ANN MURRAY E GRAHAM JOHNSON NO FESTIVAL DE SINTRA
Murray provou-nos que continua a ser uma das grandes cantoras da actualidade. Apesar de já não ser uma jovem, a artista demonstrou estar em plena posse dos dotes vocais que a celebrizaram. Ao nível interpretativo está mais madura. O facto de nos registos graves denotar problemas de colocação e emissão não impediu que a cantora oferecesse ao público que se deslocou ao Palácio de Queluz um recital de primeira ordem.
Começemos pelo princípio que foi a cantata Arianna a Naxos de Haydn. Ao nível estilístico deixou muito a desejar pois tratou-se de uma interpetação "a la Karajan". Nada dos fraseados, das inflexões e da espontaneidade de uma Madalena Kosena, por exemplo. O pianista parecia que estava a tocar Brahms... do qual é um exímio intérprete como pudemos comprovar na segunda parte. Salvou-se a voz portentosa da artista e a sua impressionante expressividade que arrebatou o público, num repertório que decididamente faz de uma maneira pouco aceitável nos tempos que correm. Há que atender que se tratam de dois intérpretes de uma geração que vem de uma linhagem romântica ao nível estilístico-interpretativo.
Ainda na primeira parte tivemos as Canções de um Viadante de Gustav Mahler, o primeiro ciclo de uma obra imensa onde o canto interceptou o sinfonismo. Pessoalmente prefiro a versão com orquestra que o compositor trabalhou posteriormente. Apesar de ser o seu primeiro ciclo de lied é já um exemplar acabado da genialidade mahleriana ao qual a versão orquestral dota de uma imponência dramática que o piano não alcança. Murray deu-nos uma leitura tranquila, patente no primeiro lied que contrastou com as versões em andamentos mais rápidos que costumo ouvir, cujo auge dramático foi Ich hab'ein glühend Messer onde a intérprete soube exprimir com intensidade e arrebatamento a grande tensão desta canção que é a penúltima do ciclo que acaba na tranquila assunção mahleriana do drama do mundo. O piano esteve muito aquém do desempenho da cantora. Subtilidades que criam dimensões e ambiências estiveram ausentes para já não falar numa nota errada (entre outras) que estragou, pontualmente, o desempenho da soprano.
Já na segunda parte o pianista esteve muito melhor pois trata-se do "seu" repertório. Tivémos um excelente Brahms, um interessante Peter Cornelius e um José Vianna da Motta que no século vinte compunha como se fosse contemporâneo dos outros dois. Parece ser o drama da criação musical em Portugal... Excluindo evidentemente os "grandes compositores portugueses do século vinte" como Capedeville, Peixinho, Salazar, Brandão, Lima, entre outros que hoje em dia paradoxalmente não são ouvidos. Sinais dos tempos...
O recital acabou com quatro deliciosas e muito expressivas canções populares irlandesas. Da mesma Irlanda que viu nascer Ann Murray. Ast
"Ainda em surdina, mas muito claramente, voltou outra velha ideia: a da inviabilidade de Portugal. Como de costume a pátria inteira espera um salvador", Vasco Pulido Valente, Público, 15-07-2005
Foi o ministro da defesa quem afirmou que se a actual crise não for ultrapassada o que estaria em causa era a própria independência do país. Um ministro da república, mesmo que o pense (e pensá-lo é um péssimo sinal), não o deveria ter dito. Não está nem estará em causa qualquer perca da independência. Portugal no contexto de uma Europa não federal tem simplesmente que se "desenrascar", isto é, encontrar maneiras de ser produtivo e competitivo. E perceber, o país inteiro, que o "ouro do Brasil" materializado, desta vez, nos fundos comunitários vai acabar definitivamente. Perceber que nenhum país pode viver eternamente de "ouros do Brasil". Não vem aí nenhum salvador. Nem vão desembarcar mais "ouros do Brasil" ou "diamantes de Angola". Nem "petróleo de Timor". Nem a virgem vai aparecer aos pastorzinhos da contemporaneidade. De resto parece que adiantou muito pouco em ter aparecido aos outros três... AST
A República despreza as suas instituições. E isso enfraquece a democracia, porque os órgãos que servem para transmitir confiança à população não são respeitados, não se dão ao respeito.
O que é grave neste problema não são a falta de meios, nem sequer um défice de poderes. É a acomodação a esta ideia, perigosa, de que é normal esta «República de faz de conta».
