança urgente de estilo, de políticas e de pessoas no PS e apelou a um “sobressalto à esquerda” num artigo de opinião publicado no semanário “Expresso”.

O “histórico” socialista, deputado há 34 anos, confessa que gostaria de ter visto o partido governar de outra maneira e sublinhou a necessidade de este não esquecer a “sua” esquerda, pondo de lado um “discurso emprestado”.

Apesar de pedir um pouco mais de esquerda, Alegre esclarece que continua a querer o PS, ainda que admita a perda de grande parte da sua base social.

No entanto, lembra, ainda há tempo para o partido “acordar”.

Ontem, em declarações à agência Lusa, Alegre disse que a “razão principal” para a sua saída da lista de deputados para as próximas legislativas foi a aprovação do Código do Trabalho pelo PS. “O Código do Trabalho é muito negativo”, contou no último dia de trabalhos normais da Assembleia da República – ainda há uma sessão plenária no dia 23 – antes do final da legislatura.

O deputado contou que teve outros convites por parte da direcção do partido mas a sua resposta está dada: “Não posso estar a dizer isso [que não está disponível] de hora a hora. É ridículo. Já disse que não integro as listas, está feito”.

Sobre as políticas do Governo de José Sócrates e o futuro do PS, Alegre comentou que se achasse que o partido “estava a ir na direcção certa com certeza que era candidato a deputado”. in publico.pt, 11.07.2009 - 10h42 Lusa


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