No terramoto de 2005 no Paquistão, foram os helicópteros militares americanos do Afeganistão a chegar onde mais ninguém chegava. As escaramuças diplomáticas que os jornais noticiaram sobre as reacções francesas ou brasileiras à "ocupação" americana acabaram por tornar-se ridículas. Transformam-se, aliás, no seu contrário. Nicolas Sarkozy já fez saber que é perfeita a coordenação entre ele e o Presidente Obama. A imprensa brasileira faz-se eco das conversas entre Lula e o seu homólogo americano. "A Casa Branca respeita o que o Brasil está a fazer no Haiti."
2. Mais triste ainda do que estas guerras de protagonismo é o papel da União Europeia. Agiu tarde, mal, e em ordem dispersa. Num domínio em que gosta de se apresentar como exemplar.
Enquanto os americanos "desembarcavam" no Haiti, a França propunha... uma conferência internacional. Enquanto o rosto de Hillary Clinton enchia os ecrãs das televisões em Port-au-Prince, Catherine Ashton desaparecia das vistas. Enquanto o Presidente Obama mobilizava Bill Clinton e George W. Bush para coordenar os esforços do seu país, o presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, descobria que o que faltava à União Europeia era uma "força humanitária de reacção rápida".
Ashon partiu ontem finalmente para Nova Iorque e Washington para coordenar a ajuda com a sua homóloga americana e com a ONU. Defendeu-se das acusações, lembrando que não era "nem médica nem bombeira" e que não se tratava de uma corrida de protagonismo. Pode ser verdade. Não é assim que hoje as coisas funcionam.
A União teima em provar que não existe. Mal refeita da humilhação de Copenhaga, o Haiti apenas veio lembrar-nos como não conseguiu aprender a lição. Por Teresa de Sousa, publico.pt, 21.01.2010 - 08:37