Se a terceira sinfonia do compositor estoniano é um trabalho dentro dos parâmetros de um neo-classicismo onde a tonalidade é utilizada estruturalmente de forma inteligente, musical e singular, a oitava sinfonia é uma criação que transcende a escrita tonal e reforça a personalização de um idioma, denotando grandes rasgos e grande inspiração.
Trata-se de uma obra onde as tensões se densificam e equilibram de maneira extraordinária, uma obra que acaba num estranho e impressionante suspense que só um ser genial é capaz de conceber.
Esta oitava sinfonia, escrita numa linguagem atonal-temática, é mais uma criação que passará a ser fundamental entre toda a literatura musical do século vinte, dada a sua espiritualidade intrínseca, o grande talento que presidiu à sua concepção assim como a singularização alcançada no uso de uma linguagem que à época (1966) não era nova.
O também estoniano Neeme Järvi, que já tinha dirigido interpretações paradigmáticas das sinfonias de Shostakovich, entre outros, revela aqui, uma vez mais, ser alguém dotado de uma visão especial e única na interpretação da música do século passado. Um grande maestro e um imenso músico que nos oferece, à frente da Swedish Radio Symphony Orchestra, uma "interpretação-chave" desta obra de grande génio. A etiqueta Bis re-editou o cd com aquelas fantásticas sinfonias, ambas dirigidas por Järvi, que pode ser adquirido a um preço "suave" variando entre os sete e os nove euros. AST
SÃO CARLOS COM O MESMO ORÇAMENTO QUE A GULBENKIAN?!
Há cerca de meio ano, mais precisamente no dia 13 de Abril de 2005, colocamos online um "post" que se mantém actual e por isso o re-editamos com algumas alterações
Pode ler-se em bajja.blogspot.com no artigo "O cancelamento de parte da temporada em São Carlos":
"O S. Carlos leva a cabo 4 ou 5 produções por ano, com 4 ou 5 récitas de cada uma. Não existe qualquer itinerância ou mesmo récitas populares (coliseu, etc.) que levariam as suas produções a um auditório muito alargado. Assim, o seu orçamento, só equivalente ao do serviço de música da Gulbenkian (e compare-se a actividade...) ou ao total do orçamento do IA, para todas as áreas!!! (teatro, música, dança), embora proveniente das contribuições de todos os cidadãos, é gasto num plano de actividades de uma irrelevância incontornável, já que a acção do Teatro apenas afecta uns 2000 portugueses. É muito, muito grave e começa a ser altura de alguém dizer que o rei vai nu."
Em conversa com o ex-ministro da cultura, Pedro Roseta, este demostrou-nos o seu cepticismo em relação à veracidade da informação acima veículada e informou-nos que uma parte do orçamento da ministério da cultura é cativo, isto é, só pode ser disponibilizado pelo ministro das finanças, coisa que de resto é sabida. Sugeriu também que o suposto orçamento da Gulbenkian não incluiria as despesas com a orquestra e o ballet.
Numa curta conversa tida com o presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, no dia 30 de Junho por ocasião de um evento onde casualmente nos cruzamos, soubemos que as despesas com a orquestra e o ballet estavam de facto incluídas no orçamento do serviço de música. "Excepto as despesas de cena", que estão orçamentadas nas despesas centrais uma vez que os auditórios servem para várias actividades para além das relacionadas com o serviço de música.
Paradoxalmente esta conversa aconteceu um par de dias antes de vir a público a notícia da extinção do Ballet Gulbenkian. Talvez por isso Rui Vilar nada mais especificou, aconselhando-nos a falar com a "Drª Teresa", coisa que tentamos, inutilmente, nos dois dias que se seguiram... Depois "caiu" a notícia do fim do Ballet Gulbenkian.
No que diz respeito à descentralização, tema abordado na conversa com o ex-ministro da cultura durante uma qualquer exposição, ficou bem claro que existem por todo o país salas com fosso de orquestra que possibilitam a produção de óperas. Que de facto têm acontecido, interpretadas por companhias espanholas e do "ex-leste da europa", que são obrigadas a fazerem digressões para ganharem "o pão nosso de cada dia", sendo portanto estranho que o Teatro Nacional de São Carlos (Lisboa-Portugal), instituição suportada com os dinheiros públicos e nacionais (a contribuição do "mecenas", que dá um milhão e deve gastar outro tanto a publicitar o que dá, representa 1/15 do seu orçamento), não desenvolva uma política sistemática de itinerâncias pelo país que o paga.
