2004/10/08

UM GRANDE CONCERTO COM MICHA MAISKY


A temporada Gulbenkian abriu com um concerto de excelência. Excelência devido à presença do grande violoncelista que interpretou com o despojamento e a imensa musicalidade que o caracteriza a obra Schelomo, rapsódia hebraica para violoncelo e orquestra de Ernest Bloch e Kol Nidrei para violoncelo e orquestra de Max Bruch.


Anteriormente já tinhamos escutado a Sinfonia nº1 de Leonard Bernstein com Cynthia Jansen (mezzo-soprano) como solista e que foi uma grande performance da orquestra excelentemente dirigida por Lawrence Foster que mais uma vez demonstrou ser um director inspirado capaz de conduzir uma orquestra que tem tido altos e baixos ao seu melhor. Devo dizer que a sonoridade das cordas foi fabulosa, assim como o desempenho das madeiras notóriamente dos primeiros oboé e fagote. Há que dizer que a orquestra necessita de oito contrabaixos para este tipo de obras sinfónicas. O facto de só ter seis empobrece a sonoridade global.

A segunda sinfonia de Bernstein é uma obra estruturalmente pouco conseguida. No entanto a batuta de Foster foi capaz de nos dar uma interpretação interessante desta criação do compositor-pianista-pedagogo que também foi um grande maestro que deixou registos para a história.


Maisky, em conversa no intervalo, disse coisas que são curiosas: o intérprete é um mediador entre o compositor e o público, tese que não é nova mas que tem mais pertinência quando re-dita por um intérprete genial. A outra é bem mais fundamental: um muito bom intérprete não toca com os dedos mas com a inteligência. Um músico de genio já não interpreta com a inteligência mas com o coração.

A entrevista que não pôde ser feita porque apareci demasiado tarde ("estive cá três dias e você aparece agora no fim do concerto quando tenho de partir amanhã cedo?") foi de alguma maneira compensada por estas pequenas mas significativas "deixas". AST