2007/07/18

Romeo & Julieta

A aposta de Oskaras Korsunovas (Lituânia) em encenar um clássico, já trabalhado de (quase) todas as formas e feitios, numa pizzaria, duas para ser mais preciso, que nem sequer são tipicamente italianas (e ainda bem), poderia resvalar para um caricato "dejá-vu". Na verdade por aí andou frequentemente, e o final tombou no lugar comum devido ao último movimento de caída dos amantes. Bastaria mantê-los na posição em que se encontravam, a rodar na máquina de amassar (a massa para as pizzas...), que de resto foi inteligentemente utilizada ao longo de todo o trabalho, e criar-se-ia um efeito de perenidade. O movimento de caída dos corpos, já mortos (ainda que este facto não tenha relevância), foi trivial e desnecessário. Estúpida banalidade de um gesto que significa "fim", e desencadeia o início das ovações... A trivialidade atravessou toda a criação, num movimento pendular entre riso e emoção (sem que o riso seja sempre e necessariamente trivial, e sabendo que o mesmo expressa emoções). No entanto, esta oscilação foi seguramente vista e revista pelo criador, sendo o resultado global não só inovador, como tem momentos de uma força dramática incomum, sobretudo se pensarmos que estamos a tratar de duas famílias burguesas, proprietárias de pizzarias, aparecendo, não se sabe como, um conde que quer desposar a plebeia Julieta. Talvez necessitasse do dote... Ou talvez a Julieta o atraísse (muito) especialmente. De facto havia um rolo de massa metido num dos bolsos dianteiros das calças do conde que nos remetia deliberada e ostentatoriamente para a simbologia fálica, que dominou toda a peça até à iminência da morte dos amantes, que surge como uma castração radical. Castração do prazer, da vida, da arte, de tudo. O "caso" entre a ama e o frade não pode deixar de nos remeter para a leitura que Peter Sellars fez na encenação de Don Giovanni, de Mozart, e que Zizec referiu em "Goza o teu Sintoma" (que é o sub-título da obra em causa mas que, para mim, é o que possui "significância"). Mas tudo isto são "quase-minudências"... As luzes, de Eugenijus Sabaliauskas, transformaram as pizzarias, primeiro em espaço de luta, depois em igreja e finalmente em tumba, com uma improvável eficácia plástica para um cenário imutável (levantaram-se as mesas, na cena final, para criar uma área delimitada, que foi o espaço onde aconteceu a morte dos amantes). O mecanismo de relógio, que aparecia esplendorosamente iluminado e activado durante as cenas entre os amantes, funcionou como potente simbolismo. O incrível texto de Julieta, re-criado com base na obra do inglês, foi um dos elementos que introduziram elevada "poiésis" nesta produção. A branca farinha esteve associada à morte, substituindo-se ao vermelho do sangue e ao veneno que conduz à morte, o que foi absolutamente eficaz, ou não funcionasse o branco como um símbolo, directo, da palidez da morte. A ideia de, no funeral de Julieta, serem grandes talheres a fazer de oferendas, em vez das tradicionais flores, foi brilhante, e a cena seguinte, com Romeu a rebolar-se, desesperado de morte (desesperado para a morte...), em cima das metálicas oferendas, foi outro momento conseguido. A convicção e desempenho dos actores foi um factor fundamental, mas, a parte sonora, de Antas Jasenka, foi (com o fantástico desenho de luzes) um dos "elementos primordiais" (o compositor partiu, em determinadas contextos, dos ruídos previsíveis, repetindo-os em "loops", criando, desta maneira, contextos de abstracto simbolismo; utilizou, em outras situações, sons electrónicos que conseguiam efeitos de um suspense antecipatório das sucessivas tragédias; nos momentos de hilariante euforia foi utilizada música popular, trespassada de uma sub-reptícia ironia, que fez lembrar os "scherzos" em ritmo ternário acelerado nas sinfonias de Shostakovitch - com as devidas distâncias - que impediu a queda no trivial; nas cenas dos amantes foi feita música com um "efeito etéreo" que não caíu no "cliché do costume") que fez desta re-criação da célebre tragédia, na minha opinião, a mais relevante (e interessante) da actualidade, que muito provavelmente ficará entre as mais marcantes baseadas no "Romeu e Julieta" de Shakespeare. Foi possivel vê-la em Lisboa, no Mite'07, que decorre no Teatro Nacional D. Maria II. AST



Tristes números

E é muito difícil acreditar em programas de reconversão do perfil económico da nação, como o Plano Tecnológico, quando um em cada quatro estudantes tem nota 1 nos exames de Matemática do 9º ano, em que apenas um em cada quatro alunos consegue passar. in Diário Económico, 17 de Julho, 2007, pag 36



Martírio diário

... este é o pior governo para a área educativa não superior de que guardo memória.
...
Tudo o que seria importante para promover a qualidade do sistema de ensino ou não foi realizado ou foi objecto de medidas que degradaram ainda mais o que já era mau.
...
Aumentou o facilitismo e a idiotização do ensino.
...
Promoveu-se o clientelismo e premiou-se a delação e o servilismo.
...
Mudou-se a legislação disciplinar, mas continua a ser mais fácil falsificar uma nota de 50 que actuar com eficácia sobre os pequenos delinquentes, que tornam a vida dos colegas e dos professores um martírio diário. Santana Castilho in Público, 19 Julho, 2007, pag 42



(in)Disciplina

João Dotti, vice-presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP)... considera, por exemplo, que a mão-de-obra mais jovem é pouco responsável perante o trabalho e "tem problemas de disciplina" in Diário Económico, 20 de Julho, 2007, pag 10



Mais formação e qualificações certas

Para Paula Carvalho, economista do banco BPI, "este ciclo vicioso só se vai quebrar quando a população activa tiver mais formação e qualificações certas, o que leva tempo"...
Quando a qualidade dos negócios fôr superior "as empresas vão querer segurar os empregados mais qualificados e investir mais nas pessoas, privilegiando vínculos laborais mais duradouros", juntou. idem



Pedagogia portuguesa

E o que se passa nos bastidores é horrendo. Sob a retórica igualitária, que pulula nesses círculos, sob os discursos dos pedagogos que dizem ser preciso valorizar os "saberes" que os alunos trazem de casa, sob a máscara de uma escola para todos, estamos a destruir o futuro das crianças mais pobres. Maria Filomena Mónica in Meia Hora, 6 de Julho de 2007, pag 4



Portugal tem dos piores gestores do mundo

O aumento da qualidade de gestão nas empresas é fundamental para melhorar a produtividade e competitividade do país.
...
De acordo com um estudo realizado junto de quatro mil empresas, nos EUA, Ásia e Europa, pela Mckinsey, as empresas nacionais ficam sempre nos últimos lugares das tabelas classificativas. in Diário Económico, 16 de Julho, 2007, pag 8



Gestão é um reflexo do próprio país
...
O empresário considera que o défice educativo é um dos grandes problemas das empresas, que lhes diminui a capacidade de competir e de inovar. idem



Sine Qua Non

A imprensa escrita livre é a base da nossa sociedade democrática e os governos não devem intervir na regulação da imprensa escrita. É uma regra sine qua non. Viviane Reding, Comissária Europeia para os "media", citada in Diário Económico, 18 de Julho, 2007, pag 38

Nota: a comissária estava, concerteza, a referir-se a todos os "media" e não exclusivamente à "imprensa escrita".



Frases divertidas

Santana Lopes - alguém que, em lugar de "andar por aí", devia antes "desandar daqui"

CDS de Paulo Portas, cada vez mais um partido em riscos de nem um táxi encher no futuro... in Público, 18 Julho, 2007, pag 42














2007/07/01

IVANOVO DETSVO

A Infância de Ivan, de 1962, é o segundo filme de Andrei Tarkovsky. Trata-se de uma obra onde a estética peculiar do grande artista se afirma desde o primeiro instante. O filme trata a heroicidade de um orfão, adolescente, que se sacrifica no combate contra o exército nazi, mas é sobretudo uma obra de cariz "esteticizante", onde a plasmação da imagem em prolongadas sequências estabelece, consistentemente, a semiologia e a sensibilidade de Tarkovski que, anos depois, irá realizar o seu terceiro filme, que é uma obra prima essencial do cinema e da arte: Andrei Rubliov (1966). É "curioso" que o protagonista do grande "quadro" final de Andrei Rubliov, a fundição do grande sino, é igualmente um adolescente, orfão, que assume um empreendimento que a ser mal sucedido lhe custaria a vida. É "curiosa" a persistência da água que pinga em ambientes degradados, criando-se aqui o paradoxo do símbolo decaído da purificação, que vai atravessar toda a criação tarkovskiana. As cenas com cavalos, símbolo da virilidade e da mudança, em A Infância de Ivan, são uma sequência onírica trespassada por uma positividade que não permanecerá nos filmes seguintes, onde os cavalos surgem associados à guerra e, numa sequência de um outro filme, aparecem caídos. As cenas oníricas, em A Infância de Ivan, são "momentos chave" que pontuam, suspendendo e subvertendo, o tempo da narrativa. Muito sintomática a auto-interrogação do camponês com quem Ivan se cruza na sua fuga à tranquilidade e segurança que lhe querem impôr: quando é que isto terá um fim? É uma interrogação enigmática pois não sabemos se o "isto" é aquela guerra específica, ou é aquela guerra como mais um episódio de uma história sangrenta. A cena é toda ela surrealista, finalizando com o idoso a trancar a porta de uma casa completamente destruída e sem paredes... Não teremos aqui uma súbtil metáfora da Rússia? O péssimismo e a angustia gerada pela história russa, aqui, em meu entender, apenas aflorados, serão o "leit-motiv" de todos os filmes de Tarkovski. O grande cineasta não chegou a conhecer a Rússia actual, que é muito pior que aquilo que se poderia deduzir da negatividade que paira na sua ficção esteticizada. A Cinemateca Portuguesa fez a primeira projecção em Portugal de A Infância de Ivan, no dia 30 de Junho de 2007. Deveria re-apresentar com maior regularidade as obras do grande génio, prematuramente desaparecido, que são oito criações incontornáveis da história do cinema e da arte. Tratam-se de paradigmas de uma determinada maneira de pensar, e sentir, os actos de filmar e montar, paradigmas que são vitais para a formação de todos os artistas e para a educação da sensibilidade de todos os cidadãos. AST




Terror na Rússia

O senhor (Putin) comprovou ser tão bárbaro e desumano como os seus críticos mais ferozes o descrevem. Alexander Litvinenko, Londres, 21 de Novembro de 2006 in Terror na Rússia, Porto Editora, 2007

Desde então, várias pessoas que nos tinham ajudado foram mortas. Yuri Felshtinsky, idem




Putin

In July he (Alexander Litvinenko) claimed...that the President (Vladimir Putin) was a habitual pedophile...also contented that Putin had been on the take from Mafia groups for years... in Time-Europe, December 18, 2006, pag 26





Bestas nazis

É que os nazis roubaram e destruiram tanto no Ocidente como nos países de Leste, como no caso da Rússia, onde terão destruído e saqueado mais de 300 mil peças. É gigantesco. Às vezes, quando estava a fazer investigação, tudo isto me parecia ficção científica. Héctor Feliciano, autor de "O Museu Desaparecido", in Focus, 4 de Julho de 2007, destacável, pag 75





Corrupção

A corrupção (em Portugal) existe e está a agravar-se. João Cravinho in Focus - Portugal, nº 402, pag 20




Little country - big deals

A Polícia Judiciária (PJ) está a investigar o rasto de cerca de 24 milhões de euros que o consórcio alemão GSC, com o qual o Estado português contratualizou a compra de dois submarinos em 2004, transferiu para a Escom UK, empresa do Grupo Espírito Santo (GES) sedeada no Reino Unido. O inquérito procura apurar se existe alguma relação entre o destino final desse dinheiro e o resultado do controverso concurso público dos navios de guerra submergíveis. Este foi ganho pelos alemães do "Germain Submarine Consortium", que propuseram a venda dos dois submarinos por 845 milhões de euros e comprometeram- -se a proporcionar negócios para empresas portuguesas no valor de 1,2 mil milhões de euros (as chamadas contrapartidas).

