2004/11/09

RENÉ JACOBS CONCERTO KÖLN E RIAS KAMMERCHOR INTERPRETAM HÄNDEL


Estes históricos e geniais agrupamentos sob direcção do fabuloso René Jacobs ofereceram-nos uma visão paradigmática do oratório Saul hwv 53 de Georg Friederich Händel. Foi segunda (dia 8) na Fundação Gulbenkian e será com toda a certeza um dos grandes eventos da presente temporada.

Pouco haverá que dizer para além de dar notícia de um acontecimento artístico de primeirissimo plano mundial. No entanto não posso deixar de referir a excelente afinação das cordas e dos metais, sabendo-se a dificuldade técnica inerentes a estes instrumentos de cordas de tripa e aos trompetes naturais onde tudo é feito sobre as fundamentais e respectivos harmónicos dada a ausência de pistões. Tenho que assinalar a brilhantíssima e paradigmática prestação do côro. Daquele excelente côro de 30 elementos que nos ofereceu algumas das páginas mais avassaladoras deste oratório. Não posso esquecer os delicados solos da harpa, os seus fraseados, a sua inspiração. Nem a excelente prestação do "continuum" se bem que o organista estivesse ligeiramente melhor nas outras teclas que própriamente no orgão positivo. A direcção de Jacobs foi como sempre inspirada, musical e inteligente. Os solistas estiveram à altura dos dois agrupamentos: uma Merab (Emma Bell) com uma coloração dramática numa voz potente e sustentada, um Jonathan (Jeremy Ovenden) com um belíssimo timbre claro numa voz bem colocada, um Michal (Rosemary Joshua) dotado de timbre delicado e transparente, um David (Lawrence Zazzo) irónico com dinâmicas invulgarmente potentes para um contra-tenor, um Sumo Sarcedote sardónico incarnado pelo tenor Michael Slattery e finalmente um Saul portentoso se bem que os registos grave e agudo da tessitura do baixo Gidon Saks me parecessem um pouco débeis. No entanto nas tessituras médias é um cantor dotado de uma grande voz bem projectada.

Um recital fora de série por intérpretes de excelência dirigidos pelo grande René Jacobs.


ENTREVISTA-RELÂMPAGO COM RENÉ JACOBS

Foi à saída. Estavamos em amena cavaqueira quando apareceu o músico e a companheira com a qual já tinha conversado alguns momentos antes. Amáveis, simpáticos, com a simplicidade própria dos grandes acercaram-se do nosso grupo que imediatamente os rodeou. Como eles partiriam hoje (9/10/04)) ao final da manhã e como teria alguma dificuldade em deslocar-me ao hotel a uma hora viável para uma "entrevista formal", tive um "flash" e disse que iria fazer a pretendida entrevista ali mesmo. Não me levaram a sério...


Álvaro Teixeira: Foi o senhor que deu a conhecer ao mundo La Giudita do português Francisco António de Almeida com o registo que realizou para a Harmonia Mundi.


René Jacobs: É verdade...


AT: Como encontrou as partituras daquele oratório?


RJ: Não me lembro. Vieram-me parar ás mãos...


AT: Francisco António de Almeida é um grande compositor?


RJ: Sem dúvida. Melhor do que muitos outros mais tocados... Acho que todas as suas obras deveriam ser apresentadas com regularidade.
Olhe: gostaria muito de fazer essa (referia-se a La Spinalba cujo nome se encontrava à vista numas fotocópias nas mãos de um dos presentes).


AT: Não faz música contemporânea?


RJ: Já cantei mas nunca dirigi.


AT: Porquê? Não gosta?


RJ: Gosto. Não posso é fazer tudo.



(risos)