PSAPPHA EM LISBOA
O grupo Psappha veio a Lisboa interpretar peças contemporâneas no auditório Gulbenkian. No dia seis de Dezembro interpretou duas peças de Peter Maxwell Davis, uma com bailarino, outra teatralizada com o barítono Kelvin Thomas. Duas peças de ballet/música e teatro/música que tiveram a casa "composta" mas que do ponto de vista estritamente musical parecem-me relativamente desinteressantes.
Já no dia sete a programação não só foi mais variada como mais rica musicalmente.
Tanto a obra Slide Strike de Mark-Anthony Tournage como The Axe Manual de Harrison Birtwistle foram fantasticamente interpretadas e são peças de um muito grande interesse estilístico-musical com um excelente resultado auditivo. O público gostou e apludiu.
Quanto à peça Life Story do "popular" Thomas Adès considero-a uma curiosidade.
Já a peça Tuireadh de James MacMillan foi demasiado longa e recorreu aos clichés "neo-modalistas" até à exaustão.
Finalmente quero referir a obra Unknown Winds de Tomás Henriques que com as duas primeiras acima peças referidas neste concerto do dia sete foi uma das mais interessantes e melhor construídas de todas as apresentadas nestes dois concertos do Psappha.
Para além do que Tomás Henriques pode ter escrito nas suas notas no programa, referiu-me a existência de uma passacaglia de acordes que evoluiam ao longo da obra e que apareciam em arpejos trabalhados pelo piano, o que aliás foi bem perceptível auditivamente. Para além da "consistência" auditiva que a peça apresenta, resultado de todo o conceito formalizante que "cola" a obra, o que mais me "tocou" foi sem dúvida o sentido lírico imanente a toda a composição. Tomás também foi aluno de Constança Capdeville, compositora com poucas preocupações formalizantes que valorizava sobretudo o domínio da expressão musical, que de alguma maneira pode ter deixado a sua "impressão digital" neste interessante e fundamental compositor da contemporaneidade portuguesa e que é um daqueles dos quais fico na expectativa de novas criações.
Apêndice: Dia 8 Barbara Bonney e Angelika Kirschlanger, acompanhadas pelo pianista Malcolm Martineau, apresentaram-se em recital de "casa cheia" no mesmo espaço, recital que pôs em evidência os excelentes dotes vocais e interpretativos da famosa soprano, assim como da "mezzo" que com ela "duetou". Martineau demonstrou claramente porque é talvez o mais requesitado dos pianistas-acompanhadores da actualidade. Básicamente um recital popular mas com qualidade que proporcionou um repertório de interesse musical (ao contrário de outras "divas" que se limitam a desfilar uma sucessão de "melodias de sempre"). AST