Natural de Penamacor, Valter Lemos tem 51 anos, é casado e possui uma licenciatura em Biologia: até aqui nada a apontar. Os problemas surgem com o curriculum vitae subsequente. Suponho que ao abrigo do acordo que levou vários portugueses a especializarem-se em Ciências da Educação nos EUA, obteve o grau de mestre em Educação pela Boston University. A instituição não tem o prestígio da vizinha Harvard, mas adiante. O facto é ter Valter Lemos regressado com um diploma na "ciência" que, por esse mundo fora, tem liquidado as escolas. Foi professor do ensino secundário até se aperceber não ser a sala de aula o seu habitat natural, pelo que passou a formador de formadores, consultor de "projectos e missões do Ministério da Educação" e, entre 1985 e 1990, a professor adjunto da Escola Superior do Instituto Politécnico de Castelo Branco.
Em meados da década de 1990, a sua carreira disparou: hoje, ostenta o pomposo título de professor-coordenador, o que, não sendo doutorado, faz pensar que a elevação académica foi política ou administrativamente motivada; depois de eleito presidente do conselho científico da escola onde leccionava, em 1996 seria nomeado seu presidente, cargo que exerceu até 2005, data em que entrou para o Governo. Estava eu sossegadamente a ler o Despacho ministerial nº 11 529/2005, no Diário da República, quando notei uma curiosidade. Ao delegar poderes em Valter Lemos, o texto legal trata-o por "doutor", título que só pode ser atribuído a quem concluiu um doutoramento, coisa que não aparece mencionada no seu curriculum. Estranhei, como estranhei que a presidência de um politécnico pudesse ser ocupada por um não doutorado, mas não reputo estes factos importantes. Aquando da polémica sobre o título de engenheiro atribuído a José Sócrates, defendi que os títulos académicos nada diziam sobre a competência política: o que importa é saber se mentiram ou não.
Deixemos isto de lado, a fim de analisar a carreira política do sr. secretário de Estado. Em 2002 e 2005, foi eleito deputado à Assembleia da República, como independente, nas listas do Partido Socialista. Nunca lá pôs os pés, uma vez que a função de direcção de um politécnico é incompatível com a de representante da nação. A sua vida política limita-se, por conseguinte, à presidência de uma assembleia municipal (a de Castelo Branco) e à passagem, ao que parece tumultuosa, pela Câmara de Penamacor, onde terá sofrido o vexame de quase ter perdido o mandato de vereador por excesso de faltas injustificadas, o que só não aconteceu por o assunto ter sido resolvido pela promulgação de uma nova lei.
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Chegada aqui, deparei-me com uma problema: como saber o que pensa do mundo este senhor? Depois de buscas por caves e esconsos, descobri um livro seu, O Critério do Sucesso: Técnicas de Avaliação da Aprendizagem. Publicado em 1986, teve seis edições, o que pressupõe ter sido o mesmo aconselhado como leitura em vários cursos de Ciências da Educação. Logo na primeira página, notei que S. Excia era um lírico. Eis a epígrafe escolhida: "Quem mais conhece melhor ama." Afirmava seguidamente que, após a sua experiência como formador de professores, descobrira que estes não davam a devida importância ao rigor na "medição" da aprendizagem. Daí que tivesse decidido determinar a forma correcta como o docente deveria julgar os estudantes. Qualquer regra de bom senso é abandonada, a fim de dar lugar a normas pseudocientíficas, expressas num quadrado encimado por termos como "skill cognitivos".
Navegando na maré pedagógica que tem avassalado as escolas, apresenta depois várias "grelhas de análise". Entre outras coisas, o docente teria de analisar se o aluno "interrompe o professor", se "não cumpre as tarefas em grupo" e se "ajuda os colegas".
Apenas para dar um gostinho da sua linguagem, eis o que diz no subcapítulo "Diferencialidade": "Após a aplicação do teste e da sua correcção deverá, sempre que possível, ser realizado um trabalho que designamos por análise de itens e que consiste em determinar o índice de discriminação, [sic para a vírgula] e o grau de dificuldade, bem como a análise dos erros e omissões dos alunos. Trata-se portanto, [sic de novo] de determinar as características de diferencialidade do teste." Na página seguinte, dá-nos a fórmula para o cálculo do tal "índice de dificuldade e o de discriminação de cada item". É ela a seguinte: Df= (M+P)/N em que Df significa grau de dificuldade, N o número total de alunos de ambos os grupos, M o número de alunos do grupo melhor que responderam erradamente e P o número de alunos do grupo pior que responderam erradamente.
