Até 24 de Julho encontra-se em cena, na ENO (English National Opera), a ópera em três actos de George Frederic Haendel, dirigida por Christopher Mouds com encenação de David Alden, restaurada pelo próprio co-adjuvado por Ian Rutherford. As luzes foram originalmente desenhadas por Wolfgang Göbbel.
Moulds conseguiu extrair da orquestra boas dinâmicas e expressivos contrastes, aspectos fundamentais para uma re-interpretação interessante desta música, neste caso feita com instrumentos modernos. O baixo-continuum foi garantido, muito eficazmente, por um cravo, tocado por Moulds, uma teorba, tangida por Dai Miller, e um violoncelo barroco por David Newby.
Esta ópera, que contém inúmeras partes musicais destinadas a serem dançadas, relata-nos uma história banal em que o bem leva melhor sobre o mal, com as devidas peripécias e dramas originados pelos indispensáveis equívocos que são o motor da história. Neste caso, uma inteligente encenação introduziu uma grande mais-valia na trivialidade do libreto. Tratou-se de uma encenação onde o barroco - presente nos candelabros desnivelados (cujos cristais serviram em determinadas cenas para dispersar a luminosidade), no tecto, pintado "à maneira da época", que descia para se transformar num objecto híbrido que tanto podia ser um submarino como um telhado, que também podia ficar desnivelado, simbolizando decadência e drama - foi re-criado com uma leitura moderna, produzindo um grande efeito expressivo. Também as coreografias, numa estética contemporânea, de Michael Keegan-Dolan, repostas por Rachel Lopez de la Nieta, foram outra mais-valia que só um excelente corpo de dança poderia materializar com a grande eficácia que aqui aconteceu. O corpo de baile da ENO recebeu, merecidamente, grandes ovações.
Esta produção da ENO vale por isso tudo, mas também pelo grande desempenho do seu côro que esteve sempre no fosso da orquestra, situação interessante, possibilitada pelo reduzido número de efectivos instrumentais, que potênciou a elevada performance do grupo coral. Um aspecto derivado da encenação que foi trabalhada com base nos solistas, nos bailarinos e em actores não cantates, que se revelou uma excelente opção.
Quanto aos solistas há que destacar de imediato Alice Coote que foi um fabuloso e expressivo Ariodante. Lurcanio, irmão de Ariodante, interpretado por Paul Nilon, esteve igualmente excelente. O rei foi Peter Rose que, no início revelou falhas na colocação mas, com a voz aquecida, demonstrou ser um bom intérprete. Ginevra, filha deste e centro de todo o drama, foi Rebecca Evans que inicialmente revelou agudos ásperos e mal sustentados mas, no decurso da performance, demonstrou conseguir uma voz redonda e bem colocada. No entanto, na minha opinião, faltam-lhe nuances tímbricas que potênciem uma maior expressividade. Polinesso, o mau da fita, foi uma excelente Patricia Bardon, que para além de grande cantora se revelou uma excelente atriz. Finalmente Dalinda, a apaixonada-enganada-usada por Polinesso, foi Sarah Tynan que possui um belo e expressivo timbre. No global foi uma grande produção de uma ópera barroca, utilizando instrumentos modernos estilística e musicalmente bem trabalhados. AST