2005/09/20

LOCATELLI: FLUTE SONATAS


Pietro Antonio Locatelli (1695-1764) compôs duas séries de sonatas para flauta "travessa": as doze sonatas op.2 e as seis sonatas "a tre" op.5

São peças onde a fluência melódica coexiste com um virtuosismo inteligente que as transforma num "must" da produção barroca para o instrumento.

De novo, num registo do presente ano, Jed Wentz, acompanhado por Musica ad Rhenum, oferece-nos interpretações paradigmáticas que recomendo não só aos flautistas mas a todos os amantes da boa música.
Wentz, na sua melhor forma, desenvolve um fraseado fabuloso, um dos seus ex-libris, que eleva a mais-valia inerente a estas obras escritas por um inspirado Locatelli.

Musica ad Rhenum, já aqui foi escrito, é um dos mais interessantes grupos de música antiga da actualidade. Nestas interpretações os seus elementos, quer fazendo o baixo-continuo quer participando como solistas, uma vez mais nos demonstram o seu nível supremo, temperado por uma evidente (audível...) musicalidade. Uma edição, em 3 cd's, da Brilliant Classics. AST

Nota: Em 2004 este mesmo agrupamento gravou para a mesma editora a integral de música de câmara de François Couperin que foi louvada como um dos acontecimentos discográficos daquele ano. oe










Está anunciada para Dezembro próximo mais uma edição do festival Other Minds. Organizado pela homónima organização sem fins lucrativos, baseada em S. Francisco, Califórnia, em co-produção com a Swedenborgian Church e a Piedmont Piano Company, agrupa compositores, estudantes e ouvintes da nova música contemporânea.
O festival inspira-se nas ideias e concepções musicais de John Cage, compositor norte-americano falecido em 1992, e num obituário publicado pelo jornal The New Yorker, em que se dizia ter Cage escrito música “in other peoples’ minds”. Daí a denominação daquele que é considerado um dos maiores festivais intenacionais de new music.
O director artístico e executivo é Charles Amirkhanian, ele próprio um compositor de música electroacústica de renome. Enquanto músico e pensador, Amirkhanian interessou-se pela música de John Cage deste o início dos anos 50. Com outros compositores foi agregando vontades. Assim, entre 1988 e 1991, co-dirigiu com John Lifton aquele que foi o antecessor do Other Minds, o Composer-to-Composer Festival, por onde passaram John Cage, Lou Harrison, Brian Eno, Pauline Oliveros, Morton Subotnick, Laurie Anderson, Henry Brant, Wadada Leo Smith, Louis Andriessen, Conlon Nancarrow, Jin Hi Kim, Joan La Barbara, I Wayan Sadra, Eleanor Alberga, Peter Sculthorpe, Alan Hovhaness, Tom Zé, Terry Riley e Sarah Hopkins.
Para se ter uma ideia da diversidade estética e da importância musical associadas ao festival, repare-se nos nomes que já integraram o Other Minds Advisory Board: Muhal Richard Abrams, Laurie Anderson, Henry Brant, Gavin Bryars, Luc Ferrari (falecido o mês passado), Philip Glass, Lou Harrison, George Lewis, György Ligeti, Meredith Monk, Kent Nagano, Terry Riley, Frederic Rzewski, Tan Dun, Trimpin e Julia Wolfe. http://jazzearredores.blogspot.com (22.9.05)









Já a ficção das instituições que se dizem privadas sendo inteiramente financiadas por dinheiros públicos é escandalosa e altamente lesiva dos interesses do Estado, e o exemplo do CCB é por demais elucidativo das inconsistências que este tipo de disfuncionalidades podem ocasionar.
Boa parte destes artigos de Seabra versam ainda sobre os mecanismos perversos do mecenato, e na generalidade retratam a podridão e a ferrugem que nunca como agora está a aparecer nas fundações do nosso sistema público da cultura, reclamando com legitimidade e urgência esclarecimentos que a tutela até agora não viu necessidade de prestar. Ficamos a aguardar.
José Augusto encontra ainda que "há algumas matérias de trabalho jornalístico de fundo, necessárias ao esclarecimento, que nunca vi na imprensa portuguesa. Por exemplo sobre as modalidades e âmbitos do mecenato, como sobre os modelos orgânicos de certas instituições culturais públicas." Isto é claramente um understatement, a miopia dos editores da cultura na imprensa portuguesa é outro escândalo que reclama esclarecimentos. Tenho a impressão que bem podemos esperar sentados. http://arauxo.blogspot.com (21.9.05)