2008/05/13

Bloggers portugueses praticam auto-censura

Alguns blogs retiraram um "documento", de uma empresa de formação (INA) que parece ser propriedade de um senhor com nome fatal (escrevo com letra pequena porque Fatal é marca registada de um festival de teatro que por acaso está a acontecer), que tinham colocado online com várias críticas e observações ao dito (documento...). Um "documento" que pretende servir como base para a avaliação dos professores, que foi apresentado em acções de formação pagas, tornou-se um objecto público, ainda que protegido pelos direitos do seu autor, passível de ser parcialmente transcrito e criticado (excertos dos artigos e trabalhos de investigação pagos e publicados pelos jornais, excertos de livros, etc, podem ser transcritos livremente desde que seja indicada a fonte). Um "documento" destes não pode, nunca poderia no "espaço europeu", ficar no segredo de alguns. Isso sim, seria muito grave. Este caso de auto-censura a que os blogs se submeteram, devido a e-mail's ameaçadores que receberam enviados pelo tal senhor fatal, é grave. Para evitarem eventuais problemas bastaria transcreverem somente os parâmetros mais ridículos e grotescos, que pelos vistos eram abundantes. E já agora o e-mail que o senhor fatal lhes enviou, recheado de erros de escrita que fariam as pessoas "escacarem-se" de riso. Dessa maneira o dito senhor fatal não poderia acusar os blogs de andarem a publicar "o documento" e a violar os seus direitos de autor. Mas há outro aspecto que faz o senhor fatal fazer figura de parvo: os blogs que publicaram "o documento" (trata-se da parte que enumera os parâmetros considerados para avaliação e portanto um excerto do "documento") não têm qualquer fim lucrativo. A publicação do "documento" pelos blogs pode ser vista como um serviço de interesse público, uma vez que é do interesse do país serem conhecidas as propostas (mesmo as mais idiotas e absurdas) de avaliação dos professores da rede de ensino público paga pelos cidadãos, assim como de todos os estabelecimentos de ensino básico e secundário, que para funcionarem necessitam da autorização do ME. Dever-se-ia alargar, urgentemente, esta filosofia ao ensino superior, que é onde se formaram e continuam a formar, os "quadros" e os políticos responsáveis pelo estado do país. Ensino superior que também diplomou autênticos insultos à inteligência, que agora são "empresários" e se pretendem "formadores"... Adiante: seria seguramente interessante se o senhor fatal avançasse, como ameaçou os bloggers que divulgaram "o documento", com o caso para tribunal... Mas os blogs preferiram retirar "o documento". É uma opção, mas devem estar conscientes que os direitos de autor não se exercem como se poderia deduzir daquilo que o senhor fatal escreveu, e que os e-mails que expediu veículam informação errónea sobre o exercício desses direitos. Como os direitos autorais são protegidos por entidades cujos corpos directivos o senhor fatal nem integra nem representa, há uma usurpação do papel das mesmas para difusão de informações incorrectas sob a forma de ameaças. O que é (muito) grave. Mais: como o e-mail foi expedido em massa (dirige-se a tod@s @s bloggers por "senhor"...), creio que o senhor fatal se colocou numa posição "delicada", que @s bloggers, se estivessem para perder tempo com imbecilidades, poderiam explorar. Aparte questões legais, trata-se basicamente de um caso típico da mentalidade mesquinha e bruta que ainda subsiste em Portugal, mentalidade de gente abjecta que pela coacção procura impôr o silêncio e acabar com a crítica. Uma mentalidade a estripar, liminarmente, se queremos que Portugal sobreviva na Europa dos Cidadãos. Será muito grave se se vier a provar que a empresa do senhor fatal colabora com o ME, ou simplesmente foi reconhecida pelo mesmo ME para dar formação. Mas deixemos isso para mais tarde.

Passo a apresentar o post, com alguns dos comentários dos leitores, onde o Paulo Guinote justifica ter retirado o referido "documento" do seu blog:

Bom Dia,

Deixou hoje de estar online (embora não tenha sido apagado e continue disponível nos arquivos a que só eu tenho acesso) o post sobre as suas 96 condutas (que afinal são 93 porque há algumas repetidas), assim como os 156 comentários que se lhe seguiam.

