2010/01/08

A Itália dos emigrantes contra os imigrantes

"A situação tem-se degradado. Todos os dias um negro é desancado. Isto não pode continuar assim", disse à AFP o jornalista Gian Antonio Stella, jornalista especializado nos movimentos de Direita e autor do livro "Negros, gays, judeus e companhia". A eterna guerra contra o outro, lançado no início de Dezembro.

Entre os últimos exemplos relevantes, a noite de São Silvestre: um etíope foi espancado no centro de Florença e um egípcio foi agredido aos gritos de "maricas de merda", segundo a organização Arcigay. Alguns dias antes, foi o "Natal Branco" organizado por um autarca da Liga Norte, partido anti-imigrantes e membro da coligação de Direita no poder. A operação visava recensear os estrangeiros de Coccaglio (3000 habitantes) e denunciar os clandestinos à autarquia.

A Liga Norte propôs igualmente reservar carruagens de comboios ou apoios sociais aos italianos. "A Liga decidiu explorar o sentimento de insegurança através da imigração", adiantou Sergio Romano, editorialista do "Corriere della Sera". "Como o primeiro-ministro Silvio Berlusconi tem necessidade do apoio da Liga, ela pode dizer o que quiser."

O chefe da Liga, Umberto Bossi, "qualificou os negros de "Bingo Bongo" várias vezes", adiantou Stella, referindo-se a um filme de 1982 em que Adriano Celentano interpretava um homem-macaco. "No estrangeiro, seria uma coisa impensável. Nenhum ministro francês, inglês ou alemão se permitiria falar assim porque esses países reflectiram sobre o seu passado, o que os italianos ainda não fizeram", adiantou ele, numa alusão às leis raciais de Benito Mussolini.

A Liga, por outro lado, defende-se de qualquer acusação de racismo: "Não somos racistas, de todo. Estamos de tal forma à margem desta problemática que não temos necessidade de falar dela", disse à AFP Nicoletta Maggi, porta-voz de Bossi.

Bernardino de Rubeis, autarca de Lampedusa, a pequena ilha perto da costa do Norte de África onde desembarcam regularmente imigrantes clandestinos, está também a ser julgado por declarações publicadas em 2008 no "La Repubblica": "Eu não quero ser racista, mas a cadeira dos pretos cheira mal mesmo se for lavada." Para Piero Soldini, responsável pela área de imigração no Cgil, o maior sindicato italiano, tudo isto está relacionado com "o racismo institucional e a banalização dos propósitos racistas" que, adiantou, "produzem um racismo popular e tolerado no seio da sociedade".

Nos estádios de futebol, depois de gritos de macaco dirigidos aos jogadores negros, os apoiantes da Juventus chamaram "preto de merda" ao atacante do Inter de Milão Mário Balotelli, italiano de origem ganesa. Há também dezenas de ofertas de casa com carácter xenófobo que são todos os dias publicadas na imprensa: "Nem animais, nem estrangeiros" ou "Só italianos, chineses não". Um primeiro processo contra o jornal de pequenos anúncios Porta Portese, que publicou avisos em que eram excluídas as "pessoas de cor", foi já instaurado pelo comité nacional contra a discriminação. publico.pt, 08.01.2010, 09:34

Nota: quantas dezenas de milhares de emigrantes italianos abandonam Itália cada ano com destino a Inglaterra e outros países da UE onde exercem tarefas como empregados de balcão ou nas cozinhas dos restaurantes? Certamente muitas dezenas de milhar mas os italianos parecem esquecer-se disso e de que poucas décadas atrás passavam literalmente fome e tiveram que fugir para os países ricos que os acolheram. E continuam a fugir, agora legalmente dado que fazem parte da UE. O que seria de Itália se a Inglaterra e a Alemanha recambiassem todos os imigrantes italianos sem residência oficial naqueles países que só não são ilegais devido à livre circulação de pessoas e bens na UE? Os italianos têm um cérebro pequeno e uma memória correspondente ao cérebro que têm.

Os países que recebem imigrantes sem lhes proporcionar o mínimo de condições, servindo-se deles unicamente como mão de obra barata, deviam ser fortemente penalizados e eventualmente suspensos da UE. Os empresários que se servem destes imigrantes para potenciar os lucros deviam ser condenados a penas de prisão efectiva.

Por outro lado a lenga-lenga politicamente correcta da "tradicional tolerância da religião muçulmana" infelizmente parece estar a falhar: um cristão copta foi morto no Egipto e outros cristãos atacados na Malásia. Estes actos que (seguramente) não refletem nem a vontade nem o pensamento da maioria dos muçulmanos deveriam ter sido prevenidos e evitados pelos respectivos Estados e pelos responsáveis religiosos. Algo parece estar a correr (muito) mal.


A bem não vai (1) *

O Dr. Vera Jardim, presidente da Comissão Parlamentar Contra a Corrupção, tem sobre os seus ombros uma enorme responsabilidade.

Em 180 dias tem de apresentar propostas de combate efectivo a este fenómeno que infecta de forma profunda todos os sectores da administração pública.

O conselho que aqui lhe deixo é que não perca muito tempo em diagnósticos.

Os sectores onde a corrupção mais se faz sentir estão identificados: o urbanismo nas câmaras municipais, o ordenamento do território, as obras públicas, a contratação por parte da administração pública e do sector empresarial do estado, a defesa e a segurança.