É claro que o montante de ambos os orçamentos (que são semelhantes se incluídas as despesas com o extinto Ballet Gulbenkian e excluídas as quantias oferecidas pelos "mecenas") não passa de pinhões se fôr comparado com o custo da via em que vai circular o TGV. Será que fizeram bem as contas à ocupação média necessária do dito e aos preços dos bilhetes para que o re-dito não se venha a transformar num buraco de prejuízos absurdos a serem suportados no futuro integralmente pelos impostos a pagar pelos portugueses? Ou estão a pensar que o nível de vida destes vai subir tanto que lhes vai possibilitar viajar regularmente entre Lisboa e Porto no famoso Tê-gê-Vê? E na ligação a Madrid quais são exatamente os números para os prejuízos não virem a assumir proporções desastrosas?
E a OTA? Um aeroporto que sairá muito caro e é um investimento em contraciclo com a política generalizada de criação de aeroportos de taxas baixas para as "low-cost" que marcam o ritmo do mercado do transporte aéreo de passageiros?!
Ainda todo o mundo comenta "aquela" dos 10 (ou nove?) estádios de futebol...
Para não falarmos dos dois submarinos e respectivos torpedos que são virtualmente importantes para o controle e vigilância das águas territoriais, mas que custaram substancialmente mais que os 10 (ou nove ou onze) estádios...
Como a UE vai continuar a abrir a torneira do "combustível" (a um ritmo de mais de 8 milhões de euros por dia) a barcaça lusa vai-se aguentar.
Seria fantástico que deste incrível maná a UE destinasse, explicitamente (se não a "coisa" esvai-se...), uma parte visando combater a escandalosa miséria que grassa no Portugal de hoje, nomeadamente para a construção de residências para os sem abrigo, para assistência aos idosos que vivem na penúria e para outros não bafejados minimamente pelo sopro de riqueza que sempre atravessa os países terceiro-mundistas - versus em vias de desenvolvimento - e alguns "desenvolvidos", como Portugal. AST
Todos os anos Portugal entrega 1/6 do seu orçamento às Forças Armadas. Metro, 16 de Dezembro 2005, pag 16, in "Cartas ao Director"
BARCELONA E COPENHAGA SÃO OS CENTROS NEVRÁLGICOS DO JAZZ NA EUROPA
Michel Camilo veio a Lisboa lançar o seu novo cd onde fez uma curta apresentação, ao piano, de alguns temas. No final conversámos com ele
Álvaro Teixeira: Disse há pouco que ao mesmo tempo que, em New York, tocava jazz, seguia uma formação clássica. Mas as suas influências mais fortes são as jazísticas, não é?
Michel Camilo: Bem... Sim e não. A minha carreira nasce a partir do jazz mas a minha formação é totalmente clássica porque estudei clássico desde os nove até aos dezoito anos. Graduei-me no Conservatório Nacional de música, na República Dominicana e depois fi para New York. Claro que o jazz é mais importante pois tenho 14 discos de jazz e, até agora, só dois clássicos.
AT: Já tocou repertório mais clássico como Beethoven e Brahms, por exemplo?
MC: Sim, sim. Este mesmo ano toquei no Festival de Pererada, em Santander, em Espanha, com o maestro Jesus Lopez Cobos, o concerto em fá maior de Ravel, por exemplo, e o Gershwin que para mim é um clássico. O que se passa é que é um clássico moderno. O concerto em fá, tocava-o muito também.
AT: Falando dos clássicos modernos: nunca tocou Schoenberg, por exemplo?
MC: Gosto mais dos clássicos melódicos ainda que conheça muito bem a música de Schoenberg . Mas toquei vários compositores modernos americanos e toquei com a filarmónica de New York no festival de música moderna com o nome de Novos Horizontes.
AT: As influências da música do Caribe são muito nítidas...
MC: Sim. Nunca se pode negar as raízes. Eu penso que é muito importante saber-se de onde se vem para se saber para onde se vai. Eu venho do Caribe que tem uma tradição afro-americana. É muito importante conservar as raízes.
AT: Costuma ir tocar frequentemente aos países do Caribe?
MC: Também mas não tanto como desejava pois tenho compromissos em todo o mundo. Vou pelo menos uma vez por ano a uma grande gala de beneficiência, no meu país, destinada a ajudar as crianças pobres que sofrem de cancro. Vou ajudar a angariar fundos para essas causas nobres que são muito importantes.
