Na conversa com um professor do segundo ciclo, que no passado orientou estagiários-candidatos a "professores de música" (agora professores de educação musical), percebi que ele foi dispensado há anos, sendo as suas antigas funções actualmente desempenhadas por um departamento da universidade, na realidade o ex-centro de formação onde ele exercia, tendo sido substituído por uns "doutores". O Estado português é rico. E como é muito rico pode dar-se ao luxo de substituir alguém que faz parte dos seus quadros por "doutores" que vão acabar com honorários três vezes superiores (e com horários de trabalho três vezes inferiores) a esta pessoa competente tanto ao nível musical como pedagógico. Este ex-formador de professores foi "maestro" de uma "banda filarmónica", onde também exercia funções pedagógicas pois era ele, também executante, que orientava os principiantes. Comentamos, rindo, que seria interessante fazer-se um pequeno teste de formação musical aos actuais professores de música das escolas superiores de educação (e departamentos universitários aparentados)... De algumas, porque em outras, nas que possuem uma tal "via especializada" no ensino da educação musical, quero acreditar que todos os professores de música têm, pelo menos, ao par de outro tipo de formação, cursos completos feitos nos conservatórios de música que lhes garantem os "mínimos" no aspecto musical. De facto parece um expediente fácil terminar o curso de "professor primário" (professor do primeiro ciclo do ensino básico), durante o qual se estudam umas "coisitas" (poucas) de música, seguidamente fazer um ano de "especialização em música" em escolas privadas de qualidade duvidosa, seguindo imediatamente para um doutoramento em Espanha onde qualquer um é admitido, e posteriormente voltar a Portugal para ocupar um lugar num departamento de formação de professores para o ensino básico numa universidade pública. Lugar que parecia estar reservado... Está claro que este expediente não seria possível se não houvesse alguém "importante" no departamento que apoiasse quem o pratica. Existem doutores em ciências musicais especializados em ensino e doutores com origem nas escolas superiores de música que se vocacionaram para o ensino geral da música que poderiam estar interessados(as) se tivessem sido abertos, e devidamente publicitados, concursos públicos para provimento daqueles cargos docentes. Tratavam-se afinal de muito confortáveis postos de professores universitários no ensino público português...
A filosofia que sustenta a estruturação dos cursos de professores de música para o ensino básico é simplesmente aberrante: curso de professor para o primeiro ciclo do ensino básico seguido de um ano de "especialização" no ensino da música... Os "pedagogos" e outros "especialistas" da educação que conceberam estes cursos devem pensar que ensinar música é como limpar chaminés (sem desconsideração dos limpa-chaminés que com certeza demonstrarão muito mais competência no seu desempenho que a generalidade dos "pedagogos" que conceberam e arquitectaram o "sistema educativo" português): um ano de especialização e já está. Assim se compreende o "estado da arte" em Portugal e o atraso cultural crónico dos portugueses, com as consequências a todos os níveis que isso condiciona.
ASTNota: o caso do ensino da música em Portugal, ao nível do ensino básico com as consequências que tem aos níveis superiores onde qualquer charlatão com discurso ou escrita fluídos consegue fazer-se passar por "entendido" e "especialista" (não entre os músicos evidentemente, mas entre o público supostamente "erudito" e "culto"), bem pode servir de "case-study": a pessoa de quem falo no início, ex-formador e orientador pedagógico de professores, antes de ser "maestro" de banda foi durante muitos anos membro da Banda da Marinha que, dentro do género, em Portugal, é um agrupamento-referência. Musicalmente vale um milhão de vezes mais que todos os doutores-lixo que ocupam os lugares na formação de professores de educação musical em Portugal. No entanto, porque os ex-centros de formação de professores conseguiram ser integrados nas universidades, os seus diplomados passaram a poder aceder ao grau de doutor, tal como os diplomados pelas mais rigorosas instituições universitárias, com a vantagem evidente que um 16 adquirido num desses departamentos é fácil de alcançar (excepto se os docentes decidirem complicar para tentarem demonstrar que aquilo até é difícil...), embora não seja evidentemente um 16 da Escola Superior de Música*, nem sequer um 16 adquirido no curso de Ciências Musicais da FCSH. Na realidade um 20 adquirido num desses departamentos universitários que formam professores para o ensino básico, não é o mesmo que um 9, um 8, um 7, um 6 ou mesmo um 5, numa Escola Superior de Música: é incrivelmente menos porque um aluno de uma ESM pode estudar toda a pedagogia e didácticas que desejar, mas um aluno de um desses departamentos nunca poderá adquirir nada, rigorosamente nada, ao nível dos conhecimentos musicais superiores se não estudar (muito e muito) à margem dos seus "curricula" e se não fôr bem apoiado por especialistas "a sério". Mas para efeitos de admissão a doutoramento, de atribuição de bolsas, etc, o 16 desses departamentos vale o mesmo que o 16 da ESM...
