No grande auditório Gulbenkian o pianista português escolheu um dos pianos mais antigos para conseguir uma sonoridade intimista. De alguma maneira conseguiu-o pois elegeu um instrumento pouco brilhante e com reduzida projecção sonora. Notas erradas houve muitas, sobretudo nos op 109 e 110, mas isso nunca foi um dos critérios fundamentais para avaliar a performance de um pianista com uma carreira do tamanho da vida.
Foi nas metamorfósicas variações da sonata op111 que o músico conseguiu uma leitura mais despojada e centrada no essencial musical, servida por uma clareza a que não foi estranha a escolha de andamentos especialmente lentos mas sobretudo a conseguida concentração do intérprete no texto musical, apesar da tosse do público. Evidentemente que esta opção pela lentidão característica de todo o recital poderá não ter agradado a todos. Porque não evitou lapsos técnicos e porque em meu entender na fuga da op 110 um andamento mais rápido enquadrado por uma rigorosa e inspirada gestão das dinâmicas conseguiria tensões mais impressionantes e uma interpretação mais arrebatadora. Preferiria na globalidade um maior contraste de pulsação entre os andamentos destas três sonatas. No entanto Sequeira Costa apresentou-nos uma leitura que gradualmente ganhou corpo e consistência estético-musical até culminar no segundo e avassalador andamento da op111 onde o artista alcançou uma interpretação com a qual arrebatou grandes aplausos do público que enchia totalmente o auditório. AST