BEETHOVEN POR KISSIN
O pianista russo veio a Lisboa fazer a integral dos concertos de Beethoven para piano acompanhado pela Orquestra Gulbenkian dirigida pelo actual maestro titular, Lawrence Foster.
Que dizer dos três primeiros concertos para piano uma vez que falhei os dois últimos?
Que Kissin é um talento já o sabiamos. Mas que as suas leituras primam pelo bizantinismo, isso foi novo. Um Beethoven percutido e acentuações que contrariam a partitura são coisas que podem funcionar pela diferença se existe uma concepção bem estruturada subjacente. Não me pareceu que Kissin tenha uma metafísica própria, ou outra qualquer, suportando as suas interpretações. Por isso o modelo russo (e universal...) para estes concertos continua a ser o grande Gilels frente ao qual Kissin não passa de uma vedeta famosa. Kissin tem talento e uma grande técnica. Mas isso não basta para o afirmar como um dos paradigmas em Beethoven.
Nota: Há pelo menos duas possibilidades de gravações da integral destes concertos por Emil Gilels. A primeira já a referi numa das selecções de cd's que tenho colocado nesta página. Trata-se de uma compilação da Brilliant Classics que contém os concertos para piano de Beethoven gravados ao vivo em 1976 com a Orquestra Sinfónica do Estado da URSS sob direcção de Kurt Masur. Para mim esta integral é genial e dificilmente ultrapassável. O estojo de seis cd's, cujo preço pode variar entre 18 e 22 euros, contém várias sonatas para piano do compositor entre as quais a Hammerklavier, sendo Gilels considerado depois de décadas o "intérprete" desta obra. Existem pequenos problemas pontuais na nitidez das gravações mas a monumentalidade destas interpretações compensa as esporádicas moléstias de uma gravação ao vivo na URSS do anos 70 que apesar de tudo me parece bastante boa.
Outra possibilidade é um estojo da Emi-France (não chegou a Portugal) que contém a totalidade de obras para piano e violino com orquestra de Beethoven. A orquestra é a da Sociedade de Concertos do Conservatório de Paris (os registos foram feitos entre 1954 e 1954) e os primeiros concertos sob direcção de André Vandernoot têm uma pendente excessivamente romântica que não me agrada de todo. Além disso no concerto op 15 há um engano de montagem. Em vez do primeiro movimento deste concerto aparece o do op 19!!! De resto o som é mau apesar de serem gravações de estúdio.
No entanto a versão do concerto op 58 (nº4) acompanhado pela Philarmonia Orchestra sob direcção de Leopold Ludwig é por muitos considerada a "grande referência". AST