A investigação foi despoletado por conversas telefónicas, alegadamente interceptadas pela PJ, entre o ex-ministro da Defesa Nacional, Paulo Portas, e o ex-director financeiro do CDS-PP, Abel Pinheiro, no âmbito do inquérito-crime "Portucale". O Ministério Público ordenou a separação processual, abrindo então um novo inquérito para os submarinos.

Fonte ligada ao processo disse que a Escom do Reino Unido (o GES tem outras empresas com o mesmo nome sedeadas nas Ilhas Virgens Britânicas e em Portugal) poderá ter transferido parte dos 24 milhões de euros para escritórios de advogados, empresas ligadas a tecnologias de ponta e à investigação, ao ramo automóvel e ao sector da construção civil.

A transferência das verbas para estas empresas é justificada com a prestação de serviços ligados ao contrato de fornecimento dos submarinos, mas, em vários casos, a PJ suspeita de que isso não corresponderá à verdade. Procura apurar, por isso, se se trata de serviços simulados e se, na realidade, aquelas transferências de verbas não estarão relacionadas com a vitória do GSC, em 2003, no referido concurso público internacional. in http://jn.sapo.pt (2007/07/08/nacional)














2007/06/19

O genocídio às nossas portas

Before she died, Heshu wrote this letter: "Me and you will probably never understand each other, but I'm sorry I wasn't what you wanted, but there's some things you can't change. Hey, for an older man you sure have a strong punch and kick. I hope you enjoyed testing your strength on me. It was fun being a 16-year-old at the receiving end. Well done."

in The Independent, 13 June 2007, pag 33

Descobriu-se que o grosso dos suicídios entre as jovens asiáticas (os britânicos incluem nesta designação as jovens procedentes do médio-oriente...) que residem no Reino Unido é um suicídio imposto pela família, devido a "questões de honra". É imprescindível que seja feito um estudo sobre as jovens das mesmas comunidades a residir nos outros países da UE, nomeadamente na Alemanha, Holanda e Bélgica. Agora sabe-se (na verdade as autoridades do "reino" já o sabiam há muito) que quando uma jovem "asiática" desaparece, no Reino Unido, e a familia diz que foi "para fora", provavelmente foi assassinada, ou obrigada a praticar um "suicídio assistido". Tudo por "questões de honra". Essas "questões de honra" prendem-se normalmente com a recusa em submeterem-se a "casamentos arranjados", por escolherem parceiros que as familias não aprovam ou por se afastarem do estilo de vida "devido". Os números em Inglaterra são assustadores. No resto da Europa são simplesmente desconhecidos. Quando a Europa assistiu, com ténues protestos, à re-habilitação da pena de morte no Iraque para enforcar Sadam, mas ao mesmo tempo ignora dentro de portas o genocídio das jovens que ousam contrariar as tradições das suas comunidades de origem, com as quais frequentemente não se identificam, questiono-me se (a "Europa") faz algum sentido. A mesma Europa que ignora este genocídio atroz, inaceitável e brutal, é a mesma Europa que manda milhões de euros para países estruturalmente corruptos, como a Roménia e a Bulgária*, que agora fazem parte da UE, muitos milhões de euros que irão, evidentemente, repousar nas contas dos mafiosos que controlam aquelas economias, e reforçar os esquemas de corrupção que dominam completamente aqueles países, sufocando os seus cidadãos e produzindo desigualdades que só encontram paralelo no hipocritamente já não chamado "terceiro-mundo". Será que os orgãos da UE desconhecem que no que toca à Roménia, por exemplo, "consta" que para qualquer projecto de envergadura ver futuro é necessário que os investidores acrescentem mais 17% em relação ao investimento total previsto? A ser verdade, será que a UE desconhece este facto, o que é incompetência manifesta, será que a UE institucionaliza a corrupção, fechando os olhos, ou será que a UE fechou ou vai fechar a "torneira" até o estado de coisas se alterar (se se alterar...)? Pelo passado podemos extrapolar que a "torneira" continuará a jorrar... Adiante. Yasmin Alibhai-Brown, no artigo acima citado, propõe que os assassinos por "questões de honra" sejam condenados a penas mais longas. Outros e outras falam na re-habilitação da pena de morte no Reino Unido: argumentam que se o Reino Unido permitiu, e apoiou, essa re-habilitação no Iraque, com maior grau de razão a deve re-habilitar dentro de portas, nomeadamente para a aplicar a estes "patriarcas" horrorosos, e seus cúmplices, que por supostas "questões de honra" não hesitam em pôr termo à vida de jovens dignas e corajosas que, contra os proclamados hábitos das suas comunidades de origem, preferem a morte à submissão a maridos asquerosos e violentos. Claro que o "reino" deixa a pena de morte para os outros. O "reino" auto-considera-se o exemplo acabado da "civilização ocidental" e portanto não pratica barbaridades... Mas a história demonstra que as grandes barbaridades humanas só foram estancadas com outras barbaridades, as guerras, por exemplo. De resto, os que estudamos um pouco sobre o assunto sabemo-lo muito bem, da mesma maneira que um "serial-killer" só hipocritamente se arrepende, também algumas formas de crença, nomeadamente a crença na sacralidade da tradição, podem ser irreversíveis, sendo o eventual arrependimento um "arrependimento" oportunista e hipócrita. Fundamentalmente não devemos esquecer as jovens assassinadas: são heroínas e exemplos de integridade, que não foram devidamente protegidas pelo "reino" e pela "Europa". O "reino" e a "Europa" devem tomar medidas, rápidas e eficazes, para pôr um travão, definitivo, aos matadores. Um dia os cidadãos ("europeus", porque os do "reino" estarão, como habitualmente acontece, ocupados com a raínha, os herdeiros e os pequenos escândalos entre celebridades que diariamente preenchem os jornais mais lidos pelos muito cultivados súbditos de "sua magestade") irão cansar-se de tanto crime, evitável, se fosse feito tudo o que deve, e pode, ser posto em prática para os parar. AST


* Se, como entre os "eurocratas" se pretende, todas as polícias da UE tiverem acesso às bases de dados umas das outras, nomeadamente às dos registos das licenças de condução, significa que os mafiosos romenos e búlgaros ficarão na posse desses dados. Toda a gente sabe que a máfia desses países está bem presente nas respectivas polícias, tribunais, "poder local" e até nos governos. O Reino Unido, porque se trata da segurança dos ingleses, já disse que esse assunto está completamente fora de questão. Se não tomar medidas "radicais", o que não é provável (...), a UE está condenada a abrigar as máfias, e outros criminosos, que nasceram ou residem nos países que actualmente a integram. Foi sem dúvida um alargamento "histórico", que augura um futuro brilhante para a UE. Já agora metam-se a Turquia e a Albânia, e teremos a "família", com os respectivos "padrinhos", completa. Seria muito interessante, antes de se imaginarem sequer novos alargamentos, fazer-se um estudo, sério e exaustivo, sobre o estado da corrupção, tanto entre os "novos", como entre os "velhos" membros da UE. É que da Roménia e da Bulgária todos sabem e todos comentam. E na Hungria, por exemplo? Já acabaram com os mafiosos e os proxenetas, que andam sempre muito ligados? E qual a situação exacta de um membro "sénior", como Portugal? Quais os tipos, localização e profundidade, das formas de corrupção actuais? Não vá o velho Portugal ser também estruturalmente corrupto, ainda que num registo mais elaborado e "soft", se comparado com a corrupção "crua e dura" que acontece na Roménia e Bulgária... E as liberdades? Como estamos de liberdades na velhinha Lusitânia de tradição autoritária?


Nota: depois de investir milhões num determinado país, a UE não deve, e não vai, simplesmente expulsa-lo ao verificar a incapacidade do mesmo para atingir "metas básicas" como a total eliminação da corrupção e a plena efectividade das liberdades e direitos fundamentais (aqueles que a existência de corrupção e máfias impedem de se efectivarem) para os seus cidadãos. Se um país não tem capacidade para levar por diante essa tarefa, apesar dos milhões de ajudas, terá de ser a própria UE a encarregar-se dela. É possivel que hajam países no seio da união que não o consigam. Nesse caso, a UE deve sentir-se absolutamente responsável para concretizar esse objectivo fundamental. Quem aceita receber milhões e sabe que não os vai poder devolver, está, implícita e explicitamente, a fazer um contrato com quem lhe "oferece" o "maná". Acredito que para os cidadãos honestos desses países seria uma excelente notícia se a UE decidisse encarregar-se dos seus destinos, subtraindo-os ao despotismo dos corruptos nacionais.







Velha Europa

Primeira-dama italiana é atropelada à porta do palácio

Clio Napolitano, de 72 anos, foi atropelada numa passadeira em frente ao Quirinale, por uma condutora de 74 anos... in http://sol.sapo.pt (6a-feira, 29 Junho)



Portugal...

Em Portugal, no ano de 2006, foram mortas pelos namorados e maridos 39 mulheres. in Focus - Portugal, nº400



Cultura

Treze milhões de italianos foram ao teatro em 2006, cifra superior, pela primeira vez nos últimos anos, aos 12,7 milhões que assistiram a acontecimentos desportivos. in Meia Hora, 26 de Junho de 2007



Embuste total

Esses cursos *, se o Ministério quer poupar, devem ser encerrados de imediato!!! Qualquer aluno com um mediano 5º grau de um Conservatório (vamos chamar assim para que todos compreendam), o equivalente a um 9.º ano, sabe mais do que qualquer licenciado nos Escolas Superiores de Educação se nunca recorreram a instituições onde possam aprender música!
É o embuste total! Cursos cheios de pedagogia, mas sem um mínimo de curricular de música não conferindo qualquer competência, nem como professor e muito menos como músico! in http://ideias-soltas.net/2007/06/12/ensino-artistico-a-caminho-de-uma-peticao/#comments

* ministrados nas Escolas Superiores de Educação



Imensas coisas!

... defendeu uma pedagogia “próxima do brincar, actividade em que a criança aprende imensas coisas”, que tem por base a teoria do lazer: descansar, divertir e desenvolver.
...
Isto só pode ser brincadeira! Continuo, francamente, sem perceber para que servem estas Escolas Superiores de Educação, em especial, no que à educação artística diz respeito e que cada vez cativam menos alunos para os seus politécnicos cursos!