Mais do que isso não farei, pois não retirarei o texto sobre o curso do INA que é público e divulgado em escolas e outros espaços públicos.

Se me quiser processar acerca da expressão de opiniões sobre factos públicos, essa é uma prerrogativa sua. Provavelmente essa seria uma decisão extremamente errada da sua parte, em virtude da publicidade que isso traria à questão, para além de servir para demonstrar que não tem razão em querer reservar informação que é facultada em acções de formação pagas pelos formandos, num instituto público.

Mas, como escrevo, é um direito que lhe assiste,

Com os cumprimentos possíveis numa situação destas,

Paulo G.

Adenda: E assim o Umbigo praticou o seu primeiro acto de auto-censura. Era fatal como o destino que o dia chegaria. E eu não gosto de limitar as hipóteses do empreendedorismo nacional.

Tita Diz:
Maio 13, 2008 at 9:43 am
Paulo, não havia necessidade!

fernandooliveira Diz:
Maio 13, 2008 at 10:45 am
No Comments.
É a decisão do Paulo.

Ema Diz:
Maio 13, 2008 at 12:08 pm
Très moche, a fatal pressão. Sinal dos tempos.

h5n1 Diz:
Maio 13, 2008 at 12:23 pm
A propósito ou talvez não

Miguel Gaspar refre hoje no Público, a propósito da ASAE e do seu planeamento por objectivos quantificados, que nem a URSS tinha chegado tão longe no seu modus operadi totalitário.

Ora acontece que no tempo de Estaline, a polícia política tinha obejectivos precisos de números de detenções e de execuções por província.

Tudo para que o “exemplo” e o medo se instalasse em todo o território.

E o que aconteceu foi que os esbirros locais, com o propósito de se mostrarem servis, cumpridores e patriotas acima de qualquer suspeita, emulavam-se na ultrapassagem do cálculo previsto, em termos de prisioneiros políticos e de execuções de “contra-revolucionários”.

http://www.amazon.com/Stalin-Court-Simon-Sebag-Montefiore/dp/1400042305

Ou seja, seria bom que os escribas estudassem um pouco mais de hístória e, por outro lado, isto demonstra que os “radicais” ex(?)marxistas que integram a administração Sócrates, sabem muito bem o que andam a fazer.

coeh Diz:
Maio 13, 2008 at 1:14 pm
solidariedade com este blog.
Não à censura.
ameaças dos queixinhas. Isto é meu meu meu… tristes figuras

Alvaro Diz:
Maio 13, 2008 at 1:28 pm
Paulo:

Exatamente! Todos os documentos divulgados publicamente são passíveis de serem discutidos e comentados. Esse senhor deve perceber que Portugal (ainda) não é África. Os emails que ele mandou para os blogs e que me chegaram ao conhecimento revelam a mentalidade de um idiota. Que não percebe minimamente que Portugal está, porque optou, integrado na UE, e que isso implica esta liberdade crítica que ele gostaria que não existisse. É incompetente, o tal senhor fatal, porque dá erros crassos ao escrever e porque diz coisas idiotas falando como se conhecesse muito bem a legislação. É inacreditável que o ME trabalhe, ou aceite a colaboração, de gente assim, incompetente e ignorante (e que molesta mandando emails esquizofrénicos às pessoas), e isso será tratado na devida altura. in educar.wordpress.com (Maio 13, 2008)


ME não se pronuncia...

Da arte de extorquir 200 euros aos incautos

Reuniu hoje, dia 9 de Maio, pela primeira vez, a Comissão Paritária criada na sequência do "Memorando de Entendimento" entre o ME e os Sindicatos, e que visa acompanhar o processo de implementação da avaliação e preparar as negociações, previstas para Junho e Julho de 2009, de onde decorrerá a sua alteração.
...
Na reunião, a FENPROF aproveitou ainda para questionar o ME sobre as acções de formação que o INA está a promover a 200 euros. Sobre essa formação o ME não se pronunciou, recusando dizer se a validava ou não como adequada. Em suma, deu para confirmar que se trata de uma iniciativa destinada a extorquir duas centenas de euros a alguns incautos.

À margem da Ordem de Trabalhos, a FENPROF solicitou o relatório do ME sobre os edifícios escolares que contêm amianto. É inaceitável a forma como o ME desvalorizou o problema. Tratando-se de um problema de saúde pública, a FENPROF exige a resolução urgente da situação. O Secretariado Nacional (da Fenprof)


Boas verdades...

