Aceitar e-mails privados pela "porta das traseiras" pode implicar cumplicidade com um crime. Publicar e-mails privados sem o consentimento das pessoas em causa é crime. Qualquer um destes actos, quando praticado por um orgão de comunicação social, demonstra que esse orgão não é de confiança. Eu conheço relativamente o DN pois escrevi "crítica de musica" para esse diário. Logo na segunda peça que me encomendaram fui chamado "à pedra" ("olhe que o concerto não foi assim tão mau") pelo secretário-geral (cargo ridículo que provavelmente já não existe), que era simultaneamente o presidente da Casa da Imprensa e auto-intitulado (o DN anunciava as críticas dele com dias de antecedência, como se de uma vedeta se tratasse...) grande crítico de ópera (evidentemente sem que tivesse qualquer background no assunto para além de assistir ás estreias do São Carlos...). Basicamente eu não podia escrever mal de nada que implicasse o governo: sobre o Teatro São Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa esperavam-se ou boas críticas ou críticas "razoáveis". E nem pensar colocar em causa o "normal" funcionamento das instituições! Claro que o fiz e claro que deixaram de me publicar. É assim que funciona, ou funcionava, o DN. Por isso não me espanta totalmente a atitude de andarem a "dar à estampa" e-mails privados de terceiros. Está dentro da "onda" do DN que conheci. **
* porque senão depois não podem escrever e editar o jornal (ainda que nada de particularmente interessante se perdesse).
** sabemos bem que o mesmo poderia acontecer em qualquer outro media português, mas é o DN que está em decadência, é o DN quem necessita desesperadamente de aumentar as vendas. O DN não tem um Belmiro e os accionistas querem "resultados". Mesmo admitindo o interesse público daqueles e-mails nada justifica expôr publicamente e-mails privados sem a autorização dos interessados, especialmente quando os "interessados" são jornalistas da concorrência.
Passam-se coisas muito estranhas nos media portugueses... Por exemplo, num outro diário, mais prestigiado que o DN, foi publicada uma entrevista feita por e-mail (por e-mail até pode ser outra pessoa a responder, ou a artista - normalmente alguém por ela - fazer copy/paste a partir de outras entrevistas ou de questões pré-respondidas ***). Mas tudo bem, se se indicar que a entrevista foi feita por e-mail (o que não aconteceu). Mas o estranho foi que a entrevista foi "solicitada" pela editora da artista que também "pediu" que fosse publicada antes do concerto. E assim aconteceu. Quem fez a entrevista nem sequer questionou o processo e a metodologia (ou porque é tão portuguesa que acha estas coisas normais, ou para evitar criar "ondas" que lhe poderiam ser prejudiciais).
*** eu reconheço que há jornalistas e "críticos" que não merecem mais que um copy/paste, mas isso é outra história...
O terrível caso do PPR
Em declarações aos jornalistas a propósito da manchete de hoje do Expresso, que revela que o líder bloquista e mais quatro dirigentes do partido investiram em PPR, Louçã advogou que tem dito «sempre o mesmo» e nunca «mudou de opinião» sobre este tema, tendo já votado «há cinco anos atrás» contra os benefícios fiscais destes produtos.
«Isto é um favor que me fazem, que a manchete do Expresso, o jornal de referência do país, seja dizer que a minha poupança de uma vida inteira são 30 mil euros, que eu não recebo o meu salário porque dou aulas de graça na universidade pública e porque defendo o interesse dos contribuintes e não o meu próprio interesse acho que só valoriza a clareza e a intransigência das posições do BE», acrescentou. Sol, 19 de Setembro
Nota: quantos políticos leccionam graciosamente nas universidades portuguesas?