É a estes especialistas, sejam os das Escolas Superiores de Educação sejam os das Ciências da Educação que o Ministério da Educação se agarra para, paulatinamente, ir empobrecendo a educação das crianças e adolescentes e desmotivando (não tenho a mínima dúvida) os bons professores!
...
Num momento em que sobre tudo e todos recaem suspeições, seria prudente que o Governo evitasse de alguma forma que se possa pensar que há estudos encomendados à medida dos interesses do Ministério da Educação! in http://ideias-soltas.net (22Jun07)



2007/06/16

Alfred Brendel contra a tosse

Talvez os "tossantes" não tenham percebido, mas a mensagem de Brendel ao levantar a mão era clara: ou se calam ou vou-me embora. Felizmente, entre os milhares que enchiam o renovado Royal Festival Hall, cuja sonoridade não melhorou sensivelmente, somente um ou dois exprimiram de novo a sua tosse, e com "surdina"... Apesar da brendeliana austeridade, as tosses foram menos que as notas erradas e esmagadas que Brendel deu ao longo do recital, para não falarmos da "passagem desaparecida" no primeiro movimento da sonata de Mozart. Acontece... O Haydn esteve mais ou menos bem. Anos-luz aquém daquilo que Brendel oferece nos discos... A op 110 de Beethoven foi tocada com muito cérebro e pouca emotividade. Não percebo porque é que um espectador, que estava ao meu lado a abanar-se e a mexer os dedos, como quisesse dizer "eu faria assim", se emocionou e chorou... O Schubert foi supremo. Brendel é um dos maiores shubertianos de sempre e isso ficou claro no "encore", que foi talvez o melhor de todo o recital. Os ouvintes ingleses são o que são... Depois de um "encore" fora de série, ovacionaram muito brevemente, levantaram-se e abandonaram a sala. Em contrapartida, fartaram-se de gritar bravos a uma sonata de Mozart cujo andamento central foi aborrecido e desprovido de veia... Livios Pereyra

2007/06/12

Richard Rorty

04/10/1931 - 08/06/2007


Rorty foi um dos pensadores mais importantes do sec. XX. Condicionou o advento do "pos-modernismo" ao proclamar que se deve abandonar a procura da "verdade objectiva". Foi igualmente um leitor inteligente e prespicaz de muitos autores, sendo a obra que dedicou a Aristoteles uma entre as relevantes para o estudo do pensador grego. Philosophy and the Mirror of Nature (1979) e Contingency, Irony and Solidarity (1989) são os seus livros mais importantes.









UK: Mahmod Mahmod murdered daughter Banaz

The victim of an "honour killing" had been dismissed by police as a fantasist

Mr Sulemani (Banaz's boyfriend) was deemed unsuitable because he did not come from the villages in Iraqi Kurdistan where the Mahmods originated.

Banaz feared for her life when her father came towards her menacingly, wearing gloves, and she jumped through a window.

When she told a police officier, PC Angela Cornes, about what happened, her account was dismissed as fantasy.

Mr Cornes even wanted to have her charged with criminal damage for breaking the window.

One of the men later admitted his part in the crime, while the other two have fled the country.

in Metro UK, June 12, 2007


Because Mr Sulemani was not a strict Muslim and not from the Mirawaldy region, Miss Mahmod's father ruled that she would never marry him.

When Ari Mahmod (Banaz's oncle) saw the photograph of the embrace (taken by a member of the Kurdish community), he contacted a gang of Kurdish thugs and planned the murders.

in The Times, June 12, pag 7


In the pictures of them (Banaz's murders) in the newspapers, their eyes shine bright. No shades of self-doubt

in The Independent, 13 June, 2007, pag 33







The possibility that such crimes were going undetected was strengthened when it emerged that three times as many Asian women aged between 16 and 24 commited suicide, compared with the national average.

in The Times, June 12, pag 6







"You will be the next", Asian woman is told

Violence is behind high suicide rates

in The Times, June 13, 2007, pag 15













Portugal...

A mulher de 76 anos que alegadamente roubou um creme de beleza de 3,99 euros num supermercado em Paranhos, no Porto, sofreu hoje uma reviravolta em tribunal, com a procuradora do Ministério Público a pedir a sua absolvição.

Segundo o advogado oficioso da arguida, Sousa da Silva, o juiz ordenou na sessão anterior a entrega por parte do Lidl de meios de prova e o próprio supermercado entregou ao tribunal um talão que prova que a mulher pagou o creme naquele dia 18 de Outubro de 2005, às 11h54.

Perante estes dados, a procuradora do Ministério Público pediu a absolvição da ré e o mesmo solicitou o seu advogado. O juiz vai agora "analisar o processo" e ditará a sentença no próximo dia 21, pelas 15h30.

O julgamento desta septuagenária, natural de um concelho minhoto, teve início a 23 Maio nos Juízos Criminais do Porto. Apesar do valor irrelevante do creme de beleza alegadamente roubado (3,99 euros), o Ministério Público decidiu avançar com a acusação, num processo que custará centenas de euros ao Estado, sendo que só o advogado oficioso da arguida recebe 264 euros por cada sessão do julgamento

13.06.2007 - 13h44 Lusa









O ALARIDO DOS INOCENTES

No dia 3 de Junho, a seguir às notícias das 20.00, a RTP1 entrevistou um sujeito que está pronunciado pelo homicídio de três raparigas, cometido em circunstâncias particularmente chocantes. Sem a autorização e a complacência da autoridade prisional, a entrevista não teria sido possível.

Tratou-se de um genial acesso de sensacionalismo da televisão do Estado, para antecipar, face à concorrência, a rotunda negação da prática dos crimes que, no dia seguinte, iria ser feita pelo acusado na audiência de julgamento.

...

- o Serapião Cuco, acusado de tráfico de armas, a jurar que as dez metralhadoras, as seis granadas de mão, as 18 pistolas de guerra, os pacotes de munições e os 50 mil euros em rolos de notas tinham sido encontrados numa serapilheira pelo filhinho de tenra idade, quando andava a brincar atrás de uma moita no pinhada Remontada de Baixo;

- o Libânio Surrobeco, acusado de violação, a contar como é que viu passar Isménia ao lusco-fusco e se limitou a pedir-lhe lume, para o que ela teve de tirar o isqueiro do soutien e, como não o encontrava, teve de tirar o soutien, prestando-se mui esbraseada a tudo o que se passou em seguida.

Se já ninguém acredita na Justiça, porque é que a RTP não há-de ter o desvelo carinhoso e solidário de dar voz aos inocentes?

Os dramas de faca e alguidar e o insuperável gabarito intelectual das entrevistas sacudirão a brandura atávica dos nossos costumes, provocarão o tremendo abalo catártico das almas, exarcebarão titilações sincopadas dos sentimentos, educarão para a cidadania, produzirão cultura da melhor, evitarão os erros judiciários, contribuirão para a aprendizagem ao longo da vida, potenciarão o aproveitamento escolar, porão de cócoras os nossos parceiros europeus e farão com que as audiências subam na vertical.

A RTP e a autoridade prisional continuarão a achar que colaboram num verdadeiro serviço público.

Ninguém lhes vai à mão. Ninguém responsabiliza ninguém. Ninguém vai para a rua. O Governo, esse, inimputável, impávido e sereno, assobia para o lado.

V G Moura in http://dn.sapo.pt/2007/06/13









Portugal de sempre

- Perdão... Que o Diabo lhe tire a sua dor de cabeça, senhora baronesa!
O velho democrata desaparecera discretamente. E da antessala Ega avistou logo ao fundo, no tablado, sobre um mocho muito baixo que lhe fazia roçar pelo chão as longas abas da casaca - o Cruges, com o nariz bicudo contra o caderno da Sonata, martelando sabiamente o teclado. Foi então subindo em pontas de pés pela coxia tapetada de vermelho, agora desafogada, quase vazia: um ar mais fresco circulava: as senhoras, cansadas, bocejavam por traz dos leques.
Parou junto de D. Maria da Cunha, apertada na mesma fila com todo um rancho intimo, a marquesa de Soutal, as duas Pedrosos, a Teresa Darque. E a boa D. Maria tocou-lhe logo no braço para saber quem era aquele músico de cabeleira.
- Um amigo meu, murmurou Ega. Um grande maestro, o Cruges.
O Cruges... O nome correu entre as senhoras, que o não conheciam. E era composição dele, aquela coisa triste?
- É de Beethoven, sr.ª D. Maria da Cunha, a «Sonata Patética».
Uma das Pedrosos não percebera bem o nome da Sonata. E a marquesa de Soutal, muito séria, muito bela, cheirando devagar um frasquinho de sais, disse que era a «Sonata Pateta».
Por toda a bancada foi um rastilho de risos sufocados. A «Sonata Pateta»! Aquilo parecia divino!
Da extremidade o Vargas gordo, o das corridas, estendeu a face enorme, imberbe e cor de papoula:
- Muito bem, senhora marquesa, muito catita!

Eça de Queiroz, Os Maias (in tonicadominantepb.blogspot.com)








Portugal jovem

Já no carro-patrulha, o desordeiro continuou agressivo, pontapeando o banco da viatura. A fúria continuou na esquadra. Segundo fonte policial, o desempregado tentou "automutilar-se" desferindo várias cabeçadas no chão e nas paredes. Actos que repetiu no Hospital de S. João, onde foi conduzido por uma equipa médica do INEM. Ali, continuou às cabeçadas, inclusive em algumas macas. in http://jn.sapo.pt (2007/05/07)

A recusa de um cigarro terá estado na origem de um desentendimento entre dois jovens que terminou com um deles, de 21 anos, atingido a tiro numa perna. idem














2007/05/19


Fabuloso Amadigi por Hogwood

A Academy of Ancient Music, conduzida pelo seu fundador, ofereceu-nos uma brilhante leitura, não encenada, de "Amadigi di Gaula", de Handel, em Londres. Christopher Hogwood, um grande e experiente artista, conseguiu extrair da orquestra "timings" contrastantes e sonoridades sugestivas, ao mesmo tempo que os cantores demonstravam a sua grande categoria, como seria de esperar, nomeadamente, de um Lawrence Zazzo, que representou "Amadigi". A contralto Patricia Bardon foi um alucinante "Dardano", as sopranos Simone Kermes uma contundente "Melissa" e Klara Ek uma apaixonada "Oriana", todas elas com excelentes performances. No final do segundo acto, e no terceiro, o trompete teve um desempenho no limiar do perfeito, o que muito raramente acontece quando se utiliza um instrumento "natural", como foi o caso, recebendo o instrumentista a mesma carga de aplausos que o e as solistas. Particularmente as cordas da orquestra estiveram sublimes. As madeiras "antigas" nem sempre oferecem a mais bela sonoridade, mas estiveram tecnicamente bem. O "continuum" esteve muito bem. Resultado: uma grande noite para o Barbican e para todos os presentes, que quase encheram a sala principal. Livios Pereyra







As "raízes" e a "real" democracia

"O lamentável nas discussões sobre a Europa foi acreditar que as raízes democráticas eram romanas, cristãs, quando as autênticas, as reais, eram gregas"
...
Lane Fox assegura que se os gregos antigos vissem a democracia das sociedades contemporâneas diriam que "não é real".
...
Lane Fox explica como foi inventada na Grécia a democracia, que era odiada por nobres e ricos e mais ainda pelos romanos, e como o cristianismo cresceu nas cidades.

in http://noticias.sapo.pt (29 de Maio, 23:17)


Sobre a "real" democracia, deve ser dito que a da Grécia antiga foi uma "democracia" de homens que andavam com rapazinhos imberbes, "democracia" na qual as mulheres não entravam, "democracia" cujo sustentáculo produtivo era a escravatura.
Parece portanto faltar algo fundamental na teoria de Fox sobre as "raízes democráticas"... O cristianismo ao atribuir um papel central à figura feminina criou a base das sociedades modernas. Basta comparar com o islamismo, onde o papel da mulher se resume a procriar e tratar do bem estar dos homens. Como na antiga Grécia, onde seguramente encontra as "raizes". Neste aspecto o cristianismo teve um papel diferenciador que não deve ser omitido. De resto, para muitos estudiosos, Maria Madaglena foi "o discípulo" (o termo era sempre empregue no masculino) "que Jesus amava", e que se encontrava "ao lado da mãe", junto à cruz.