É fácil de compreender porque é que esses centros de formação de professores para o ensino básico quiseram ser integrados nas universidades: os seus docentes passaram a professores universitários, ao lado, por exemplo, dos docentes da faculdade de economia da Universidade Nova de Lisboa, única instituição do ensino superior em Portugal que consta dos
rankings europeus. O efeito foi absolutamente perverso: sujeitos que reprovariam num exame de admissão a um conservatório (nem falo num exame de admissão a uma Escola Superior de Música porque isso ser-lhes-ia completamente transcendente e incomprensível), que sairam dos departamentos de formação de professores com média igual ou superior a 16, rapidamente adquiriram doutoramentos em Espanha e "passaram a perna" a pessoas com muitos anos de prática e conhecimentos musicais, didácticos e pedagógicos que os deixam a anos-luz (seria, por exemplo, interessante saber-se se, na Universidade Pontificia de Salamanca, por exemplo, houve enfermeiros portugueses, sem licenciatura, que "arrancaram" graus de doutor para poderem leccionar nos cursos superiores de enfermagem em Portugal, graus esses que não têm qualquer validade em Espanha mas que foram reconhecidos nas escolas superiores portuguesas graças à autonomia de que gozam. Não estou a insinuar que estes profissionais sejam mediocres. Provavelmente até serão profissionais muito competentes sendo aceitável que possam ser professores no ensino superior se por mérito da sua elevada qualidade e excelência profissionais. Para isso é que existe a figura do professor-convidado e não para qualquer coordenador convidar os amigos para ficarem a trabalhar com ele no departamento... Seria também interessante, por mera curiosidade, saber-se se alguém com o grau de "bacharel", no tempo em que isso existia, sem completar qualquer licenciatura, conseguiu ser admitido a doutoramento na Sorbonne, em Paris, e, sem fazer passar o diploma de doutor que adquiriu em França pelo reconhecimento via diplomática, viu, graças à lei da autonomia universitária em Portugal, o doutoramento sem licenciatura ser-lhe reconhecido para exercer numa universidade pública portuguesa).
* "consta" que um professor de uma ESM para além de manter relações com as alunas as fotografava (nuas e em "pose") e enviava as fotos aos amigos. Também "consta" que um administrador de uma orquestra de jovens chantageava alguns dos jovens músicos para manterem relações com ele, chegando a dispensar alguns que não aceitaram.
Estado do sítioPelo caminho despacharam para um exílio dourado João Cravinho, socialista, que apresentou algumas propostas inovadoras para tentar prevenir a pouca vergonha que entra pelos olhos adentro de todo e qualquer cidadão que não ande distraído neste sítio cada vez mais corrupto, mais perigoso e mais mal frequentado.
...
O estado corrupto que permite há dezenas de anos que as crianças da Casa Pia sejam abusadas sexualmente e alimentem redes nacionais e internacionais de pedofilia, vai agora ensinar aos alunos a sua ética republicana. A pouca vergonha, pelos vistos, não tem limites.
As crianças deste sítio já sofreram na pele as consequências de um sistema de ensino miserável que as atira para a vida sem preparação e muito menos qualificação. Agora vão ser confrontadas com uma ética feita por gente corrupta e sem moral para falar na República. António Ribeiro Ferreira
in Correio da Manhã, 08/10/2007, pag 02
Os pedófilos podem dormir descansados. Se praticarem vários crimes de abuso sobre o mesmo menor, têm bónus do Estado. O limite máximo é de 8 anos. Antes poderia chegar aos 25 anos. Rui Rangel, juiz, citado
in Jornal de Notícias, 08/10/2007, pag 12
Lisboa, 05 Out (Lusa) - O Presidente da República pediu hoje aos deputados que "aprofundem o esforço" para concretizar as iniciativas legislativas para aumentar a eficácia na luta contra a corrupção, retomando um apelo que fez há um ano.