O mais interessante vem no final, quando o actual secretário de Estado lamenta a existência de professores que criticam os programas como sendo grandes demais ou desadequados ao nível etário dos alunos. Na sua opinião, "tais afirmações escondem muitas vezes, [sic mais uma vez] verdades aparentemente óbvias e outras vezes "desculpas de mau pagador", sendo difícil apoiá-las ou contradizê-las por não existir avaliação de programas em Portugal". Para ele, a experiência dos milhares de professores que, por esse país fora, têm de aplicar, com esforço sobre-humano, os programas que o ministério inventa não tem importância.
Não contente com a desvalorização do trabalho dos docentes, S. Excia decide bater-lhes: "Em certas escolas, após o fim das actividades lectivas, ouvem-se, por vezes, os professores dizer que lhes foi marcado serviço de estatística. Isto é dito com ar de quem tem, contra a sua vontade, de ir desempenhar mais uma tarefa burocrática que nada lhe diz. Ora, tal trabalho, [sic de novo] não deve ser de modo nenhum somente um trabalho de estatística, mas sim um verdadeiro trabalho de investigação, usando a avaliação institucional e programática do ano findo." O sábio pedagógico-burocrático dixit.
O que sobressai deste arrazoado é a convicção de que os professores deveriam ser meros autómatos destinados a aplicar regras. Com responsáveis destes à frente do Ministério da Educação, não admira que, em Portugal, a taxa de insucesso escolar seja a mais elevada da Europa. Valter Lemos reúne o pior de três mundos: o universo dos pedagogos que, provindo das chamadas "ciências exactas", não têm uma ideia do que sejam as humanidades, o mundo totalitário criado pelas Ciências da Educação e a nomenklatura tecnocrática que rodeia o primeiro-ministro. Maria Filomena Mónica (em e-mail enviado por leitor sem indicação da fonte)
Londres, 06 Abr (Lusa) - A polícia inglesa deteve hoje 36 pessoas que tentaram perturbar a passagem da chama olímpica por Londres enquanto protestavam contra a alegada repressão no Tibete pela China, país anfitrião dos Jogos Olímpicos em 2008.
Um dos manifestantes mais audazes tentou apagar a chama, transportada desde a cidade grega de Atenas, com um extintor, tendo sido rapidamente impedido pela polícia.
Outro tentou arrancar a tocha da mão da apresentadora de televisão Konnie Huq e chegou a segurá-la durante alguns segundos, até ser arrastado e imobilizado para que a marcha continuasse.
Os incidentes registaram-se ao longo dos cerca de 48 kilómetros que a chama percorreu desde o estádio nacional de Wimbledon, no norte da cidade, à O2 Arena, no sul, onde chegou perto das 18:00 horas.
Milhares de manifestantes pró-tibete aproveitaram a ocasião para protestar contra a China, que organiza este ano os Jogos Olímpicos em Pequim, e a forma como lidou com os recentes tumultos na capital tibetana, Lassa.
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Pelo menos dois mil polícias foram alocados para proteger a chama olímpica e os intervenientes duraste os 48 kilómetros do percurso, numa operação com um custo estimado em um milhão de libras (1,27 milhões de euros). Lusa, 2008-04-06 19:55:02
O ovo e a serpente São as grandes e poderosas sociedades de advogados que tecem, em Portugal, as intrincadas teias da legislação. Assim, as leis mais relevantes, as que definem quem ganha as grandes fortunas, são concebidas fora do sistema legislativo, naqueles gabinetes. O Governo e o Parlamento limitam-se a subscrevê-las. A regulamentação da actividade financeira, do urbanismo e ordenamento do território, as concessões de pontes e auto-estradas, estão assim longe do controlo democrático.
A alegada complexidade de algumas áreas legislativas é o pretexto para a contratação de jurisconsultos e sociedades de advogados, constituídas por deputados, antigos, actuais e futuros membros do Governo. Em funções públicas, declaram-se incapazes, mas contratam-se a si mesmos, enquanto privados.
São assim requisitados serviços jurídicos a troco de centenas de milhar de euros, através de contratos que não são alvo de concurso ou controlo. O resultado são leis extensas, complexas e confusas. Desta forma, tais sociedades garantem e cativam o aliciante mercado dos pareceres jurídicos: ser-lhes-ão contratados ‘ad eternum’ esclarecimentos sobre as leis indecifráveis que eles próprios engendraram. Por último, vão ainda oferecer às empresas os seus préstimos; pois, melhor do que ninguém conhecem as lacunas da lei, que podem beneficiar os privados e os seus negócios. A serpente, o veneno e o antídoto saem todos do mesmo ovo.
Houve tempos em que os poderosos subornavam governantes para introduzir uma vírgula numa lei, como então denunciava a jornalista Sanches Osório. Ainda hoje há casos extremos em os governos recebem ordens directas das empresas sobre como legislar, como ocorreu com o Casino Lisboa. Mas, mais grave, é que de forma sistemática este tráfico de influências acabou institucionalizado por sociedades de advogados que confundem interesse público com os interesses particulares dos seus clientes.
