A redução para orquestra de câmara de Das Lied von der Erde é talvez a mais bem conseguida adaptação feita de uma obra escrita para grande orquestra. Schoenberg, grande admirador de Mahler, foi o autor desta adaptação que foi concluída por Rainer Riehn em 1983.
Tratando-se de um reduzido aparato instrumental que vai interpretar uma obra originalmente escrita para grande orquestra temos novamente a situação de que todos os instrumentistas são solistas o que coloca exigências de grande calibre.
Infelizmente só pude escutar a última parte desta impressionante e comovente obra, Von der Schönheit, que é na verdade o culminar não só desta sinfonia com "mezzo" e tenor mas de todo o ciclo sinfónico do mais genial e fantástico sinfonista de todos os tempos.
Qualquer interpretação de Mahler é sempre um momento de particular suspensão e inquietude pois a sua música fala-nos da nossa condição de seres existenciais que vivem em situação limite sempre determinada pelo advento da sua finitude. A interpretação deste compositor exige mais do que grande técnica: exige um "grande espírito" e uma "alma grande".
Confesso que foi com alguma apreensão que me dirigi já com muito atraso ao São Luiz, onde decorreu esta interpretação pela já referida Camerata da Metropolitana que é constituída pelos primeiros instrumentistas dos naipes da Orquestra Metropolitana.
As vozes eram a da "mezzo" Andrea Bönig e a do tenor Manfred Equiluz que infelizmente perdi todas as partes em que interviu. Na direcção estava Scott Sandmeir.
Bönig compreendeu o espírito da obra e ainda que a sua voz não possua o dramatismo aveludado e sombrio que este final exige, conseguiu uma interpretação com profundidade. Devo dizer que é dificil para qualquer intérprete na actualidade fazer "sombra" ás já muitas e fabulosas interpretações desta obra. E não estou a falar únicamente das "históricas". Por isso no ouvinte habituado a interpretações "paradigmáticas" (ouvi esta obra dirigida por Rattle com Thomas Hampson. Foi a única audição ao vivo desta criação e foi sublime) fica por vezes uma sensação de imperfeição. Bönig não podia ter feito de outra maneira nem podia ter feito melhor. Fez o que fez que foi algo com "peso" e com "música".
Os instrumentistas/solistas surpreenderam-me. A perfeição meditativa das cordas, as expressivas intervenções do primeiro violino, a comovente sonoridade da oboísta, as sonoridades aveludadas e "profundas" do clarinete baixo (que esteve sempre a trocar de instrumento), o fraseado da flauta, foram marcantes e conquistaram-me para os próximos concertos desta Camerata.
De Manfred Equiluz disseram-me ter perdido grandes momentos.
A direcção de Sandmeir foi clara e determinante para esta homenagem (a interpretação do "Canto da Terra" é sempre uma homenagem, diria mesmo o "tempo de religiosidade" que Wagner pretendia alcançar... Foi Mahler quem o atingiu nesta obra e anteriormente na 9ª Sinfonia) a um dos maiores génios de todos os tempos. Ast