Os partidos, um pilar fundamental do regime, dão o exemplo: aldrabam as suas próprias contabilidades e têm o descaramento de as depositar no Tribunal de Contas. Basta pagar as coimas. Há anos que a farsa se repete. http://www.negocios.pt (14 Julho 2005 13:59)
O Banco de Portugal gastou, em 2004, 41 milhões de euros em pensões de antigos funcionários, mais 4 milhões em relação ao ano de 2003. Nos próximos anos, o banco central conta gastar, através do seu fundo de pensões, 549 milhões de euros com os seus reformados, mais 10% do que esperava despender há um ano. Recorde-se que, depois da polémica com a reforma do ministro das Finanças, Campos e Cunha, José Sócrates prometeu que os regimes de vencimentos e pensões iriam ser revistos. Miguel Beleza, nomeado para presidir à Comissão de Vencimentos do Banco de Portugal, não aufere qualquer remuneração. http://www.acapital.pt (14 de Julho 2005)
A aposta no status quo, a incapacidade de abalar as velhas fundações do São Carlos, para correr com os ácaros que se infestam nas suas madeiras, é mesmo a pedra de toque das épocas Pinamonti. Para quando uma reorganização da orquestra sinfónica portuguesa? E do coro residente do São Carlos. Que está há muito rotinado numa lógica do melhor funcionalismo público? E o enxame de maestros de duvidosa qualidade que acumulam tachos de honorolabilidade e similares? Qual avença solidária que a nação lusa lhes resolveu conceder a troco das suas muito esquecíveis prestações. Confesso que nunca ouvi a orquestra ao vivo. Ouvi-a inúmeras vezes na rádio. Está ainda na minha memória uma memorável apresentação do Requiem do Cherubini na Festa da Música deste ano. O desacerto era tanto que parecia um acerto. A desafinação do coro e da orquestra, o molestar desenfreado da obra do pobre Luigi era de fugir com a casa às costas.
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Constato que a ópera Barroca está ausente da temporada próxima. Será que o Dr. Pinamonti do alto seu assento programático se deu ao trabalho de indagar as obras de um tal João de Sousa Carvalho? E de um tal Francisco António de Almeida, que a propósito se comemoram os 250 anos do desaparecimento. E o Pedro Avondano? E os 250 anos do Terramoto de Lisboa? E um tal António Teixeira, que em parceria com um tal António José da Silva, cujos 300 anos do nascimento este ano se assinalam, escreveram das mais corrosivas e lúcidas obras acerca da maleita lusitana?
E os compositores portugueses contemporâneos? Conhece? Se calhar não tem tempo. O jet lag é lixado, e quando está na bela Olissipo, o seu cérebro está num outro fuso horário. É dura a vida de um director artístico do São Carlos. http://perusio.com/sao-carlos-2006
Há mais realidade numa ballata de Landini do que numa qualquer adoçicada xaropada neo-romântica. Que para além do mais dura, dura, dura, tal como o coelhinho da Duracell, só que a duração aqui não vem da superior química creativa mas de uma incapacidade de os reagentes passarem por muitos estados intermédios: é uma música falha de ideias. http://perusio.com/ricercare-sgl-2005
Correcção
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Duas palavras, apenas, para corrigir uma imprecisão: Ann Murray é mezzo, e não soprano... A menos que tenha mudado de tessitura ! É verdade que, ao longo da carreira, várias foram as vezes em que interpretou papéis de soprano - Donna Elvira, do Don Giovanni, por exemplo. Quanto ao resto, aprecio o seu blog, que leio com regularidade.
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Il Dissoluto Punito, ossia João Galamba de Almeida
(operaedemaisinteresses.blogspot.com)
Inundações, tempestades e secas. O gelo do Ártico derrete, os glaciares diminuem, os oceanos transformam-se em ácido.
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Por fim, o director da Shell no Reino Unido, Lord Oxburgh, fez um intervalo - mesmo antes da sua empresa ter declarado lucros recorde provenientes essencialmente da venda de petróleo, uma das principais causas do problema - para avisar que, se os governos não tomarem medidas urgentes, "vai acontecer um desastre". Courrier Internacional (edição portuguesa nº14, pág.27)
A temperatura média na Sibéria aumentou três graus centígrados desde 1960, indica um estudo europeu, segundo o qual esta enorme superfície arborizada absorve menos gás com efeito de estufa do que se esperava. http://www.publico.clix.pt (15.07.2005 - 12h06)