With Biblical barbarity, a beautiful teenage girl is battered to death by a baying mob of men. Her crime? Daring to fall in love with an Iraqi boy from the "wrong" religion...

in Dailly Mail, May 17, 2007, pags 42 & 47


Quem foi o idiota, espanhol, ex-governante, que disse estarem o mundo, e o Iraque, melhores depois da queda de Sadam?








Good men...

Blair: "I have admired him as President, and I regard him as a friend"

Bush: "My relationship with this good man (Mr Blair) is where I' ve been focused"

in The Times, May 18, 2007, pag 9















2007/05/11

A discoteca ideal...

Mostraram-me um catálogo de uma multinacional intitulado "Discoteca Ideal - Música Clássica". Não li nem a introdução, de um musicólogo português, nem o que parece ser uma história da música resumida. Acredito que o público da "música clássica" é inteligente, e se quer saber mais, comprará histórias da música de autores reconhecidos internacionalmente, que já existem, pelo menos uma, traduzida para português, a preços aceitáveis, que até pode ser encontrada nas designadas "grandes superficies", a preços ainda mais "em conta". Quem deseja conhecer mais de "música clássica" não se deve deixar iludir pelas estratégias comerciais das casas que, face à quebra, que vai continuar, na venda de discos, tiveram que reduzir substancialmente os preços, e agora inventam estratégias para impingir às pessoas aquilo que lhes apresentam como sendo "indispensável", na tentativa de venderem os cd's e dvd's ao preço "normal", ou apenas com pequenas reduções.

Neste catálogo, a asneirada começa logo naquilo que nos é apresentado como "Os 50 indispensáveis". Infelizmente, numa discoteca de 50 cd's indispensáveis não há espaço para três de compositores portugueses. Há um (duplo cd) que merece constar e não o colocaram na "lista": trata-se de "La Giudita", obra genial de Francisco António de Almeida, numa interpretação fantástica sob direcção de René Jacobs. É uma edição da Harmonia Mundi e existe uma re-edição a preço económico.

No que diz respeito aos cinquenta indispensáveis, as asneiras são tantas que decidi nem entrar no "corpus" do livrinho. Por exemplo: "A Criação", de Haydn, dirigida pelo Karajan?! Compreendo que queiram e necessitem vender, mas esta proposta revela simplesmente uma ignorância ridícula. Karajan seria o último, ou um dos últimos, intérprete(s) numa escolha para esta obra, em que existem várias versões com instrumentos "históricos", e outras em instrumentos "modernos" dirigidas por "especialistas", talentosos, da música antiga e clássica. Desejam um registo do Karajan? PELLÉAS ET MÉLISANDE, de Claude Debussy, que deveria ter sido colocado entre os "50". As suites para violoncelo de Bach por Pablo Casals? Casals foi um grande artista e um grande músico, as "suas" suites são um documento histórico e musical importante, mas existem interpretações mais "interessantes" para serem aconselhadas às pessoas. Por exemplo a de Peter Wispelwey, executada num instrumento "histórico" e que foi aclamada em todo o mundo quando do seu aparecimento, que aconteceu há mais de dez anos. Não esquecendo a versão, histórica a todos os níveis, utilizando dois instrumentos "da época", do ex-professor de Wispelwey: Anner Bylsma. Variações Goldberg por Gould... E por Gustav Leonard, muito menos mediatizadas que as de Gould, na minha opinião mais poéticas e "metafísicas", além de serem interpretadas com maior "autenticidade" no que diz respeito a fraseados e ornamentos, para nem sequer entrarmos na polémica "piano ou cravo"? É demasiado óbvio Mahler por Boulez, mas se tivesse de escolher uma interpretação da sua 5ª Sinfonia não escolheria a de Boulez. Meter uma compilação de Callas entre os "50 indispensáveis" leva-nos a perguntar se não seria melhor fazerem uma lista de cinquenta compilações de 50 grandes cantoras (e cantores), só e unicamente para os amantes (muito amantes) do "bel-canto", coisa radicalmente diferente de meterem uma compilação da artista entre os "50", quando existem cantoras bem mais geniais, mas menos comercializáveis (claro!), que Maria Callas. Jogar pelo popular é escolher as "Quatro Estações" de Vivaldi na "versão Biondi". Não. Esta não é de todo "a referência". Foi a mais publicitada e a mais vendida mas "a referência" é a interpretação de Giuliano Carmignola, um violinista mais musical e tecnicamente mais perfeito que Fabio Biondi. Antes de Biondi escolheria as interpretações de Monica Huggett e Viktoria Mullova. Prelúdios de Chopin por Lugansky? E por Martha Argerich? E mesmo a leitura de Maria João Pires, que há semanas estava à venda por metade do preço? Gershwin? Já agora porque não Wynton Marsalis, que é mais interessante, é jazz "a sério", e Marsalis é um "racionalista" dentro do género? A "Carmen" de Bizet entre os "50"? Muita coisa será possivel, mas meter a "Carmen" nos "50" não o é. O mesmo em relação ao "Pedro e o Lobo". Necessitam vender o dvd? Anunciem-o na tvi! Pode ser que "cole". Porque tentarem metê-lo entre os "50 indispensáveis" não "cola". Arvo Pärt entre os "50"?! Sim, seguramente que sim: não exatamente entre os "50 indispensáveis" mas entre as 50 propostas mais idiotas alguma vez feitas. Não vale a pena continuar a perder tempo com uma aposta comercial demasiado mediocre. Uma coisa é certa: nem os cinquenta cd's escolhidos são "os 50 indispensáveis", nem as versões propostas para aquelas obras (excluindo umas poucas situações, que de resto não podem ser apresentadas como sendo "o paradigma" uma vez que existem mais alternativas com o mesmo nível) são as "paradigmáticas".

Mas há algo ainda mais grave neste volume: reparei, por acaso, naquilo que se apresenta como "Visão Cronológica da Música Clássica". Lendo só a parte "Música do século XX", verifiquei que as pessoas que elaboraram o livrinho consideram que a música "clássica", na segunda metade século vinte, foi determinada por compositores como Bernstein, Adams, Gorecki, Glass e o já referido Part. Aqui ou há ignorância e estupidez, em simultâneo, ou há descarada desonestidade e tentativa de manipular os conhecimentos dos leitores desprevenidos. Os compositores referidos podem ser os que vendem mais, nomeadamente os "minimalistas" no qual Gorecki pode, com algum favor, ser "metido", e Part que mistura de tudo um pouco e tempera com uns pós de misticismo, que é o que "está a dar", mas não podem ser considerados, de todo, "pontos-referência" na história da "música erudita". Se querem um nome para a "estética minimal", esse nome será Terry Ryley ou Steve Reich, ou os dois, mas jamais um de entre aqueles que lá aparecem. Toda a gente, com um pouco de cultura geral, sabe que os "grandes nomes" da segunda metade do século vinte foram Pierre Boulez, Luciano Berio e Gyorgy Ligeti, para só referir três que o "comum dos mortais", com um pouco de interesse pela "música clássica", imediatamente identifica. De Boulez, como compositor, pode-se gostar ou detestar, mas foi a figura mais marcante, para o bem e para o mal, da história da criação musical na segunda metade do século vinte. Ignorá-lo não passa de um exercício de pura má fé e de incomensurável desonestidade intelectual. De resto, uma obra como Pli selon Pli (que pode ser adquirida por pouco mais de 5 euros num duplo cd com obras de Boulez, da série "apex" da Warner Classics, que deveria estar entre os "50", assim como o duplo cd da mesma série dedicado a Edgar Varese, que para esta gente também não existiu na primeira metade do século vinte), é uma "obra-marco", um "ponto de chegada", que ficará para sempre na "grande história", uma obra genial e inspirada. Ignorar Pierre Boulez como compositor é somente o sintoma de uma estupidez demente. Não acredito que quem assinou a introdução não tenha dado pelos menos uma "vista de olhos" a esta "visão cronológica"... Gyorgy Ligeti, outro criador que "transcendeu os limites", que para muitos foi simplesmente o maior compositor de todo o século vinte, para a gente que elaborou este catálogo "da treta", não existe. Berio, que foi o compositor que mais se afirmou mundialmente com uma estética distante da de Pierre Boulez, que dominava a Europa Central (excluindo os países que faziam parte do Tratado de Varsóvia onde os criadores eram obrigados a seguir uma estética "neo-realista"), não tem qualquer importância para estes musicólogos e "especialistas". Luigi Nono é um dos "incontornáveis" da segunda metade do século vinte, pela sua grande inspiração, pela força da sua música, pela inteligência que revela na escrita, mas, obviamente, para estes"especialistas" também não existe. Aconselho, muito sinceramente, as pessoas a colocarem este livrinho, catálogo, ou lá o que lhe queiram chamar, no único lugar a verdadeiramente pertence: o caixote do lixo. AST

Nota: a imbecilidade prolonga-se quando assimilam contemporaneidade aos compositores que escolheram como representantes da segunda metade do século vinte. Para lhes dar umas "luzes", cito somente quatro grandes nomes da actualidade: Pascal Dusapin (que foi aluno de Iannis Xenakis, um nome grande da segunda metade do século vinte), Kaija Saariaho, Magnus Lindberg e Helmut Lachenmann, que estudou com Nono e Stockausen, vultos importantes da história da cultura do século vinte, conhecidos de todos mas ignorados pelo grupo de "especialistas" da multinacional, com o musicólogo, que também é "professor-doutor" e director-adjunto do serviço de música da Fundação Calouste Gulbenkian, em grande plano. Como disse Pierre Boulez, na entrevista, a actualidade é rica e variada.



















2007/04/29

MSTISLAV ROSTROPOVICH

1927-2007

The world bids farewell to the great cellist, conductor and humanitarian MSTISLAV ROSTROPOVICH who passed away on April 27, 2007 in Moscow following a long illness, and a month to the day after celebrating his 80th birthday. While his passing is marked with sadness, the man, his life and his music will never cease to be a cause for celebration. in www.ffaire.com/rost/














2007/04/14

Doutores e engenheiros

Uma universidade privada portuguesa funcionava tão mal que teve de ser encerrada! Com a avaliação do ensino superior, em Portugal, a funcionar "pouco" e com consequências práticas mínimas, seria de prever outra coisa? E sobre as universidades públicas portuguesas onde existem "doutorados" que vêm das universidades espanholas, com diplomas passados pelas próprias universidades, que não têm qualquer valor em Espanha, e não podem ter valor nem em Portugal nem em qualquer outro país signatário do Tratado de Bologna? Evidentemente que também os há nas privadas. Mas não são as universidades públicas que, em Portugal, estão acima de qualquer suspeita? Claro que se pode, e deve, desconfiar das universidades espanholas que passam, ou passaram, diplomas sem validade. Mas, já agora, que tal os doutoramentos que acontecem nas universidades portuguesas, onde os membros dos júris são-o a convite do(s) orientador(es) do(s) candidato(s) a doutor(es)? Alguma coisa impediu que muitos desses doutoramentos tenham sido um autêntico "bluff"? Isto é muito importante: são as universidades quem supostamente desenvolve a investigação nos países "atrasados", onde as empresas privadas nela não investem, exceptuando a indústria farmacêutica que vende sempre bem os novos cosméticos e produtos de beleza... Os doutoramentos são espaços onde, por natureza, a investigação se sistematiza e teoriza. Com um enquadramento universitário que não impeça doutoramentos-bluff, "não vamos lá".