As causas da corrupção são também conhecidas: leis e regulamentos imperceptíveis, com muitas regras, para que os cidadãos não as percebam; muitas excepções, para favorecer os amigos e que permitem um enorme poder discricionário a quem as aplica, esta a principal fonte de corrupção.

E, claro, o estado comatoso em que se encontra o aparelho de justiça, que precisa urgentemente de um novo modelo de organização, que traga esta justiça medieval para os tempos modernos em que vivemos.

Feito o diagnóstico, venha pois a terapêutica. Mas não esqueça, Dr. Vera Jardim que para debelar o problema da corrupção em Portugal, não chegam suaves tratamentos. Nesta matéria, Portugal precisa duma intervenção, duma cirurgia profunda.


A bem não vai (2)

Também isto tem de ser resolvido rapidamente e a mal.


* Alucinante Portuguesa Justiça

Ministério tem 850 milhões de euros em 12 contas bancárias ilegais na Caixa Geral de Depósitos. Há milhões de euros por explicar nas contas. Ministro nomeou novos gestores

As burlas também acontecem na Justiça. O Instituto de Gestão Financeira e de Infra-estruturas da Justiça (IGFIJ), que gere os dinheiros daquele ministério, passou nove cheques para pagamentos de serviços que não chegaram aos destinatários. Alguém os interceptou, falsificou, aumentando-lhes o valor, e levantou na Caixa Geral de Depósitos (CGD), sendo a entidade pública burlada no montante de 744 424, 84 euros.

Mas há mais. Quase 90% dos saldos bancários do IGFIJ, na ordem dos 850 milhões de euros, estão depositados em 12 contas ilegais abertas naquele banco público. Nalgumas delas, o instituto nem sequer sabe o montante que lá se encontra, tendo realizado, inclusive, pagamentos sem que agora exista documentação de suporte e muitos outros movimentos bancários para os quais não há explicação. São milhões de euros ao deus-dará que não se sabe donde vêm nem para onde vão.

Tudo isto consta de uma auditoria da Inspecção-Geral dos Serviços de Justiça (IGSJ), cujo relatório o DN teve acesso, que arrasa a contabilidade daquele organismo. Os gestores já foram mudados pelo ministro da tutela, Alberto Martins, que impôs 60 dias aos novos para apresentarem propostas de rectificação. O Tribunal de Contas, por seu lado, já iniciou ali uma nova auditoria.

O relatório IGSJ foi apresentado ao anterior titular da pasta, Alberto Costa, que o meteu na gaveta. O ministro seguinte, Alberto Martins, recuperou-o e mudou de imediato a equipa do IGFIJ.

A primeira grande chamada de atenção da IGSJ é para o facto de o IGFIJ manter na CGD, de forma ilegal, 12 contas bancárias, cujos saldos ascendem a 850 milhões de euros. Segundo o relatório, tal prática viola o princípio da Unidade de Tesouraria do Estado consagrado no Decreto-Lei n.º 191/99, de 6 de Junho, esclarecendo que as contas deveriam estar no Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público. Assim, o IGFIJ entendeu que os juros auferidos na CGD constituíam receitas próprias. Por isso, " nunca efectuou a respectiva entrega ao Estado", violando igualmente a lei, refere ainda o relatório. Por exemplo, os juros auferidos em 2007 ascenderam a 24 milhões de euros.

Também grave, para o IGSJ, é facto de o instituto não saber, sequer, quanto dinheiro tem disperso na CGD relativo a depósitos obrigatórios dos utentes da Justiça, quando pagam taxas, por exemplo. A Lei Orçamento do Estado para 2009 impôs que esses depósitos fossem transferidos no prazo de 30 dias para a conta do instituto. Mas a entidade bancária ainda não o fez alegando não ter os montantes apurados.

Mas há mais. Nas contas 625939330 e 601445530 surgem movimentados 7,2 milhões de euros sem explicação. "Tanto poderá tratar-se de pagamentos sem o correspondente registo contabilístico como de recebimentos registados contabilisticamente cuja entrada na conta não se efectuou", diz o relatório.

Há ainda outros exemplos. Em pelo menos quatro contas não foram efectuados os respectivos registos contabilísticos relativos a toda a receita extra-orçamental cobrada pelos instituto nos meses de Maio a Setembro de 2008. Só no mês de Setembro daquele ano tais receitas ascenderam a 43 milhões de euros.

"Ninguém supervisiona as reconciliações bancárias", diz a IGSJ. Em várias contas há diferenças nas reconciliações por explicar que rondam os 11 milhões de euros. No caso dos nove cheques falsificados, o IGFIJ nem tinha noção do que se estava a passar. Foi a polícia que alertou.

Alberto Martins homologou este relatório a 21 de Dezembro.


Português futebol

Os portistas têm razões de sobra para desconfiar. Bem recentemente, o caso do Apito Dourado, envolvendo Pinto da Costa, foi o que foi. Na justiça comum, o presidente portista está livre e sem que se tenham provado as acusações. A justiça desportiva ainda anda às voltas. Como há dias escrevia Miguel Sousa Tavares em "A Bola", "é uma chatice que a justiça comum tarde em render-se à campanha de moralização do futebol português, tão exemplarmente encabeçada pelo exemplar Sr. Vieira". JLP, jn.sapo.pt, 10 Janeiro 2010

Nota: quem é este personagem (sr. Vieira)? Como surgiu na vida pública? Qual o seu passado? Como se tornou rico?