Pilar Villa
Foi sob este nome sugestivo que estiveram expostas na Modern Tate, entre 3 de Novembro de 2005 e 5 de Fevreiro de 2006, um conjunto muito importante de obras do HENRI ROUSSEAU.
Na verdade tratou-se de um acontecimento de primeiro plano pelo relevo e pelo investimento. Todos sabemos os gastos que se fazem cada vez que se trazem obras de todo o mundo para serem exibidas num mesmo local. Tal acontecimento permite-nos contactar com quadros que nunca tinhamos visto "ao vivo" e ter uma prespectiva fundamental de uma vida e de uma obra.
Logo na entrada deparava-se-nos Tiger in a Tropical Storm de 1891. Um tigre caricaturizado que mais parece uma deidade do budismo (lembremo-nos da Exposiçao Universal onde Rousseau e Debussy se passearam e se maravilharam) parece saltar numa selva irreal, atravessada por longas pinceladas de oleo sobre a tinta que parecem simular as rajadas de chuva tropical. Esta foi a primeira pintura de Rousseau sobre a selva.
Um pouco antes, em 1889, Rendez-vous in the Forest é uma pintura de conto de fadas, onde um cavalheiro transporta ao colo a sua dama ao longo de uma floresta de paz.
Mas foi em Carnival Evening de 1963 onde Rousseau conseguiu um ambiente de maior misteriosidade, onde o maravilhoso entronca com uma natureza que encobre e testemunha um irreal fabulado. Uma lua cheia encima uma paisagem de fim de dia, recortada por arbustos sem folhas, onde duas figuras de sonho a iluminam: Pierrot e Columbine. Simplesmente maravilhoso.
Em The Waterfall de 1910, em pleno "estilo da selva", uma selva conhecida a partir de livros e de jardins parisienses, Rousseau pinta uma cascata caricata, pois parece uma pequena fonte, onde se encontram figuras supostamente africanos. Um quadro kitsh.
Jungle with Setting Sun, também de 1910, trata-se de uma das raras pinturas onde aparecem humanos a serem atacados. Numa selva luxuoriante com um sol grande, redondo e muito vermelho a mostrar-se por entre as folhas, um leopardo ataca um humano.
Muitas seriam as obras que mereceriam ser referidas mas irei falar de uma mais que teria, em qualquer dos casos, de ser assinalada. Trata-se de War, um trabalho de 1894.
A presença influente das pinturas medievais onde a morte aparece a cavalo e com uma foice torna-se evidente. Aqui, uma menina de rosto selvagem galopa um monstruoso cavalo negro, empunhando uma longa espada. O cavalo salta sobre corpos inanimados sobrevoados por aves negras. O azul muito claro, estranhamente luminoso, no ocaso, contrasta com as tonalidades avermelhadas e estranhas da proximidade. Uma obra impressionante, monumental e carregada de simbolismo. De um terrivel simbolismo...