Na edição de 13 de Abril do "Semanário", António Garcia Pereira, na página nove, demonstra que as políticas "anti-sociais" do governo de Sócrates não estão a aumentar a "produtividade". Mas seria muito interessante que a imprensa portuguesa, na sua visível ânsia em "queimar" José Sócrates, não se esquecesse das supostas "pressões" sobre o gabinete de José Manuel Durão Barroso, feitas por Valentim Loureiro, um muito obscuro empresário português, ex-dirigente do partido de Barroso, e de instituições do futebol, agora a braços com processos judiciais, "pressões" exercidas quando Durão Barroso foi primeiro-ministro de Portugal. Antes de abandonar o "barco" para ir para presidente da Comissão Europeia, deixando o país aos cuidados de Santana Lopes...

A realidade, é que o "caso das habilitações do primeiro-ministro" relegou para segundo plano casos "sérios", como o da lei das incompatibilidades para os titulares de cargos autárquicos e regionais. A lei das incompatibilidades para os detentores de cargos políticos locais e regionais, foi finalmente aprovada pelo parlamento da nação. Logo a seguir, o dr. Jardim, presidente da Madeira, afirmou estar determinado em não a cumprir. Tudo devido ao respeito pela autonomia. Que talvez valesse a pena ser re-discutida, visto que a sua evocação serve para justificar tudo. A Madeira é de um arquipélago constituído por uma ilha habitada, outra semi-habitada, e algumas desertas. Um arquipélago total e absolutamente auto-suficiente... No universo da realidade virtual... Na ilha habitada, existem um pai e um filho, deputados pelo partido do governo, que são simultaneamente proprietários de empresas que vendem serviços ao próprio governo. Porque raios e coriscos iriam aplicar uma lei que vai acabar com uma dourada coutada familiar, numa carnavalesca república das bananas, que tem sido bem adubada tanto pela UE como pelos "néscios" do continente? Claro que com tanto "adubo" se "galvaniza" o "povo" e se consegue manter o poder ao longo de 30 anos (ou mais), porque a actual lei o permite, com toda a engrenagem bem "oleada" e todo o funcionarismo submisso e fiel ao "chefe". A Madeira é o retrato extremo do que pode ser o "poder local" em Portugal.

O "caso" da licenciatura do primeiro-ministro José Sócrates, que ocupou Portugal durante largas semanas, constará nos manuais de "como se trama um primeiro-ministro em alta nas sondagens de opinião". Sabemos que ter um diploma ou não, é, na realidade, pouco relevante. Todos nos lembramos bem do "engenheiro a sério", diplomado pelo Instituto Superior Técnico, com média de 18, que foi primeiro-ministro e deixou o país "de tanga" (a expressão não é minha).

Se se verificaram, como muitos ainda insistem em afirmar, "anomalias" na licenciatura de Sócrates, seria bom que isso fosse exposto claramente, porque, no fundo o que está em causa é a formação superior e universitária, que é um dos "pilares" fundamentais para a economia e para o aumento da "produtividade". Deveria ser igualmente explicado como outros políticos adquiriram as respectivas licenciaturas, alguns deles com uma rapidez muito pouco habitual. AST


Nota: Os racistas são estúpidos demais para perceberem que os imigrantes criam riqueza. Seguramente que quem vive do "rendimento de inserção social" não são os imigrantes. Quem esbanjou, em jipes e vivendas, os milhões dos subsídios que a UE mandou para Portugal, não foram seguramente os imigrantes. A culpa de Portugal ser um dos países mais atrasados da Europa, e estar a ser ultrapassado pelos que entraram recentemente na UE, também não deve ser dos imigrantes... Mas nem é esse o caso. O caso é que a publicidade de ideias racistas deveria ser simplesmente proibida. Tal como na Alemanha é crime a negação do holocaustro, o mesmo deveria acontecer em Portugal em relação à publicidade das ideias fascistas e racistas. Portugal tem um passado de regimes totalitários e de colonialismo, e é um país onde o analfabetismo funcional de parte substancial dos seus habitantes não lhes permite compreender claramente o que o resultaria se as políticas dos racistas fossem colocadas em prática: um país muito mais fechado e monótono, um país com a violência e a estupidez institucionalizadas, um país medieval, ridicularizado e isolado pelo mundo "civilizado". Teríamos outra vez o portugalinho do "doutor Salazar", figura profundamente desprezada em todo o mundo que ainda tem uns poucos de adeptos em Portugal... Teríamos outra vez o portugalinho da ordem imposta pela PIDE, o portugalinho da ignorância, da miséria e da brutalidade. O portugalinho das fardas verde-oliva da mocidade portuguesa... Que seria o modelo para toda a escumalha neo-nazi, mas ficaria completamente emparedado entre o mar e Espanha. Olhando para a realidade, não me parece de todo que nos esperem, de novo, nem o portugalinho opressivo e opressor do doutor Salazar, nem a negra ibéria fascista, isolada da Europa pelos Pirinéus, e do resto do mundo pelos mares e oceano. Claro que, nessa virtual e surrealista realidade, em que os fascistas conseguiam os governos ibéricos, teriam, esses governos, de devolver todo o dinheiro, com juros, que a Europa investiu numa península ibérica de democracia e liberdade. Complicado... Muito complicado... E, evidentemente, nesse contexto, a Catalunha e o País Basco, com o apoio activo da UE, romperiam com Espanha, de que ainda fazem parte. Os fascistas portugueses, e os do lado, não estão a ver mesmo nada bem...

Uma coisa é certa: para impedir que a gentalha da extrema-direita ganhe influência entre os que mais sofrem com o "sistema português", os pobres e os "remediados", o governo tem de conseguir elevar o nível de vida dos portugueses e reduzir o leque de desigualdades que, em Portugal, é terceiro-mundista. Coisa que só se consegue com um aparelho fiscal eficiente, com um combate cerrado à corrupção, e com um aumento da produtividade, que passa por elevar a educação, a cultura, a disciplina e as capacitações das novas gerações. Não por tentar impôr um novo estatuto aos jornalistas, que os consegue reunir unanimemente na rejeição do mesmo, e muito menos por mover processos a quem exerce a liberdade de opinião!









A rádio Europa Lisboa recorda, este Domingo, dia 15, o genocídio de 6 milhões de judeus pelos nazis. in http://jazza-memuito.blogspot.com (14 Abril 2007)















2007/03/19

PIERRE BOULEZ - A ENTREVISTA

Álvaro Teixeira - Tomei algumas notas... falar consigo é falar com a história e o seu protagonista...
(risos)
... de novo Bartók... de novo muitos problemas de ritmo...

Pierre Boulez - Sim. Existem problemas porque Bartók é difícil.
...
AT - Sim. Mas esta orquestra (Wiener Philharmoniker) é para muitos a melhor do mundo...

PB - Mas existem sempre problemas de ritmo não importa com que orquestra entre as melhores do mundo. Mesmo com os melhores solistas do mundo podem acontecer problemas, quando a música é difícil e quando não é tocada frequentemente.
...
Eu penso que enquanto a questão rítimica não estiver resolvida a música não adquire clareza. Sobretudo em dois compositores a questão rítmica é fundamental: Bartók e Stravinsky.

AT - Sabia que ia falar em Stravinsky...

PB - Claro que sim. Eles introduziram um vocabulário rítmico e uma maneira de falar, na medida em que nos referimos ao ritmo, diferentes da tradição. Sobretudo da tradição austro-alemã, onde não se encontram este género de ritmos.
...

AT - Lembro-me que gravou "La Mer" com uma orquestra americana...

PB - Cleveland...

AT - E esse registo continua a ser uma referência...

PB - Sim.

AT - Mesmo depois de outros chefes-de-orquestra famosos a terem feito, a sua continua, para mim, a ser a grande referência. E isso devido exatamente a aspectos dinâmicos e de ritmo...

PB - O rubato... A liberdade com o texto não é uma liberdade gratuíta mas uma liberdade concebida com base no texto.
...
AT - Por outro lado, e isto é recente, fez uma genial gravação da segunda do Mahler com esta orquestra (Wiener Philharmoniker).
...
Retrospectivamente, o que é que Pierre Boulez, o grande chefe-de-orquestra, pensa de Pierre Boulez, no passado, como compositor?

PB - A carreira de chefe-de-orquestra "comeu" o meu tempo. Aconteceu o mesmo quando administrei instituições, quando fui o director musical quer na BBC, quer em New York...
...
AT - O que pensa da música contemporânea de hoje?

PB - Está muito viva e variada.
...
Aqueles que me imitam não são seguramente muito interessantes. Aqueles que me imitam literalmente...
...
Não se podem fazer muitas previsões.
...

AT - Aquele periodo da história da música, o serialismo e o pos-serialismo, foi um periodo importante?

PB - Foi um periodo pelo qual foi necessário passar antes de encontrar outras coisas. Foi um periodo disciplinar.
...
É necessário encontrar encontrar uma liberdade de expressão com um vocabulário que seja não somente lógico, mas sobretudo coerente.

AT – Conte-nos lá a história de quando o presidente da república o foi buscar à América…

PB – Não, não…

AT – É o que se conta…

PB - O que se passou é que o presidente, que era Pampidou, me disse “nós gostaríamos que voltasse para França. Está a fazer tudo isso no estrangeiro, porque não aqui?”. Foi assim que me incluiu no projecto do centro cultural que agora tem o seu nome.

AT- Ofereceu-lhe condições extraordinárias…

PB – Ele disse-me: “estou a fazer isto. Interessa-lhe?”. E eu respondi: “sim, interessa-me.” Muito simplesmente. Ele não criou aquilo para mim. O IRCAM sim, fui eu quem deu a indicação, posteriormente.
...
Acabamos aqui. Tenho um concerto esta noite…

(risos)

Nota: excertos, traduzidos, da entrevista em francês.

Atenção: a generalidade das entrevistas que se encontram neste blog estão protegidas pelos direitos de autor

2007/03/14

O país dos compulsivamente pequenos *

"Melómanos" e outros que tais, todos portugueses, normalmente de Lisboa, fazem um côro de laudas ao não reconduzido director artístico do único teatro de ópera português, como se tratasse de um herói nacional acabado de ser humilhado e vilipendiado. Só falta mesmo uma manifestação! Seria muito interessante e aqui fica a ideia.** Assim poderemos contar quantos são. É que, a avaliar pelo (muito) barulho que fazem, parecem milhões... Parece que todo o país está submerso no "caso do não-reconduzido"... No mesmo país em que um qualquer (ex) ministro da educação (tratava-se efectivamente de um projecto educativo) mandou um qualquer (ex) secretário de estado (que por sua vez parece ter mandado uma directora de serviços... que, por sua vez, deve ter pedido à artista para enviar o "curriculum"...) tratar os assuntos que estavam pendentes com Maria João Pires, que é uma figura de grande dimensão mundial, neste mesmo país, um ex-presidente da república telefona (de Paris!) ao "não reconduzido", lamentando que o governo não o tenha mantido em funções... É obra! Patética, mas muito previsível, esta recorrência, ridícula e pateta, do sebastianismo: parece que os portugueses, na falta de laços inter-identificatórios fortes, necessitam sempre de um "outro" exterior (a defender ou a abater) para manterem a consistência da nacionalidade. Ao mesmo tempo, diz-se que o "não reconduzido" elevou o São Carlos a um nível internacional, nunca antes visto, etc, etc e etc. Não vale pena perder-se tempo com afirmações tontas. Teria algum interesse investigar-se se o senhor foi ou não director artístico do La Fenice, como "por aí" se diz. O relevante, se existe algo que mereça ser salientado em tudo isto, porque forjar um curriculum com informações falsas é crime, é que nem o La Fenice é uma "referência" para a vida operística mundial, nem a vinda para o São Carlos pode ser considerada uma "promoção" em relação às supostas funções, como director artístico, exercidas no primeiro. O senhor trouxe ao São Carlos um grande maestro para fazer uma obra importante do início de século XX, encenada por um artista célebre que veio cá várias vezes? O que é isso? Desde que haja dinheiro para pagar os honorários qualquer programador pode fazer o mesmo. Não é preciso ter "contactos"! Basta ir à internet e escrever aos agentes dos artistas. E a "revolução" que faltava ao São Carlos? A descentralização, como política continuada e não como folclore? O apuramento da qualidade do côro? A apresentação de repertório português do barroco, pouco conhecido e interpretado, que é bom e abundante, porque o do classicismo e do romantismo é, grosso modo, fraco e desinteressante? Já agora: o "rumor" de que o senhor Pinamonti é dono ou sócio de uma das agências de cantores com a qual o S. Carlos trabalha, é verdade? A portuguesa imprensa, tão hábil em perseguir os indícios mais mirabolantes quando lhe cheira a caso que vende, não deveria investigar convenientemente tanto este "rumor" como o outro de que o senhor nunca foi director artístico do La Fenice, ao contrário daquilo que "consta"?

