2004/07/13

O ACONTECIMENTO DA TEMPORADA


Por Álvaro Teixeira


Ainda a meio da integral de Chopin pelo pianista Abdel Rahman El-Bacha permito-me desde já enunciar esta integral como o grande acontecimento da temporada 2003/04, incluindo os festivais de verão como é o caso do Festival de Sintra.

Quem esteve nos três recitais de 13 de Julho percebe bem o que acabo de afirmar.


É raro ter-se a oportunidade de assistir a uma integral do compositor polaco dada a quantidade, a variedade, a dificuldade e a genialidade do repertório que nos legou.
Mas quando uma integral destas nos é oferecida por um pianista inspirado, com uma leitura pessoal em que a sensibilidade, a inteligência e uma técnica suprema se conjugam, então podemos considerar-nos os priviligiadas testemunhos de um daqueles acontecimentos notáveis que fazem história. É disso que se trata.
Abdel Rahman El-Bacha , que só conheciamos pela notícia dos seus registos em cd louvados pela generalidade da imprensa francesa, não é um pianista genial em estúdio e "assim e assim" em concerto. Sem conhecermos as suas gravações em disco, este libanês (a quem a França teve a suma prepicácia e inteligência de oferecer a nacionalidade francesa), é já um dos expoentes contemporâneos maiores na interpretação de Chopin. Mais do que isso: Abdel Rahman El-Bacha , arrisco a afirmação, é o expoente maior na actualidade da escola de piano francesa que, fruto da ironia e dos contextos, os tem encontrado em expatriados como o grande Vlado Perlemuter que infelizmente já não nos pode hipnotisar com a sua magia mas que se manterá sempre vivo nos registos discográficos e na memória daqueles que tiveram o incomensurável privilégio de o ter escutado.
El-Bacha é já um destes grandes interpretes "chopinianos" e esta integral que o Festival de Sintra tem a honra de acolher é uma integral que fará história (Festival de Sintra pelo qual tenho um afecto especial: foi ali que pela primeira vez escutei aquele que para mim é o maior pianista vivo. Sempre escrevi e disse isto de Grigori Sokolov após cada recital ou concerto que tive a fortuna de assistir. Este ano por impedimentos de ordem pessoal não pude estar no recital que o Festival de Sintra brindou uma vez mais ao público português e que me constou não ter acontecido nas melhores circunstâncias. Ao que parece culpa de um público em busca da trancendência... mas barulhento e que transbordava da sala).