SINFONIAS DE LUTOSLAWSKI
As Sinfonias 3 e 4 de Witold Lutoslawski foram gravadas pela Los Angeles Philharmonic para a Sony em 1985 e 1993 respectivamente, sob direcção de Esa-Pekka Salonen. A última sinfonia foi uma encomenda desta orquestra, estreada nesse mesmo ano de 1993 sob direcção do compositor.
São os registos de Salonen que agora estão disponiveis em formato económico por cerca de 7 euros na Sony Classical. Devo dizer que também tenho o registo da terceira sinfonia sob direcção do autor e que prefiro o de Salonen.
Lutoslawski apesar de viver no antigo "bloco de leste" estudou as "técnicas ocidentais" e soube sempre preservar a sua individualidade criativa, ainda que acusado por uns de conservador e por outros de "elitista". Inteligentemente soube desenvolver a sua própria escrita servindo-se da enorme conhecimento das tradições da música ocidental e de alguma maneira dos estudos de matemática que desenvolveu na Universidade de Varsóvia. No que a este aspecto diz respeito há que sublinhar que os conhecimentos matemáticos não tiveram proeminência no seu pensamento composicional, ao contrário do que aconteceu com um Xenakis e com Boulez em que a matemática direccionou o pensamento musical, ainda que eles afirmem que só se serviram da matemática para atingir o resultado musical que já tinham em mente... Apesar de tudo, entre estes dois compositores situados em pólos estéticos e conceptuais diferentes, Xenakis parece-me mais criativo na forma como transpõe técnicas matemáticas da arquitectura para a música. Pierre Boulez desenvolve um pensamento rigorosamente serial.
Lutoslawski manteve um pensamento estruturante de ordem musical e por isso vemos (ouvimos) um trabalho onde essencialmente entram em jogo motivos e temas, o que lhe valeu a tal acusação de conservadorismo.
Estamos em presença de um grande músico e de um grande talento criativo. Por isso todos os rótulos são excrecências vindas nomeadamente das bandas de determinada ideologia estética que dificilmente evitará o colapso e provavelmente o seu desaparecimento da "grande história" a médio prazo. É interessante verificar que já hoje compositores como Boulez não figuram de alguns tratados de análise de música do século vinte. É a reacção mais que previsivel ao totalitarismo de Boulez e dos seus seguidores que destruiram e destroem carreiras daqueles que não seguiam ou seguem os seus pressupostos técnico-estéticos. De resto a música desta escola é toda muito parecida... O melhor é mesmo ouvir-se o "mestre" (Boulez).
A 4ª Sinfonia de Lutoslawski é mais "conservadora" que a 3ª. Há uma afirmação clara e inequivoca do material temático como fundamento do "modus operandi", coisa que na 3ª (que foi uma encomenda da Chicago Symphony Orquestra, então tutelada por George Solti que dirigiu a estreia da obra) também acontecia mas ficava na penumbra devido ao tipo de escrita que se esquivava à direccionalização pela função temática. Na 4ª há uma viragem para uma escrita mais clássica o que traz à luz o papel estruturante dos temas.
Melhor que qualquer proposta analítica é a audição das duas sinfonias que vêm acompanhadas por outra obra prima: "Les Espaces du sommeil" para orquestra e baritono, obra composta em 1975 e estreada em 1978 pela Filarmónica de Berlim e o histórico Fischer-Dieskau dirigidos pelo compositor. AST