Para se rematarem, talvez definitivamente, mas nunca se sabe, os assuntos que dizem respeito ao senhor que agora cessa funções, importa referir a extrema notoriedade que ele atribuiu a um compositor mediocre, desconhecido das principais salas de concertos e das grandes casas de ópera do mundo, que foi por ele apresentado como um "grande compositor contemporâneo". Trata-se de Aghio Corgi: Pinamonti serviu gato por lebre na sua versão mais corriqueira.

Olhando para o futuro, tem de ser dito claramente que um teatro de ópera em Portugal não pode, nem agora nem de aqui a vinte mil anos, querer comparar-se às principais casas de ópera do mundo: pretender isso é pura esquizofrenia. E não pode por motivos vários: não há tradição musical que sustente a formação permanente de músicos e cantores de grande qualidade, tendo que recorrer-se, como sistema, à importação de "mão-de-obra"; Portugal é um país periférico, com pouca relevância cultural mundial, pouco interessante para os grandes chefes de orquestra e grandes intérpretes.

Uma casa de ópera em Portugal, sobretudo quando vive maioritariamente à custa do dinheiro do estado (sabem qual é a fatia que o banco dá ao São Carlos em relação ao orçamento global? Deveriam saber: quem paga o funcionamente do São Carlos é dinheiro muito, muitíssimo, maioritariamente público), tem de ter uma função educativa e formativa: deve pensar as produções para as levar para fora de Lisboa. Actualmente todos os novos teatros e auditórios têm condições para apresentar ópera (excepto a Casa da Música no Porto...), e frequentemente contratam companhias estrangeiras, uma vez que a companhia de ópera do São Carlos, com o delírio de que é uma grande companhia de ópera mundial, se recusa ir em digressão pelo país que a/os sustenta. Obviamente porque ninguém a/os obriga... É inaceitável gastarem-se mais de quinze milhões de euros anuais com um público de pouco mais de duas mil pessoas, convidados incluídos. Só os muito pequeninos e ignorantes, que nada mais conhecem que o São Carlos e para quem o Convent Garden é a "grande-grande referência", é que podem defender o actual estado de coisas de uma ópera que, volto a repetir, devido a condições estruturais e estruturantes, nem daqui a vinte mil anos estará entre as mais importantes da Europa.

E com isto engrenamos na ideia de ópera para turistas! De facto a Staatsoper de Wien tem centenas, não milhares, de turistas todas as semanas. Os turistas podem parecer burros mas não são assim tanto... Só um turista em muito mau estado é que perde um serão em Lisboa para se ir meter na ópera. Eles sabem muito bem que ópera e "música séria" é mais lá para o centro da Europa... Eles sabem que em Budapeste, por exemplo, por uma quarta (quinta ou sexta...) parte do que pagariam em Lisboa têm ópera de qualidade quatro vezes superior. Pelo menos. Os turistas, em Portugal, procuram o fado. Acompanhado de um bom vinho. E fazem eles muito bem. AST

* Apesar da absurda nomeação (a ideia de escolher o "melhor português de sempre" é em si mesma aberrante), organizada pela televisão pública portuguesa que utilizou uma "metodologia" idiota, não ter qualquer validade ou não revelar qualquer "realidade" para além dela mesma, o facto de existirem, em Portugal, pessoas que se mobilizam e organizam para votarem num ditador (o "doutor Salazar", como ficou tristemente conhecido em toda a Europa), escolhendo-o como "o melhor português de sempre", demonstra quanto Portugal está longe da Europa "civilizada" (o conceito de "civilização" deverá ser sempre colocado sob reserva) e democrática, e faz-nos pensar que José Saramago terá alguma razão quando, em entrevista ao La Vanguardia (Barcelona), disse que Portugal vive uma processo de irreversível decadência. Diagnóstico atípico porque vem de um marxista "ortodoxo", que normalmente encontraria as causas do "problema português" no "sistema capitalista".

** não fizeram uma "manif" mas fizeram um jantar! Uma "janta" de homenagem, de reconhecido agradecimento pela obra que engrandeceu a ensandecida e ingrata nação... "Críticos activos" e "críticos passivos", acompanhados de uma centena e meia de convidados habituais da casa de ópera, alguns muito conhecidos (em Portugal, evidentemente). Melhor? Só mesmo na Tvi (televisão portuguesa, independente, de vertente acentuadamente cultural, que introduziu o "big-brother" - programa de elevado interesse sócio-antropológico, que muito contribuiu para o impressionante, e único na Europa, nível intelectual e cultural dos portugueses, tal como é cientificamente demonstrado por todos os estudos a que a Unesco se dedica com paciência e regularidade kantianas - nos hábitos quotidianos dos portugueses), e na Rtp (Televisão Pública Portuguesa, paga com o dinheiro dos impostos dos portugueses) que conseguiu a proeza (ou não...) de um ditador ter sido escolhido como o "melhor português de sempre".




O PNR, partido fascista legal iniciou uma campanha contra a imigração em Portugal.

Estes não se lembram dos 4 milhões de portugueses no mundo.

in http://rupturavizela.blogs.sapo.pt (29 de Março de 2007)




são carlos 2005-2006: "sou português, fui enganado..."
...
Constato que a ópera Barroca está ausente da temporada próxima. Será que o Dr. Pinamonti do alto seu assento programático se deu ao trabalho de indagar as obras de um tal João de Sousa Carvalho? E de um tal Francisco António de Almeida, que a propósito se comemoram os 250 anos do desaparecimento. E o Pedro Avondano? E os 250 anos do Terramoto de Lisboa? E um tal António Teixeira, que em parceria com um tal António José da Silva, cujos 300 anos do nascimento este ano se assinalam, escreveram das mais corrosivas e lúcidas obras acerca da maleita lusitana?
E os compositores portugueses contemporâneos? Conhece? Se calhar não tem tempo. O jet lag é lixado, e quando está na bela Olissipo, o seu cérebro está num outro fuso horário. É dura a vida de um director artístico do São Carlos.

in http://perusio.com/sao-carlos-2006




A música ao alcance de todos

Para admissão à licenciatura em Ciências Musicais, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em Portugal, não existem (assim foi para as admissões no presente ano lectivo) pré-requesitos, exceptuando uma prova de português!

Claro... aplicam-se-lhes (aos alunos) umas disciplinas "propedêuticas", que se não ultrapassarem com sucesso não poderão avançar, mas tudo acabará em bem, mais ano menos ano. À força de repetirem as "propedêuticas", sempre hão-de ir a algum lugar...
O Zé, por exemplo, queria era entrar em medicina. Mas não teve nota... Vai de aí e pôs-se a ler a lista dos cursos... medicina... musicologia... Como o pré-requesito para esta última era uma prova de português, e como lhe falaram das "propedêuticas", destinadas a quem nunca viu uma pauta musical à frente, lá está, contente da vida:

- Foi o melhor acaso que me poderia ter acontecido. Quando chegar ao meu país, com um diploma de mestrado em Ciências Musicais, um doutoramento, um pós-doutoramento e o mais que seja, pois também me disseram que em muitos países, e no meu também, para ser um musicólogo famoso não é preciso saber-se de música mas ter-se talento para a retórica, daí a prova específica de português para admissão ao curso, pré-requesito muito bem pensado, irei para ministro da cultura. Bem, acrescenta pensativamente, talvez para secretário de estado. Para começar...




A história julgará o que ficou por julgar

"Processo de Jaime Gama afasta advogado da Casa Pia", assim explica o semanário Sol a renúncia do advogado António Barreiros que fazia parte da equipa de juristas que representavam os jovens no processo Casa Pia.
...
Há uns tempos foi a Moderna. Agora é a Independente que nasceu há 14 anos e onde, pelos vistos, José Sócrates concluíu o curso de engenharia e onde João Jardim é professor convidado. Eu estava convencido de que as credenciais académicas do nosso primeiro, tivessem outro perfil e que ao Alberto João faltasse tempo para gerir o Arquipélago e para escrever a crónica do jornal madeirense que o seu governo financia, burguesmente.

in Jornal do Norte, Vila Real, 26 de Março de 2007, primeira página




"Os países membros, que não querem colocar a UE sobre uma nova base e não apoiam a substância da Constituição, devem reflectir se não querem abandonar o bloco", disse o ex-presidente do Parlamento Europeu, Klaus Hansch

in Semanário, 30 de Março 2007, pag 30




"Quanto melhor conheço a Europa melhor compreendo que se trata de um projecto falhado." Quem disse isto talvez estivesse a pensar no longo prazo porque no curto aparenta ser um projecto de sucesso...















2007/03/08

NO DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Gostaria de lembrar que as sociedades socialmente mais desenvolvidas do mundo são as escandinavas, onde a mulher possui, em todas as realidades, um estatuto de efectiva paridade. Pela terceira vez consecutiva a Noruega, que muito justamente prefere manter-se afastada da UE (onde o machismo continua a existir, frequentemente muito bem dissimulado. Os proxenetas também dizem existir para proteger as mulheres que exploram...), foi considerada o país socialmente mais desenvolvido do mundo. Na Suécia são os (ou as) clientes das prostitutas, se os/as houver, que vão para a prisão: utilizar os serviços de uma prostituta, ou prostituto, é uma forma de perpetuar uma situação de escravidão humana.* Malinowsky, o "pai da antropologia", no início do século vinte, comparando, na mesma área geográfica, sociedades de linhagem matrilinear com outras de linhagem patrilinear, rapidamente concluiu que nestas últimas, mais fechadas e repressivas, se verificava um elevado número de "neuroses" e "psicoses", ao contrário daquelas onde ele se estabeleceu durante três anos, e que estudou profundamente, realizando aí os primeiros grandes "trabalhos de campo".

Não necessitamos de ir muito longe para constatar que as sociedades onde o poder masculino é predominante são sociedades arcaicas, atrasadas e corruptas, condenadas, boa parte delas, ao desaparecimento ou à auto-aniquilação, devido à rigidez das "crenças" e "tradições" que as atravessam. À "Europa" resta fazer uma escolha muito clara. Se a não fizer, ela mesma não passará, talvez até no curto prazo, de uma ficção interessante que ao longo do tempo se encarregou de demonstrar a sua total inviabilidade. A escolha mais não é que optar entre a civilização e a barbárie... AST

* claro que aos suecos basta-lhes, com os bolsos recheados de dinheiro, como geralmente têm, ir ali ao lado... À Alemanha, por exemplo. Para não falarmos em lugares mais ao sul... A questão liminar reside sempre na forte punição dos proxenetas que, esses sim, são parasitas que praticam e perpetuam a escravidão humana. Os estados, se se dizem democráticos, não podem ser suaves, nem minimamente complacentes, com esse genéro de escroques que abrigam sob si todo o género de actividades parasitárias e escuras. Quanto aos clientes, se forem obrigados, por lei, a respeitarem as normas sanitárias, se as prostitutas forem legalizadas, pagarem impostos e forem eficazmente protegidas pelas forças policiais, não serão seguramente, os clientes, os responsáveis por qualquer tipo de escravitude. Os responsáveis pela perpetuação da escravidão humana são os estados que responsabilizam criminalmente as mulheres que exercem a prostituição, ou os que, hipocritamente, mantêm um vazio legal, abrindo espaço para o sub-mundo da ilegalidade e do proxenetismo.