Vale a pena ler o artigo de Eduardo Marçal Grilo e Guilherme d'Oliveira Martins "Escola Pública e Serviço Público de Educação" (Expresso, 8 de Março de 2008).

Neste texto, publicado no dia da manifestação dos professores, os autores apresentam um conjunto de reflexões que importa reter na clarificação do conceito de serviço público de educação. Desde logo "o que é mais importante e deve ser assinalado é que a educação das crianças e dos adolescentes é primeiramente uma responsabilidade dos pais e das famílias". Por outro lado, "não deveconfundir-se escola pública e serviço público de educação, pois que este tanto pode ser prestado por instituições públicas como por instituições privadas", donde "o estatuto das escolas e o grau de autonomia de que gozam devem ser tais que não seja possível distinguir o que é uma escola públicade uma escola cooperativa ou de uma instituição puramente privada". in mobilizacaoeunidadedosprofessores.blogspot.com (12 de Maio de 2008, 17:24:00)


Serão Penalizados Na Avaliação?

Socialistas com mais de 500 faltas

Os deputados socialistas já registaram nesta sessão legislativa, que termina a 18 de Julho, mais de 500 faltas às reuniões plenárias. Perante este cenário, o líder parlamentar do PS, Alberto Martins, chamou a atenção dos deputados e exigiu maior assiduidade.

Será que, quando vierem a apresentar-se novamente (os que o fizerem) a votos, teremos acesso a este tipo de informação e poderemos votar de forma diferenciada nos vários deputados constantes nas listas?

É que se fartam de me dizer que a avaliação dos políticos se faz nas urnas, mas eu só tenho um voto e eles são tantos…

E nem vale a pena doutrinarem-me sobre o facto de eu ter de escolher perante as listas disponíveis no meu círculo eleitoral se, depois de chegados ao Parlamento, eles são «deputados da Nação» e não devem defender interesses particulares como aquel’outro o limiano. in educar.wordpress.com (Maio 13, 2008


El@s não se importam...

João Raio, supervisor do voo TAP, contactado pelo PÚBLICO ainda durante o voo, começou por dizer que aquele era “um voo fretado” e que “às vezes” aquelas situaçõs aconteciam. Questionado pelo PÚBLICO se era ou não proibido disse não ter dúvidas que era. “Às vezes há estas situações de excepção”. Contou então como as coisas aconteceram. “Algumas horas depois de o voo ter partido o ministro Manuel Pinho foi fumar. Ninguém me tinha perguntado se se podia ou não fumar. Fui falar com o comandante que não gostou da situação, mas que disse para arrranjar uma zona para fumar, se não ainda acabariam a fumar no 'cockpit'”.
...
Já em Caracas, o PÚBLICO confrontou Luís Bernardo, assessor do primeiro-ministro que acompanhou a viagem, sobre o facto e sobre as criticas que alguns empresários fizeram. “Já é costume. Já aconteceu em outras viagens. Ouvimos as pessoas que não se importaram”, afirmou. O PÚBLICO não viu, nem ouviu em nenhuma ocasião durante as oito horas de voo algum membro do gabinete do primeiro-ministro questionar fosse quem fosse sobre a possibilidade de se fumar a bordo, num voo onde foi sempre claro que tal era proibido. in ultimahora.publico.clix.pt (13.05.2008 - 13h33 Luciano Alvarez, em Caracas)

Segundo o enviado do Público Luciano Alvarez, o cheiro a fumo era intenso e, apesar da cortina, os empresários que seguiam na comitivia podiam ver tudo. Até que foi a vez do próprio primeiro-ministro quebrar a proibição de fumar por duas vezes entre as 23h30 e as 00h00, apesar da sinalética avisar expressamente que é proibido fumar a bordo do avião, e ter repetido outras vezes durante a madrugada. in diario.iol.pt (13-05-2008 - 14:45h)

Eis o velho argumento dos sacanas e dos totalitários: "el@s não se importam". Que fumemos para cima del@s... que ouçamos a nossa música, que el@s detestam, em alto volume... que o nosso queridinho pit bull @s faça dar a volta ao quarteirão para o evitarem... Que remédio. Porque se se importarem, levam!