2008/04/21

A todos os meus concidadãos

Tenho cinquenta e tal anos de idade, trinta e muitos dos quais como docente no ensino secundário e no ensino superior.

Fiz a Licenciatura com 16 valores, o Estágio Pedagógico com 18 e um mestrado em Ciências da Educação com Muito Bom.
Dediquei a minha vida à Escola Pública. Fui Presidente do Conselho Executivo (dois mandatos), orientador de estágio pedagógico (3 anos), delegado de grupo / coordenador de departamento (dois mandatos), Presidente do Conselho Pedagógico (um mandato) e director de turma durante vários anos.

Nos últimos tempos leccionei no ensino superior, com ligação permanente à formação de professores.Desempenhei vários cargos pedagógicos, participei em múltiplos projectos e desenvolvi dois trabalhos de elevado valor científico.
Entretanto, regressei ao ensino secundário e à minha escola de origem.
Alguns dos antigos colegas, embora mais novos do que eu e com menos tempo de serviço (compraram o tempo, explicaram-me depois) já se tinham reformado. Eu também já tinha idade, mas faltavam-me alguns meses para o tempo necessário quando mudaram as regras do jogo. E como se não bastasse a alteração dessas regras, é aprovado, entretanto, um novo estatuto para a carreira docente. E logo de seguida é aberto o concurso para professores titulares. Um concurso para uma nova categoria onde eu não tinha lugar!
Não reunia condições. Mesmo com um Mestrado em Ciências da Educação e sem ter dado uma única falta nos últimos sete anos, o meu curriculum valia, apenas, 93 pontos! Faltavam 2 pontos para o mínimo exigido a quem estivesse no 10º escalão.

Com as novas regras, o meu departamento passou a ser coordenado, a partir do presente ano lectivo, por um professor titular. Um professor que está posicionado no 8º escalão. Tem menos 15 anos de serviço do que eu. Foi meu aluno no ensino secundário e, mais tarde, meu estagiário. Fez um bacharelato com média de 10 valores e no estágio pedagógico obteve a classificação de 11 valores. Recentemente concluiu a licenciatura numa estabelecimento de ensino privado, desconhecendo a classificação obtida. É um professor que nunca exerceu qualquer cargo pedagógico, à excepção de director de turma. Nos últimos sete anos deu 84 faltas, algumas das quais para fazer 15 dias de férias na República Dominicana (o atestado médico que utilizou está arquivado na secretaria da escola, enquanto os bilhetes do avião e a factura do hotel constam de um outro processo localizável). O seu curriculum vale 84 pontos, menos 9 pontos do que o meu. Contudo, este docente foi nomeado professor titular. in gestavea-caminhando.blogspot.com (19 de Abril de 2008)


“É mentira!, é mentira!, Sra. Ministra”

Afirma, a Sra. Ministra da Educação, o seguinte:

“O que fizemos foi reestruturar, no fundo formalizámos essa diferença e os professores com mais experiência e mais competências devem assumir mais responsabilidades no interior da escola mais tempo de trabalho na escola e devem ter mais responsabilidades na avaliação e acompanhamento dos professores mais novos.” (Excerto da entrevista da Sra. Ministra da Educação ao Correio da Manhã, de 20/04/2008).

O país decente e com sentido de justiça precisa de saber que esta afirmação da Sra.Ministra da Educação prefigura, em inúmeras situações, uma mentira grosseira e um aviltamento à dignidade profissional de muitos docentes portugueses.

O Concurso que, supostamente, permitiu aferir a diferenciação qualitativa a que a Sra. Ministra se refere foi um autêntico embuste administrativo, que não avaliou nenhuma competência específica nos professores e nenhuma qualidade de desempenho, assim como não valorizou a experiência dos docentes, reduzindo-a, injustificadamente, à mera ocupação automática de cargos nos últimos sete anos lectivos, quando a média de tempo de serviço dos professores que se apresentaram ao Concurso de Acesso a Professores Titulares tinha mais de 20 anos de serviço docente efectivo.

Ao arrepio do que a Sra. Ministra afirma, a sua avaliação, consubstanciada nesse execrável Concurso, é que foi automática e discricionária, pois tomou toda a leccionação como se tivesse igual mérito (avaliação automática), não se preocupou em avaliar a qualidade e a adequação com que os cargos foram desempenhados (avaliação automática), tornando o concurso uma verdadeira lotaria que contemplou os que estavam em exercício de cargos (quantas vezes, sujeitos a rotatividade entre grupos de docência), ignorando aqueles que os desempenharam até durante mais anos, antes de 1999 (mais experiência Sra. Ministra?!…), aniquilou aqueles docentes que se procuraram qualificar e obter formações pós-graduadas, penalizou aqueles que leccionaram em níveis de ensino superiores, habituados a formar e a avaliar futuros professores (ao mesmo tempo que valorizou, vergonhosamente, docências fantasmagóricas, que não existiram, como, por exemplo, as dos Directores dos Centros de Formação), entre outras arbitrariedades indescritíveis. Octávio V Gonçalves in educar.wordpress.com, Abril 21, 2008 - Uma Entrevista Jeitosa (E Adorável)