Estimado amigo,
Estimada amiga,

Después de casi un año desde que enviáramos a Irán más de 200.000 firmas para salvar al joven Nemat de la horca, hemos podido saber que sigue vivo. Y eso es mucho. Pero aguarda en el corredor de la muerte junto con otros muchos jóvenes condenados a morir.

También sabemos que las 400.000 firmas que enviamos en noviembre pasado han contribuido a que dos de las siete mujeres condenas a lapidación hayan logrado que sus penas fueran conmutadas; sin embargo, otras dos personas han entrado a engrosar la lista de los condenados a morir lapidados.

Como ves, aunque hay buenas noticias y vemos cómo la presión funciona, la situación de derechos humanos en Irán sigue siendo realmente alarmante. Por eso te pedimos que, si aún no lo has hecho, firmes ahora para intentar que ninguna persona sea asesinada a pedradas o ahorcada en una grúa. Así colaboraremos también con las personas del interior del país que, valerosamente, trabajan contra la lapidación.

Y si ya has firmado, envía esta información a tus contactos. Se trata de la vida de personas, como tu y como yo, y sabemos que podemos hacer mucho por ellas. No te quedes con los brazos cruzados: actúa ahora.

Ya sabes que un clic puede salvar vidas. Haz clic aquí y ahora:
http://www.xprofiler.ch/dispatcher/service?dt=70301182641166899&l=es&o=0&a=70306114801198259 (o copia y pega esta dirección en tu navegador de internet)

Gracias por estar a nuestro lado,

Esteban Beltrán
Director - Amnistía Internacional















Jean Baudrillard

27 de Julho de 1929 - 6 de Março de 2007

Sobre si dizia que era um dissidente da verdade. Não acreditava na ideia de um discurso de verdade, de uma realidade única e inquestionável. Desenvolvia uma teoria irónica que tinha por finalidade formular hipóteses. Examinava a vida que acontece no momento, como um fotógrafo. Aliás, JB era também um fotógrafo.
...
Actualmente, cada signo tende a transformar-se num objecto em si mesmo, tendo valor de uso e de troca em simultâneo. Para ele, o relativismo dos signos resultou numa espécie de catástrofe simbólica.

E a arte. A arte integrou-se no ciclo da banalidade. Ela voltou a ser realista, a desejar a restituição da reprodução clássica. A arte quer cumplicidade do público e gozar de um status especial de culto, situação prefigurada nas sinfonias de Gustav Mahler. Claro que há excepções, mas, em geral, os artistas renderam-se à realidade tecnológica. Desde os ready-mades de Marcel Duchamp, a importância da arte diminuiu, porque a obra de arte deixou de ter um valor em si. Os signos soterraram a singularidade. Os artistas submetem-se a imperativos políticos, e já não seguem ideais estéticos. A arte já não transforma a realidade e isso é muito grave.
Foi acusado de cair no relativismo mais absoluto. Mas Baudrillard limitou-se a descodificar. Não por acaso, o Libération anuncia a sua morte com o título: Fini de décoder.

in
http://www.divasecontrabaixos.blogspot.com (8.3.07)














2007/02/28


TANZEFESTIVAL

Decorreu, de 15 a 25 de Fevereiro, em Wien, o festival de dança contemporânea para jovens, que foi dedicado ás crianças. Se pensam que essa peculiaridade reduz as exigências técnico-artísticas, desenganem-se. Grupos como a Compagnie Smafu (Wien), revelaram um nível técnico que muitos grupos de dança contemporânea "para adultos" não possuem. Mas, para além da técnica, a Compagnie Smafu demonstrou uma criatividade, uma inventividade e uma poesia que alcança a genialidade.
Kopergietery & Hans Hof Ensemble (Gent & Amesterdam), na foto, apresentaram Panamá, uma peça onde os artistas são músicos, actores e bailarinos, uma peça recheada de lirismo, que nesta apresentação vienense se excedeu no tempo (mais 10 minutos que o habitual), mas que conseguiu manter os espectadores, crianças dos primeiros anos de ensino, respectivos professores, artistas e "a crítica", atentos até ao final, ainda que o(s) argumento(s) seja(m) múltiplo(s) e complexo(s), o que causa uma certa sensação de falta de consistência. Técnicamente perfeitos, como bailarinos, revelaram-se igualmente excelentes intérpretes musicais, dentro dos estilos que interpretaram.
Não posso deixar de referir, com grande destaque, os IOTA, de Anterwpen. Die Vier Jhareszeiten, coreografia baseada nas quatro estações de Vivaldi, na célebre interpretação da Europa Galante, "estações" que foram apresentadas com um começo arbitrário para quebrar uma assimilação directa (com a concordância de Fabio Biondi e dos Europa Galante), conseguiram manter um discurso coreográfico interessante, consistente e criativo, sobre uma obra conhecida de todos, com uma interpretação-referência que poderia simplesmente absorver toda a coreografia. Tal não aconteceu, apesar da força da música, porque os IOTA conseguiram manter um ritmo e uma linguagem que se encadeou na música para advir "o outro" discurso, e não uma mera animação da obra musical.
Finalmente, correndo o risco de ignorar muitos outros, provavelmente mais interessantes, vou referir a peça Scipio, do grupo Konnex (Wien), que trata do conductor-bluff que acaba dominado e aterrorizado pela orquestra. Uma metáfora curiosa... Foi pena que a organização não tivesse trazido uma escola a esta peça. Seguramente que as crianças iriam morrer de riso...
Porquê destacar aqui este festival? Primeiro, pela grande qualidade da pequena amostra a que assisti. Digamos que entre um espectáculo do grupo Smafu, por exemplo, ou outro da generalidade das companhias de dança "para adultos", iria ver as Smafu, sem a menor dúvida ou hesitação. Segundo, porque a dança pode ser um meio de excelência para a educação artística das crianças. A dança contemporânea, quando de grande qualidade, utilizando desde a música barroca até à música popular, é um meio polivalente que sensibiliza as crianças para várias formas de arte. Falo das crianças porque os adolescentes já foram "comidos" pela moda. É nas crianças que a educação artística deve colocar o ênfase e todo o esforço, consolidada por uma formação musical rigorosa e de grande qualidade que tem de ser praticada nas escolas do ensino obrigatório. Claro que nos países onde os alunos maltratam e agridem os professores este é um assunto (mais um) a esquecer... É na infância que se criam os futuros ouvintes, tanto da música dita clássica como de outras formas de arte que exigem mais sensibilidade que a requerida pelas "músicas da moda", normalmente grosseiras e quadradas, produzidas, promovidas e comercializadas pela indústria, acriticamente consumidas pelos adolescentes que se consideram rebeldes e inovadores... AST













O festivall forUard III, organizado pela Trem Azul, decorre nos dias 18, 19 e 20 Março, em Lisboa. Em edições anteriores (em que se chamou forUmusic e forUjazz), este evento acolheu figuras de topo como Joachim Kuhn, Don Byron, Rashied Ali/Sonny Fortune, Louis Sclavis, Peter Brotzmann e Alexander Von Schlippenbach, além dos portugueses LIP, Afonso Pais e Zé Eduardo Unit.

A grande aposta da edição deste ano vai para o disco do quarteto 4 Corners, que tem a particularidade de juntar dois americanos (Ken Vandermark e Adam Lane) e dois europeus (o sueco Magnus Broo e o norueguês Paal Nilssen-Love) num exemplo de que se podem estabelecer óptimas relações musicais entre os dois lados do Atlântico. in http://improvisosaosul.weblog.com.pt (março 05, 2007)













Tinha passado um mês sobre a morte de Peter Kowald, em 2002, quando o veterano saxofonista Mario Schiano, uma figura de referência do jazz italiano desde a década de 60, a tocadora de guzheng (espécie de cítara com 25 cordas, de origem chinesa) Xu Fengxia, há anos radicada em Berlim, e o percussionista alemão Martin Blume, tiveram a ideia de apresentar em Roma, no festival Controindicazioni, um tributo à memória do desaparecido contrabaixista, com quem individualmente estes improvisadores se haviam cruzado. Sabores e saberes orientais sob a forma de harpejos e vocalizações de Fengxia relacionam-se com os sons fragmentados que Schiano extrai dos saxofones, esquiços desenhados sobre a subtil trama percussiva de Blume. Consonância e dissonância, tensão e libertação - o espírito free-world da Global Village de Kowald sempre presente, numa sessão muito agradável de ouvir em disco. in http://jazzearredores.blogspot.com (2.3.07)














2007/02/21

Berlioz, Debussy, Ravel e Berio visitam Wien

As obras de Debussy e Ravel são do mais fino, inteligente e inspirado produto que in alguma vez foi criado em toda a arte.
As más orquestras deveriam abster-se de abordar obras que exigem não unicamente um domínio técnico perfeito, mas também grande musicalidade e uma muito específica capacidade de expressão.
A Concertgebouworkest foi a Wien (17 e 18 Fevereiro) fazer o mesmo programa (e os mesmos encores...) que apresentou em vários países da Europa, a saber: uma abertura de Berlioz que foi um trabalho de vanguarda para o seu tempo; La Mer de Debussy; as Folk Songs de Luciano Berio e La Valse de Ravel.
Tenho de dizer uma coisa: apesar de não gostar da teatralidade e da frequente superficialidade com que Mariss Jansons aborda algumas das grandes obras musicais, ao
andar pela Europa a tocar este repertório, está a fazer um grande e excelente trabalho pela Arte. A Concertgebouworkest não é uma orquestra qualquer...
Mas há mais: a leitura que Jansons e orquestra da qual é o condutor-chefe fizeram da Valse de Ravel, que é o mais genial "poema-coreográfico" alguma vez concebido, obra com a qual, e muito bem, terminaram o programa anunciado e a tourné europeia (não contando com os dois encores finais...), foi uma das leituras mais bem conseguidas que jamais escutei, incluindo os registos em disco.
Igualmente as Folk Songs tiveram, pela voz da contralto Elīna Garanča, que foi brilhante, uma leitura do mais alto nível, que deveria ter sido gravada e editada em cd, assim como La Valse de Maurice Ravel.
Se a abertura de Berlioz foi perfeita, já no que toca à leitura de La Mer teria algo a observar. O primeiro o segundo quadros foram bem interpretados, trabalhando-se as impressionantes sonoridades inventadas por Debussy que encontraram na orquestra do Concertegebouw os intérpretes que o compositor gostaria de ter escutado, já no que toca ao terceiro e último quadro entendo ter-lhe faltado "electricidade" e vigor, tendo isto sido patente no enunciado do motivo inicial, que também pecou pela falta de clareza rítmica.
Mas, basicamente, a Concertgebouworkest e Mariss Jansons ofereceram-nos um repertório genial, inteligentemente escolhido e brilhantemente interpretado. O concerto do dia seguinte foi preenchido com as terceiras sinfonias de Schubert e Bruckner, e correspondeu ás espectativas. Quanto a mim, achei a leitura de Schubert genial. Já no que diz respeito a Bruckner, confesso que dois dias depois de ter escutado a sétima sinfonia dirigida por Boulez, esta terceira me deixou um certo sabor a incompletude. AST













Pronti anche alla guerra

Il presidente Ahmadinejad afferma che il programma di arricchimento dell'uranio è come "un treno in corsa senza freni". E il viceministro della difesa aggiunge: "Non temiamo nulla". Negli Usa, molti generali pronti a dimettersi in caso di attacco a Teheran

http://www.repubblica.it
25 febbraio 2007












Critiquer sinon le fond, mais la façon dont a été géré, ici, le dossier nucléaire iranien n'est pas sans risque. Pour l'avoir fait, le journal en ligne Baztab (228 000 visiteurs par jour en temps normal), qui n'a pourtant rien de réformiste, est "filtré" depuis huit jours. "Au nom du réalisme qui a sauvé la République islamique durant vingt-huit ans, nous avons critiqué les positions rigides du président Ahmadinejad sur le nucléaire. Etre obstiné ne résout rien", explique Fouad Sadeghi, l'un des fondateurs de Baztab en 2002. Et de raconter qu'en Iran, les élites prennent au sérieux l'éventualité d'une attaque.