Por cá, já não é ‘a ocasião que faz o ladrão’. É cada ladrão que faz a sua própria ocasião. Paulo Morais
in Correio da Manhã, 06/04/2008
Corrupção?! Onde?Para Jorge Coelho, como para muitos gestores e ex-políticos, a passagem do público para o privado é um acto natural. Do conjunto de administradores das empresas do PSI 20, 10% já passaram por um ou mais governos. Alguns, fizeram carreira na banca, passaram para o Governo e voltaram à banca, como fez Armando Vara na Caixa Geral de Depósitos e no BCP. Ao todo, metade das vinte maiores empresas nacionais têm administradores que ocuparam cargos no Executivo. Olhando para osvinte CEO, só cinco assumiram funções em governos liderados pelo PS e PSD.
É assim que o Diário Económico encara o assunto da transferência do participante no programa de tv, Quadratura do Círculo, para a actividade empresarial, tipo executivo de topo. CEO, como se usa agora dizer.
Há uns tempos atrás, João Cravinho, outro socialista que abandonou o Parlamento e a intervenção política directa, passando para uma instituição financeira internacional e pública, por designação governamental, disse que o core business, da corrupção, em Portugal , residia mesmo no coração do Estado.
Um ex-Secretário de Estado deste governo, Amaral Tomás, avançou um pouco mais. Afirmou que algumas das mil maiores empresas, praticavam activamente o desporto nacional de fuga aos impostos, com a maior das naturalidades.
Ainda segundo o Diário Económico:
“ Contactados pelo Diário Económico, Pina Moura (antigo ministro das Finanças e actual presidente da Média Capital e da Iberdrola) e Manuela Ferreira Leite (administradora do Santander e também ex-ministra das Finanças) recusam-se a falar sobre o tema."
Vejamos o caso singular da... Cimpor, segundo aquele jornal:
“A Cimpor é um caso paradigmático. “A maioria do conselho de administração da Cimpor passou pelo Governo, mas não me recordo de todos”, conta fonte oficial da empresa, que sublinha o facto de esta ter pertencido ao Estado: “Os membros eram todos nomeados.” No fundo, é tudo uma questão de “elasticidade”, segundo um destacado empresário que ocupou cargos políticos. “
E outro ainda: Luís Filipe Pereira, o ex-governante de Cavaco Silva ( não temos salvação alguma):
“Quando criei os hospitais SA, tive uma preocupação com a gestão dos recursos”, diz Luís Filipe Pereira, que garante ter sido melhor ministro da Saúde (nos Governos de Durão Barroso e Santana Lopes) precisamente pelos vários anos de experiência que tinha como gestor. “Tive muitas propostas quando sai do ministério”, diz.
Os adubos da Quimigal e os choques eléctricos da EDP, deram-lhe o arcaboiço intelectualmente necessário para governar e agora para administrar a Efacec, depois de ter passado pela CUF e de ter administrado coisa na Saúde pública. Com muitos milhões de permeio, enterrados no sistema.
Dir-se-á: são os melhores! A nossa elite. A vida das empresas e dos negócios é assim mesmo.
É mesmo assim?! Então fiquemos por este pequeno apontamento do próprio Mira Amaral, sobre alguns destes génios das lâmpadas da fortuna:
“Falou Mira Amaral: “O Paulo Teixeira Pinto quando chegou ao Governo nem sabia o que era um banco e o Pina Moura o que era energia”, lembra o ex-ministro do Trabalho, que quando foi convidado por Cavaco Silva para ganhar 600 contos no Governo, em 1985, recusou o dobro que uma empresa privada lhe oferecia. “
Numa entrevista de época, Mira Amaral, perguntado que carro gostaria de ter um dia, respondeu candidamente: Um Mercedes 200 kompressor. Era então governante. Hoje, deve ter ultrapassado o seu então proclamado standard do luxo automobilístico, com toda a certeza.
As minhas perguntas continuam a ser as mesmas, tendo em conta que este panorama é o retrato mais perfeito que podemos ter de quem nos governa e das elites que os escolhem, nos últimos trinta anos:
Antes do 25 de Abril de 1974 era pior do que isto? Não? Então para que serviu a Revolução?
Para fazermos um país de bananas? Ou de laranjas, no caso, com algumas rosas de permeio?
Porca miseria.
Não entendem que é precisamente por causa disto que aí fica descrito que estamos atrás de todos, na Europa? Que somos um país submergente em vias de nos cruzarmos com os emergentes, na descida aos infernos da desgraça colectiva?
in grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com (Abril 03, 2008, 18:20)