2005/06/27

A CASA DE BERNARDA ALVA NO TEATRO SÃO LUIZ

A Casa de Bernarda Alba, uma peça de teatro a partir da obra de Frederico Garcia Lorca, foi transformada numa obra de dança por Benvindo Fonseca, que criou uma estética interessante, com os bailarinos, no início, dispostos em plano diagonal, envergando figurinos originais, vestidos compridos, pretos, com um corte simples e com uma armação redonda na base, que os bailarinos manuseiam, criando movimentos interessantes, mas que poderiam ser mais explorados.

O facto de ser um bailado criado a partir de uma peça de teatro dá-lhe uma base rica e concreta, uma narrativa intensa; tinha tudo para resultar numa grande obra, se não fosse a incapacidade de gerir o tempo das "cenas", que são demasiado longas e que por isso esgotam o conteúdo a explorar; o público já não tolera isso no teatro, os encenadores têm de gerir muito bem o tempo das cenas para não entediar o público. Já Noverre, no século XVII, e Fokine, no início do século XX, com as suas ideias renovadoras (e reformadoras), abordam esta questão, e os coreógrafos devem estar atentos a ela; talvez nem todos se preocupem ou nem sequer se questionem se o que estão a criar pode saturar o público, pois talvez a sua subvenção não dependa directamente dele; o ponto de vista do espectador é essencial - colocar-se "na pele" do espectador.

Todo o aparato do cenário montado e desmontado pelos próprios bailarinos era desnecessário, um palco vazio teria tido maior impacto, e evitar-se-iam as interrupções geradas. O teatro experimental tem sabido criar ambientes subjectivos, espaços materialmente vazios, mas cativando o público pelo imaginário. Para os teatros experimentais e amadores foi inicialmente uma imposição devido à falta de meios financeiros e técnicos para criar grandes cenários, mas que resulta muito bem. Por vezes quando se tem todos os meios financeiros, o esforço criativo e a auto-exigência diminuem.

Existem momentos em que os bailarinos dançam em simultâneo, ou em cânone: os movimentos de simultaneidade não foram bem conseguidos, não existe rigor e exactidão onde supostamente as bailarinas deveriam fazer gestos iguais e ao mesmo tempo. O grupo que dança atrás, ao fundo do palco, composto por três bailarinos e uma bailarina, foram tecnicamente muito mais rigorosos. Mas é de salientar toda a parte interpretativa, em que os bailarinos conseguem transmitir emoções fortes, sentindo realmente o que dançam. Destaque para a bailarina que interpreta a Criada mais nova, com uma técnica excelente, e para o par de bailarinos que desempenham os amantes, que fazem um "pas de deux" muito interessante. Sofia Meireles