Afonso X, o sábio, século XIII, dedicou-se a homenagear a virgem pela composição de textos poéticos com música nos quais foram relatados os milagres e feitos louvores à dita virgem. Existem outras histórias que nos dão um retrato da época e das preocupações de Afonso: uma freira que é seduzida por um cavaleiro... batalhas entre Mouros e Cristãos... Numa das cantigas Afonso relata como foi milagrosamnte salvo mantendo sempre ao seu lado um livro com as cantigas...
É interessante por outro lado verificar a utilização de ritmos tipicamente árabes com métricas quinárias e octanárias. Ainda segundo as notas do programa, no que toca à rima existe uma relação evidente com a forma do Zajal que é um género mouro-andaluz que se desenvolveu na península ibérica. O idioma utilizado por Afonso foi evidentemente o galaico-português. No entanto deve referir-se que estilisticamente este ciclo tem pouco que ver com as cantigas de amor, de amigo, de escárnio e mal-dizer que todos estudamos no ensino secundário.
A corte de Afonso X foi um viveiro de intelectuais e artistas vindos de todo o mundo. Também essas influências estão presentes na sua obra.
A interpretação de Ensemble Micrologus foi de uma vivacidade fantástica utilizando instrumentos da época que nos permitiram contactar com as mesmas sonoridades que supostamente Afonso escutou. Interessante também é o conceito de não especialização. Os cantores eram também multi-instrumentistas.
Um espectáculo pleno de vivacidade e interesse. Como notou no final o doutor João Bosco, ainda hoje nos Açores se ouvem músicas populares que nos fazem lembrar algumas das escutadas neste concerto. Uma amiga assinalou ter ouvido algo parecido no folclore turco. Não tenho dúvidas que a influência deste códex se estenda muito para lá das antigas delimitações geográficas da cultura galaico-portuguesa. Existe um cd muito interessante da naxos com outras cantigas do códex interpretadas por outro agrupamento. Ast