«Que os Estados Unidos não venham dizer-nos com que países devemos ou não relacionar-nos», advertiu Evo Morales na Assembleia Legislativa Plurinacional da Paz, antigo Congresso Nacional, após dizer que pretende, no entanto, manter também boas relações com o governo de Barack Obama.
Fiel à sua posição anti-imperialista, Morales deu outras alfinetadas nos EUA, recordando ter sido expulso do Congresso Nacional em 2002 por ordem da embaixada norte-americana e assegurando que, durante a sua gestão, a luta contra o narcotráfico teve mais êxito do que quando a agência anti-droga dos EUA (DEA) operava na Bolívia.
No final de 2008, a DEA e o então embaixador dos Estados Unidos, Philip Goldberg, foram expulsos da Bolívia, acusados de participarem numa conspiração para desestabilizar o governo de Morales, o que lesou as relações entre os dois países.
Relativamente ao vizinho Chile, Morales disse esperar que o novo governo de Sebastián Piñera respeite o diálogo aberto em 2006 com a presidente Michelle Bachelet com base numa agenda de 13 pontos.
Ao longo de duas horas, o presidente evocou verbas, metas e percentagens para ilustrar o que classificou de «recordes históricos» da sua anterior gestão em áreas como saúde, educação, emprego, energia e macroeconomia.
Quanto aos objectivos para o novo mandato (2010-2015), o chefe de Estado boliviano referiu a necessidade de «uma revolução profunda no poder judicial», a industrialização de recursos naturais como o gás e o lítio, a articulação territorial do país através das comunicações e o acesso de toda a população aos serviços básicos.
Evo Morales revelou também que a Bolívia tem 13 milhões de hectares para distribuir pelos emigrantes que queiram regressar ao país para trabalhar na agricultura e entre os camponeses e indígenas sem terra.
O presidente reeleito adiantou que, este ano, começará igualmente a ser aplicado um plano para repatriar famílias bolivianas residentes na Argentina e no Chile, as quais deverão também dedicar-se a cultivar a terra.
A iniciativa insere-se na «reforma agrária» boliviana, ao abrigo da qual o governo tem averiguado se os detentores de terras cumprem a Função Económica Social estabelecida nas leis do país e que tem suscitado acusações de «perseguição política» a alguns empresários.
Morales fez o juramento do seu cargo com o punho esquerdo erguido e a mão direita sobre o coração, sinal que identifica o seu partido, Movimento ao Socialismo (MAS), perante os chefes de Estado da Venezuela, Equador, Chile e Paraguai e o herdeiro da coroa espanhola, o príncipe Felipe de Borbón, entre outros convidados.
Na Praça Murillo, onde fica a Assembleia Legislativa, concentraram-se milhares de seguidores de Morales, entre os quais indígenas de vários pontos da Bolívia, que acolheram com júbilo o novo mandato do presidente. Sol.pt, 22 janeiro
Nota: Morales deve aproveitar para dialogar com os EUA agora, porque devido à "natureza do povo americano", Obama, ou outro parecido, não vai continuar a presidir os EUA ad aeternum.