Baztab a publié des articles expliquant les enjeux nucléaires et des listes de sites "sensibles". "Pas pour affoler les gens, mais pour les prévenir au cas où...", explique M. Sadeghi. Le journal a aussi fait le récit d'une réunion secrète, il y a quinze jours, entre M. Rafsandjani et des parlementaires. M. Rafsandjani leur aurait raconté une rencontre entre le Guide suprême de la révolution, l'ayatollah Khamenei, et M. Ahmadinejad. Comme ce dernier disait : "Aucun risque, ils n'attaqueront pas", le Guide aurait répondu sèchement : "Non, c'est sérieux."

www.lemonde.fr
24.02.07 | 13h33













Allo stadio di Kabul 25 mila mujaheddin gridano: "Morte ai diritti umani"

Corrieri della Sera, Sabato 24 Febraio 2007, pag 15













Korruption in der EU

Dramatische Skandalfälle zwingen Kommissar zum Handeln

Heute, 21 Februar 2007














2007/02/05

YEFIM BRONFMANN: SERKIN FOI UM GRANDE MÚSICO

Alvaro Teixeira: Há muitos anos estive num ensaio com o Ensemble Contemporain, onde você tocou dirigido por Boulez...

Yefim Bronfmann: Não me parece. É a primeira vez que trabalho com Pierre Boulez...

AT Então nunca tocou com Boulez...

YB É a primeira vez.

AT Hum...

YB Desejo voltar a tocar, no futuro.

AT Que sentimento experimentou ao tocar com esta... interessante orquestra*?

YB É como se estivesse a fazer música de câmera, está a ver? É uma sensação única tocar com estes fantásticos músicos. Tocar Mozart com eles é especial por estes músicos escutam-se uns aos outros, tal como acontece na música de câmera. O piano, aqui, é parte de um mesmo corpo.

AT Isso aconteceu hoje, neste ensaio?

YB Sim. Absolutamente. Acontece sempre com esta orquestra e em todos os concertos. Todos este artistas estão comprometidos com a unidade da interpretação.

AT Como é Boulez a fazer Mozart?

YB É um músico fantástico, compreende?

AT Em Mozart?

YB Bem. O som desta orquestra é fantástico e...

AT Ela poderia tocar Mozar sem condutor...

YB Qualquer orquestra o pode fazer, mas com um grande condutor como Boulez a orquestra sente-se mais inspirada, e você sabe muito bem que esta orquestra tem um respeito imenso por Pierre Boulez. Tocam ainda melhor com ele e desejam tocar com ele.

AT Eu sei. Você faz música contemporânea com regularidade?

YB Tenho muitos planos nessa área. A próxima semana farei a "premiére" do concerto para piano e orquestra de Esa-Pekka Salonen, que o dedicou a mim. Irei interpretá-lo com a New York Philharmonic.

AT Onde vive habitualmente?

YB Em New York.

AT É dos EUA?

YB Sou do Uzbequistão.

AT Quem foram os seus professores?

YB Arie Vardi, Rudolf Serkin e León Fleisher.

AT Serkin! Um dos maiores pianistas de sempre.

YB Ha sim! Um grande pianista! Um grande músico!

AT Não sabia que ele dava aulas regularmente.

YB Sim. Ensinou muitos anos. Foi director do Malboro Music Festival onde fui três verões tocar música de câmera.

AT Porque gosta tanto da música germânica?

YB Porque é um grande repertório.

AT Mas Mozart não é alemão. Mozart é Austríaco.

YB É verdade. E então?

AT Não é música germânica.

YB É grande música. Pertence a esta grande área que podemos designar de tradição germânica.

AT Quais são, para si, as principais diferenças entre as orquestra europeias e as americanas?

YB Há grandes orquestras na América e há grandes orquestras na Europa. Aqui toca-se de maneira diferente. As cordas... Os sopros. Especialmente os sopros... As trompas... Tocam diferentemente... Mas sabe, é sempre um grande prazer tocar com uma grande orquestra, seja aqui, seja em qualquer outro lugar.

AT E foi um prazer conversar com o Yefim .

YB Igualmente. Muito obrigado.

* Wiener Philharmoniker

2007/02/01

MERCEEIROS

Philippe Pierlot, na última Festa da Música, no CCB, em Lisboa, ofereceu-nos alguns dos momentos mais geniais e inspirados daquele evento, que foi encerrado por solistas, côros e instrumentistas sob sua condução.

Foi com espanto que li hoje, num jornal diário português, que Philippe Pierlot foi obrigado assinar um "acordo" com o CCB para poder pagar aos músicos, coralistas e solistas que trabalharam com ele. Já passaram muitos meses após o evento. Seria de esperar que todos os artistas já tivessem recebido os respectivos honorários...
Nesse acordo forçado, o CCB não vai pagar as deslocações entre o aeroporto e o local dos concertos (P. Pierlot e os "seus" grupos foram os artistas basilares do evento, tendo participado em mais de trinta concertos), as despesas que foram liquidadas com cartões de crédito, as taxas devido ao excesso de peso dos instrumentos e parte dos gastos com os bilhetes de avião que foram adquiridos através de um sistema que os tornou mais económicos.

Ainda que já pouco me surpreenda no que concerne aos comportamentos dos portugueses com responsabilidades públicas, devo dizer que mais valia encerrarem o CCB e alugá-lo para as festas populares do que acontecer algo como isto, que o país irá pagar caro. Nada lavará a imagem de uns ridículos chicos-espertos que se aproveitam do que podem para não pagarem na totalidade o que devem. Imagem que vai transitar pelo mundo, acrescentando-se a outras que já existem. AST

Nota: não seriam estes mesmos responsáveis que, sem hesitar, pagaram milhões ao minimal-repetitivo Philip Glass para produzir um aborto chamado Corvo Branco (a cuja estreia, que aconteceu numa aberração acústica chamada Teatro Camões, tive o desprazer de assistir)? "Ópera" que Glass recusou gravar em cd por considerar ser o seu "pior trabalho"? Só numa república das bananas, em que os responsáveis de instituições que sobrevivem de capitais fundamentalmente públicos fazem o que querem, isto pode ter acontecido sem terem sido averiguadas as devidas responsabilidades. Claro que a ópera-da-treta de P. Glass foi herdada. Ora essa... Evidentemente! Quando as coisas correm bem, assumem-se como êxitos pessoais. Se correm mal é porque foram compromissos herdados dos anteriores responsáveis.













ESTA ENTREVISTA DEVIA ostentar uma bolinha vermelha, no canto superior direito da página. É desaconselhada a contribuintes sensíveis ao despesismo. Aqui se conta como, por más decisões, escolhas políticas questionáveis ou programas propagandísticos, se gastaram milhões de contos. E como o resultado desses gastos se esvaiu. Uma ópera, que tanto podia servir para comemorar Vasco da Gama ou «o Gengis Khan», uma fragata que foi reconstruída para ficar, para sempre, ancorada e a apodrecer, arte ao abandono, livros desaparecidos, cd-roms pagos e não editados.
in Visão, n.º 712, 26 de Outubro de 2006, pp. 60 a 64
http://www.prof2000.pt/users/secjeste/recortes/Historia/Hist005.htm













UM BOM CONCERTO EM CONDIÇÕES LAMENTÁVEIS

... o director falava com a orquestra referindo-se a «escândalo» e preconizando legatos mais acentuados.
... uma interpretação mais «ligada» poderia minimizar a «secura» da sala.
Em conversa com David Shallon (o maestro) este esclareceu-me que o «escândalo» era a acústica horrível da Sala Júlio Verne do Teatro Camões...
«Escândalo» era também a péssima organização e o barulho que durante o ensaio fizeram a focar as luzes, acabando por ser os músicos da orquestra a mandar calar os funcionários. Este último episódio pude-o eu, estupefacto, presenciar enquanto Gavrilov, indiferente a tudo, fazia passagens do 3º Concerto para piano e orquestra de Rachmaninov.
...
Álvaro Teixeira in Diário de Notícias, 11 de Julho, 1998

Nota: a relações públicas, naquela época, do Teatro Camões, disse-me, à entrada do concerto seguinte: "veja lá se esta não foi a última vez que escreveu para o DN..." E de facto foi! A senhora continua a exercer as mesmas funções num teatro de ópera português.














HISTÓRIAS DO SUB-MUNDO
...
Muito mais grave e revoltante é o caso do administrador de uma orquestra sinfónica juvenil: disse, com todas as palavras e sem subtilidades, ao músico principiante que, ou ia com ele para a cama, ou perdia o lugar. Perdeu o lugar. Passada uma semana abriram concurso para admissão de novo violoncelista. Muitos e muitas (o asqueroso joga nos dois lados) tinham aceite as propostas sebentas, e ficaram. Uma orquestra de jovens putas e panascas (genericamente... acreditamos que a maioria não alinhou no "negócio"...), com um administrador perverso, quase analfabeto (minto: o sujeito tem a antiga 4ª classe e provavelmente mais uns cursos de formação), um vulgar escroque que só num país merdoso poderia ter conseguido ascender a funções directivas. Em que país aconteceram, ou acontecem (?!), estas aberrações? Em nenhum... Trata-se de um exercício de humor...














Voltando ao que vale a pena e esquecendo (ou tentando) as atrocidades:

"A lista de nomes que passaram por Darmstadt mostra a enorme importância que os cursos tiveram para a música do século XX: Olivier Messiaen, Pierre Boulez, Karlheinz Stockhausen, Luigi Nono, Luciano Berio, Bruno Maderna. Uma das obras marcantes desse período, Mode de valeurs et d'intensités, foi escrita por Messiaen, que foi professor em Darmstadt entre 1949 e 1951, durante um desses cursos.
O italiano Luigi Nono passou por ser um dos mais radicais desse grupo, pela sua militância política, que o levou a combinar com frequência textos políticos radicais com música revolucionária. A sua ligação a Schoenberg foi bem para além do uso do serialismo nas suas primeiras obras; antes de mais, pelo facto de a sua primeira obra orquestral, estreada em Darmstadt em 1950, chamar-se Variazioni canoniche sulla serie dell'op.41 di Arnold Schoenberg; e por, 5 anos depois, ter casado com Nuria, filha de Schoenberg... Luigi Nono nasceu há 83 anos, no dia 29 de Janeiro de 1924." in http://desnorte.blogspot.com