AT: De que gosta mais nos Eua?
MC: New York é o centro do jazz. Não há outro lgar no mundo onde hajam tantos clubes de jazz e concertos todas as noites. Ali pode-se escutar o futuro. Também no clássico. New York é como um microcosmos onde estão representadas todas as tendências e culturas do mundo. Onde não há discriminações. New York é muito diferente do resto dos Eua. New York é um centro de cultura mundial onde um pode expressar a sua singularidade e ser aceite, ou ser negado, mas pelo menos um pode exprimir-se e expôr públicamente o seu trabalho. Há sempre um lugar para qualquer um se expôr.
AT: New York é a Paris dos novos tempos?
MC: Depende em que nível.
AT: Paris foi o centro das artes...
MC: Isso foi nos anos vinte... Isso foi na "bel-époque". Já passou. De resto o Stravinsky imigrou para os Eua.
AT: Isso é verdade...
MC: Copland também... e outros.
AT: Pois é...
MC: Mesmo o Boulez foi para o Lincoln Center pelo menos seis anos...
AT: O Boulez é só uma pequena faceta da música europeia do século passado....
MC: Pois sim mas todos os contemporâneos europeus, incluindo Bério, foram para New York... O facto de se estar em New York é muito importante porque qualquer coisa que se faça em New York tem repercussão no resto do mundo.
AT: Pensa que se vivesse na Europa não teria o sucesso e a projecção mundial que tem?
MC: Depende de onde. Este meu disco saiu primeiro em Europa e só depois nos Eua.
AT: Mas a iniciativa veio dos Eua. A Telarc é uma etiqueta americana...
MC: Não, não. A Telarc foi a última instância. Os meus discos sairam inicialmente numa companhia japonesa chamada King Records que foi a primeira que me editou. De Tókio vieram para a Alemanha. De lá para Paris e de Paris para o resto da Europa. E só depois para os Eua. É curioso, não? Mas no meu caso foi assim. Depois de King Records foi a Sony, depois a Universal e só depois a Telarc. Agora gravo para as duas. Para a Universal e para a Telarc. Gravo a música clássica para a Decca que é da Universal. Para a Telarc gravo música jazz. Mas este último cd que foi lançado primeiramente em Portugal e Espanha, com música de Gerswin, é da Telarc. Gravado com a sinfónica de Barcelona.
AT: Que tal as orquestra espanholas?
MC: Maravilhosas! Sobretudo a de Barcelona que tem uma visão muito aberta e o auditório de Barcelona é maravilhoso: tem uma acústica perfeita, igual que o Palau de la Música em Barcelona. Não há igual. E Barcelona tem uma coisa muito importante que é, na actualidade, uma das capitais mundiais do jazz. Tem um festival de jazz que este ano teve 45 concertos! Muito poucos festivais de jazz no mundo têm esta quantidade de concertos. E não sómente jazz norte-americano. Muito jazz europeu também. Antes era Paris e Copenhagen agora é Barcelona e Copenhagen. Curioso...
AT: Sim...
MC: E Paris... Tenho ido muito a Paris também... tenho tocado no festival de jazz de Paris e nos Champs Elisés e por todo o lado em França... Mas últimamente a visão contemporanêa está em Barcelona e em Copenhagen. Não sei porquê... Um mistério...
AT: Foi um prazer conhecê-lo e ter esta curta conversa.
MC: O prazer foi meu.
AT: Muito obrigado e até à próxima.
"BELÉM - Cerca de 700 hectares de florestas foram invadidos e desmatados por fazendeiros na Terra Indígena (TI) Kayapó, próximo ao município de São Félix do Xingu, no extremo norte da reserva, entre as aldeias Kikretum e Kokraimoro. As primeiras denúncias da Fundação Nacional do Índio (Funai) à Polícia Federal e ao IBAMA foram feitas há três meses, mas as invasões, além de não combatidas, se intensificaram. Com a ausência de providência por parte das autoridades os índios ameaçam usar a força para garantir a integridade de seu território. Desde a semana passada, uma comissão da Funai está no local para fazer um levantamento detalhado do estrago provocado pelos fazendeiros e acalmar os índios que ameaçam expulsar os invasores. Imagens de satélite analisadas pelos técnicos da organização não-governamental Conservação Internacional comprovam a existência de áreas desmatadas na TI Kayapó." http://indios.blogspot.com (Dezembro 12, 2005)