Para nos ajudar a compreender o que de facto está implicado no processo de construção do TGV contactei o Engº Luís Mira Amaral, no seguimento de um artigo que ele escreveu sobre o tema publicado no semanário no qual regularmente colabora como colunista, manifestando-lhe a opinião de que o artigo foi expresso numa linguagem mais apropriada para especialistas. Posteriormente coloquei-lhe algumas questões. O Engº Luís Mira Amaral é das pessoas que em Portugal melhor nos pode elucidar sobre a temática do TGV (entre muitas outras). Aqui fica a resposta que gentilmente nos enviou e que agradecemos:
A minha coluna no Expresso só tem 2 000 caracteres, e como tal, os meus textos têm de ser fortemente compactados. Por isso admito que, apesar de usar uma linguagem simples, nem sempre ela seja acessível ao grande público não especializado nos temas que trato.
Não tenho na imprensa o espaço normalmente disponível para a classe política, certamente porque esta trata de assuntos mais importantes…
Tentando responder às suas questões:
- Tem razão. Dizer que o TGV Lx-Madrid é que nos permite ligar à Europa é demagogia…
- Quando falo de bitola europeia, é aquela que também vai ser usada em Espanha e na Europa, França inclusive. Portanto, se tivermos a bitola europeia, as nossas mercadorias passarão de Espanha para França e para a Europa usando sempre linhas com a mesma bitola.
- Quanto falo de linhas mistas, tal significa utilizar as mesmas linhas para os comboios de passageiros e para os comboios de mercadorias, comboios de passageiros circulando a 200Km/h ou mais, e comboios de mercadorias a 100-150Km/h
Não faz qualquer sentido transportar mercadorias a 350Km/h. Tal significaria energias cinéticas brutais devido às toneladas de mercadorias a transportar a velocidades elevadas, o que implicaria custos elevadíssimos de reforço de estrutura das linhas, custos esses que são economicamente incomportáveis.
As mercadorias não precisam de circular a 350Km/h ! Basta que se garanta os tempos de entrega e que a gestão do embarque e do desembarque, bem como as transferências entre os modos rodo e portuário com o modo ferroviário (gestão intermodal) sejam rápidos e eficientes!
- Não haverá pois TGV de mercadorias, mas sim comboios de mercadorias utilizando as linhas de alta velocidade quando nestas não circulam comboios de passageiros!
No TGV, a indústria portuguesa irá aproveitar pouco. Em comboios de velocidade menor e nos comboios de mercadorias, a componente industrial nacional poderá ser maior.
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Luís Mira Amaral