in www.expresso.pt (14:18, Sexta-feira, 5 de Out de 2007)
Polícia sem controlo no tráfico de mulheres Diário de Notícias, 9 de Outobro de 2007
NazisAs ameaças nazis em Portugal não são uma treta. São seguramente oriundas de uma faixa muito marginal mas existem.
in Jornal de Notícias, 9 de Outobro de 2007, pag 20
Rotinas...Ou não será revelador que um primeiro-ministro recorra à força das autoridades para tentar calar um protesto...
Ou que a polícia tenha ido, ontem, às instalações de um desses sindicatos fazer uma acção de "rotina"...
No governo como no principal partido da oposição, o pecado original não é diferente: colocar a manutenção ou a conquista do poder à frente das boas práticas democráticas.
editorial, Público, 9 Outobro 2007
Madeira...Segundo João Carlos Gouveia, o PS decidiu desencadear esta denúncia porque "os magistrados do Ministério Público (MP) têm dependência hierárquica. Há situações, que toda a gente conhece, e que o Ministério Público deveria ter investigado e não o fez. Tem havido negligência. Porquê? Não sei", disse ao DN, João Carlos Gouveia.
Isto significa "promiscuidade entre a política regional e as magistraturas", designadamente procuradores-gerais adjuntos e juízes, uma denúncia há muito feita no parlamento regional pelo líder e deputado socialista?
in www.sapo.pt (+- 19:45h, 08/10/2007)
Anna Politkovskaya morreu há um anoA feroz crítica de Vladimir Putin foi assassinada no seu apartamento em Moscovo. Um ano depois o caso continua envolto em mistério.
in www.expresso.pt (11:26, Domingo, 7 de Out de 2007)
18o caso de Anna Politkovskaya é um dos 18 assassínios de jornalistas na Rússia desde que Vladimir Putin tomou posse como presidente, em Março de 2000.
in Público, 8 Outobro 2007, pag 12
Birmânia Gambari foi enviado à Birmânia para tentar persuadir a junta militar no poder a pôr fim à repressão violenta das manifestações, que causou 10 mortos, segundo um balanço oficial, claramente mais de acordo com diplomatas, e mais de 2.000 detenções.
in www.sapo.pt (5 de Outubro de 2007, 18:08)
Une répression brutaleA quoi jouent les généraux de Naypyidaw, dans leur capitale factice, en pleine jungle birmane ? Les signaux contradictoires ne manquent pas. Le numéro un de la junte, le général Than Shwe, a fini par recevoir l'émissaire de l'ONU, Ibrahim Gambari, après lui avoir fait subir une attente humiliante, mais qualifie son passage de "visite de courtoisie". Il veut bien rencontrer Aung San Suu Kyi, principale figure de l'opposition birmane et Prix Nobel de la paix, assignée à résidence, mais ne suggère pas pour autant de la libérer. Préalablement, il exige qu'Aung San Suu Kyi renonce à toute velléité de "confrontation", mais rend public un bilan des arrestations de civils - plus de 2 000 - d'autant plus inadmissible que tout porte à croire qu'il est bien en deçà de la réalité, après la répression brutale, à balles réelles, des manifestations pacifiques.
Cette junte jusqu'ici si hermétique aux pressions de l'extérieur semble vouloir faire passer le message que, cette fois, elle entend. Cela ne l'empêche pas, pourtant, de continuer à fonctionner dans l'opacité la plus totale ni de maintenir un black-out impitoyable sur l'information. L'Internet est toujours coupé, le réseau de téléphonie mobile extérieur paralysé, de nombreuses lignes téléphoniques suspendues, et les consulats de Birmanie n'accordent plus de visas aux touristes, afin d'éviter les visiteurs trop curieux, les journalistes, par exemple.
A l'heure de la mondialisation, les généraux ont franchi un degré supplémentaire dans l'isolement de leur pays. Leur calcul est simple : très vite, le monde extérieur, privé de son régime quotidien d'images, passera à d'autres émotions et oubliera la Birmanie. LE MONDE | 05.10.07 | 13h51 • Mis à jour le 05.10.07 | 13h51