2008/04/25

34 anos depois

O meu tio, que esteve preso no Tarrafal alguns anos - e de lá saiu vivo devido aos esforços do meu avô que viajou de Vila Real até Lisboa infinitas vezes para finalmente conseguir que o regime o deixasse voltar para uma prisão-hospital, pois estava doente, como estavam todos os que foram degredados para aquele local tórrido e insuportável - o meu tio, dizia eu, quando me viu envolvido nas juventudes revolucionárias foi dos meus mais acutilantes críticos. E eu dizia: o Tarrafal fez-lhe tão mal que ficou choné da cuca e agora é de direita. Não, não ficou, nem era de direita. Percebia era que os chicos-espertos e os mediocres estavam a tomar conta do país. Por isso recusou liminarmente qualquer envolvimento partidário. Nunca ouviram falar no Nuno Bragança, pois não? O Nuno Bragança é um dos mais geniais escritores em língua portuguesa, que agora, nos tempos dos cocozinhos e das pseudo-pedagogias, está totalmente esquecido. O Nuno Bragança era católico e foi um resistente ao fascismo, ainda que se movesse por dentro do "sistema" uma vez que era funcionário público superior. Foi convidado para ocupar cargos, após o 25 de Abril. Não aceitou e nunca se meteu com os partidos políticos. Talvez porque percepcionasse que Portugal se estava a transformar num graneiro da patagem brava. Suicidou-se. Viva a Democracia! Aquela que os militares que fizeram o 25 de Abril desejavam. Aquela que nós desejamos.


Textos incompreensíveis para certos "pedagogos"

Neste texto há uma coisa bastante curiosa e talvez incompreensível para os nossos inovadores pedagógicos.

Quando se diz: «As a result, they follow a pattern in which innovations are piloted, briefly become very popular, then decline rapidly before the next new innovation appears.», aquilo que está em causa é a destruição contínua de uma tradição de ensino.

Uma escola é uma instituição que tem um tempo diferente do das empresas. Para ser eficaz, precisa de construir uma tradição de ensino (no ME já estão a vomitar com o uso da palavra ensino). Só nessa tradição pode ocorrer inovação. E esta não é para destruir a tradição, mas para a reforçar, pois uma escola é a sua própria história, que cresce com cada nova geração de alunos e de professores.

Não se pode pensar uma escola sem o conceito de tradição. Porquê? Porque a escola é a instituição que a sociedade criou para transmitir as suas tradições cognitivas, éticas, estéticas, morais e políticas. Por isso a escola não é analogável ao mercado. A troca de bens que se faz na escola não é do mesmo tipo daquele que se faz na economia. É por isso que muito do que quer o actual ME não faz sentido. Apenas destruirá a escola portuguesa, o seu «ethos» e a sua finalidade. Isto não quer dizer que escolas e professores não devam prestar contas. Devem, mas daquilo que é a sua verdadeira função: ensinar e transmitir os valores que a sociedade seleccionou e colocou no currículo. in educar.wordpress.com (comentário 8, 9:27 pm , ao post Primaries are ‘bedevilled by policy hysteria’, de 25 de Abril)


Figuras do PS criticam situação actual do país

Várias figuras do PS assinaram um documento emitido pela Associação 25 de Abril, que apela à participação no desfile do 25 de Abril e faz uma análise crítica à situação do país.

O "Apelo à Participação", divulgado ontem pela Associação 25 de Abril, conta com a assinatura de diversas figuras do PS, entre os quais Mário Soares, Manuel Alegre, Ferro Rodrigues, Almeida Santos ou Maria de Belém Roseira.

Ao longo do documento pode ler-se que "as incertezas de uma conjuntura económica, afectada pela eclosão e desenvolvimento de várias ordens de crises e, no plano interno, pela permanência dos problemas estruturais de que o país continua a padecer, fazem com que as comemorações do 25 de Abril de 2008 se processem num clima pouco desanuviado e escassamente propício à jubilação colectiva".

"Numa altura em que os diversos índices sociais e económicos continuam a remeter-nos para os últimos escalões da Europa Comunitária, não poderá haver lugar para o enfraquecimento dos serviços que cabe ao Estado assegurar", refere ainda o manifesto emitido pela Associação 25 de Abril.

Vasco Lourenço, presidente da associação, disse hoje à Lusa que o documento "não é, de maneira nenhuma", uma crítica ao Governo de Sócrates e que "cada um lê o que quiser".

"Não há crítica, nem se pretende que haja. O documento é uma análise não conjuntural, além disso, o PS faz parte da Comissão Promotora, essa especulação não faz qualquer sentido", concluiu Vasco Lourenço. (22.04.2008 - 15h13 Lusa)