2010/01/05



Aqui o problema não seria a ministra, que até é uma mulher bonita (não posso falar dela enquanto escritora porque nunca a li nem tenho planos para tal: agora que necessito de óculos selecciono rigorosamente o que leio), ter ou não ter um mestrado. Se o primeiro-ministro pode ter uma licenciatura dada por uma universidade vigarista que acabou fechada compulsivamente, a ministra pode ter um "master" pela Universidade de Boston. Que seguramente é mais recomendável...

Uma coisa é certa: um "master" nem tem qualquer efeito académico nem tal coisa é pretendida por quem o frequenta. Um "master" é um curso de especialidade, normalmente muito restrita, para quem possuiu formação geral, que pode (ou não) ser "superior" (quero dizer formal e academicamente superior mesmo que na realidade seja inferior), numa área determinada. Existem "masters" em Ortodôncia, em Direito Canónico, em Música Antiga. Existem "masters" (conhecidos em Portugal por "seminários" ou "acções de formação", dependendo do valor cultural e da complexidade que lhes seja atribuída) em Tapetes de Arraiolos e em Danças Sevilhanas, mas nenhum desses "masters" tem validade ou função académica: funcionam como "master-classes" e destinam-se a quem pretende aprofundar um campo específico, assumindo que a formação geral foi adquirida anteriormente, ou a quem deles necessite para progredir na carreira profissional. Actualmente os "masters" funcionam essencialmente como post-graduação e duram pelo menos um ano. Os "masters" curtos designam-se por "master-classes" e "seminários" para as coisas "sérias", e "acções de formação" para o resto.

O absurdo em Portugal no que toca aos "masters" em sentido amplo, é que umas "acções de formação" valem outras não (para a acima referida progressão na carreira de algumas classes profissionais) e tudo parece resumir-se à entidade que os promove, podendo-se lançar a suspeita que podem existir interesses comerciais por detrás do reconhecimento das entidades que promovem "acções de formação" aceites para progressão em carreiras profissionais. Fazendo bem as contas, estarão em causa muitos milhões de euros, já que algumas dessas "acções de formação" são pagas pelos interessados ou/e subsidiadas pelo Estado. Eis um caso interessante para os organismos comunitários analisarem pois podemos estar perante uma situação encoberta de monopólio e de impedimento da livre concorrência.

Em alguns "masters" podem-se encontrar todo o tipo de pessoas: alguns percebem tudo, outros nada, mas todos levam o certificado final se assistirem ao número mínimo de sessões. Tanto existem "masters" de uns poucos dias como existem outros de um ou mais anos. Por norma quem frequenta um "master" pretende adquirir conhecimentos, não graus académicos. Alguns frequentam-os somente para meterem aquilo no "curriculum", como complemento dos graus académicos. Outros frequentam-os por curiosidade (tentar perceber "coisas complexas") e ainda outros frequentam-os para passarem o tempo enriquecendo-se culturalmente. Para frequentar um "master" normalmente basta inscrever-se e pagar a "propina". Ha! Ia-me esquecendo... Nos "masters" podem-se encontrar pessoas que ali estão porque pensam que vão adquirir o grau de "mestre".

Em alguns "masters" que podem requerer atenção individualizada pode existir um limite de participantes e, dependendo dos professores, podem existir provas de acesso que poderão ser de um rigor e exigência incrivelmente superiores a qualquer prova de acesso a cursos de doutoramento ou pós-doutoramento na respectiva área (caso dos "masters" em qualquer área musical quando coordenados por grandes artistas que não estão interessados em dar aulas mas gostam de transmitir de quando em vez a sua arte e talento a jovens promissores). Como acima referi, por norma, quem se inscreve num "master" não pretende um diploma ou certificado.

No particular caso aqui tratado o problema seria se a ministra tivesse ultrapassado outros candidatos num concurso para professor do ensino superior, apresentando o "master" que fez em Boston como sendo um mestrado.

O outro problema seria o pobre e triste saloismo luso, pois um "master" converte-se (convertia-se) logo em mestrado (foi feito numa americana, caramba!). Mas o caso pode ser ainda mais patético se tivermos em conta que os decisores que enviaram estes professores para o famoso "mestrado de Boston" (o sr. Valter Lemos também foi) eventualmente não sabiam que um "master" não é, nunca foi e nunca será um mestrado.

A minha prima Ana Luisa foi um dos decisores que mandaram professores do ensino Básico fazer o tal "master" em Boston para poderem ser professores do ensino superior nas futuras ESE's, essa portuguesa absurdidade que a minha prima ajudou a criar. Tanto quanto percebi ela nunca se deu conta que aquilo era um "master" e não mestrado pois sempre me disse que os enviou para Boston para fazerem "mestrados" e não acredito que ela seja portuguesa (ela que nem sequer nasceu em Portugal "continental") ao ponto de me dizer isso somente para se proteger.

Essa minha prima (a irmã dela foi um pouco mais inteligente pois abandonou definitivamente Portugal no ano seguinte a ter vindo viver para este triste lugar), desde que foi demitida (e todos os seus colegas de gabinete incluindo o sub-secretário de Estado que a convidou para integrar o gabinete) pelo actual PR quando era primeiro-ministro, porque hipotecaram - muito justamente pois uma grande instituição de interesse público tem de dar o exemplo - o estádio do FCP devido a dívidas à Segurança Social, decidiu nunca mais colaborar com o Estado português, pediu licença sem vencimento e aceitou um convite para a administração de uma empresa multinacional. Depois disso a sua colaboração com Portugal resumiu-se, durante algum tempo, a dar umas aulas como professora convidada aos alunos de doutoramento no ISEG.

Portanto a confusão entre "master" e mestrado aparentemente aconteceu com os decisores e o real problema são aquelas e aqueles que eram candidatos a leccionar nas famigeradas ESE's (mas que constituem um emprego fabuloso... "professor do ensino superior"!) e que foram prejudicados pelos detentores dos "master".

Nota: como não sou leitor do Diabo não sei a data da peça no topo deste post, peça essa que me foi enviada por e-mail sem data.


O Santo Espírito destruidor de Sobreiros *

O caso Portucale está relacionado com o despacho que declarou a utilidade pública de um projecto para a construção de um empreendimento turístico em Benavente. O documento foi assinado, dias antes das Legislativas de 2005, por Luís Nobre Guedes, então ministro do Ambiente, Carlos Costa Neves, à época ministro da Agricultura, e Telmo Correia, que ocupava o cargo de ministro do Turismo.

O despacho permitiu à Portucale, empresa detida pelo Grupo Espírito Santo (GES), abater 2500 sobreiros na Herdade da Vargem Fresca. Entre os principais arguidos estão Abel Pinheiro, ex-dirigente centrista, e Luís Horta e Costa, administrador do GES. São acusados de tráfico de influências.

A Acusação sustenta que o despacho terá sido assinado a troco de contrapartidas financeiras no valor de um milhão de euros, que terão revertido a favor do CDS-PP. A PJ investigou o depósito desse montante numa conta do partido.

* e o Desbocado