Nada como começar o ano ouvindo e vendo uma comédia bem elaborada, como é o caso da ópera cómica em dois actos do italiano Gioachino Rossini que foi representada na Royal Opera House (London) no primeiro dia de 2006. A direcção musical foi de Mark Elder e a encenação de Moshe Leiser e Patrice Caurrier.
Tirando alguns desacertos nos trios do início do segundo acto, tratou-se de uma produção de bom nível com uma orquestra coesa e uma direcção eficiente. A encenação foi particularmente bem conseguida e o jogo de luzes de Christophe Forey uma mais valia preciosa.
No que toca a cantores, Robert Gleadow deu um débil Fiorello enquanto Joyce Di Donato foi uma Rosina de grande intensidade e projecção vocal, do melhor que esta produção nos ofereceu. Toby Spence na pele de Almaviva, dotado de um timbre volumoso e redondo, foi persuasivo enquanto um possante Don Basílio foi encarnado por Raymond Aceto. Um Figaro de grande luminosidade foi representado por George Petean em contraposição a um Doctor Bartolo que, representado por Bruno Praticò, soube incarnar o ridículo perfil que o libretista Cesare Sterbini, baseado na obra de Pierre-Augustin de Beaumarchais, lhe destinou.
O baixo continuo deu aos recitativos uma coloração mozartiana que nos permitiu perceber com nitidez a influência exercida pelo comemorado austríaco sobre o compositor italiano.
Globalmente foi um bom espectáculo que deixou todo o mundo contente para iniciar um ano que promete boa música. Lívios Pereyra